quarta-feira, 18 de abril de 2012

LIXO

                                                                O lixo orgânico é um problema para a maioria das cidades brasileiras. Veja como é possível transformar o lixo orgânico em energias e produtos.

"Na Suíça, restos de comida e plantas são transformados em gás natural, eletricidade, combustível e fertilizantes. A esse processo é dado o nome de Reciclagem Verde

O que fazer com todo o lixo produzido por nós? Esse é um dos grandes dilemas enfrentados no mundo todo. Como sabemos, em muitos países – incluindo o Brasil – o lixo é desepejado em terrenos abertos - os chamados landfills ou lixões - e todos, simplesmente, esquecem o problema.

Por isso, a reciclagem é uma das grandes soluções encontradas nas últimas décadas. Mas há mais a se fazer. Pesquisas comprovam que cerca de 30% do lixo doméstico, produzido nas casas, pode ser reutilizado e a reciclagem desses resíduos pode ser realizada de uma maneira muito simples, usando, como exemplo, exatamente o que acontece na natureza, ou seja, a decomposição natural.
No caso do lixo orgânico, o processo de decomposição depende basicamente de umidade e calor. Restos de plantas e comida, deixados em lixões ao ar livre, se decompõem espontaneamente, após algum tempo.

Partindo desse princípio, há 20 anos, uma empresa suíça – a Kompogas - iniciou estudos com lixo orgânico, principalmente aquele proveniente de jardins e cozinhas. Hoje, ela é uma das quatro maiores empresas do mundo nesse setor e transforma o green waste (lixo dos jardins) e o biowaste (restos de verduras, frutas e alimentos) em novos produtos. Para isso, utiliza um reator de fermentação, que trabalha através de um processo anaeróbico (com ausência de oxigênio). “É um processo biológico, que ocorre também na natureza, só que, aqui, o processo acontece de forma controlada e intensiva”, afirma Peter Knecht, responsável pelas licenças internacionais da empresa.

Na Suíça, existem dez fábricas Kompogas em funcionamento, cinco somente na região de Zurique, a maior cidade do país. Elas recebem o lixo orgânico vindo de comunidades municipais, hotéis, supermercados e redes de lanchonetes. Afinal, todos esses clientes são responsáveis pelo destino do lixo produzido por eles. Para essas companhias e prefeituras fica mais barato reciclar o lixo orgânico do que simplesmente “jogá-lo no lixo”. Lá, os departamentos municipais de coleta só recolhem o lixo - seja domiciliar ou industrial - que estiver dentro dos sacos oficiais das cidades. Mas, para estimular a reciclagem, esses sacos são bastante caros. Para se desfazer de cerca de uma tonelada de lixo na maneira tradicional, na região de Zurique, por exemplo, uma empresa gastaria cerca de R$ 960. Mas, para ter esse mesmo lixo entregue e reciclado numa fábrica Kompogas, o custo é de R$ 240. “Não faz o menor sentido queimar o lixo orgânico. Cada tipo de lixo tem uma maneira apropriada para ser tratado”, diz Knecht.

Outra grande vantagem da reciclagem verde está na diminuição da emissão de gás CO2 na atmosfera, já que o método de incineração não consegue controlar a emissão desses gases. Para cada tonelada de lixo orgânico reciclado nas plantas da Kompogas, uma tonelada de CO2 deixa de ser emitida no meio ambiente. E o melhor: a fermentação é mais barata do que a incineração.

Mas como funciona uma fábrica desse tipo? O processo é bastante fácil de entender. Primeiro, os clientes entregam o lixo orgânico a ser reciclado. Os caminhões que o transportam chegam na planta e são pesados numa balança. Paga-se pelo peso – kg/tonelada – que será processado. Em seguida, os resíduos são despejados e passam por uma triagem visual e um detector de metais (imã). Caso haja pedras ou utensílios deixados por engano no meio desse lixo (tesouras de poda, pás, etc), eles são removidos para não danificar o reator. Na sequência, essa massa de lixo orgânico é triturada numa câmara intermediária até atingir a consistência ideal. O próximo passo passar o lixo pelo reator de fermentação. Ali, ele permanece durante duas semanas, a uma temperatura de 55º C. “A única diferença em relação ao que acontece na natureza é que adicionamos mais bactérias para acelerar a processo”, revela o executivo da Kompogas.

Da fermentação desses resíduos surgem três novos produtos:
- um sólido (o composto)
- um líquido (o fertilizante)
- e, por último, um gasoso (uma nova forma de energia limpa). Esta energia - ou gás - pode ser convertida em combustível para veículos, em gás natural para a rede local (se estiver disponível) ou então, no chamado CHP (combined heat and power), uma combinação de energia elétrica e aquecimento. “Geralmente, o CHP é o mais utilizado porque é mais fácil ter uma rede elétrica, disponível próximo da planta para fazer essa transferência, do que um gasoduto”, explica Knecht.

Noventa e cinco porcento dos compostos e fertilizantes líquidos vão direto para os agricultores locais. Eles podem comprar sacas do adubo na fábrica, ou então, levá-los de graça - em menores quantidades - porque ficam à disposição do público na frente da empresa. Na planta da Kompogas, em Otelfingen, há um estufa experimental que produz plantas e vegetais orgânicos utilizando somente esse fertilizante líquido e o resultado é impressionante. Os tomates, por exemplo, são vermelhos, brilhantes e doces.

Tanto o composto fresco como o fertilizante líquido são certificados pelo Instituto Nacional Suíço de Pesquisa para Agricultura Orgânica. “Nós devolvemos ao solo o que originalmente tiramos dele. É como se fechássemos um ciclo”, afirma Knecht.

Já o gás, quando sai do processo de fermentação, está na forma bruta (raw), então, precisa ser tratado para virar natural e ser usado na rede local ou como combustível. Na Suíça, existem cerca de 100 postos de combustível que oferecem biogás e seis mil carros rodando com ele. Há dois anos, eram apenas mil. Apesar do preço desse tipo de veículo ser mais alto, a longo prazo, o investimento compensa. O preço do biogás é 30% a 40% mais barato do que o da gasolina. Além, obviamente, de o gás ser um combustível muito mais limpo do que os derivados do petróleo. Atualmente, todas as grandes indústrias produzem automóveis Flex, que são veículos de 2ª e 3ª geração, desenvolvidos especialmente para funcionar com gás. Vários órgãos do governo suíço usam carros movidos a biogás em suas frotas.

Quem define qual será a utilização da energia produzida na planta é seu administrador. Nas fábricas da própria Kompogas, a empresa fecha contratos locais com interessados em comprar eletricidade, gás ou combustível e, obviamente, descartar o lixo. Em Otelfingen, a capacidade de processamento é de três mil toneladas de lixo orgânico. Com a planta totalmente automatizada, são necessários apenas dois funcionários trabalhando no local. MacDonald’s e Migros, a maior rede de supermercados suíça, estão entre os principais clientes da Kompogas. Eles produzem enormes quantidades de lixo orgânico e precisam dar bom fim aos resíduos. Nesse sistema, acabam se beneficiando do próprio lixo. Ambos usam o composto e o fertilizante em suas plantações e o biogás em seus veículos.

A tecnologia suíça já chegou a outros países, igualmente preocupados com a saúde do planeta. Hoje, há 30 fábricas Kompagas instaladas em seis países: Alemanha, Espanha, Áustria, Japão, Martinica e França, onde duas novas plantas estão em construção, com futura capacidade de processar 100 mil toneladas de lixo por ano. E a demanda deve crescer ainda mais porque, recentemente, a Comunidade Européia sancionou uma lei que obriga os países a separar e tratar o lixo orgânico. Então, os países desse continente ainda têm algum tempo para se preparar para cumprí-la.

Radicada na Suíça há 11 anos, a brasileira Mara Mehlmann, engenheira de alimentos, separa todo o lixo em casa, inclusive o orgânico. “Todo mundo aqui na minha vizinhança recicla. É um ato social”, afirma. Ela conta que, quando vai ao supermercado, prefere comprar produtos que tenham embalagens recicláveis e evitar pegar sacolas plásticas para as frutas. “Se for uma unidade só, como um melão, colo a etiqueta do preço na casca mesmo”.

Mãe de duas crianças, uma menina de dois anos e um garoto de quatro, a suíça Nadine Bosbach é outra entusiasta da reciclagem verde. Ela ensina aos filhos a importância do reaproveitamento do lixo. “Não ajudamos em nada o meio ambiente se só ficarmos nos lastimando e reclamando sobre como a situação está ruim. Se posso fazer alguma coisa e ser parte do processo de mudança, vou ser. E o melhor: é de graça!”.
O que fazer com todo o lixo produzido por nós? Esse é um dos grandes dilemas enfrentados no mundo todo. Como sabemos, em muitos países – incluindo o Brasil – o lixo é desepejado em terrenos abertos - os chamados landfills ou lixões - e todos, simplesmente, esquecem o problema.

Por isso, a reciclagem é uma das grandes soluções encontradas nas últimas décadas. Mas há mais a se fazer. Pesquisas comprovam que cerca de 30% do lixo doméstico, produzido nas casas, pode ser reutilizado e a reciclagem desses resíduos pode ser realizada de uma maneira muito simples, usando, como exemplo, exatamente o que acontece na natureza, ou seja, a decomposição natural.
No caso do lixo orgânico, o processo de decomposição depende basicamente de umidade e calor. Restos de plantas e comida, deixados em lixões ao ar livre, se decompõem espontaneamente, após algum tempo.

Partindo desse princípio, há 20 anos, uma empresa suíça – a Kompogas - iniciou estudos com lixo orgânico, principalmente aquele proveniente de jardins e cozinhas. Hoje, ela é uma das quatro maiores empresas do mundo nesse setor e transforma o green waste (lixo dos jardins) e o biowaste (restos de verduras, frutas e alimentos) em novos produtos. Para isso, utiliza um reator de fermentação, que trabalha através de um processo anaeróbico (com ausência de oxigênio). “É um processo biológico, que ocorre também na natureza, só que, aqui, o processo acontece de forma controlada e intensiva”, afirma Peter Knecht, responsável pelas licenças internacionais da empresa.

Na Suíça, existem dez fábricas Kompogas em funcionamento, cinco somente na região de Zurique, a maior cidade do país. Elas recebem o lixo orgânico vindo de comunidades municipais, hotéis, supermercados e redes de lanchonetes. Afinal, todos esses clientes são responsáveis pelo destino do lixo produzido por eles. Para essas companhias e prefeituras fica mais barato reciclar o lixo orgânico do que simplesmente “jogá-lo no lixo”. Lá, os departamentos municipais de coleta só recolhem o lixo - seja domiciliar ou industrial - que estiver dentro dos sacos oficiais das cidades. Mas, para estimular a reciclagem, esses sacos são bastante caros. Para se desfazer de cerca de uma tonelada de lixo na maneira tradicional, na região de Zurique, por exemplo, uma empresa gastaria cerca de R$ 960. Mas, para ter esse mesmo lixo entregue e reciclado numa fábrica Kompogas, o custo é de R$ 240. “Não faz o menor sentido queimar o lixo orgânico. Cada tipo de lixo tem uma maneira apropriada para ser tratado”, diz Knecht.

Outra grande vantagem da reciclagem verde está na diminuição da emissão de gás CO2 na atmosfera, já que o método de incineração não consegue controlar a emissão desses gases. Para cada tonelada de lixo orgânico reciclado nas plantas da Kompogas, uma tonelada de CO2 deixa de ser emitida no meio ambiente. E o melhor: a fermentação é mais barata do que a incineração.

Mas como funciona uma fábrica desse tipo? O processo é bastante fácil de entender. Primeiro, os clientes entregam o lixo orgânico a ser reciclado. Os caminhões que o transportam chegam na planta e são pesados numa balança. Paga-se pelo peso – kg/tonelada – que será processado. Em seguida, os resíduos são despejados e passam por uma triagem visual e um detector de metais (imã). Caso haja pedras ou utensílios deixados por engano no meio desse lixo (tesouras de poda, pás, etc), eles são removidos para não danificar o reator. Na sequência, essa massa de lixo orgânico é triturada numa câmara intermediária até atingir a consistência ideal. O próximo passo passar o lixo pelo reator de fermentação. Ali, ele permanece durante duas semanas, a uma temperatura de 55º C. “A única diferença em relação ao que acontece na natureza é que adicionamos mais bactérias para acelerar a processo”, revela o executivo da Kompogas.

Da fermentação desses resíduos surgem três novos produtos:
- um sólido (o composto)
- um líquido (o fertilizante)
- e, por último, um gasoso (uma nova forma de energia limpa). Esta energia - ou gás - pode ser convertida em combustível para veículos, em gás natural para a rede local (se estiver disponível) ou então, no chamado CHP (combined heat and power), uma combinação de energia elétrica e aquecimento."
Fonte: Por Suzana Camargo
Planeta Sustentável