sábado, 30 de novembro de 2019

Árvore gigante rara de 535 anos foi derrubada em Santa Catarina para virar cerca.

Era alta como um prédio de dez andares, larga a ponto de só poder ser abraçada por seis pessoas juntas e mais antiga que a chegada do navegador Pedro Álvares Cabral ao Brasil.
Essa gigante imbuia, árvore símbolo de Santa Catarina, foi derrubada para virar cerca, segundo o cenário encontrado por policiais militares ambientais.
O crime ambiental foi cometido em um terreno na via Linha Coração, em Vargem Bonita (SC), em fevereiro de 2018, mas só agora uma análise ainda inédita apontou a idade da imbuia gigante: ao menos 535 anos.
“É um problema cultural do nosso país, onde as pessoas não sabem o valor de uma árvore. Aquelas que caem por ação da natureza deveriam ser exploradas de forma mais nobre, virar peça de museu. Mas fazer uma derrubada de uma árvore rara saudável para fazer palanque de cerca é duplamente criminoso”, afirmou o professor Marcelo Scipioni, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), especialista em árvores gigantes.
A idade foi estimada por Scipioni e outros dois pesquisadores a partir da análise dos anéis de crescimento das árvores, que servem de base para a datação por meio da ciência chamada dendrocronologia.
Como a umidade e outras variações climáticas interferem no tamanho desses anéis de um modo distinto ao longo do tempo, pesquisadores agora buscam outras imbuias antigas para uma análise de construção climática dos últimos séculos que permita determinar com mais exatidão a idade da árvore.
Essa árvore, de nome científico Ocotea porosa, pode ser encontrada em florestas de araucária no Paraná, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. A espécie tem madeira de cor que varia do pardo-claro-amarelado ao pardo-acastanhado, folhas de até 10 cm, casca grossa, tronco tortuoso e copa arredondada.
E, por causa da exploração desenfreada, entrou para a lista de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção.
Ou seja, são proibidos “coleta, corte, transporte, armazenamento, manejo, beneficiamento e comercialização” da imbuia, à exceção dos “exemplares cultivados em plantios devidamente licenciados”.
O policial militar ambiental Teylor Comunello, que dá nome a uma espécie de flor que descobriu em sua pesquisa sobre orquídeas, relata ter sentido tristeza ao ver árvores raras no chão — foram derrubadas uma imbuia e 16 araucárias.
“Nunca tinha visto uma árvore assim, desse tamanho, cortada desse jeito. É bem triste porque, além de ser uma espécie ameaçada de extinção, é centenária e rara. Um desperdício”, afirmou à reportagem. Ele participou do trabalho de remoção da árvore, que agora está exposta na sede da Polícia Ambiental para fins educativos.
O uso em cercas ocorre porque a madeira é bastante resistente a intempéries, e pode resistir no solo por nove anos, em média.
Comunello estima que no mercado ilegal o valor dessa imbuia poderia girar em torno de R$ 4 mil, caso fosse transformada em estaca de cerca, ou passar de R$ 20 mil se fosse vendida à indústria madeireira.
A madeira dessa árvore é moderadamente densa e pode ser usada no manejo autorizado como viga, porta e móveis finos de alta qualidade.
O valor de mercado poderia superar, portanto, a multa de R$ 12.750 aplicada ao proprietário do imóvel, em razão da derrubada desta árvore junto de outros 16 exemplares da também ameaçada araucária (Araucaria angustifolia, ou pinheiro-brasileiro).
Os agentes chegaram ao local do desmate ilegal após uma denúncia, mas não encontraram pessoas ou equipamentos ali. Nenhum suspeito foi identificado desde então.
Segundo a Polícia Ambiental de SC, a derrubada de árvores teria sido feita à revelia dos donos do terreno, mas estes acabaram multados por serem, em última instância, os responsáveis pela área. A recuperação ambiental do local começou em maio deste ano.
A reportagem não conseguiu localizar os donos do terreno.

Mapeamento de árvores gigantes

Se não tivesse sido derrubada, essa imbuia de Vargem Bonita teria entrado para o mapeamento de árvores gigantes no sul do país conduzido pelo professor Scipioni, da UFSC, com auxílio também da Polícia Ambiental de Santa Catarina.
Publicado em 2017, um trabalho liderado por ele percorreu mais de 6,8 mil km ao longo de três anos e identificou as últimas 13 araucárias gigantes (acima de 2 metros de diâmetro nessa espécie) da região.
“Essas árvores gigantes são importantes para os ecossistemas porque geram várias cavidades que são habitats para vários animais, como insetos, aves e mamíferos, e outros seres vivos, como as epífitas, além de contribuir para entendermos o ciclo de vida da espécie e podermos também fazer um manejo sustentável para a exploração madeireira”, explica Scipioni.
A maior das araucárias, conhecida como “Pinheirão”, fica em São Joaquim (SC) e é a única que supera os 3 metros de diâmetro. Ou seja, precisaria de seis pessoas para ser abraçada.
“A escassez dessa madeira no mercado tornou essas árvores muito atraentes porque o volume de madeira em posições altas do tronco seria suficiente para viabilizar economicamente a exploração na época do ciclo madeireiro. Ela certamente teria sido explorada se o dono atual da fazenda e seus antepassados não tivessem recusado ofertas de madeireiras”, escrevem os autores do mapeamento.
As imbuias gigantes passam atualmente por levantamento semelhante, mas, até agora, só foi identificado um exemplar acima de 2 metros de diâmetro.
Essa espécie costuma ser a mais longeva da floresta de araucária, viver mais de 500 anos e superar os 30 metros de altura. Mas o tamanho não tem necessariamente relação com a idade de uma árvore, já que há espécies que crescem rapidamente, como o Eucaliptus regans (que passa de 80 metros de altura), mas não são multisseculares.
Scipioni afirma que o levantamento por enquanto se atém à identificação dessas árvores, mas a análise da longevidade delas demanda mais tempo. Mais informações podem ser encontradas no site do projeto.
O pesquisador também mapeou como esses enormes troncos de árvores se tornaram monumentos em cidades do interior do país. “A maioria das pessoas valoriza mais as árvores mortas do que vivas”, critica Scipioni.

O ‘assassinato’ da árvore de quase 5 mil anos

O estudo da idade das árvores também oferece riscos.
Como a análise passa pela contagem dos anéis associada a diversas outras técnicas, identificar a idade de uma árvore viva envolve um tipo de furadeira que permite remover parte do núcleo da árvore sem matá-la.
Mas as coisas podem não ocorrer como esperado.
Nos EUA, em 1964, o então universitário Donald Rusk Currey coletava uma amostra de um pinheiro do tipo bristlecone, mas conta-se que a broca ficou presa na enorme árvore localizada no Estado de Nevada.
Como o equipamento é caro, ele e um guarda florestal teriam derrubado a árvore para recuperar a broca. Há também uma versão da história que aponta que a derrubada visava a retirada por completo de uma amostra da árvore.
De todo modo, autoridades do serviço florestal à época avaliaram que o exemplar não tinha nada de especial e autorizaram a derrubada dele.
Só depois é que o estudante de geografia descobriu que aquele exemplar de Pinus aristata, batizado de Prometeu, tinha quase 5.000 anos, vindo a ser a árvore mais antiga já registrada até então.
O episódio trágico teve ao menos dois grandes efeitos positivos: gerou uma onda de medidas de preservação em torno das árvores gigantes e levou a muitos achados científicos que contribuíram para a pesquisa da flora e do clima.
“Em razão da idade, essas árvores funcionam como cofres climáticos, armazenando dados de milhares de anos em seus anéis”, explica o Serviço Nacional de Parques dos Estados Unidos.
Fonte: BBC

Cueca, sacos plásticos e cordas encontrados em veado morto com 7 kg de lixo no estômago.

Um veado morto em um parque nacional ao norte da Tailândia foi encontrado com 7 quilos de lixo em seu estômago, dizem autoridades.
Entre os itens encontrados no estômago do animal estavam uma cueca, sacos plásticos, sachês de café instantâneo e partes de uma corda feita de plástico.
Um oficial do parque nacional de Khun Sathan disse que o veado vinha comendo plástico por “muito tempo” antes de morrer.
Ainda este ano, um filhote de dugongo, um mamífero semelhante ao peixe-boi, morreu depois de ingerir plástico, também na Tailândia.
O dugongo, chamado de Mariam, ganhou o coração do público tailandês quando fotos de seu resgate viralizaram. Ele faleceu meses depois, e a autópsia mostrou que o plástico havia obstruído seu estômago.

‘Seja responsável’

No dia 25 de novembro, um oficial em patrulha encontrou o veado macho de 10 anos no Parque Nacional de Khun Sathan, no distrito de Na Noi, ao norte.
Também foram encontrados luvas de borracha, uma toalha pequena e macarrão instantâneo em seu estômago.
“Nós acreditamos que ele estivesse se alimentando desses plásticos há algum tempo antes de morrer”, afirmou Kriangsak Thanompun, diretor do Departamento de Parque Nacional, Vida Selvagem e Conservação de Plantas, à BBC News tailandesa.
“As autoridades [acreditam] que o plástico tenha bloqueado seu canal alimentar, [mas uma] investigação mais aprofundada [será] iniciada”.
Nas redes sociais, muitos criticaram os frequentadores do parque que deixam lixo espalhado pelo lugar.
“Quando for a um parque nacional, recolha seu próprio lixo. Seja responsável”, diz um comentário no Facebook.
Outro afirma que é difícil fazer com que as pessoas limpem a própria sujeira.
“Isso é algo que precisa ser ensinado e implementado desde cedo. Já na vida adulta, é difícil [mudar]”, disse outro usuário.
De acordo com Kriangsak, um “plano de três etapas” será colocado em prática para encorajar os frequentadores a recolher o plástico e os outros detritos nas áreas do parque nacional.
A ideia é criar um comitê que lide com a gestão de resíduos e tente educar o público sobre formas de evitar a produção de lixo.
O uso de sacos plásticos é bem disseminado pela Tailândia.
A organização ambiental Greenpeace disse que cerca de 75 bilhões de pedaços de sacos plásticos são descartados pelo país todos os anos.
O ministro de Meio Ambiente do país havia dito, em setembro, que os grandes varejistas na Tailândia iriam parar de fornecer sacos plásticos a seus clientes a partir de janeiro de 2020.
Com contribuições adicionais de Watchiranot Thongtep e Smitanan Yongsta.
Fonte: BBC

Corte de emissões precisa ser mais drástico para limitar aumento de temperatura global a 1,5ºC.

Mesmo que todos os compromissos atuais sob o Acordo de Paris para o clima sejam implementados, as temperaturas deverão subir 3,2°C, trazendo impactos climáticos ainda maiores e mais destrutivos, segundo novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Para alcançar a meta de 1,5°C, a ambição coletiva precisa aumentar em mais de cinco vezes em relação aos níveis atuais para proporcionar os cortes necessários na próxima década.
Às vésperas do ano em que as nações deverão fortalecer seus compromissos climáticos de Paris, um novo relatório lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) faz um alerta.
A menos que as emissões globais de gases de efeito estufa (GEEs) caiam 7,6% ao ano entre 2020 e 2030, o mundo perderá a oportunidade de entrar na trajetória rumo à meta do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura em até 1,5°C.
O Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2019 (Emissions Gap Report, em inglês) do PNUMA afirma que, mesmo que todos os compromissos atuais sob o Acordo de Paris sejam implementados, as temperaturas deverão subir 3,2°C, trazendo impactos climáticos ainda maiores e mais destrutivos.
Para alcançar a meta de 1,5°C, a ambição coletiva precisa aumentar em mais de cinco vezes em relação aos níveis atuais para proporcionar os cortes necessários na próxima década.
O ano de 2020 é um ano crítico para a ação climática. A conferência das Nações Unidas sobre mudança do clima, em Glasgow, objetiva determinar o curso futuro dos esforços para evitar a crise. Nela, os países precisam intensificar significativamente seus compromissos climáticos.
“Por dez anos, o Relatório sobre a Lacuna de Emissões tem soado o alarme, e por dez anos o mundo só aumentou suas emissões”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres.
“Nunca foi tão importante dar ouvidos à ciência. A não observação desses avisos e tomar medidas drásticas para reverter as emissões implica que continuaremos a testemunhar ondas de calor mortais e tempestades e poluição catastróficas.”
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alertou que se a temperatura ultrapassar 1,5°C a frequência e a intensidade dos impactos climáticos, como as ondas de calor e tempestades testemunhadas em todo o mundo nos últimos anos, aumentarão.
“Nosso fracasso coletivo em agir cedo e com firmeza com relação às mudanças climáticas significa que agora precisamos realizar grandes cortes nas emissões, de mais de 7% ao ano, se forem distribuídos uniformemente na próxima década”, afirmou Inger Andersen, diretora-executiva do PNUMA.
“Isso mostra que os países simplesmente não podem esperar até o final de 2020, quando precisaremos de novos compromissos climáticos, para intensificar suas ações. Eles e todas as cidades, regiões, empresas e indivíduos devem agir agora.”
“Precisamos de vitórias rápidas para reduzir as emissões o máximo possível em 2020, e Contribuições Nacionalmente Determinadas (CNDs) mais fortes para iniciar as principais transformações em economias e sociedades. Precisamos compensar os anos em que procrastinamos”, acrescentou. “Se não fizermos isso, a meta de 1,5°C estará fora de alcance antes de 2030.”
Os países do G20 respondem coletivamente por 75% de todas as emissões, mas apenas cinco deles se comprometeram com uma meta de emissões zero a longo prazo.
No curto prazo, os países desenvolvidos terão que reduzir suas emissões mais rapidamente que os países em desenvolvimento, por razões de justiça e equidade. No entanto, todos os países precisarão contribuir mais para os efeitos coletivos.
Os países em desenvolvimento podem aprender com os esforços bem-sucedidos nos países desenvolvidos e podem até ultrapassá-los e adotar tecnologias mais limpas em um ritmo mais rápido.
O relatório diz que todas as nações precisam aumentar substancialmente a ambição em suas CNDs, como são conhecidos os compromissos de Paris, em 2020 e acompanhar políticas e estratégias para implementá-las. Estão disponíveis soluções para viabilizar o cumprimento das metas de Paris, mas elas não estão sendo implantadas com rapidez suficiente ou em escala suficientemente grande.
A cada ano, o relatório do PNUMA avalia a diferença entre as emissões previstas para 2030 e os níveis consistentes com as metas de 1,5°C e de 2°C do Acordo de Paris. O relatório constata que as emissões de GEE aumentaram 1,5% ao ano na última década. As emissões em 2018, incluindo as mudanças no uso da terra, como o desmatamento, atingiram uma nova alta de 55,3 gigatoneladas de CO2 equivalente.
Para limitar o aumento das temperaturas, as emissões anuais em 2030 precisam ser 15 gigatoneladas de CO2 equivalente mais baixas do que as CNDs atuais para a meta de 2°C e 32 gigatoneladas mais baixas para a meta de 1,5°C. Em termos anuais, isso significa reduções de 7,6% ao ano entre 2020 a 2030 para cumprir a meta de 1,5°C e 2,7% ao ano para a meta de 2°C.
Para cumprir esses cortes, os níveis de ambição nas CNDs precisam aumentar pelo menos cinco vezes para a meta de 1,5°C e três vezes para os 2°C.
De acordo com o relatório, as mudanças do clima ainda podem ser limitadas a 1,5°C. Há uma maior compreensão dos benefícios adicionais da ação climática, como ar limpo e o avanço dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Existem muitos esforços ambiciosos de governos, cidades, empresas e investidores. As opções de soluções e a pressão e vontade de implementá-las são mais abundantes do que nunca, segundo o documento.
Como ocorre todos os anos, o relatório concentra-se no potencial de setores específicos para proporcionar cortes de emissões. Em 2019, ele analisa a transição energética e o potencial de eficiência no uso de materiais, o que pode ajudar bastante a diminuir o déficit de emissões.
Fonte: ONU

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Corte de emissões precisa ser mais drástico para limitar aumento de temperatura global a 1,5ºC.

Mesmo que todos os compromissos atuais sob o Acordo de Paris para o clima sejam implementados, as temperaturas deverão subir 3,2°C, trazendo impactos climáticos ainda maiores e mais destrutivos, segundo novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Para alcançar a meta de 1,5°C, a ambição coletiva precisa aumentar em mais de cinco vezes em relação aos níveis atuais para proporcionar os cortes necessários na próxima década.
Às vésperas do ano em que as nações deverão fortalecer seus compromissos climáticos de Paris, um novo relatório lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) faz um alerta.
A menos que as emissões globais de gases de efeito estufa (GEEs) caiam 7,6% ao ano entre 2020 e 2030, o mundo perderá a oportunidade de entrar na trajetória rumo à meta do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura em até 1,5°C.
O Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2019 (Emissions Gap Report, em inglês) do PNUMA afirma que, mesmo que todos os compromissos atuais sob o Acordo de Paris sejam implementados, as temperaturas deverão subir 3,2°C, trazendo impactos climáticos ainda maiores e mais destrutivos.
Para alcançar a meta de 1,5°C, a ambição coletiva precisa aumentar em mais de cinco vezes em relação aos níveis atuais para proporcionar os cortes necessários na próxima década.
O ano de 2020 é um ano crítico para a ação climática. A conferência das Nações Unidas sobre mudança do clima, em Glasgow, objetiva determinar o curso futuro dos esforços para evitar a crise. Nela, os países precisam intensificar significativamente seus compromissos climáticos.
“Por dez anos, o Relatório sobre a Lacuna de Emissões tem soado o alarme, e por dez anos o mundo só aumentou suas emissões”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres.
“Nunca foi tão importante dar ouvidos à ciência. A não observação desses avisos e tomar medidas drásticas para reverter as emissões implica que continuaremos a testemunhar ondas de calor mortais e tempestades e poluição catastróficas.”
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alertou que se a temperatura ultrapassar 1,5°C a frequência e a intensidade dos impactos climáticos, como as ondas de calor e tempestades testemunhadas em todo o mundo nos últimos anos, aumentarão.
“Nosso fracasso coletivo em agir cedo e com firmeza com relação às mudanças climáticas significa que agora precisamos realizar grandes cortes nas emissões, de mais de 7% ao ano, se forem distribuídos uniformemente na próxima década”, afirmou Inger Andersen, diretora-executiva do PNUMA.
“Isso mostra que os países simplesmente não podem esperar até o final de 2020, quando precisaremos de novos compromissos climáticos, para intensificar suas ações. Eles e todas as cidades, regiões, empresas e indivíduos devem agir agora.”
“Precisamos de vitórias rápidas para reduzir as emissões o máximo possível em 2020, e Contribuições Nacionalmente Determinadas (CNDs) mais fortes para iniciar as principais transformações em economias e sociedades. Precisamos compensar os anos em que procrastinamos”, acrescentou. “Se não fizermos isso, a meta de 1,5°C estará fora de alcance antes de 2030.”
Os países do G20 respondem coletivamente por 75% de todas as emissões, mas apenas cinco deles se comprometeram com uma meta de emissões zero a longo prazo.
No curto prazo, os países desenvolvidos terão que reduzir suas emissões mais rapidamente que os países em desenvolvimento, por razões de justiça e equidade. No entanto, todos os países precisarão contribuir mais para os efeitos coletivos.
Os países em desenvolvimento podem aprender com os esforços bem-sucedidos nos países desenvolvidos e podem até ultrapassá-los e adotar tecnologias mais limpas em um ritmo mais rápido.
O relatório diz que todas as nações precisam aumentar substancialmente a ambição em suas CNDs, como são conhecidos os compromissos de Paris, em 2020 e acompanhar políticas e estratégias para implementá-las. Estão disponíveis soluções para viabilizar o cumprimento das metas de Paris, mas elas não estão sendo implantadas com rapidez suficiente ou em escala suficientemente grande.
A cada ano, o relatório do PNUMA avalia a diferença entre as emissões previstas para 2030 e os níveis consistentes com as metas de 1,5°C e de 2°C do Acordo de Paris. O relatório constata que as emissões de GEE aumentaram 1,5% ao ano na última década. As emissões em 2018, incluindo as mudanças no uso da terra, como o desmatamento, atingiram uma nova alta de 55,3 gigatoneladas de CO2 equivalente.
Para limitar o aumento das temperaturas, as emissões anuais em 2030 precisam ser 15 gigatoneladas de CO2 equivalente mais baixas do que as CNDs atuais para a meta de 2°C e 32 gigatoneladas mais baixas para a meta de 1,5°C. Em termos anuais, isso significa reduções de 7,6% ao ano entre 2020 a 2030 para cumprir a meta de 1,5°C e 2,7% ao ano para a meta de 2°C.
Para cumprir esses cortes, os níveis de ambição nas CNDs precisam aumentar pelo menos cinco vezes para a meta de 1,5°C e três vezes para os 2°C.
De acordo com o relatório, as mudanças do clima ainda podem ser limitadas a 1,5°C. Há uma maior compreensão dos benefícios adicionais da ação climática, como ar limpo e o avanço dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Existem muitos esforços ambiciosos de governos, cidades, empresas e investidores. As opções de soluções e a pressão e vontade de implementá-las são mais abundantes do que nunca, segundo o documento.
Como ocorre todos os anos, o relatório concentra-se no potencial de setores específicos para proporcionar cortes de emissões. Em 2019, ele analisa a transição energética e o potencial de eficiência no uso de materiais, o que pode ajudar bastante a diminuir o déficit de emissões.
Fonte: ONU

‘O mar parece um supermercado, com tanta sujeira’: mergulhadores lutam para limpar recifes.

É possível encontrar de tudo no fundo do mar do arquipélago — de sacolas plásticas a camas, ventiladores e armários.
“O fundo do mar parece um supermercado, tem tanta sujeira lá embaixo”, diz a ambientalista Swietenia Puspa Lestari, de 25 anos.
Ao ver os recifes de coral se afogando em plástico, Swietenia decidiu tomar uma atitude.
Ela fundou a Divers Clean Action Foundation, uma rede de mergulhadores voluntários que limpam detritos do mar da Indonésia — um dos ecossistemas marinhos com maior biodiversidade do mundo.
Eles contam agora com 1,5 mil voluntários em todo o país e no Sudeste Asiático.
Swietenia também trabalha em parceria com centros de reciclagem, para reaproveitar os resíduos encontrados no oceano e transformá-los em novos produtos.
“Algumas pessoas perguntam: ‘Por que se preocupar em limpar os recifes se haverá mais lixo amanhã’?”
“Mas precisamos salvar a vida marinha do plástico”, responde.
Ela também iniciou a campanha #nostrawmovement na Indonésia, que reduziu o uso de canudos de plástico descartáveis ​​em mais de 700 restaurantes.
Swietenia está na lista da BBC de 100 mulheres inspiradoras e influentes de todo o mundo em 2019.
Fonte: BBC

Milhares de agricultores protestam em Berlim contra pacote de reformas.

Um a um, tratores de toda a Alemanha preenchiam a área do Portão de Brandemburgo, no centro de Berlim. Há dias, agricultores de todo o país partiram em direção à capital para participar de um grande protesto nesta terça-feira (26/11) e garantir assim a visibilidade do público.
Apesar de cientes do transtorno causado no trânsito na região, eles precisam atrair a atenção para a causa pela qual estão protestando. “Não podemos continuar assim. Não precisamos de regulamentação excessiva”, afirmou um fazendeiro da região de Norhorn, localizada na fronteira da Alemanha com a Holanda. Ele levou 11 horas para chegar a Berlim. “Não estamos dispostos a aceitar aquilo que os de lá de cima querem que a gente faça, sem nos consultar antes.”
“Os de lá de cima” são as ministras alemãs da Agricultura, Julia Glöckner, e do Meio Ambiente, Svenja Schulze. Em setembro elas apresentaram um pacote agrícola que prevê a redução do uso de fertilizantes, pesticidas e inseticidas para conter a morte de insetos e a contaminação de lençóis freáticos com nitrato, além do banimento do glifosato até 2023.
Cerca de 10 mil agricultores participaram da manifestação em Berlim, que exige uma mudança na política para garantir a sobrevivência do setor. Numa ação silenciosa, centenas de botas e sapatos de crianças foram colocados nos degraus da Coluna da Vitória, que fica do lado oposto do Portão de Brandemburgo, na Avenida 17 de Junho, representando as mais de 94 mil empresas agrícolas que fecharam suas portas nos últimos dez anos.
A vida no campo não é fácil na Alemanha. Além do trabalho duro, o pagamento é baixo. Os agricultores têm dificuldade de alcançar lucros diante das grandes despesas de produção. Com as novas políticas, eles temem que um controle maior sobre o uso de fertilizantes acabe provocando uma diminuição da produção, especialmente em zonas de solo pouco fértil.
“Sim, cometemos erros no passado, sem dúvida. Mas aprendemos com eles”, disse o criador de gado e suínos de Norhorn. “Ainda somos o bode expiatório da nação no debate do nitrato. Não estou convencido de que as medições recentes estão corretas. Tenho a impressão que apenas os casos piores foram relatados, mas somos todos obrigados a assumir a responsabilidade coletiva pelos poucos pecadores.”
O nitrato costuma ser utilizado em fertilizantes e está presente em esterco, mas em altas dosagens pode ser tóxico, tanto para plantas como para animais. Estudos indicam que a substância pode ser cancerígena.
“Queremos ver uma pesquisa honesta sobre de onde realmente vem o teor de nitrato dos lençóis freáticos. Não estou dizendo que nossos fertilizantes não contribuem para isso, mas existem outras causas. Nós, agricultores, somos os únicos alvos do governo e isso é injusto”, protesta um agricultor da Baviera.
“Se supostamente reduzirmos o uso de fertilizantes em 20%, como o governo deseja, isso significa que nossas plantas recebem 20% menos nutrientes por ano, e haverá um impacto correspondente na produção e na renda”, prossegue. “Eu adoraria que meu filho se juntasse ao nosso negócio, mas se não é possível viver disso no futuro, não faz sentido mantê-lo interessado.”
No palco montado no Portão de Brandemburgo, agricultores contavam suas dificuldades. Por volta no meio-dia, o microfone foi aberto às ministras do Meio Ambiente e da Agricultura. Inimiga favorita dos manifestantes, Schulze recebeu vaias ao defender a proteção dos lençóis freáticos e insetos. Klöckner, que vem de uma família de trabalhadores do campo, demonstrou uma compreensão maior para as demandas do grupo, mas tampouco entusiasmou os presentes.
Custos e preços
Os manifestantes reunidos em Berlim insistiram que os subsídios agrícolas são fundamentais para evitar que mais agricultores abandonem o campo. “Estamos frustrados porque não podemos viver dos preços dos nossos produtos”, afirmou a agricultora Antje Marufke, da Turíngia. “A política deveria estabelecer preços mínimos de venda, para que as cadeias de varejo sejam forçadas a aceitar preços mais altos, mas isso não acontece. Em vez disso, é trazida carne da América do Sul.”
“Se os preços dos nossos produtos fossem um pouco mais altos, não precisaríamos de subsídios. Mas haveria muita pressão de preços partindo do Leste Europeu e de outras nações, devido aos acordos comerciais, que estão dificultando nossas vidas com suas exportações baratas”, opinou um agricultor de Oldenburg.
Por sua vez, o agricultor da Baviera disse considerar os subsídios como pagamentos compensatórios pelos custos dos altos padrões de produção. “Sem isso, teríamos uma desvantagem devastadora no mercado em relação a países onde os padrões de produção não são tão altos”, reforçou.
Entre os manifestantes, há um sentimento geral de que o governo falhou ao não considerar os interesses do grupo, enquanto tenta pressionar por mais regulamentação. No fim do dia, os tratores iniciaram sua viagem de volta para as dificuldades do dia a dia. 
Fonte: Deutsche Welle

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Vergonha de voar coloca imigrantes entre a família e o clima.

Quando a adolescente alemã Jennifer Asamoah disse à mãe, em 2018, que não voaria para Gana, para o casamento de sua meia-irmã, ela não estava sendo teimosa, e sim tentando salvar o planeta. “Eu perdi um dos dias mais importantes da vida dela por causa da mudança climática”, explica Asamoah, que opta por não usar aviões devido às emissões de gases do efeito estufa.
Voar, uma das atividades mais produtoras de CO2 que um cidadão pode fazer, está se tornando uma questão decisiva para quem queira ajudar a preservar o clima global. Um levantamento realizado em agosto pela firma de análise de dados Yougov mostrou que dois entre cada três britânicos se dispõe a limitar suas viagens aéreas.
A ativista do clima Greta Thunberg trouxe de forma dramática o assunto à tona, em meados do ano, ao atravessar o Oceano Atlântico não de avião, mas de barco, a fim de ir condenar os líderes do mundo por não estarem protegendo devidamente o planeta.
A Suécia, país natal da jovem de 16 anos, cunhou a expressão flygskam (em inglês: flight shame), que significa “vergonha de voar” – a culpa por tomar um avião, enquanto o meio ambiente se aprofunda numa crise talvez sem volta. O termo se tornou sinônimo dos movimentos antivoo que despontam pelo continente europeu.
O dilema dos migrantes
Parece fácil vencer a vergonha de voar: é só tomar trens e tirar férias mais perto de casa. No entanto para os imigrantes, que compõem 8% da população da Europa, e suas famílias, sacrificar as viagens aéreas impõe um dilema que toca fundo nas identidades de alguns: com que frequência se pode viajar para seus países de origem – se é que se pode?
Cidadãos nascidos no exterior voam mais, mas andam menos de carro do que aqueles cujas famílias vivem há mais de três gerações num país, indicou uma pesquisa da Universidade Técnica de Dortmund. Usando dados do Reino Unido e levando em consideração fatores como renda e educação, os pesquisadores concluíram que os migrantes voam 38% mais do que os nascidos no país em que vivem.
“Migrantes têm necessidade de voar para manter seus círculos de família e de amizades”, explica Giulio Mattioli, pesquisador de transportes e principal autor do estudo. “Uma vez que você migra, isso implica um certo nível de viagens e emissões.”
Mudar de país pode significar deixar para trás filhos, genitores, cônjuges e amigos. Laços mais sutis igualmente provocam o desejo de voltar, como, por exemplo, a necessidade de estar perto do local de nascença ou cercado pela língua materna.
Ao queimar enormes quantidades de combustível de aviação para levantar voo e planar acima das nuvens, as aeronaves emitem cerca de 2% do CO2 global. Elas também liberam poluentes como vapor d’água e óxidos de nitrogênio, que, a altitudes elevadas, contribuem ainda mais para o aquecimento do planeta.
Se Asamoah houvesse voado com a mãe da Alemanha para o casamento Gana e retornado, teria emitido cerca de 0,7 tonelada de dióxido de carbono, de acordo com o calculador online da Organização Internacional de Aviação Civil (OACI). Isso é mais ou menos a média do que um ganense emite em todo um ano.
O estudo de Dortmund concluiu que, ao contrário de seus pais, os filhos de imigrantes não voam com mais frequência do que o restante da população – fato que os pesquisadores não associam a preocupações ambientais.
“Minha mãe apoia minha decisão e também acha que seja um tópico importante”, explica Asamoah. “Mas quando se trata de visitar a família, ela não se importa [com suas emissões], só quer ver sua filha, e eu realmente entendo.”
Vergonha: sim ou não?
Deparados com razões mais fortes para viajar, os imigrantes também têm menos alternativas. “Eu me recuso a me sentir envergonhado por tomar um avião, se não há alternativa melhor, mais sustentável”, afirma Quang Paasch, que tem ascendência vietnamita e é um dos organizadores em Berlim do movimento de protesto Greve para o Futuro. “Não me sinto culpado por voar para ver minha família, porque o nosso sistema é baseado na injustiça social.”
Para quem se estabeleceu em outros continentes, as conexões alternativas práticas são escassas: um trem de Berlim a Istambul leva três dias e meio; chegar a outras cidades ainda mais distantes, como Nova Délhi ou Pequim, poderia levar semanas.
“Uma linha de trem daqui a Nairóbi: isso eu adoraria”, brinca Anastasia Nganga, uma queniana que vive na Alemanha e está tentando reduzir sua pegada carbônica. “Não volto ao Quênia toda semana ou mês, só no prazo de alguns anos. Tem gente aqui na Europa que voa para uma folga de fim de semana.”
No cerne do movimento antivoo, está a questão da justiça. Não há dados confiáveis sobre que parcela da população mundial viaja de avião, mas os especialistas em aviação concordam que a maioria não o faz.
Um relatório divulgado em setembro pelo grupo de pesquisa sem fins lucrativos International Council on Clean Transportation, constatou que, embora só componham 16% da população, os cidadãos dos países ricos são responsáveis por 62% das emissões de CO2 da aviação. Mesmo entre os que usam aviões, um pequeno grupo de voadores frequentes, incluindo os migrantes, realiza uma parcela desproporcional das viagens, apontou o estudo de Dortmund.
Isso levanta questões delicadas para os movimentos ambientais em países mais ricos, que tentam se livrar de sua reputação de privilegiados, enquanto exigem que a população e os governos cortem suas emissões.
Pressionar os imigrantes para não voarem criaria muito conflito, antecipa Mothiur Rahman, advogado inglês de origem bangladeshiana e membro do grupo ativista ambiental Extinction Rebellion. “Quem mede tudo segundo as emissões de dióxido de carbono, está hipersimplificando. Há diferentes qualidades de motivos para voar.”
We Stay on the Ground (Ficamos no Solo), um grupo criado na Suécia, mas ativo por toda a Europa e América do Norte, diz ter coletado mais de 12 mil assinaturas de gente que se compromete a não voar em 2020: No entanto tem dificuldade em envolver as comunidades de imigrantes e da diáspora em seu projeto.
“É a questão mais difícil que encaramos”, admite a fundadora da campanha, Maja Rosen. Parte de mim quer dizer que, claro, todo mundo deveria poder ir ver sua família quando queira. O problema é que o clima não vê diferença.”
No entanto há meios de cortar emissões de aviação sem sacrificar os laços familiares, ressalva Rosen. Como viajar com menor frequência, mas ficando mais tempo fora. Ou eliminar as férias no exterior. “Para mim, faz muito mais sentido alguém que tenha família na Índia ir visitá-la do que alguém como eu sair de férias”, diz a fundadora da We Stay on the Ground.
Fonte: Deutsche Welle

Estudo indica que 2019 pode terminar como o 2º ano mais quente desde 1880.

Não é a toa que o dicionário Oxford escolheu duas palavras (e não uma, como de costume) para representar o ano de 2019: emergência climática. A coisa está esquentando mesmo!
No último dia 18 de novembro, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês), agência científica dos Estados Unidos, publicou um estudo que classifica 2019 como possivelmente o segundo ano mais quente dos últimos 140 anos. A NOAA monitora a temperatura global tanto nos oceanos quanto na superfície desde 1880.
De acordo com o levantamento, entre janeiro e outubro deste ano, a temperatura nos oceanos e na superfície ficou 0,94 °C acima do que a média de 14,11 °C para esse período em todo o século 20. O recorde, porém, ainda pertence ao ano de 2016, que registrou nesses meses uma alta de 1,19 °C em relação à média para essa época do ano ao longo do século passado.
Os locais do planeta com a maior alta de temperatura foram Alasca, noroeste do Canadá e a Rússia central – onde os termômetros se mantiveram ao menos 2 °C acima da média. Já o centro-norte dos Estados Unidos e centro-sul do Canadá apresentaram temperaturas 1°C abaixo da média para janeiro e outubro. 
Temperaturas acima do normal também foram registradas no centro-sul da África, em Madagascar, na Ásia, na América do Sul e nos oceanos Índico, Pacífico e Atlântico.
Outubro
Também chama atenção no estudo que outubro de 2019 foi um dos mais quentes dos últimos 140 anos. Com uma média de 0.98 °C acima da média para o mesmo mês em todo o século 20, outubro deste ano foi o segundo mais quente desde 1880. O recorde ainda é de outubro de 2015.
Os ranking dos dez meses de outubro mais quentes dos ultimos 140 anos está concentrado a partir de 2003 – mas o top 5 fica com os cinco outubros entre 2015 e 2019.
Segundo o levantamento, essa é a 43ª vez consecutiva que a temperatura neste mês fica acima da média em relação a outubros do século 20. Os recordes nos termômetros em outubro deste ano aconteceram principalmente no norte e no oeste do oceano Pacífico, no nordeste do Canadá, no sul do oceano Atlântico, na África, na Europa, no Oriente Médio, na América do Sul e no oceano Índico.
Fonte: Revista Galileu

R$ 7 trilhões por ano: os estudos que tentam calcular quanto a Amazônia, em pé, rende ao Brasil.

Quanto vale a Amazônia? Ou melhor, quanto custariam, para o Brasil, os serviços que ela nos oferece gratuitamente?
A Amazônia brasileira possui hoje 340 milhões de hectares de floresta ainda intacta. Ocupando quase a metade do território brasileiro, ela é objeto de debates inflamados entre os que desejam protegê-la, conservá-la e “monetizá-la”.
Em entrevista recente à BBC News Brasil, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que a Amazônia só será preservada se forem encontradas “soluções capitalistas” que deem dinamismo econômico para a floresta e gerem renda para os cerca de 20 milhões de brasileiros que habitam a região.
Seguindo essa lógica — a de que é preciso fazer a Amazônia “render” dentro do sistema capitalista —, economistas e ecólogos vêm, há algumas décadas, tentando calcular o valor monetário dos serviços que o meio ambiente oferece aos humanos.
Eles dizem que com isso querem, primeiro, abrir um diálogo com as várias correntes de pensamento usando uma linguagem que todos entendem: o cifrão. Segundo, querem mostrar que a natureza (e nesta reportagem, a floresta) não é um patrimônio “que está ali à toa, fazendo nada”. Já contribui muito para a economia do planeta.
Terceiro, os pesquisadores propõem que os estudos sirvam como ponto de partida para decisões futuras.
No caso da Amazônia, a ideia é que esses estudos auxiliem os brasileiros na busca de atividades econômicas sustentáveis baseadas em um conhecimento profundo do potencial da floresta. Para que ela renda ainda mais dólares — em pé.
Isso não é sonho mirabolante e já foi feito antes, eles argumentam. No auge do ciclo da borracha, a floresta contribuía com mais de um terço das exportações brasileiras e rivalizava com a lavoura do café no período — sem que uma árvore fosse derrubada.

Estudo mundial e estudo brasileiro

Para fazer seus cálculos, a equipe de Constanza combinou múltiplos métodos e milhares de estudos publicados por cientistas de todo o mundo.
Para estimar o valor da polinização, por exemplo, o raciocínio foi o seguinte:
“Se tivéssemos de substituir a polinização feita pelas abelhas por trabalho humano, para polinizar manualmente a lavoura, o custo seria US$ 200 (R$ 838) bilhões por ano”, disse Sutton. Portanto, ele explicou, o valor da polinização é o custo que é evitado quando as abelhas fazem esse serviço para nós, gratuitamente.
Para calcular o valor de serviços como a produção de combustíveis e alimentos, a equipe simplesmente usou os valores de mercado desses serviços.

O efeito protetor dos manguezais de Fukushima

Manguezais, como os que estão sendo ameaçados pelo vazamento de óleo no Nordeste brasileiro, prestam serviços valiosíssimos. “Sabemos que os manguezais evitam que marés adentrem e destruam parte das cidades em dias de ressaca”, disse o professor de Ecologia Jean Paul Matzger, do Instituto de Biociência da Universidade de São Paulo, USP, à BBC News Brasil.
“Para Constanza, a pergunta foi: qual seria o prejuízo que teríamos se não houvesse o manguezal?”. Para responder a essa pergunta, a equipe estudou o acidente na usina nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011.
“Eles perceberam que o fato de você ter a proteção dos mangues dá uma super-segurança para as usinas. Havia situações com e sem mangue. Foi justamente assim (fazendo a comparação) que eles avaliaram o prejuízo que (que o vazamento das usinas) tiveram pela ausência do mangue.”
Em 2014, Robert Constanza revisou o valor dos manguezais.
“O valor dos mangues aumentou muito”, disse Metzger. “São US$ 194 mil (R$ 813 mil) por hectare ao ano.”
Já as florestas tropicais, segundo o estudo de Constanza, podem gerar benefícios estimados em US$ 5,4 mil (R$ 22,5 mil) por hectare/ano.

Estudo Brasileiro: Um mapa dos tesouros da Amazônia

Mas o estudo de Constanza não leva em conta as especificidades de cada floresta tropical. Ele oferece apenas um valor médio global. E a Floresta Amazônica é única em vários aspectos. Por exemplo, ela é a mais biodiversa do planeta, segundo especialistas.
Entra em cena o estudo brasileiro, o mais importante desse tipo já feito no país, publicado na prestigiosa revista Nature Sustainability.
O Estudo Espacialmente Explícito de Valoração investiga exclusivamente a porção brasileira da Amazônia e precifica, com maior precisão, um número menor de serviços que ela oferece à economia do Brasil — produção de alimentos (castanha-do-pará), produção de matérias-primas (borracha e madeira sustentável), mitigação dos gases do efeito estufa (absorção e retenção do carbono) e regulação climática (produção de chuva e energia hidrelétrica). O estudo também mapeia a biodiversidade da Amazônia, embora sem precificá-la.
Segundo seus autores, a ideia era criar uma espécie de ferramenta, um mapa que ajudasse tomadores de decisão a desenhar políticas de preservação e uso sustentável dos recursos da floresta.
“O estudo avalia o potencial hoje da floresta de gerar valor econômico em termos líquidos”, disse à BBC News Brasil um de seus autores, o professor da UFMG Raoni Rajão, especialista em gestão ambiental e validação econômica.
Crucialmente, os vários gráficos e tabelas apontam as áreas em que as autoridades deveriam intervir com maior urgência para evitar a perda de valiosos serviços e produtos florestais que — os pesquisadores ressaltam — beneficiam toda sociedade.
Trata-se das áreas em que os serviços prestados podem alcançar o valor mais alto estimado, US$ 737 por hectare por ano.
Ou, fazendo o raciocínio inverso…
“O desmatamento nessas áreas pode gerar prejuízos de até US$ 737 por hectare por ano”, explicou Rajão.
Os pesquisadores explicam que, nessas regiões, os valores são altos porque, ali, vários serviços se combinam: produção de alimentos e de matérias-primas e também serviços indiretos, como regulação climática e absorção do carbono.
Segundo Rajão, essas são também as áreas sob maior risco de ocupação ilegal e desmatamento para a pecuária de baixa produtividade (a mais prevalente na Amazônia).
Isso não é coincidência, explicou. As terras mais valiosas identificadas são as áreas da Amazônia onde o acesso é mais fácil. Por serem de fácil acesso, são também as mais viáveis economicamente. Estamos falando de terras próximas de estradas, de rios e próximas de outras áreas já desmatadas.
Se é assim, então por que não sair abrindo estradas para aumentar a rentabilidade de toda a Amazônia? — você talvez esteja se perguntando.
Porque estradas atraem assentamentos ilegais e mais desmatamento, explicou o pesquisador. E isso pode ter consequências catastróficas para a Amazônia.
Funciona desta forma: a floresta tropical é capaz de gerar sua própria umidade. Mas a floresta desmatada e degradada produz menos umidade, pega fogo mais facilmente, perde a função de transportadora e retentora de umidade. Isso gera um efeito cascata que se alastra por toda a floresta, disse Rajão.
“Quando você degrada a floresta, você faz com que áreas que não foram desmatadas também se ressequem.”
“Então, se fizermos isso (se sairmos rasgando a floresta com estradas), chegaremos ao que os cientistas chamam de ‘tipping point’. Um limite de destruição após o qual a floresta inteira morre.”

US$ 737 (estudo brasileiro) X US$ 5.382 (estudo global)

De volta aos estudos de precificação, como explicar a discrepância tão grande entre os valores encontrados pelos dois estudos?
Nesse ponto, é preciso lembrar que o estudo de Robert Constanza estimou o valor somado de todos os serviços realizados por florestas tropicais.
O estudo brasileiro mediu apenas quatro serviços da Amazônia. Ficaram de fora, além da biodiversidade, serviços de recreação e turismo, retenção de nutrientes, proteção contra inundações, produção de alimentos pela pesca e benefícios à saúde, entre vários outros.
Outra diferença: o estudo global traz valores brutos, o brasileiro, valores líquidos.
E porque buscou valores precisos, o estudo brasileiro acabou trazendo resultados bastante conservadores, explicou Rajão. Tudo aquilo que não pôde ser comprovado na ponta do lápis acabou ficando fora da conta.
Ainda assim, colocado em contexto na realidade do Brasil, US$ 737 por hectare é um valor altíssimo, explicou o pesquisador. Ele usa os números da pecuária para efeito de comparação.
“Muitos acham que, se você tira a floresta e põe gado, o valor anual daquele hectare, que era zero, vai passar a fornecer, em média, US$ 40 por hectare”, disse.
“Porém ao considerar todos os serviços e produtos fornecidos pela floresta, vemos que, na verdade, teremos uma perda para sociedade de até U$S 700 (dependendo da área), já considerando o lucro com a pecuária. Acontece que, quanto mais próxima de estradas, e quanto mais ameaçada é a terra, maior é também seu valor potencial para a exploração de produtos madeireiros e não madeireiros — isso porque os custos de transporte são menores.”

Mudança de mentalidade

Nosso estudo informa sobre as alternativas, disse o especialista.
“Manter (a floresta) protegida produz para a economia até US$ 737 (R$ 3 mil) por hectare por ano. Se você põe pecuária, gerará em média apenas US$ 40 (R$ 167) por hectare ano.”
E oferece um “mapa da mina” da bioeconomia da Amazônia.
“Com isso, esperamos que os criadores de políticas públicas e o setor privado deixem de ver a floresta como um obstáculo para o desenvolvimento”, disse Rajão. “E que a vejam como uma infraestrutura verde crucial para o bem estar e crescimento econômico do país.”

Mineração e soja

Até agora, os valores encontrados pelo estudo foram comparados aos ganhos da pecuária na Amazônia. Mas por que fazer a comparação com a pecuária, e não com a mineração — atividade favorecida pelo governo?
“Mais do que 80% das áreas convertidas são para a pecuária, então a comparação é, sim, com a pecuária”, argumentou.
Segundo Rajão, o problema da mineração não é tanto a área minerada.
“Em teoria, (a mineração) poderia ser até um caminho para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. O problema é que, primeiro, você tem de construir uma estrada até lá. E a gente sabe que 90% do desmatamento acontece a menos de 5 km da estrada.”
“Então, só ao rasgar a floresta, você já gera toda uma dinâmica de desmatamento para pôr pecuária. E você também atrai muita população. Quando você constrói essas megaobras, atrai dezenas de trabalhadores e, depois que terminam a obra, parte deles continua ali. Essa é uma população que depois também vai desmatar. Vai comprar as áreas griladas para a pecuária e se fixar ali.”
Então não vale a pena desmatar para mineração e pecuária, dizem os cientistas. Mas e a soja?
“Grande parte das áreas desmatadas na Amazônia não tem condição de receber agricultura de maior valor, não tem favorabilidade climática. Chove demais, algumas são acidentadas, e os custos logísticos são tão altos que inviabilizam o negócio”, disse o pesquisador.

Os números da extração e coleta na Amazônia

O estudo de precificação da Amazônia brasileira foi feito ao longo de três anos e é assinado por 13 pesquisadores, a maioria do Brasil. A equipe foi a campo observar como os locais extraem seu sustento da floresta.
“Nosso estudo foi olhar valores concretos. O ribeirinho vai lá e vende a castanha. Quantas latas de castanha aquele hectare produz?”, explicou Rajão.
Os pesquisadores usaram o mesmo método para medir a produção de borracha e de madeira sustentável.
“Nossa equipe foi a diferentes Estados da Amazônia entrevistou produtores. Estimou custo de produção, receita, a produtividade daquela área específica de floresta. E ao cruzar esses valores com dados de outras áreas, estimamos o valor daquele hectare. Um trabalho que partiu da análise microeconômica do valor da floresta.”

De US$ 40 a US$ 200 por hectare por ano

Feitas as contas, o estudo mostra que, em certas regiões da floresta, um hectare gera ganhos anuais de até US$ 40 (R$ 167) para a produção de castanha do Pará e US$ 200 (R$ 838) para produção de madeireira sustentável.
Então a castanha rende US$ 40 por hectare por ano? À primeira vista, não parece muito. Mas quando se olha de perto, o valor cresce.
“Pequenos imóveis na Amazônia chegam a 400 hectares. Multiplicados por US$ 40, são US$ 16 mil, ou RS$ 66 mil por ano”, calculou Rajão. “Já são RS$ 5.500 líquidos, por mês, no bolso do produtor.”

Seis milhões de brasileiros tiram sustento da floresta

A pesquisa revela também que 6 milhões de pessoas se beneficiam hoje da extração sustentável de alimentos e de matérias-primas da floresta.
“São populações ribeirinhas, populações tradicionais, indígenas e agricultores”, explicou Rajão. “Eles coletam castanha, borracha e açaí nas reservas extrativistas, como a (reserva) Chico Mendes, por exemplo.”
“O amazônida é aquele que vive da floresta, sabe do valor e não desmata”, continua Rajão. “Quem desmata são os forasteiros que entram ilegalmente.”
Mas ao ressaltar de maneira positiva a contribuição de atividades como a coleta de castanha para a economia do país, estariam os autores ignorando os altos níveis de pobreza e o baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos coletores de castanha?
“O IDH está ligado fortemente às políticas públicas”, respondeu Rajão. “Ele é baixo pois não há escolas, hospitais etc. Com o desmatamento para a pecuária, isso não muda”, argumentou.
“O extrativismo de alguns produtos — como a castanha, a madeira, o açaí — já é mais lucrativo do que a pecuária”, disse Rajão. Mas ele reconhece que nenhuma dessas atividades tira o produtor da pobreza. Isso, disse, requer outras medidas. “É necessário agregar valor, ou seja, em vez de vender o produto para um atravessador, é preciso organizar cadeias de valor onde a maior parte do lucro fica no local.”
Rajão disse que é preciso também modernizar a produção. Ele deu exemplos de como isso poderia ser feito: “Transformando a castanha bruta na descascada, que já está pronta para o consumo. Ou o açaí fruta na pasta congelada que consumimos aqui no Sudeste. E (é preciso) fazer isso já na floresta, com energia solar e tecnologias de baixa manutenção e custo”, disse.
“Esse conceito está na base do que chamamos de Amazonia 4.0. É a bioeconomia da Amaônia com aspectos da indústria 4.0. Mas para chegarmos nessa visão de longo prazo são necessários investimentos em ciência e tecnologia, além de um grande esforço de capacitação.”
O pesquisador lembra que, ao longo de sua história, a Floresta Amazônica já sustentou milhões de pessoas.
“Antes da colonização, havia 50 milhões de pessoas vivendo na Amazônia. O ecossistema tem uma capacidade incrível de sustentar vida. Mas quando você tira a floresta e põe capim, você diminui essa capacidade.”

Os rios voadores e a regulação climática

Até agora, falamos da renda direta que a floresta produz para o Brasil ao gerar alimentos e matérias-primas. Mas a equipe brasileira também mediu a renda que a floresta gera indiretamente ao prestar dois outros serviços: a absorção e retenção do carbono que produz o aquecimento global e a regulação do clima.
Tente traçar na sua mente um quadrilátero que vai de São Paulo até Buenos Aires, na Argentina, e de Cuiabá até a cordilheira dos Andes, pediu o respeitado climatologista brasileiro Antônio Nobre em uma palestra TED na internet.
Essa área, ele disse, gera 70% do PIB da América do Sul. E para fazer isso, depende dos chamados rios voadores que fluem da Amazônia transportando umidade.
Esses fluxos aéreos maciços de vapor de água que vêm de áreas tropicais do oceano Atlântico e são alimentados pela umidade que se evapora da Amazônia viajam mais de 3 mil km pela atmosfera levando chuvas e irrigando o sul do Brasil, Uruguai, Paraguai e norte da Argentina.
Os rios voadores são, portanto, vitais para a produção agrícola e a vida de milhões de pessoas na América Latina.
Pois quanto vale a regulação climática que a Amazônia faz para o Brasil — lembrando que os rios voadores também geram energia hidrelétrica para o país?
Essa foi mais uma pergunta que a equipe brasileira tentou responder, mas um serviço dessa magnitude não é fácil de precificar.
E de fato, no esforço de calcular valores líquidos, com precisão, nessa categoria de serviço o estudo brasileiro traz números que os próprios pesquisadores consideram conservadores.
Os mapas e gráficos revelam, no entanto, alguns dados importantes. Um deles diz respeito às chamadas “áreas sem destinação” da Amazônia brasileira:
Estamos falando de 62 milhões de hectares de floresta em áreas públicas que não tiveram seu uso definido pelo governo — por exemplo, não são reservas indígenas e não foram destinadas à conservação ou à reforma agrária. Por conta dessa indefinição, são áreas sob grande risco de ocupação ilegal e desmatamento para dar lugar à pecuária.
O estudo concluiu que a chuva gerada por esses 62 milhões de hectares contribui, anualmente, com US$ 422 milhões (R$ 1,77 bilhão) para a produção agropecuária. Isso equivale a 35% da renda líquida das lavouras de soja no Mato Grosso, principal estado produtor brasileiro.
Ou seja, se essas áreas forem desmatadas, o setor perderá mais de US$ 400 milhões (R$ 1,68 bilhão) por ano pela queda de produtividade resultante da diminuição nas chuvas.
Caso o desmatamento atinja áreas de uso sustentável, proteção integral, terras indígenas, não designadas, privadas e militares, as perdas para o setor podem alcançar US$ 763 milhões (R$ 3,2 bi) por ano.
Outra revelação importante: o desmatamento para a pecuária gerará perdas para os próprios pecuaristas. A redução nas chuvas associada ao desmatamento nas áreas citadas acima pode trazer perdas anuais de US$ 1,4 bilhão (R$ 5,8 bilhão) para a pecuária brasileira.

Quanto vale a biodiversidade da Floresta Amazônica?

Raoni Rajão e seus colegas não sabem quanto vale a biodiversidade da floresta. Mas o pesquisador explicou que há métodos para se fazer esse cálculo:
“Existem estudos que estimam o nível de desconhecimento. Olham o esforço de amostragem e o tanto de diversidade que foi descoberta. Aí, estimam a quantidade de espécies desconhecidas e, em cima disso, o valor econômico.”
Fazer isso na Amazônia ainda é um projeto futuro. Mas, para termos uma noção do valor da nossa biodiversidade, basta olharmos na outra direção, para a história do Brasil, disse Rajão.
A Segunda Revolução Industrial, que ocorreu entre meados dos séculos 19 e 20 — quando foram inventados o automóvel, o avião e o telefone —, não teria sido possível sem a borracha da Amazônia, disse o especialista.
“Para você ter equipamentos mecânicos, precisa de borracha, algo para amortecer. Você não conseguiria fazer um carro sem a borracha produzida sustentavelmente na Amazônia.”
No livro A luta pela borracha no Brasil: Um estudo em história ecológica, o historiador Dean Warren dá uma pista do valor econômico que a floresta já rendeu ao país:
“O comércio da borracha tornou-se um sustentáculo da economia brasileira. Em seu auge, proporcionou quase 40% das receitas de exportação, quase igualando o café em importância”, escreveu o historiador.
“Hoje, depois de desmatar uma área de quase cem milhões de hectares, a agropecuária na Amazônia contribui com menos de 10% da produção brasileira”, comparou Rajão.

Os anestésicos amazônicos que revolucionaram a medicina

Há milhares de anos, indígenas na Amazônia usam um conjunto de plantas que têm extratos venenosos para anestesiar a caça, contou Rajão.
“A flecha penetra na caça, o animal fica paralisado mas logo na sequência o veneno é processado, não envenena quem come a caça.”
As plantas, conhecidas como curare, deram origem aos poderosos anestésicos que transformaram a medicina.
“No século 20, cientistas da Universidade de Leipzig, na Alemanha, foram lá, roubaram esse conhecimento, isolaram o princípio ativo e isso contribuiu para a revolução anestesiológica.”
Quanto valeriam, em moeda de hoje, o ciclo da borracha e os anestésicos produzidos pelas plantas curare?
E qual seria o valor, para o Brasil e o mundo, de outras preciosidades ainda desconhecidas, ou quem sabe conhecidas e protegidas pelos povos tradicionais da floresta?
Esse preço, difícil de estimar, é o valor da biodiversidade da Amazônia.
* O Estudo Espacialmente Explícito de Valoração da Amazônia Brasileira está disponível na plataforma web interativa amazones.info
Fonte: BBC