sábado, 30 de junho de 2018

62% dos tatus da Amazônia brasileira no Pará têm bactéria da lepra, diz estudo.

Estudo de brasileiros e americanos indica que animais são reservatório para bactérias da hanseníase no Brasil. Relação é corroborada pelas altas taxas da doença em áreas rurais no país.
      Tatu em campos, cerrados e bordas de florestas, onde escava túneis para se esconder (Foto: Angélica Pizzolato / TG)
Um estudo inédito publicado na “PLos Neglected Tropical Diseases” mostrou que 62% dos tatus que vivem na Amazônia brasileira (especificamente no oeste do Pará) testaram positivos para a Mycobacterium leprae — bactéria causadora da hanseníase, ou da lepra, como a doença é conhecida.
Não é de hoje que a ciência sabe que tatus podem atuar como um reservatório natural para a bactéria causadora da doença. Trata-se da 1ª vez, contudo, que a relação é demonstrada com essa precisão no Brasil, dizem os autores.
No sul dos Estados Unidos, a associação já era observada — por isso, pesquisadores acreditam que a relação de transmissão entre humanos-tatus, principalmente via consumo da carne, seja um fenômeno antigo no Brasil.
A hipótese da pesquisa também é corroborada pelas maiores taxas de hanseníase detectadas em áreas rurais do país (com Centro-Oeste e Norte apresentando os maiores índices; veja abaixo).
“Os tatus ocorrem em números muito elevados em muitas áreas rurais do Brasil e a detecção de casos em humanos tem sido considerada hiperendêmica na região amazônica por muito tempo”, escreveram os autores.
“Por isso, é extremamente provável que a interação entre tatus e seres humanos infectados não seja um caso recente”, concluíram.

Os achados do estudo:

  1. 62% dos tatus na Amazônia no oeste do Pará testaram positivo para a Mycobacterium leprae (bactéria causadora da lepra ou hanseníase);
  2. Das 146 pessoas entrevistadas no município de Belterra, 7 foram diagnosticadas com hanseníase;
  3. 63% (92) apresentavam sinais de anticorpos contra a lepra, o que indica contato com a bactéria;
  4. Aqueles que mais consumiam carne de tatu tinham maiores níveis de anticorpos contra a lepra que aqueles que não consumiam a carne;
  5. Levando-se em consideração as altas taxas de hanseníase na Amazônia, pesquisadores acreditam que a rota de transmissão tatu-humanos não seja um fenômeno recente na região.
Segundo os autores, o estudo mostra, pela primeira vez, que esses animais podem atuar como um reservatório para o vírus por aqui. O trabalho teve como primeiros autores Juliana Portela e Moises Silva, ambos pesquisadores da Universidade Federal do Pará.
A pesquisa também teve a participação de cientistas dos Estados Unidos, como John Spencer, da Universidade do Estado do Colorado (EUA).
A hanseníase, ou a lepra, é uma doença contagiosa. Causada por bactéria, a condição danifica os nervos levando a sérias incapacidades físicas (pode haver dificuldades para andar ou para segurar objetos).
Manchas avermelhadas, esbranquiçadas e amarronzadas são marcas da doença. Indivíduos sentem febre, dor e “fisgadas” nos músculos.
                      Carne de tatu apreendida pela Polícia Militar, em Planaltina (GO). (Foto: Polícia Militar/Divulgação)

Maior número de casos é detectado em áreas rurais

Boletim do Ministério da Saúde divulgado em fevereiro de 2018 mostra que foram notificados 25.218 casos de hanseníase no Brasil. Entre 2012 e 2016, o ministério reporta 151.764 novos casos.
Maiores taxas foram detectadas nas regiões Centro-Oeste (32,27 novos casos a cada 100 mil habitantes) e Norte (34,26 novos casos a cada 100 mil habitantes).
No Pará, onde o estudo foi realizado, a taxa de detecção registrada pelo Ministério da Saúde foi de (40,39 casos a cada 100 mil habitantes). No Brasil, a média nacional de detecção de novos casos é de 12,2 novos casos a cada 100 mil habitantes.

Lepra e consumo de carne de tatu

Além da análise dos tatus, pesquisadores também entrevistaram e testaram 146 pessoas da cidade de Belterra, no Pará. Cientistas analisaram a frequência das interações dessas pessoas com os Tatus. Também níveis de anticorpos contra a lepra também foram medidos no sangue desses indivíduos.
Da análise, cientistas diagnosticaram 7 pessoas com hanseníase. Dessas, 63% apresentavam níveis de anticorpos contra a lepra — o que sugere contato com a bactéria. Também pesquisadores encontraram que aqueles que consumiam a carne mais frequentemente apresentaram maiores níveis de anticorpos.
“Esses animais [os tatus] vivem na Amazônia brasileira e alguns moradores caçam e matam tatus como fonte alimentar de proteína”, diz nota sobre a pesquisa.
Fonte: G1

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Um campo de futebol de floresta foi perdido a cada segundo em 2017.

Segundo uma pesquisa da Global Forest Watch, o mundo perdeu mais de um campo de futebol de floresta a cada segundo em 2017, totalizando uma área equivalente a toda a Itália.
A perda registrada foi de 29,4 milhões de hectares, a segunda maior desde o início do monitoramento, em 2001. Os dados foram colhidos do mundo todo por satélite.
O papel do Brasil nesse cenário
As perdas de cobertura florestal dobraram desde 2003, enquanto o desmatamento de florestas tropicais cruciais dobrou desde 2008.
O Brasil, que vinha em uma tendência de queda da perda florestal, voltou a sofrer com esse problema em 2017 em meio à instabilidade política. A nação, com seu vasto território amazônico, é vital no combate ao desmatamento.
Durante uma década, a partir de 2005, uma repressão governamental levou a baixas no desmatamento, mas a derrubada de árvores está subindo rapidamente novamente, à medida que a disputa política tira a atenção das autoridades das ações ambientais.
O Brasil foi o país que mais sofreu perda florestal no mundo todo desde que a Global Forest Watch começou a realizar esse levantamento. Enquanto houve uma diminuição no ano passado em relação ao desmatamento recorde que ocorreu em 2016, os números de 2017 ainda são os segundos mais altos da história.
Mais de um quarto das perdas de árvores no Brasil em 2017 foi devido a incêndios deliberadamente causados por humanos para limpar a terra.
No resto do mundo
Outras nações importantes, como Colômbia e República Democrática do Congo, também sofreram perdas recordes.
A Colômbia é um centro global para a biodiversidade, mas as perdas aumentaram 46% em 2017. A Farc, o maior grupo rebelde do país, anteriormente controlava grande parte do território amazônico colombiano, bloqueando o acesso à floresta. A desmobilização dessas forças armadas rebeles deixou um vácuo de poder e o desmatamento ilegal para gado, extração de madeira e produção de cocaína dispararam.
A boa notícia é que, na Indonésia, o desmatamento caiu 60% em 2017. Foi um ano úmido para o país, o que diminuiu as perdas por incêndios. Uma maior proteção do governo às florestas de turfa também entrou em vigor.
Consequências
As perdas florestais são um grande contribuinte para as emissões de carbono que impulsionam o aquecimento global. Seu efeito é quase o mesmo que o total de emissões dos EUA, que é o segundo maior poluidor do mundo.
O desmatamento destrói o habitat da vida selvagem e é uma das principais razões para as populações de animais selvagens terem caído pela metade nos últimos 40 anos, iniciando uma sexta extinção em massa.
Enquanto apenas 2% do financiamento para a ação climática vai para a proteção de florestas, estas têm o potencial de fornecer um terço dos cortes de emissões globais necessários até 2030. “É realmente uma questão urgente que devia estar recebendo mais atenção”, explicou Frances Seymour, do World Resources Institute, que produz o Global Forest Watch ao lado de colaboradores.

É nossa culpa

De acordo com as informações coletadas pela pesquisa, a destruição humana causa virtualmente todo o desflorestamento nos trópicos.
“A principal razão pela qual as florestas tropicais estão desaparecendo não é um mistério – vastas áreas continuam sendo desmatadas para soja, carne bovina, óleo de palma, madeira e outras commodities comercializadas globalmente”, disse Seymour. “Grande parte é ilegal e ligada à corrupção”.
Os incêndios são dominantes em latitudes mais altas, causando cerca de dois terços das perdas na Rússia e no Canadá, e podem estar se tornando mais comuns devido à mudança climática.
Novas florestas estão sendo cultivadas na China e na Índia, por exemplo, mas a extensão exata em que elas compensam a destruição das florestas já existentes ainda é desconhecida. Por enquanto, o que está claro é que o desmatamento excede significativamente o reflorestamento.
Estima-se que apenas cerca de 15% das florestas que provavelmente existiam antes da civilização humana permaneçam intactas hoje. Um quarto foi destruído e o resto fragmentado ou degradado.
Não é só o meio ambiente que sofre
A destruição das árvores não prejudica apenas o meio ambiente. “Junto com essa violência contra a Terra, há uma crescente violência contra as pessoas que defendem essas florestas”, disse Victoria Tauli-Corpuz, relatora especial da ONU sobre os direitos dos povos indígenas.
De acordo com Tauli-Corpuz, metade dos 197 defensores ambientais mortos em 2017 eram de grupos indígenas.
“Os povos indígenas há muito administram as florestas do mundo que são cruciais para a luta contra as mudanças climáticas”, completou. “Os novos dados mostram que a taxa de perda de cobertura de árvores é menos da metade em terras comunitárias e indígenas, em comparação com outros lugares”
Fonte: Natasha Romanzoti. Hypescience

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Brasil intensificará ações de proteção florestal

“No Brasil acreditamos que proteger a florestas e seus serviços ecossistêmicos não seja uma barreira para o crescimento econômico. Temos evidências de que é possível fazer um novo modelo de desenvolvimento que proteja a floresta. Quando comparamos o período 2004-2017, o PIB do Brasil aumentou mais de 30%, ao passo que o desmatamento da Amazônia reduziu em 75%, quebrando o vínculo entre crescimento econômico e aumento das emissões”, pontuou Edson Duarte.
O ministro de Clima e Meio Ambiente da Noruega, Ola Elvestuen, reconheceu o esforço que o Brasil tem feito ao ampliar as áreas protegidas no país, que já correspondem ao maior conjunto de unidades de conservação do planeta. Segundo ele, esse aumento significativo continuará ajudando a defender a floresta e combater o desmatamento. O ministro norueguês também disse estar impressionado com os instrumentos de comando e controle e com o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que atualmente conta com mais de cinco milhões de propriedades rurais registradas em todo o país.
O FÓRUM
O Fórum de Florestas Tropicais destacará, nesta edição, a importância da floresta para o atingimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), além de discutir como financiamentos públicos e privados podem ser utilizados para conservação da floresta.
O objetivo do Fórum é comemorar os resultados e identificar os desafios dez anos após a redução das emissões do desmatamento e da degradação florestal nos países em desenvolvimento (REDD+), além de promover estratégias para que as metas do Acordo de Paris sejam alcançadas, assim como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
O secretário de Mudança do Clima e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Thiago de Araújo Mendes, informa que o evento tem um papel muito importante ao reunir especialistas da área, membros do movimento ambientalista e, também, os principais representantes dos países doadores da cooperação internacional, assim como fundações filantrópicas que têm apoiado a proteção de florestas.
“A expectativa é de que a gente consiga identificar meios para ampliar e chegar a um novo patamar de financiamento na área florestal, e, assim, intensificar ainda mais as ações de proteção no Brasil, além de replicar essa liderança brasileira em outros países”, disse Tiago Mendes.
O secretário do MMA adiantou que esse espaço para uma nova iniciativa de financiamento florestal existe, e que o Brasil tem a intenção de implementar o REDD+ em outros biomas. “Não tem nenhum país no mundo que tenha apresentado resultados tão significativos na redução das emissões como o Brasil”, finalizou.
REDD+
O Brasil é referência mundial na implementação do REDD+, mecanismo criado pela Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) para recompensar os países em desenvolvimento por seus resultados relacionados às atividades de: Redução das Emissões provenientes de Desmatamento e da Degradação florestal, incluindo (+) a conservação dos estoques de carbono florestal, o manejo sustentável de florestas e o aumento dos estoques de carbono florestal.
A ENREDD+ é a política pública brasileira que internaliza e implementa este instrumento, buscando mobilizar recursos para a proteção das florestas. Com a aprovação da Estratégia Nacional para REDD+ no final de 2015, o Brasil se tornou o primeiro país a cumprir o Marco de Varsóvia estabelecido na Convenção do Clima.
COOPERAÇÃO
O ministro Edson Duarte também participou de reunião bilateral com Ola Elvestuen, momento em que foram fortalecidas parcerias em outras áreas, como proteção dos oceanos, resíduos sólidos, implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Fonte: Renata Meliga, enviada especial a Oslo (Noruega)/ Ascom MMA

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Nesta cidade, você pode ir para a cadeia se for pego usando sacola ou garrafa plástica.

Mumbai tornou-se a maior cidade indiana a proibir plásticos de uso único. Segundo a nova lei, locais que forem apanhados com sacolas, garrafas ou copos descartáveis podem receber multas de até 25.000 rúpias (cerca de R$ 1.385) e ainda ir parar na cadeia.
Inspetores foram postados em toda a urbe para flagrar empresas ou indivíduos utilizando produtos plásticos. Diversas empresas, incluindo McDonald’s e Starbucks, já foram supostamente multadas.
As penalidades variam de 5.000 rúpias (cerca de R$ 277) para primeiros infratores até a ameaça de três meses de prisão para aqueles que forem flagrados repetidamente usando plásticos descartáveis.

Lixo plástico mal gerido: a situação dos países

A Índia foi a mais recente anfitriã do Dia Mundial do Meio Ambiente, que este ano se concentrou na epidemia do lixo plástico. Aproximadamente 6,3 bilhões de toneladas de plástico foram descartadas globalmente no meio ambiente desde 1950, a maioria das quais não irá degradar por pelo menos 450 anos.
Metade do plástico do mundo, no entanto, foi criado apenas nos últimos 13 anos. Cerca de metade também é provavelmente descartável, ou seja, produtos plásticos utilizados apenas uma vez e jogados fora, como copos de café para viagem e canudos de refrigerante.
A atitude de Mumbai é muito interessante. Enquanto o uso de plástico na Índia é menos da metade da média global – cerca de 11 kg por ano per capita, em comparação com 109 kg nos EUA -, a Índia tem uma das maiores taxas de má gerência do lixo plástico no mundo todo, de acordo com um estudo de 2015 publicado na revista Science.

A pesquisa classificou os 20 piores países em massa de resíduos plásticos mal geridos, e a Índia apareceu em 12º lugar. O Brasil se encontra em 16º. O primeiro lugar é da China, enquanto o 20º pertence aos EUA.

Pânico em Mumbai

O problema do lixo plástico é bastante visual no país asiático. Embalagens, copos e sacolas espalhadas pelas ruas das cidades e praias indianas são comuns e ocupam papel central nos cenários dos aterros sanitários nas montanhas das principais áreas metropolitanas, como Déli.
“Para a situação da poluição, é bom fazer isso, mas para as pessoas é um grande problema”, disse Kamlash Mohan Chaudhary, morador de Mumbai, em relação à proibição. “As pessoas aqui carregam tudo em sacolas plásticas”.
Chaudhary, que é motorista de táxi, disse que começou a usar uma sacola de pano e que seu vendedor local de carne de carneiro agora embrulha seus produtos no jornal, em vez de folhas de plástico.
A mídia local relatou reclamações de fornecedores, contudo, alegando abuso por parte de inspetores que estão usando a confusão inicial sobre a lei para extorquir dinheiro das empresas.
O descontentamento com a proibição foi agravado na última segunda-feira por chuvas torrenciais que, segundo Chaudhary, encharcaram as sacolas de pano que muitas pessoas passaram a levar como alternativa. Mensagens estão sendo circuladas pela plataforma WhatsApp com histórias de pessoas que foram multadas, gerando medo e cumprimento à nova lei.

Fonte: Natasha Romanzoti, Hypescience

terça-feira, 26 de junho de 2018

Estado na Índia bane uso de plástico.

                                                                        Lixo plástico em praia de Bombaim
O governo do estado de Maharashtra, um dos mais populosos da Índia e que tem Mumbai como capital, proibiu produtos de plástico. Estão vetados fabricação, uso, venda, distribuição e estocagem de material plástico, incluindo sacolas descartáveis, colheres, pratos e garrafas PET.
Quem desrespeitar a lei está sujeito a multas de até 370 dólares e até três meses de prisão, no caso de reincidentes. A lei está em vigor desde o último sábado (23/06).
Os produtos plásticos entopem canos e dutos de água durante a estação chuvosa associada às monções, de junho a setembro, que abalam especialmente esse estado de mais de 100 milhões de habitantes.
Quem for flagrado utilizando plásticos pela primeira vez estará sujeito a multa de 5 mil rupias (74 dólares), valor relativamente alto, se considerado que muitos salários na Índia não passam das 10 mil rupias mensais (150 dólares). O valor da multa é dobrado para quem for pego uma segunda vez.
"Para a terceira vez, será aberto um processo, a ser decidido em tribunal", disse o diretor da Scretaria de Meio Ambiente de Maharashtra, B.N. Patil.
Ele acrescentou que os reincidentes poderão ser condenados a multas de até 25 mil rupias (370 dólares) e estarão sujeitos a penas de até três meses de prisão.
A cada ano, são usados no mundo 500 bilhões de bolsas plásticas; ao menos 8 milhões de toneladas desse material terminam nos oceanos, o equivalente à descarga de um caminhão de lixo a cada minuto.
O plástico constitui 10% de todos os resíduos gerados pelo homem, e cerca de 50% do produto sintético são para uso único ou descartável.
Fonte: Deutsche Welle

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Oito razões pelas quais o plástico conquistou o mundo.


                                                                        (Foto: Shammi Mehra/AFP)
Homem trabalha separando garrafas de plástico num galpão em Jalandhar, na Índia 
O plástico é hoje um conhecido vilão do meio ambiente. Ele demora a se decompor e vem poluindo cada vez mais os oceanos, sendo uma ameaça à vida marinha – a ponto de diversas cidades, como Rio de Janeiro, “declararem guerra” aos canudos ou a outros itens plásticos de uso único.
E como será que esse material se tornou tão presente no nosso cotidiano?
O cientista de materiais e apresentador Mark Miodownik analisa a complicada relação humana com o plástico e sua importância na vida moderna:
                                                        (Foto: Reprodução/Pequenas Empresas & Grandes Negócios)
A versatilidade do plástico o tornou amplamente usado 
1. Os primeiros plásticos substituíram o marfim
Surpreendentemente, o primeiro plástico comercial foi feito de algodão.
Em 1863, o marfim de elefantes, então amplamente usado para produtos cotidianos, como candelabros, guarda-chuvas, bolas de sinuca e teclas de piano, estava se tornando escasso. Para enfrentar a carência do material, um fabricante americano de bolas de sinuca ofereceu US$ 10 mil a qualquer inventor capaz de encontrar uma alternativa.
O inventor amador John Wesley Hyatt aceitou o desafio e começou a experimentar materiais feitos de lã de algodão e ácido nítrico.
Acabou inventando o nitrocelulose, que chamou de “celuloide”, um material amarelado maleável capaz de tomar formas distintas.
No entanto, as bolas feitas de celuloide eram levemente explosivas e produziam um barulho alto quando se chocavam entre si.
De qualquer modo, a invenção de Hyatt acabou tendo milhares de usos distintos – tanto que a celuloide comercial acabou permitindo o desenvolvimento do filme cinematográfico. O que nos leva para o item 2…
Plástico descartável é conveniente, mas cobra seu preço do meio ambiente (Foto: José Marcelo/ G1 PI)
2. O plástico pavimentou o caminho do cinema
O primeiro carretel de filme para cinema era, na verdade, feito de papel.
A maleabilidade e a força da celuloide faziam dela o material perfeito para aumentar a praticidade da produção cinematográfica.
Esse plástico inflamável se destacava porque poderia ser confeccionado em longas tiras e pintado com químicos que mudavam conforme a presença da luz.
Por isso, a celuloide acabou permitindo a ampla produção e distribuição de filmes da indústria de Hollywood.
3. Baquelite: Um material de mil usos
Em 1907, entrou em cena o baquelite, uma resina sintética que era subproduto da queima de carvão.
Era um material quebradiço e de coloração marrom-escura, mas com benefícios: podia ser moldado em formatos distintos e era muito duradouro.
Além disso, sua propriedade como isolante elétrico o tornava perfeito para instalações, tomadas e soquetes de luz.
O baquelite abriu caminho para o desenvolvimento de outros plásticos sintéticos que viriam nos 50 anos seguintes.
4. O plástico influenciou a Segunda Guerra Mundial
Nos anos 1930 e 1940, cientistas petroquímicos criaram diversos plásticos novos, inclusive o polietileno, que teve um papel vital na Segunda Guerra Mundial: era usado para isolar as longas linhas elétricas usadas pelos radares aéreos das forças aliadas (formadas primordialmente por Reino Unido, Estados Unidos, União Soviética e China), ajudando-os, por exemplo, a proteger a frota naval britânica no oceano Atlântico.
“(O plástico) deu aos nossos (militares) uma vantagem, e há quem diga que ele contribuiu para o desfecho da guerra”, diz Susan Lambert, curadora do Museu do Design em Plástico na Universidade de Artes de Bournemouth, na Inglaterra.
O material teve incontáveis usos militares: o nylon serviu para substituir a seda na fabricação de paraquedas; o acrílico foi usado nas janelas de compartimentos de tiro dos tanques e capacetes de plástico tomaram o lugar dos de metal, que eram mais pesados.
A invenção de novas utilidades também coincidiu com um crescimento exponencial da indústria plástica.
 A música pôde ser gravada
Até meados do século 19, só era possível escutar música que fosse tocada diretamente dos instrumentos musicais.
Isso mudou com o clindro fonográfico, inventado por Thomas Edison em 1877.
Feitos de cera, os primeiros cilindros permitiram a gravação e a reprodução do som, mas a mudança para o plástico aumentou drasticamente a vida útil das gravações, permitindo que elas fossem tocadas por anos e anos.
Vieram depois os discos de vinil, as gravações em cassete e os CDs, tornando a música acessível ao público em grande escala – tudo graças ao plástico.
O plástico permitiu que a música fosse gravada e reproduzida (Foto: Reprodução/TV Globo)
6. Hospitais se tornaram mais higiênicos
Ao adicionar químicos extras ao plástico, inventores descobriram que conseguiam deixá-lo mais elástico e maleável.
Essas propriedades o tornaram perfeito para equipamentos hospitalares e, assim, garrafas de vidro e tubos de borracha – difíceis de serem esterilizados e suscetíveis a rachaduras – foram substituídos por bolsas de sangue e tubos plásticos.
Além disso, seringas descartáveis facilitaram a higiene em hospitais e ajudaram a salvar vidas.
7. Descarte conveniente
Depois da Segunda Guerra Mundial, a indústria petroquímica viveu grande expansão, desenvolvendo dezenas de novos materiais plásticos. Foi a chamada “revolução do plástico”.
Economias de escala tornaram o material muito barato quando fabricado em grandes quantidades.
Por volta dos anos 1960, surgiu o plástico de uso único – canudos, copinhos, colheres e etc -, que conquistou consumidores por ser completamente descartável e livrá-los da tarefa de ter que lavar louças após a festa de aniversário.
Nasceu aí a cultura do descartável, que cobraria um alto preço do meio ambiente.
8. Plástico reduz o desperdício de comida
Segundo a FAO, braço da ONU para alimentação e agricultura, a América Latina e o Caribe perdem ou desperdiçam anualmente 15% dos seus alimentos disponíveis.
E um aliado contra o desperdício é a embalagem plástica.
“Uma das grandes vantagens dessas embalagens é a quantidade de tempo adicional que elas dão às pessoas para levar o alimento (produzido) no campo até a gôndola do supermercado”, diz o cientista de materiais Phil Purnell. “Isso nos permite proteger alimentos no transporte.”
Embalagens plásticas foram cruciais no transporte e armazenamento de alimentos (Foto: Fabio Rodrigues/G1)
O que deu errado?
Hoje, porém, nossa dependência de produtos plásticos baratos, rapidamente descartáveis e extremamente duradouros gerou um problema ambiental grave, sobretudo nos oceanos, onde vai parar grande parte dos produtos descartados – e onde eles permanecem por décadas ou séculos.
Os oceanos recebem, a cada minuto, o equivalente a um caminhão cheio de plástico. É crucial, portanto, mudar a forma como usamos e valorizamos esse material.
O mantra que tem guiado isso é reduzir o consumo, reutilizar o que já existe e reciclar o que precisar ser descartado.
Fonte: BBC

domingo, 24 de junho de 2018

Árvore chinesa de 1.400 anos derruba suas folhas amarelas sobre templo budista, e é a coisa mais linda do mundo

A árvore das imagens abaixo é uma Ginkgo biloba de 1.400 anos, localizada em um templo budista na China.
As fotos são de um ano atrás, mas a beleza das folhas caídas no chão do templo Gu Guanyin, afogando-o em um oceano amarelo e dourado, continua a mesma.
Ginkgo biloba é conhecida como “fóssil vivo” porque, apesar de todas as mudanças climáticas drásticas, permanece inalterada há mais de 200 milhões de anos. Sim, essa espécie de árvore já existia desde os tempos dos dinossauros.
Ela é caduca, o que significa que perde todas as suas folhas no inverno. As dessa árvore antiga, que cresce nas montanhas de Zhongnan, começam a cair em meados de novembro, final do outono na China. 




Fonte: hypescience

sábado, 23 de junho de 2018

Esta árvore mágica produz 40 tipos diferentes de frutas.


San Van Aken é um artista estadunidense que cria obras de arte vivas. Ele cresceu em uma cidade pequena no estado da Pensilvânia, e estudou artes no ensino superior. Anos depois, porém, sua infância na fazenda passou a fazer parte importante de seu trabalho artístico. Aken conta que seu trabalho “sempre foi inspirado pela natureza e pela nossa relação com a natureza”.
Ele ficou famoso em 2008 por criar a exposição “Eden”, com plantas malucas formadas por vários enxertos de diversas espécies. Mais tarde, ele criou a Árvore das 40 Frutas, que é tão incrível quanto seu nome sugere.

                                                                 Projeção digital de como a árvore será quando for madura
O artista já criou 16 dessas árvores que envolvem 40 enxertos, e as espalhou por museus, centros comunitários e as vendeu para colecionadores particulares nos EUA todo, em estados como Massachusetts, New York, New Jersey, Arkansas e Califórnia.
Usando uma técnica que ele chama de “escultura através do enxerto”, Aken cria árvores que contêm galhos de pessegueiros, cerejeiras, ameixeiras, nectarinas e amêndoas. Algumas dessas plantas vêm de árvores raríssimas de mais de 150 anos de um antigo pomar. 
Aken conta que em 2008 ficou sabendo sobre um pomar no estado de Nova York que seria fechado por falta de investimentos. Este único pomar tinha um grande número de espécies raras, antigas e nativas da região, espécies que hoje praticamente não existem mais por causa da pressão da agricultura comercial. Algumas das árvores que seriam perdidas tinham entre 150 e 200 anos.

                                                                                         Rascunho do artista
Para preservar essas valiosas árvores, Aken comprou o pomar e passou a estudar quando cada planta dava frutos. Depois de fazer uma linha do tempo, ele escolheu plantas que produziriam frutos em épocas diferentes e começou a planejar sua árvore mágica.
Para isso, ele escolheu uma árvore forte para ser o porta-enxerto, a base para as outras plantas. Depois de uma espera de dois anos para a base crescer, ele começou a adicionar lentamente enxertos das novas plantas. Essa árvore maluca passou o inverno inteiro se recuperando e na primavera teve a ponta dos enxertos podadas para incentivar a planta a crescer mais rápido.
Depois de cerca de cinco anos e vários enxertos, a Árvore dos 40 Frutos estava completa.
Durante a maior parte do tempo ela parece uma árvore comum, mas na primavera cada galho dá flores de uma cor diferente. Há flores brancas, roxas e de diferentes tons de rosa.
O artista conta que as pessoas que compraram uma dessas árvores estão muito felizes com o resultado. “Elas me contam que ela dá a variedade perfeita de frutos. Então ao invés de ter uma variedade que produz mais do que você sabe que pode comer, ela dá uma quantidade boa de cada uma das 40 variedades. Já que essas frutas ficam maduras em épocas diferentes, entre julho e outubro, você não fica inundado por frutas”.
A árvore é sem dúvidas muito eficiente e bonita, e o melhor de tudo é que preserva um pouco das espécies que estão praticamente extintas dos Estados Unidos. 

Fonte: Hypescience

sexta-feira, 22 de junho de 2018

“Todo o habitat está perdido”: belezas naturais do Havaí são destruídas pela lava.

Todo o habitat natural de uma região do Havaí foi devastado pela erupção do vulcão Kilauea.
A maravilhosa floresta da região de Puna, a mais atingida pelos fluxos de lava, se tornou um terreno estéril, piscinas naturais cristalinas com jardins de corais se tornaram ambientes sujos e sem vida, e um lago de 400 anos evaporou totalmente. Várias criaturas morreram.
“Do ponto de vista humano, o que está acontecendo é trágico”, disse David Damby, vulcanologista do Serviço Geológico dos Estados Unidos. “Mas, do ponto de vista do vulcão, esse é o trabalho que ele faz: construir novas terras e mudar a paisagem”.
“É uma coisa muito poderosa de se testemunhar”, complementou Ryan Perroy, vulcanologista e professor da Universidade do Havaí em Hilo. “Mas, em termos geológicos, também não é um evento inesperado. Foi assim que Puna foi construída, com erupções vulcânicas”.

Floresta de Puna

A perda do habitat da floresta em Puna foi um evento deprimente: primeiro, as árvores frutíferas, flores e samambaias começaram a ficar marrons, definhando no ar nocivo cheio de dióxido de enxofre, e depois a lava substituiu grandes trechos de bosque verdejante por terrenos vulcânicos irregulares e áridos.
“Antes das erupções, essa área era provavelmente a melhor floresta do estado do Havaí”, disse Patrick Hart, professor de biologia da Universidade do Havaí em Hilo. “Havia espaços onde a floresta nativa se estendia até o oceano, e você simplesmente não vê isso no resto do Havaí”.
As florestas úmidas e chuvosas de Puna eram um importante habitat para plantas, pássaros e insetos nativos havaianos. Levará pelo menos 100 anos para que os trechos dizimados prosperem novamente – primeiro com líquen, depois com samambaias nativas e árvores Ohia que se adaptarem para crescer na lava. Em 150 anos, a terra pode começar a se assemelhar a uma floresta como a que costumava estar lá.

Como os especialistas não cansam de se repetir, no entanto, esse é um processo que aconteceu muitas vezes antes no Havaí.




Lago Verde e Baía de Kapoho

A devastação da floresta não foi a única mudança dramática na paisagem. Na manhã de 2 de junho, a lava também entrou no Lago Verde, em Puna. Plumas de vapor começaram a subir de um ponto popular para a natação, onde as profundezas atingiam cerca de 60 metros. Em menos de duas horas, o lago de água doce, com 400 anos de idade, desapareceu totalmente, evaporado.
Lago Verde
Apenas alguns dias depois, rios de lava fluíram para perto da Baía de Kapoho, destruindo centenas de casas e cobrindo a água azul-turquesa cheia de corais e uma série de piscinas naturais raras e protegidas ricas em vida marinha.
“A Baía de Kapoho era um lugar de lazer muito importante para as pessoas nesta área. Também era um local de pesquisa muito importante para nós, cientistas”, explicou Steven Colbert, professor de ciências marinhas da Universidade do Havaí em Hilo.
A água ao redor da baía precisará ser limpa para que as piscinas possam florescer novamente, mas isso não acontecerá até que a erupção diminua ou pare. Uma vez que as partículas vítreas vulcânicas se dissiparem e o pH e a temperatura da água voltarem ao normal, o coral pode recomeçar a crescer. Não é impossível que isso ocorra, no entanto: parte daquela área já o fez quando foi formada por lava nas décadas de 1950 e 1960.
                                                                                         Kapoho antes da erupção


                                                                                    Kapoho depois da erupção

O ciclo de destruição e reconstrução da natureza

Enquanto esses processos podem parecer simplesmente ruins para nós, seres humanos, não é necessariamente o caso, do ponto de vista da natureza.
Por exemplo, a rapidez com que o coral havaiano vai florescer novamente depende se a lava vai criar um litoral inclinado, ou piscinas protegidas, como fez em Kapoho, o que pode permitir um crescimento mais rápido do que a taxa usual de um centímetro por ano.
Em termos de organismos marinhos e corais, a região está recomeçando do zero, contudo é mais fácil perder um recife insubstituível para a lava do que perdê-lo para o branqueamento, o que aconteceu em muitos outros lugares do Havaí por causa de um aumento global nas temperaturas oceânicas. Esse aumento é impulsionado por atividades humanas.
“Há a tragédia das pessoas perdendo suas casas e, para nós, cientistas, perdendo nosso local de pesquisa. Mas, do ponto de vista do meio ambiente, esse é um ciclo natural”, disse John Burns, que passou uma década estudando corais nas piscinas naturais havaianas. “Eu prefiro ver um recife morrer de lava do que de branqueamento”.

Fonte: Hypescience