quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Alemanha marca data para abandonar energia de carvão mineral.

Após uma maratona de negociações de 21 horas que se estendeu até a madrugada deste sábado (26/01), uma comissão indicada por Berlim deliberou que até 2038 a Alemanha deve deixar inteiramente de produzir energia a partir de carvão mineral.

A decisão visa reduzir as emissões nacionais de gases do efeito estufa, prejudiciais ao clima. Atualmente o país deve 40% de sua eletricidade a esse combustível fóssil e não conseguiu cumprir as metas estabelecidas no Acordo do Clima de Paris.
Durante as deliberações da comissão formada por 28 representantes da indústria, sindicatos, instituições científicas e grupos ambientalistas, os dois principais pontos de discórdia eram considerações financeiras e a data exata para o abandono do carvão.
As companhias de energia insistiam em compensações para evitar um aumento do preço da eletricidade, enquanto as regiões mineiras alemãs exigiam comprometimentos que lhes permitam contornar a consequente reviravolta estrutural. O plano inclui garantias para essas instâncias envolvidas, assim como certo grau de alívio financeiro aos consumidores.
Como membros da “comissão do carvão” informaram à agência de notícias Reuters, durante os próximos quatro anos operadoras de usinas elétricas como a RWE e a Uniper deverão reduzir sua capacidade em cerca de 12 gigawatts, o equivalente a 24 grandes unidades de eletricidade.
Ainda segundo a Reuters, 40 bilhões de euros seriam reservados à fase de transição. Para críticos, contudo, isso significará o governo iria investir somas gigantescas para praticamente comprar todo um setor de energia, com o fim de extingui-lo. O plano ainda necessita da aprovação formal do governo federal e dos diferentes estados alemães responsáveis por sua implementação.
O acordo deste sábado marca a segunda intervenção importante no mercado energético alemão em uma década. A outra foi a de fechar todas as usinas nucleares até 2022, em reação ao desastre de Fukishima, no Japão, em 2011.
Há anos grupos ligados ao Partido Verde vinham exigindo o abandono do carvão mineral. Segundo uma enquete divulgada na sexta-feira pela emissora de direito público ZDF, a iniciativa conta com o apoio de quase três quartos da população alemã.
Fonte: Deutsche Welle

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Brasil pode se tornar o maior produtor de biodiesel no mundo.

O Brasil abre oportunidades de crescimento no biodiesel e pode se transformar em um dos maiores produtores no mundo. O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou no início de novembro, o cronograma de expansão da mistura do biodiesel ao diesel no país. A proposta estabelece que a adição de biodiesel cresça um ponto percentual ao ano, passando do atual patamar de 10% (mistura B10) para 11% (mistura B11) em junho de 2019. O processo continua sucessivamente e a ampliação será realizada até março de 2023, quando todo o biodiesel comercializado ao consumidor final conterá 15% de biodiesel. De acordo com o CNPE, a estimativa é que a produção do biodiesel brasileira passe de 5,4 para mais de 10 bilhões de litros anuais, entre 2018 e 2023. Um aumento de 85% da demanda doméstica.
“É uma grande oportunidade para toda a cadeia de produção – que por sinal é extensa – desde transporte, termoelétricas, agronegócios, entre outros. O uso do biodiesel nos processos produtivos é uma necessidade emergente. Desta forma, reduziremos muito o efeito estufa no mundo e agregaremos mais valor em toda a cadeia”, comenta o gerente de negócios para biodiesel da Camlin Fine Sciences (CFS) para América do Sul, Federico Sakson.
O biodiesel é um óleo vegetal gerado a partir de óleos de gorduras vegetais e animais. De acordo com a ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – cerca de 70% do biodiesel produzido é feito de óleo de soja, 17% de gordura animal (sebo) e os demais de outras matérias-primas como o óleo de cozinha usado e óleo de semente de algodão. É derivado de uma fonte renovável, portanto, reduz a dependência e preservação de petróleo; biodegradável; diminui as emissões de gases tóxicos e possui uma boa lubrificação.
Alerta aos produtores de biocombustíveis com a oxidação – Uma das maiores preocupações que a cadeia produtiva tem sinalizado é a conservação do produto final, para que resista ao tempo de estocagem sem se oxidar até chegar ao consumidor final.
Para Sakson, a estabilidade à oxidação é um parâmetro crítico que deve ser controlado periodicamente durante a produção e o armazenamento para evitar perdas econômicas, dado que o movimento do produto dentro das refinarias e a exposição ao oxigênio nas transferências e o bombeamento reduz o tempo de indução. Para garantir a estabilidade e qualidade do biodiesel é essencial o emprego do antioxidante. “Eles podem ser aplicados, na forma líquida – para facilitar o manuseio e a dosagem – na linha de produção, ao fluxo de saída do processo, em biodiesel acabado ou em um tanque de agitação leve ou recirculação por bomba. Um detalhe importante, proporcionam baixa viscosidade e estabilidade à baixa temperatura”, explica Sakson.
O Xtendra BL traz em sua composição uma combinação entre um antioxidante e um agente quelante de metais que juntos possuem um efeito sinérgico no retardamento da oxidação, podendo ser usado em diferentes concentrações e aplicados em diferentes substratos (óleos e gorduras). “São produtos que não oferecem danos nos motores internos e combustíveis, porque são formulados com um sistema de solvente não inflamável e de baixa toxicidade, além do seu alto desempenho”, alerta.
De acordo com as normas brasileiras e internacionais, o biodiesel deve suportar oito horas sob condições extremas de temperatura no teste de Rancimat. Caso não haja esta estabilidade é imprescindível a aplicação do antioxidante. “A CFS do Brasil oferece o serviço de teste com o equipamento RANCIMAT (Metrohm) para avaliar a performance do produto e o tempo de indução. Nossos antioxidantes sintéticos nas versões Xtendra BL 100 e Xtendra BL 200, ou seja, 30% e 40% de princípio ativo, já comprovaram sua eficiência e estabilidade à diversos testes realizados”, complementa Sakson.
Mercado promissor: Várias iniciativas estão voltadas para criar um mercado sustentável em todas as esferas produtivas. De acordo com a NTU – Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos – a frota de ônibus urbano no Brasil é de aproximadamente 107 mil veículos. Se toda a frota utilizasse o B20, o Brasil deixaria de emitir 2 milhões de toneladas de CO2 por ano. “Outra vantagem é que os veículos não necessitam de alterações nos motores para utilizar o biocombustível”, ressalta Sakson.
Além de preservar o meio o ambiente, tem se tornado uma fonte de geração de novos empregos e renda. De acordo com a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), somente nos primeiros quatro meses de 2018, foram criados mais de 23.500 mil empregos diretos no interior de São Paulo (Ribeirão Preto, Sertãozinho e Piracicaba) na indústria e comércio do setor. Outro dado interessante é que na produção de biodiesel em média 30% da matéria-prima tem origem na agricultura familiar. Em 2017, de acordo com a Ubrabio, foram movimentados no país cerca de R$ 4 bilhões com a comercialização de produtos vindos da agricultura familiar que atua no setor de biocombustíveis.
Conforme a APROBIO, se as previsões de crescimento econômico e de maior uso de biodiesel forem mantidas no país, os investimentos no setor podem chegar a R$ 22 bilhões até 2030. Só no período entre 2016 e 2018, o biodiesel contribuiu com geração de R$ 90 bilhões em Produto Interno Bruto (PIB), mais de 200 mil empregos e evitou a emissão de 20,4 milhões de CO2 na atmosfera.
Camlin Fine Sciences (CFS) é um fornecedor de ingredientes de aroma de alta qualidade, antioxidantes e produtos químicos de alto desempenho. Atendemos diversos segmentos: alimentos, alimentos para animais de companhia, fragrâncias, nutrição animal, aquacultura, indústria de graxaria, biocombustíveis, além de produtos farmacêuticos, tintas, petroquímicas, agroquímicos, têxteis e curtume. Para mais informações, 
visite www.camlinfs.com.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Com tecnologia de ponta, empresa catarinense processa 300 toneladas de resíduos de pescados diariamente.

Com uma responsabilidade ambiental importante para a manutenção da cadeia produtiva de Santa Catarina a Agroforte, indústria de processamento de resíduos, transforma as sobras de pescado em matéria-prima para a fabricação de alimento animal. Como parte desta preocupação pela sustentabilidade a empresa investiu no último ano aproximadamente R$ 2 milhões em tecnologia, buscando referências internacionais para o desenvolvimento de um projeto personalizado que garante a qualidade da produção.

Diariamente caminhões trazem para a sede da Agroforte, na Grande Florianópolis, toneladas de resíduos de pescado. O material é resultado da sobra da filetagem realizada em peixarias e indústrais pesqueiras de todo o litoral catarinense que acabam descartando cerca de 70% do peixe – como cabeça, rabo e ossos, partes sem valor para consumo humano. Para evitar que esse produto de qualidade acabe sendo desperdiçado a empresa de processamento atua na transformação destes resíduos em farinha e óleo, que são comercializados para empresas nacionais e da América Latina para a fabricação de ração. Já a água resultante deste processo é tratada e devolvida ao meio ambiente. “Toda carga que chega à Agroforte é verificada para ver se está de acordo com controles rígidos do Ministério da Agricultura, sendo imprescindível a apresentação do Manifesto de Transporte de Resíduos Sólidos (MTRS), que garante a rastreabilidade e qualidade destes resíduos. Apenas cargas que atendam os padrões de qualidade são recebidas e processadas”, destaca Luiz Leme, diretor executivo da Agroforte.
Uma modernização recente também garante a eficiência da atuação da empresa. Cerca de R$ 2 milhões foram investidos para o adequado tratamento dos odores, naturais de qualquer processamento industrial. Coordenado por uma equipe de engenheiros químico, mecânico e ambiental o projeto personalizado baseia-se no modelo alemão, referência mundial nesse tipo de atividade. “Podemos dizer com segurança que não existe no mundo nada que seja superior à tecnologia instalada hoje na Agroforte. Isso visa atender dois princípios muito importantes para nós: a qualidade do nosso produto final e o conforto da comunidade cercana. Além disso, atuamos com todas as licenças ambientais necessárias e seguindo com empenho as normas existentes”, pontua.
Além disso, uma estação meteorológica montada na própria Agroforte monitora as condições climáticas e de vento, sendo que uma chaminé em inox de 32 metros, o equivalente a um prédio de 10 andares, lança os gases gerados durante o processamento na atmosfera, evitando que o possíveis odores sejam sentidos por moradores do entorno.
Gerando aproximadamente 700 empregos diretos e indiretos a Agroforte contribui para a manutenção do ciclo produtivo da pesca em Santa Catarina,importante fonte econômica do Estado, atribuindo valor e dignidade aos resíduos que seriam enviados indevidamente aos aterros sanitários, sobrecarregando esses espaços.
Fonte: Agroforte

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Agricultura de ponta da Holanda pode ser chave para alimentar o mundo?

País mais conhecido mundialmente por suas tulipas, a Holanda é o segundo maior exportador agrícola do mundo. Cebolas, batatas e vegetais como tomate, pimentão e pimenta estão entre os produtos mais vendidos.

O cultivo é em grande parte realizado com muito menos água e pesticidas do que a produção feita no solo ou ao ar livre. Muitos agricultores holandeses usam a tecnologia de estufa, chamada “agricultura de precisão”, que alguns na indústria de alimentos do país afirmam ser a mais avançada do mundo.
A moderna agricultura de estufa decolou no país após a Segunda Guerra Mundial, como reação a um dos últimos períodos de fome na Europa. Cerca de 20 mil pessoas morreram no “inverno da fome holandês” durante os últimos meses da ocupação alemã.
Atualmente, a parte mais avançada da tecnologia de estufas do país está na região sul de Westland, onde 80% das terras cultivadas estão sob vidro. Nas grandes estufas de alta tecnologia dos produtores sustentáveis ​​Duijvestijn Tomatoes, as plantas estão cheias de frutos vermelhos, amarelos, verdes e roxos. Nestes espaços altamente controlados, os visitantes são obrigados a usar roupas especiais, por causa da higiene.
“No final, a planta fica com cerca de 13 a 14 metros de comprimento e produzirá cerca de 33 cachos de tomates”, disse à DW Ad van Adrichem, gerente geral da Duijvestijn Tomatoes.
Alcançar tais alturas é importante em um país onde a terra é tão preciosa quanto escassa: a pequena Holanda tem uma das maiores densidades populacionais do mundo. Nas estufas de Westland, uma área que foi recuperada do mar com grande custo e esforço, são cultivados quase 70 quilos de tomates por metro quadrado. Isso equivale a pelo menos dez vezes o rendimento médio de uma plantação em campo aberto na Espanha ou no Marrocos, utilizando oito vezes menos água e praticamente sem pesticidas químicos.
Modo de pensar alternativo
O segredo para o sucesso dos tomates holandeses é que eles são cultivados em pequenos sacos de lã mineral – um material fibroso que também pode ser usado para isolamento térmico ou sonoro.
“Isso permite um controle muito maior”, diz Van Adrichem. “Assim, podemos controlar com muita precisão a quantidade de nutrição necessária e a quantidade de água necessária.”
Mas isso não é tudo. As próprias estufas são um capítulo à parte. A Duijvestijn Tomatoes investiu num revolucionário teto de vidro duplo que conserva mais calor e, graças a revestimentos especiais, difunde a luz que entra, assegurando, assim, que esta também atinja as folhas inferiores das plantas.
A temperatura constantemente aquecida vem de dois poços geotérmicos. O nível de CO2 no qual as plantas se desenvolvem é maior dentro da estufa do que no ambiente externo, chegando por tubulações desde a refinaria de petróleo local. Lâmpadas de LED dentro dessas estruturas de última geração permitem que as culturas continuem a crescer durante a noite.
A água usada é toda vinda da chuva, capturada e armazenada em uma camada subterrânea de areia para uso durante os meses secos. Sempre que aparecem pragas, são trazidos insetos para comê-las. Há até mesmo colmeias de papelão com abelhas para polinização.
No entanto, alguns ecologistas são céticos em relação à nova tecnologia. Herman van Bekkem, do Greenpeace da Holanda, é um deles.
“De fato, vemos exemplos promissores de agricultores fazendo o melhor que podem para reduzir os pesticidas”, diz ele à DW. “Mas se você olhar para os fatos, como as estatísticas para a poluição da água na Holanda, não há outra região mais poluída por pesticidas do que a região das estufas.”
Ele diz que os administradores de água em Westland vêm reclamando há muitos anos das altas quantidades de pesticidas nas águas superficiais.
“Não de nós”, garante Van Adrichem. “Trabalhamos com um circuito fechado de água. Damos às plantas a quantidade exata de água de que precisam e, como os tomates não são plantados no solo, não há escoamento.”
Futuro vertical
Leo Marcelis, professor de horticultura da Wageningen University and Research (WUR), centro que realiza pesquisas para a indústria de alimentos holandesa, diz que as fazendas verticais são o caminho a seguir.
“No futuro, teremos fazendas verticais que serão tão altas quanto edifícios e que só usarão luz artificial”, diz Marcelis, acrescentando que isso fará com que agricultura seja completamente independente do clima e completamente confiável.
Metade dos estudantes da WUR são estrangeiros e quando terminarem seus estudos, muitos levarão essa nova ciência para países da Ásia e da África. O diretor administrativo do WUR Plant Sciences Group, Ernst van den Ende, descreve um projeto de que participa na África, que otimiza a simbiose entre o feijão e uma bactéria capaz de fixar o nitrogênio – nutriente essencial para a planta – a partir do ar.
“Ao otimizar essa simbiose, somos capazes de aumentar os rendimentos sem usar fertilizantes”, afirma Van den Ende. Para ele, a pesquisa da WUR tem por meta impedir que pessoas passem fome, como ocorreu com a geração de seus avós na Holanda.
“Minha avó viajaria 80 quilômetros por um saco de couves-de-bruxelas”, diz. Agora, Van den Ende acredita que a tecnologia que os holandeses estão desenvolvendo poderá alimentar o mundo nos próximos anos.
Fonte: Deutsche Welle

sábado, 26 de janeiro de 2019

A importância das pequenas plantas do Cerrado.

São elas que protegem o solo da erosão e garantem a preservação de mananciais que abastecem rios. Biodiversidade seriamente ameaçada é tema de livro ( foto: livro Plantas pequenas do Cerrado: biodiversidade negligenciada)
“As pessoas só dão valor para aquilo que conhecem.” Foi este pensamento que inspirou a pesquisadora Giselda Durigan a coordenar a empreitada coletiva que resultou no livro Plantas pequenas do Cerrado: biodiversidade negligenciada.
Com 720 páginas, quase todas ilustradas com deslumbrantes fotos coloridas, o livro apresenta um levantamento exaustivo das plantas de pequeno porte, que são o sustentáculo do Cerrado.
Destinada à distribuição gratuita para bibliotecas, institutos de pesquisa e estudiosos, e também disponibilizada em arquivo PDF aberto para todos os interessados, a obra teve sua publicação financiada pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.
Durigan, pesquisadora do Instituto Florestal do Estado de São Paulo, explica que a publicação é resultado de quase uma década de trabalho a várias mãos, que se iniciou com uma pesquisa de doutorado sobre o impacto da invasão das fisionomias campestres do Cerrado por árvores de pinus e ganhou corpo ao longo de três outras pesquisas apoiadas pela FAPESP.
Foram elas: “Avaliação do potencial de remanescentes naturais como fontes de propágulos para a restauração de fisionomias campestres de cerrado”; “Invasão do campo cerrado por braquiária (Urochloa decumbens): perdas de diversidade e experimentação de técnicas de restauração”; e “Efeito da queima prescrita e da geada sobre a diversidade e estrutura do estrato herbáceo-arbustivo do Cerrado”.
“Quando nos engajamos nessas pesquisas, percebemos que o grande impacto causado pelas invasões biológicas não se dava sobre árvores, mas sobre as plantas pequenas do campo. E isso constituiu um enorme desafio, porque a nomenclatura e a classificação dessas plantas eram largamente desconhecidas. Eu tinha passado toda a minha vida profissional olhando para cima, para as árvores. Tive, então, que olhar para baixo, e com muito respeito”, disse Durigan à Agência FAPESP.
Professora em programas de pós-graduação em Ciência Florestal na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e em Ecologia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela estuda o Cerrado há mais de 30 anos.
O grupo que coordenou na feitura do livro foi constituído por suas alunas Natashi Aparecida Lima Pilon e Geissianny Bessão de Assis, e por seus colegas Flaviana Maluf de Souza e João Batista Baitello.
“O que chamamos de ‘plantas pequenas’ são espécies que se tornam adultas e capazes de se reproduzir com menos de 2 metros de altura. Foi um critério arbitrário que adotamos. Começamos coletando essas plantas, e inventando nomes provisórios para elas, enquanto corríamos atrás de pessoas que pudessem nos ajudar na identificação”, contou Durigan.
Mas não foi nada fácil encontrar essas pessoas, conta a pesquisadora. Simplesmente, não havia especialistas em plantas pequenas. Foi preciso recorrer a manuais, monografias, livros antigos e ao famoso Dicionário das Plantas Úteis do Brasil, em seis volumes, publicado por Manoel Pio Corrêa no início do século passado.
“Encontramos plantas que nunca tinham sido registradas no Estado de São Paulo e outras que não eram coletadas há várias décadas. Mas não achamos nenhuma espécie nova, desconhecida pela ciência. Todas já tinham seus nomes científicos. Porém, foi uma busca tremenda descobrir os nomes populares. Muitas das plantas que encontramos estavam classificadas como ‘daninhas’ nesses livros antigos, porque a perspectiva adotada era a de quem queria cultivar o Cerrado com pastagens ou agricultura”, disse Durigan.
Um termo curioso encontrado foi o “mata-pasto”, que nomeava nada menos do que sete espécies diferentes, todas elas muito resistentes. Como essas plantas rebrotam inúmeras vezes depois de cortadas, eram consideradas daninhas. E o nome popular que receberam invertia a ordem cronológica, como se o pasto tivesse aparecido antes e as plantas surgissem depois para atrapalhar, quando havia sido exatamente o contrário.
“O que as pessoas não entendiam – e temos feito um esforço enorme para esclarecer – é que essas plantas de pequeno porte são fundamentais para a sobrevivência do Cerrado e da extraordinária riqueza que ele possui em termos de recursos hídricos e biodiversidade”, disse Durigan.
“Fala-se em desmatamento quando ocorre corte de árvores. Mas, se as plantas pequenas são erradicadas, todo o equilíbrio do Cerrado se rompe. E isso está acontecendo sem o menor impedimento porque a legislação não protege a vegetação que não tem árvores. Além disso, essa vegetação nem sequer aparece nos mapas, dadas as limitações tecnológicas para diferenciá-la de pastagens ou agricultura em imagens de satélite”, acrescentou.
Seis plantas pequenas para uma árvore
Durigan destaca que são as plantas pequenas que cobrem o solo, prevenindo a erosão pela chuva ou pelo vento.
“Elas possuem um emaranhado de raízes, facilitando a infiltração da água no solo e garantindo a saúde do ecossistema e a manutenção dos mananciais que alimentam os rios. Para ser savana, o Cerrado precisa possuir as duas camadas: a camada de árvores esparsas a meia altura e a camada de plantas pequenas cobrindo o solo”, explicou.
Segundo os autores do livro, a proporção é de seis espécies de plantas pequenas para cada espécie de árvore. Das 12.734 espécies vegetais que compõem o Cerrado, mais de 10 mil correspondem a plantas pequenas. Elas estão ameaçadas pelo adensamento das copas das árvores, resultante do manejo inadequado, e pela invasão por espécies exóticas, como o pinus e a braquiária.
O objetivo do livro é encantar os leitores com a beleza dessas plantas pequenas. E conscientizá-los acerca da necessidade de sua preservação.
Fonte: FAPESP

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Seringa, canudos e muito plástico: lixo oceânico ameaça piscina natural em Fernando de Noronha.

Fernando de Noronha é um dos lugares de maior preservação da vida marinha no Brasil. Ao mesmo tempo um parque nacional marinho e uma área de proteção ambiental, o arquipélago pode se vangloriar de ter vida intensa em suas águas .

Mas, além de enfrentar o problema do tratamento do próprio lixo, a ilha já sofre as consequências da crescente poluição dos oceanos, especialmente por plásticos.
G1 viajou até lá para a estreia da série “Desafio Natureza”, que vai mostrar as questões ambientais que desafiam esses destinos e como cada um de nós pode fazer a sua parte para enfrentar o problema.
Veja os temas desta 1ª etapa do “Desafio”:
  • Fernando de Noronha, lado B: série do G1 mostra desafios do lixo no ‘paraíso’
  • O lugar onde ninguém faz selfie: para onde vai o lixo de Fernando de Noronha
  • Veto ao plástico descartável (sexta, 25/1)
  • Como planejar sua viagem (sábado, 26/1)
  • O futuro de Noronha (domingo, 27/1)
  • Um passeio pela ilha (domingo, 27/1)
  • Como você pode participar do desafio do lixo (a partir de 28/1)
A ameaça é visível no Pontal do Atalaia, uma das piscinas naturais de Noronha. O acesso limitado de 96 pessoas por dia não impede que o plástico se acumule na faixa de areia da praia.
A trilha que leva ao local dura cerca de 30 minutos de caminhada – se o trajeto não estiver com lama – e cada grupo de visitantes pode ficar apenas meia hora na piscina. O uso de protetor solar é proibido e é preciso usar colete salva-vidas para boiar e não encostar no fundo.

Lixo que vem do oceano

G1 fez a trilha acompanhado de um biólogo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que mostrou onde se acumula o lixo que chega com a corrente marinha.
Quando a maré sobe, as pedras do Atalaia acabam funcionando como um filtro e retêm os inúmeros pedaços de plásticos.
Abaixo das pedras o que se vê é assustador: inúmeras tampinhas plásticas, seringa, escova de dentes, plástico de várias formas. O plástico pode demorar até 100 anos para se decompor, mas com o sol e a água salgada ele vai mudando de tamanho.
Estes “restos” de plástico são chamados de microplástico, mesmo que nem sempre eles sejam micro.
“O plástico que chega no Atalaia vem através das correntes marítimas da região. Normalmente, vêm de embarcações que cruzam aqui próximo a ilha, são de carga ou cruzeiros. E também lixo solto pelo mar, tá la boiando e chega até Fernando de Noronha. , diz Vitor Quesada, biólogo do ICMBio.

Vida marinha em risco

Ainda que a correnteza leve a maior parte do lixo para o outro lado da praia, algumas coisas chegam até a piscina.
“O risco de chegar na piscina natural é iminente. Ele chega, só não chega em grandes quantidades como ali nas pedras, mas tem lixo na piscina natural, principalmente na praia”, explica Quesada.
E quando esse lixo chega ali, ele impacta a vida animal: “Os animais começam a se alimentar desses plásticos. O plástico começa a se infiltrar também nos corais, nas pedras que tem dentro da piscina e soltar produtos químicos que são usados na fabricação deles”.
As piscinas naturais têm um papel importante para o desenvolvimento da vida marinha na ilha. “A piscina do Atalaia, como inúmeras outras piscinas aqui de Fernando de Noronha, funciona como um berçário, um lugar para os animais se desenvolverem porque é um ambiente mais calmo, sem muito predador, em que eles podem se desenvolver, acasalar, se refugiar…”, diz Quesada.
Noronha se prepara para a proibição da comercialização de descartáveis, que entra em vigor em abril, mas não consegue conter o lixo que chega com o mar.
Os voluntários do ICMBio costumam organizar mutirões de limpeza na área para tentar diminuir o impacto.

Toneladas de plástico no mar

Um relatório de 2018 da associação das empresas de limpeza pública (Abrelpe) mostra que por ano, em média, 5,5 milhões de toneladas de plástico “vazam” para o meio ambiente. Isso significa que resíduos não recolhidos ou descartados em locais impróprios não têm o destino correto e muitos acabam nos oceanos.
O plástico representa uma grande parte disso. De acordo com o documento, os resíduos de plástico são claramente difundidos no meio marinho: “Representam 50 a 80% dos resíduos da costa e são comumente registrados como alguns dos itens mais comuns coletados durante levantamentos de praia e esforços de limpeza”.
A ONG Ocean Conservancy, que organiza mutirões de limpeza das praias e do mar em diversos países, inclusive no Brasil, recolheu 9 mil toneladas de lixo em 2018. Dentre os itens mais encontrados estão:
  1. Bitucas de cigarro
  2. Embalagens de comida
  3. Garrafas plásticas
  4. Tampinhas de garrafa
  5. Sacolas plásticas
Quesada cita ainda uma alternativa já testada em outros países: “São embarcações de coleta de lixo oceânico que coletam todo aquele lixo que está no mar, que já se transforma até em ilhas (de lixo)”.
Noronha está fazendo sua parte em relação ao plástico, mas o Atalaia é um retrato de que o problema do lixo e do plástico nos oceanos é global.
Fonte: G1

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Embalagens reutulizadas dão nova vida à escola na Tailândia.

A SIG, uma das líderes mundiais na fabricação de sistemas de envase e embalagens cartonadas assépticas para alimentos e bebidas, tem mostrado como empresas e comunidades podem se aliar e transformar o lixo em algo valioso. Em uma escola na Tailândia, a empresa liderou junto aos locais a construção de uma cantina feita quase inteiramente de embalagens de bebidas reutilizadas. A “cantina ecológica” foi inaugurada em setembro de 2018 e é um exemplo para incentivar a comunidade a reciclar um maior volume de lixo. Agora, as 170 crianças da escola tomam diariamente o seu leite em uma cantina construída a partir de embalagens de papelão, transmitindo, desta forma, para suas famílias uma mensagem clara sobre a reciclagem.

Chatramol Intrasorn, Diretor da Escola Nikom Sang Ton Eang, comentou: “A eco-cantina é um modo excelente que mostra como o resultado da reciclagem impacta a vida das crianças fazendo com que elas e seus pais percebam o que acontece com a embalagem quando terminam de beber o leite. Fazer com que as crianças compreendam como a reciclagem pode ajudar o meio ambiente é de grande importância, uma vez que elas são os consumidores de amanhã ”.
Dos recipientes para a cantina
A SIG se associou à Universidade de Kasetsart, à fabricante de alimentos Ampol Foods e à empresa de reciclagem de fibra vegetal Pattana para projetar e reconstruir a cantina da escola primária Nikom Sang Ton Eang, ao lado da unidade de produção da empresa em Rayong, Tailândia.
Juntamente com a universidade de Kasetsart, uma das principais universidades públicas da Tailândia, a SIG organizou um concurso para a concepção do projeto de uma cantina escolar totalmente funcional, feita a partir de embalagens de bebidas usadas e recicladas. O próximo desafio foi obter os materiais prontos para a construção.
Mais de 1,4 milhão de embalagens cartonadas geraram a cantina. A Fibra Pattana forneceu as telhas e os painéis das paredes, feitos de alumínio e polímeros de embalagens de papelão usado, coletadas principalmente nas escolas da região. As cadeiras e mesas de compensado foram feitas de embalagens recicladas pela Ampol Foods, uma cliente da SIG que gerencia sua própria usina de reciclagem de embalagens de bebidas.
Contribuir mais com o meio ambiente e a sociedade por meio do aumento do volume de reciclagem é parte da missão do SIG Way Beyond Good – ou seja, colaborar mais do que o necessário. A conscientização é o foco principal das atividades realizadas pela empresa.
Nas palavras de Navapol Chuensiri, Head do Cluster AP-S da SIG: “A eco-cantina é um modelo que beneficia as comunidades e aumenta a consciência de como a reciclagem pode ajudar o meio ambiente. Esse enfoque inovador oferece oportunidades interessantes para outros projetos semelhantes expandirem seu impacto positivo em outras regiões “.
Sobre a SIG
A SIG é fornecedora líder de sistemas e soluções para embalagens assépticas. Trabalhamos em parceria com nossos clientes para levar produtos alimentícios aos consumidores em todo o mundo de maneira segura, sustentável e acessível. Nossa tecnologia exclusiva e excelente capacidade de inovação nos permitem oferecer aos nossos clientes soluções end-to-end para produtos diferenciados, fábricas mais inteligentes e embalagens conectadas, tudo para atender às necessidades em constante mudança dos consumidores.
Fundada em 1853, a sede da SIG está localizada em Neuhausen, Suíça. As habilidades e a experiência de mais de 5 mil funcionários em todo o mundo nos permitem responder de maneira rápida e eficaz às necessidades de nossos clientes em mais de 60 países. Em 2017, a SIG produziu 33,6 bilhões de embalagens cartonadas e gerou uma receita de € 1,66 bilhão. Para mais informações, acesse www.sig.biz
PARA SABER MAIS SOBRE O WAY BEYOND GOOD:

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Cidade de São Paulo pode proibir o fornecimento de canudos plásticos.

fornecimento de canudos plásticos pode ser proibido na cidade de São Paulo. A medida, que já é adotada em diversas partes do mundo, inclusive no Rio de Janeiro, foi sugerida pelo vereador Reginaldo Tripoli (PV) em parceria com outros 45 parlamentares no Projeto de Lei 99/2018.

O PL está em tramitação na Câmara Municipal de São Paulo e tem como objetivo “combater o descarte de materiais plásticos”, recomendando a proibição do fornecimento de canudos plásticos a clientes de hotéis, restaurantes e outros tipos de estabelecimentos.
“Mais de 95% do lixo nas praias brasileiras é plástico. Assim como outros resíduos, eles acabam no mar, causando piora nos habitats naturais e na saúde dos animais, que com inaudita frequência morrem por ingestão de plástico”, diz o documento. “A nível internacional, estima-se que os americanos usem 500 milhões de canudos por dia.”
A ideia é que os materiais sejam substituídos por canudos em papel reciclável, em material comestível ou biodegradável, que devem ser entregados em embalagem de mesma origem. Em comunicado, Tripoli afirmou que, caso o projeto se torne lei, “São Paulo estará alinhada às cidades mais desenvolvidas no mundo no combate à poluição do meio ambiente”.
Na edição de setembro de 2018 de GALILEU, investigamos a fundo iniciativas como a sugerida pelo PL 99/2018 e o tipo de impacto que pode ter no meio ambiente. Leia a reportagem completa aqui.
Fonte: Revista Galileu

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Tigres podem enfrentar extinção em 10 anos, diz especialista.

TIGRES DA ESPÉCIE PANTHERA TIGRIS (FOTO: LOTSE/WIKIMEDIA COMMONS)
Os tigres da espécie Panthera tigris podem ser extintos em menos de uma década, caso a sociedade continue a destruir a natureza. O alerta é de Howard Jones, CEO da instituição da vida selvagem britânica Born Free. “É inimaginável pensar em um mundo sem tigres, mas a menos que ajamos agora, as consequências podem ser terríveis”, disse em entrevista ao Mail Online.
O World Wildlife Fund (WWF) e Global Tiger Forum calcularam, em 2016, que houve queda de 96% no número de tigres nos últimos 100 anos – caindo de 100 mil para menos de 4 mil desde o início do século 21 .
Décadas de caça, contrabando e destruição de habitat fizeram com que os tigres vivos ocupem atualmente apenas 7% das regiões que habitavam antigamente.
A Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) lista esses felinos como ameaçados e estima que existem entre dois mil e três mil indivíduos maduros em estado selvagem. Em comparação, são quase sete mil tigres vivendo em cativeiro nos Estados Unidos, em zoológicos ou mesmo ambientes domésticos.
A IUCN afirma que tendências populacionais mostram que o número de tigres está diminuindo, enquanto o WWF os descreve de forma mais otimista. A discrepância pode ser resultado da inclusão ou exclusão de indivíduos que ainda não atingiram a maturidade, ou ainda diferenças nos métodos de contagem. De qualquer maneira, preservar o meio ambiente é importante para a segurança da fauna e da flora do planeta.
Fonte: Revista Galileu

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Por que um planeta saudável e uma economia saudável andam de mãos dadas.

Em artigo, a chefe da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica, Cristiana Pasca Palmer, ressalta que os ecossistemas naturais oferecem serviços de importante valor para a humanidade, como a polinização feita pelos insetos e animais, associada a mais 75% dos cultivos alimentares do mundo.

Florestas, como a Amazônia, também desempenham um papel crítico na preservação do equilíbrio climático e na absorção de gás carbônico, afirma a dirigente.

Precisamos entender a natureza e a gravidade da crise coletiva que confronta agora a civilização humana se quisermos responder às questões que ela coloca. Se não frearmos e revertermos em breve a nossa atual trajetória descontrolada de mudanças climáticas, degradação ambiental e perda generalizada da biodiversidade, a economia global vai sofrer consequências negativas por conta própria.
Não é “salvar o planeta” que vai matar o crescimento. Ao contrário, a destruição acelerada da natureza vai minar não apenas a economia global, mas poderia eventualmente ameaçar muitas formas de vida na Terra, incluindo a nossa própria espécie.
O consenso científico sobre esse fato é quase universal — e suas implicações econômicas negativas também estão ficando cada vez mais claras. Um paralelo pode ser traçado com uma crise anterior. Durante o auge da Guerra Fria, quando os conselheiros econômicos do presidente Eisenhower foram informá-los sobre o impacto potencial de uma guerra nuclear sobre o dólar dos EUA, dizem que ele teria dito: “Esperem um minuto, rapazes, (caso haja uma guerra nuclear) não estaremos reconstruindo o dólar. Estaremos escavando a terra em busca de minhocas”.
Embora as mudanças climáticas possam parecer que estão ocorrendo num período de tempo mais longo, em escala geológica elas estão acontecendo num piscar de olhos. Por mais importante que seja o crescimento econômico, a dura realidade é que, como Eisenhower, se não impedirmos essa crise, nós provavelmente estaremos preocupados com coisas distintas do crescimento econômico.
A questão fundamental, portanto, é como salvar o planetar e, com ele, a economia, dessa crise de gerações, dados os incentivos extremamente de curto prazo das nossas principais instituições — as corporações e os governos em especial, que funcionam respectivamente à base dos lucros trimestrais e dos resultados das próximas eleições, mas também o público global, que está corretamente preocupado com suas próprias vidas e meios de subsistência.
Como podemos incentivar as lideranças a tomar decisões de longo prazo para o benefício comum da humanidade? Como podemos educar e ativar o público global para entender e fazer parte dessa luta? E como podemos reimaginar a economia, de modo que as oportunidades da transição verde não sejam apenas realizadas, mas distribuídas de maneira mais igual entre as pessoas, em vez de levar a uma desigualdade e instabilidade ampliadas?
Simplificando, como podemos garantir o nosso próprio futuro e o do planeta?
Três caminhos para a ação se destacam:
1) Desenvolver indicadores mais holísticos que expliquem melhor o crescimento econômico, junto com métricas mais amplas sobre o bem-estar humano e ambiental.
2) Incentivar todos os atores na economia a mudar os atuais caminhos de inovação e popularizar as transições ambientais necessárias para os seus principais modelos de negócios.
3) Uma liderança sábia que possa tanto mapear uma nova visão para viver em harmonia com a natureza quanto inspirar um compromisso compartilhado para alcançá-la.
Que o PIB tem falhas como uma medida do bem-estar humano, isso já é amplamente reconhecido por economistas. Muitas dessas falhas estão relacionadas à falta de indicadores ambientais que apontem os benefícios associados da saúde humana, segurança alimentar e hídrica e a economia.
Além disso, ecossistemas saudáveis oferecem serviços que, em muitos casos, têm valor econômico significativo. Por exemplo, mais de três quartos das principais culturas alimentares globais dependem da polinização por insetos ou animais. Entre 5 e 8% da produção agrícola global, com um valor anual de mercado entre 235 e 577 bilhões de dólares, é diretamente atribuível à polinização natural. No entanto, os polinizadores estão sob ameaça, e pode-se esperar que isso leve a perdas econômicas significativas.
Aliás, em alguns casos, o desenvolvimento econômico pode ocorrer em detrimento de atividades econômicas informais, mas valiosas. Por exemplo, o uso comercial das florestas acontece frequentemente em detrimento da coleta de recursos florestais não madeireiros, que variam da lenha até fontes tradicionais de alimentos. Nesses casos, o crescimento econômico resultante, como formalmente mensurado, por exemplo, numa mudança para a extração madeireira, pode não apenas ser socialmente injusto, ter um viés de gênero e ser prejudicial para os povos indígenas e as comunidades locais, como também seria uma ilusão, devido à perda de recursos florestais não madeireiros.
Ademais, o valor total de florestas críticas, como a Bacia Amazônica, deve incluir tanto o seu papel crítico como tanques de carbono quanto na formulação do clima, que torna possível a agricultura e outras produções em lugares distantes.
Também precisamos reconhecer e explorar o vasto potencial para o crescimento econômico que resultará da ecoinovação que, ao mesmo tempo, protege o meio ambiente e avança o bem-estar humano. De acordo com o relatório de 2017 da Comissão de Negócios e Desenvolvimento Sustentável, alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS) pode liberar 12 trilhões de dólares em oportunidades de mercado em quatro setores econômicos centrais: alimentação e agricultura, cidades, energia e materiais e saúde e bem-estar. Esses setores representam em torno de 60% da economia real — o que aponta, dessa forma, para as oportunidades econômicas significativas que se associam ao desenvolvimento de soluções baseadas na natureza.
O caminho à frente não será fácil ou sem custos. Realizar um novo pacto global para a natureza e o planeta e fazer a transição para uma economia verde vão exigir o abandono de caminhos de desenvolvimento existentes e a criação de alternativas viáveis para a infraestrutura fundamental da sociedade. Isso exigirá uma liderança visionária, a liberação das inovações verdes e a compensação das implicações de curto prazo, especialmente pelos que mais se beneficiaram dos atuais modos de desenvolvimento econômico.
No entanto, esse tipo de transição não é sem precedentes. Assim como a transição da Era Agrícola para a Era Industrial ou da Era Industrial para a Era Digital, o que se exige não é nada menos do que uma reimaginação e uma reconstrução graduais e integrais da sociedade, para satisfazer as necessidades de uma nova era. Que tenhamos a força e a sabedoria para estar à altura desse desafio.
*Publicado originalmente no site do Fórum Econômico Mundial, em 16 de janeiro de 2019.
Fonte: Cristiana Pasca Palmer, secretária-executiva da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica