sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Maior desastre ambiental da história dos EUA pode estar em andamento.

Uma explosão na sonda petrolífera Deepwater Horizon em 2010 deu início ao que ficou conhecido como o maior desastre ambiental dos EUA, com o vazamento de 4,9 milhões de barris de petróleo (quase 800 milhões de litros) nas águas do Golfo do México. A tragédia chamou a atenção de ambientalistas do mundo todo, que passaram a avaliar os danos para a região. No processo, viram que aquele não era o único vazamento, conforme revela o jornal Washington Post.
Descobriram que a 19 quilômetros da costa da Louisiana, uma outra plataforma estava vazando óleo constantemente. Algo entre 50 mil e 100 mil litros todos os dias desde 2004, quando o furacão Ivan afundou a plataforma de produção de petróleo da Taylor Energy.
Mas, ao contrário da Deepwater Horizon, quando o vazamento foi contido em alguns meses, a da Taylor nunca chamou tanta atenção e até hoje, 14 anos depois, contamina as águas do Golfo do México, levando muitos a acreditarem que esse sim é o maior desastre ambiental da história dos EUA.
De acordo com o jornal Washington Post, o vazamento da Taylor Energy é amplamente desconhecido fora da Louisiana por causa do esforço da empresa em mantê-lo secreto na esperança de proteger sua reputação. A empresa afirma não haver provas de que algum dos poços está vazando.
No mês passado, o Departamento de Justiça apresentou uma análise independente mostrando que o derramamento foi muito maior do que o de um a 55 barris por dia que o Centro Nacional de Resposta da Guarda Costeira dos EUA (NRC) alegou, usando dados fornecidos pela companhia petrolífera.
O autor da análise, Oscar Garcia-Pineda, consultor de geociências especializado em sensoriamento remoto de vazamento de óleo, disse que houve vários casos em que o NRC relatou estimativas baixas nos mesmos dias em que encontrava camadas pesadas de petróleo no campo. “Há evidências abundantes que apóiam o fato de que esses relatórios do NRC estão incorretos”, escreveu.
Mas não fica por aí. O Golfo é uma das regiões mais ricas e produtivas de petróleo e gás do mundo, que deve render mais de 600 milhões de barris somente este ano, quase 20% da produção total de petróleo dos EUA. Outros 40 bilhões de barris ficam no subsolo, esperando para serem recuperados, dizem analistas do governo.
Cerca de 2 mil plataformas estão nas águas da Louisiana. Quase 2 mil outras estão fora da costa de seus vizinhos, Texas e Mississippi. Além disso, são mais de 80 mil quilômetros de oleodutos ativos e inativos transportando petróleo e minerais para a costa.
Para cada mil poços, há uma média de 20 descargas descontroladas de petróleo a cada ano. Um incêndio ocorre a cada três dias, em média, e centenas de trabalhadores são feridos anualmente. Em média, 330.000 galões de petróleo bruto são despejados a cada ano na Louisiana a partir de plataformas marítimas e tanques de petróleo em terra, de acordo com uma agência estatal que os monitora.
Enquanto isso, O presidente Donald Trump está propondo a expansão de arrendamentos para a indústria de petróleo e gás, com o potencial de abrir quase toda a plataforma continental externa para perfuração offshore. Isso inclui a costa do Atlântico, onde a perfuração não acontece a mais de meio século e onde os furacões atingem com o dobro da regularidade que no Golfo.
A tendência é que a camada de óleo com as cores do arco-íris que se extende por quilõmetros entre a floresta de plataformas chegue ainda mais longe.
Fonte: Revista Galileu

Nenhuma espécie foi afetada por vazamento em Galápagos, afirma governo do Equador.

O vazamento de 2.270 litros de diesel ocorrido neste domingo na ilha de San Cristóbal não afetou nenhuma espécie da fauna única do arquipélago de Galápagos, afirmou o governo do Equador nesta segunda-feira à AFP.
“Nenhuma espécie foi afetada pelo vazamento”, informou o ministro do Meio Ambiente, Raúl Ledesma, assinalando que uma equipe de veterinários percorre a região analisando exemplares.
O local é habitado por leões-marinhos, tartarugas, aves e répteis, como iguanas, mas “nenhuma espécie foi afetada neste incidente, tampouco nas áreas turísticas. A situação é normal no arquipélago”, garantiu o ministro, que visita o local, catalogado como parte da reserva da biosfera. Ledesma agradeceu “a pronta reação das equipes de emergência, que evitou uma tragédia maior”.
Na véspera, em um píer de San Cristóbal, um guindaste caiu quando transportava um contêiner contendo um gerador elétrico para a embarcação Orca, que, com o acidente, desestabilizou-se e foi a pique. Ficaram submersos o gerador, o guindaste e a embarcação de transporte, que continha 600 galões de diesel, o que motivou um alerta no arquipélago, localizado a 1000 km do continente equatoriano.
Para dispor de todos os recursos necessários para enfrentar esta crise, principalmente pular os trâmites burocráticos, o presidente do Equador, Lenín Moreno, declarou a ilha de San Cristóbal em emergência, a pedido de autoridades locais.
“Durante a noite, a área poluída foi quase toda limpa. Esta manhã, temos apenas um pequeno vazamento de óleo, que esperamos eliminar nas próximas horas”, declarou o ministro do Meio Ambiente do Equador.
Fonte: AFP

Fundo Verde destina US$160 mi a Chile, Nepal e Quirguistão para combate às mudanças climáticas.

Apoio financeiro do Fundo Verde para o Clima (GCF) ao Chile, Nepal e Quirguistão visa oferecer suporte às respostas implementadas por esses países no combate às mudanças climáticas.
A iniciativa foi aprovada em novembro (13), em Songdo, na Coreia do Sul. Estima-se que o Fundo, apoiado pela ONU, beneficiará 1,5 milhões de pessoas.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) tem apoiado a elaboração de projetos com o objetivo de combater as mudanças climáticas e construir resiliência nas três nações.
Cerca de 161 milhões de dólares em financiamento foram aprovados pelo Fundo Verde para o Clima (GFC) para um projeto que visa a diminuição dos efeitos das mudanças climáticas em Chile, Quirguistão e Nepal.
A iniciativa foi aprovada em novembro (13), em Songdo, na Coreia do Sul. Estima-se que o Fundo, apoiado pela ONU, beneficiará 1,5 milhões de pessoas nos três países.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) tem apoiado a elaboração de projetos que têm como objetivo combater as mudanças climáticas e construir resiliência nas três nações.
De acordo com a vice-diretora geral de Clima e Recursos Naturais da FAO, Maria Helena Semedo, “a FAO e o GCF estabeleceram uma parceria forte e estratégica para trazer soluções climáticas transformadoras e ajudar os países a criar resiliência na resposta aos impactos das mudanças climáticas”.
O GCF é uma plataforma global que está respondendo às mudanças climáticas através de investimentos em baixa emissão de gases e desenvolvimento de resiliência climática.
O diretor-executivo do GCF, Yannick Glemarec, afirmou que o fundo diminuiu pela metade o tempo necessário para avançar em projetos, desde a aprovação até a liberação do financiamento , “ e a FAO desempenhou um papel crucial na transformação de ideias e ações inovadoras”, relatou.
“O GCF está comprometido a apoiar a adaptação e a iniciativas de mitigação com maior velocidade e escala, dada a crescente demanda por financiamentos climáticos”, complementou Glemarec.
Abordar mudanças climáticas é um dos pilares fundamentais do trabalho da FAO. A Organização acredita que ações climáticas efetivas em setores agrícolas poderão promover resiliência dos meios de subsistência, reduzindo a pobreza de comunidades rurais vulneráveis.
Segundo a FAO, isso se dará através da implementação de mitigação e ações de adaptação, ao mesmo tempo que irá preservar o ambiente e a biodiversidade.
Além disso, a FAO incentiva ativamente os países a aprimorar seu planejamento e capacidade para investimentos relacionados às mudanças climáticas através do Programa de Prontidão e Suporte Preparatório do Fundo Verde para o Clima.

Revitalizando florestas chilenas

O Chile será beneficiado com financiamento de 63 milhões de dólares, com base nos seus resultados da estratégia REDD+ (Redução de Emissões Decorrentes do Desmatamento e da Degradação de Florestas).
Esse é um incentivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) para recompensar financeiramente países em desenvolvimento por seus resultados de redução de emissões de gases provenientes do desmatamento e da degradação florestal.
Através da parceria, a FAO e o governo chileno visam renovar e conservar cerca de 25 mil hectares de floresta nativa em cinco regiões do país.
É esperado que o projeto reduza a emissão de gases de efeito estufa em 1,1 milhão de toneladas de CO², enquanto promove o reflorestamento de mais de 7 mil hectares e o gerenciamento e conservação sustentável de 17 mil hectares de mata.
Eve Crowley, a representante da FAO no Chile, destacou que as áreas visadas para a iniciativa possuem mais de quatro mil hectares afetados por incêndios.
“Essas regiões serão restauradas com espécies perenes, incluindo carvalho, faia Rauli e coihue, que são espécies nativas do Chile”, afirmou.
Os critérios de compartilhamento de benefícios para a alocação de recursos enfatizam o papel de gênero, povos indígenas e populações vulneráveis, para garantir impactos sociais e ambientais positivos.
Mais de 57 mil pessoas, incluindo membros de comunidades indígenas, participarão do projeto de florestação, restauração e manejo sustentável.

Criando resiliência climática em ecossistemas vulneráveis no Nepal

O GCF aprovou o financiamento de 39 milhões de dólares para o Nepal. Além disso, o Ministério das Florestas e Meio Ambiente do Nepal (MoFE) está co-financiando a iniciativa, e adicionou outros oito milhões de dólares, totalizando 47 milhões.
O primeiro projeto aprovado pelo GCF para o Nepal será implementado num período de sete anos, com assistência técnica fornecida pela FAO.
Isso ajudará o país a desenvolver capacidades de planejamento e extensão dentro dos governos provinciais e contribuirá para os objetivos da estratégia nacional do REDD+.
De acordo com Somsak Pipoppinyo, representante da FAO no Nepal, a iniciativa irá auxiliar mais de 200 mil famílias nas colinas de Churia  – a faixa mais ao sul aos pés do Himalaia, que corre do leste a oeste do Nepal.
A região fornece funções vitais para a manutenção do ecossistema das planícies – densamente povoadas, e é onde estão localizadas as terras agrícolas mais férteis. Ainda assim, décadas de uso não sustentável dos recursos naturais resultaram em degradação florestal, inundações e erosão do solo.
Pipoppinyo estima que a iniciativa irá contribuir para que quase um milhão de pessoas comecem a responder ativamente aos efeitos negativos do mau uso de recursos.
“[O projeto] também os ajudará a adaptar e diminuir os efeitos e eventos climáticos extremos nos próximos anos”, completou a oficial.

Combate à degradação e às mudanças climáticas no Quirguistão

O terceiro país beneficiado pelo fundo, o Quirguistão, receberá 30 milhões de dólares, que serão complementados com outros 20 milhões de dólares para um projeto que visa reverter a degradação florestal.
A proposta é que se aumente a cobertura florestal e a produtividade de terras e pastagens, além de apoiar a resiliência de mais de 430 mil pessoas.
O Quirguistão é um país sem litoral, com muitas montanhas, geleiras e lagos. Mais de 40% da terra agrícola está seriamente devastada, e mais de 85% do território do país foi afetado pela erosão de más práticas de manejo de pastagens e florestas.
O projeto visa aumentar o sequestro de carbono – diminuição de gás carbônico da atmosfera – por meio da reabilitação de matas e pastagens, com o apoio de reformas industriais e investimentos em crescimento verde, sustentados pelo setor privado.
Para garantir a sustentabilidade das melhorias nos recursos naturais e o sequestro de carbono, a iniciativa também visa reduzir a dependência de comunidades rurais de pastagens e recursos florestais, a fim de melhorar seus meios de subsistência e contribuindo para que as pessoas diversifiquem sua renda.
“A combinação de topologias montanhosas e um clima bastante seco limita a abundância de recursos naturais no Quirguistão, pressionado ainda mais pelos efeitos negativos das mudanças climáticas”, afirmou Dinara Rakhmanova, representante assistente da FAO no Quirguistão.
“Agora nós visamos fornecer iniciativas para comunidades a fim de preservar e expandir áreas florestais, melhorando terras e diversificando sua produção para aumentar a resiliência climática”, completou.
Fonte: ONU

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

FELIZ NATAL


Pássaros usam resíduos para construir os ninhos

Estudo mostra que aumenta a presença de resíduos, principalmente plástico, em ninhos de aves marinhas e terrestres

Os resíduos gerados pelos seres humanos estão por todas as partes, até mesmo nos ninhos dos pássaros. De acordo com um estudo realizado por pesquisadores internacionais, cada vez é maior a presença de lixo nos ninhos.
O estudo, publicado na revista científica Environmental Pollutionanalisou 25 artigos científicos publicados sobre o tema para determinar a influência da ação humana, a partir da incorporação de resíduos, nos ninhos de aves marinhas e terrestres.
“As mudanças no entorno natural podem representar uma diminuição nos materiais naturais que as aves usam para construir os seus ninhos, forçando-os a utilizar materiais de substituição como podem ser os lixos”, explicou um dos autores do estudo, José I. Aguirre.
Os pesquisadores acreditam que outros motivos para o uso de lixo nos ninhos é o fator sedução, para decorar com plásticos chamativos. Mas também pode ter como intenção o fortalecimento da estrutura.
Neste ano, a fotógrafa norte-americana Karen Madon capturou uma imagem do pássaro da espécie Rynchops niger alimentando seu filhote com um filtro de cigarro. A Royal Society for the Protection of Birds (Sociedade Real para Proteção dos Pássaros), do Reino Unido, lamentou a influência dos resíduos para a vida animal.
“Infelizmente, para muitas pessoas, o lixo parece inofensivo, na pior das hipóteses, faz com que uma área pareça suja. No entanto, imagens comoventes como essa revelam o verdadeiro impacto de jogar lixo em nossa vida selvagem”, afirmou a entidade britânica.
Para estudos sobre os impactos ambientais da ação humana e as estratégias de mitigação e sustentabilidade, a FUNIBER patrocina diversos programas de mestrado, doutorado e especializações na área ambiental, como o Mestrado em Gestão e Auditorias Ambientais.

Resíduos de plásticos se transformam em salas de aula.

A UNICEF junto com a empresa colombiana Conceptos Plásticos começaram uma iniciativa de economia circular que aproveita os resíduos plásticos e os transformam em salas de aula.


O projeto já ganhou concursos internacionais, e reconhecimento. De acordo com Oscar Méndez, CEO da empresa colombiana, “trabalhamos desde o início empoderando comunidades de recicladores tanto na Colômbia como na África”, explica.
A empresa compra estes resíduos e misturam os diferentes tipos de plástico para a produção de peças que logo são usadas na construção de moradias e  outros tipos de obras. “Os ladrilhos são fáceis de montar, duradoiros e de baixo custo”, comenta Méndez.
A empresa defende ainda a qualidade do material para a construção, afirmando que pode ser até duas vezes mais forte que qualquer outro tradicional, protege do frio e dos ruídos acústicos, além de ser antissísmico e não propagar chamas.
“Contra a água tampouco tem problema, é completamente impermeável”, diz. Além disso, pela facilidade de montagem, é possível fazer uma casa em uma semana e uma sala de aula em quatro dias. “Depois, pode desmontar e movê-la, ou mudar de lugar e amplia-la. Então é um sistema realmente muito amigável”, defende.
O empreendimento está sendo desenvolvido de modo piloto na Costa de Marfim. Segundo a UNICEF, neste país é necessário construir 15 mil salas de aula para poder atender às necessidades de educação das crianças, já que muitas sofrem por falta de lugares para estudar.
De acordo com notícia publicada no site da ONU, Oscar Méndez espera que sua companhia possa inspirar a outras agirem em prol da sustentabilidade e de maneira circular, aproveitando os resíduos e evitando gerar novos.
“O setor privado deveria envolver-se porque é o que finalmente está colocando o plástico no mercado e é o que está tendo impacto. Então, obviamente se deveria comprometer-se de uma maneira mais proativa”, afirma.
FUNIBER patrocina programas na área de projetos que tem como compromisso o conhecimento das necessidades estratégias de sustentabilidade de um projeto, como por exemplo, o Mestrado em Projetos de Gestão Ambiental.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Morte sem precedentes de baobás milenares africanos assusta pesquisadores.

Muitos dos baobás mais antigos da África estão morrendo há dez anos, alertaram nesta segunda-feira (11) pesquisadores, que evocam a mudança climática como possível causa para esse desaparecimento “de escala sem precedentes”.
“É chocante e espetacular testemunhar durante o curso de nossas vidas o desaparecimento de tantas árvores milenares”, explica à AFP Adrian Patrut, da Universidade Babes-Bolyai, na Romênia, co-autor do estudo publicado na revista Nature Plants.
“Durante a segunda metade do século XIX, os grandes baobás do sul da África começaram a morrer, mas nos últimos 10/15 anos seu desaparecimento aumentou rapidamente por causa das temperaturas muito altas e da seca”, diz o pesquisador.
Com entre 1.100 e 2.500 anos de idade, os baobás e seus troncos maciços coroados por galhos parecidos com raízes, são uma das silhuetas mais emblemáticas das áridas savanas.
Mas, nos últimos 12 anos, nove dos treze baobás mais velhos estão parcialmente ou totalmente mortos, de acordo com o estudo.
Entre as vítimas, três monstros simbólicos: Panke, do Zimbábue, o baobá mais velho com 2.450 anos, a árvore de Platland da África do Sul, uma das maiores do mundo, com um tronco mais 10 metros de diâmetro e o famoso baobá de Chapman do Botswana, no qual Livingstone gravou suas iniciais, classificado monumento nacional.
Os pesquisadores descobriram essa situação de “escala sem precedentes” quase por acaso: eles estudaram essas árvores para desvendar o segredo de suas incríveis medições.
Para isso, entre 2005 e 2017, Adrian Patrut e seus colegas estudaram todos os maiores (e portanto geralmente os mais antigos) baobás da África, mais de 60 no total.
Viajando pelo Zimbábue, África do Sul, Namíbia, Moçambique, Botsuana e Zâmbia, coletaram amostras de diferentes partes das árvores. Fragmentos dos quais eles definiram a idade usando datação por carbono.
“A cavidade de um velho baobá zimbabuano é tão grande que quase 40 pessoas podem se abrigar dentro”, ressalta o site do Parque Nacional Kruger, na África do Sul. Eles poderiam ser usados como loja, prisão ou simplesmente como um ponto de ônibus.
Também têm sido usados há muito tempo por exploradores ou viajantes para encontrar caminhos.
“Os baobás periodicamente produzem novos troncos, como outras espécies produzem galhos”, segundo o estudo. Esses caules ou troncos, muitas vezes de diferentes idades, depois se fundem.
Quando muitos caules morrem, a árvore desaba. “Antes de começarmos nossa pesquisa, fomos informados sobre o colapso do baobá Grootboom na Namíbia, mas pensávamos que era um evento isolado”, disse Adrian Patrut à AFP.
“Essas mortes não foram causadas por uma epidemia”, afirmam os autores, que sugerem que a mudança climática pode afetar a capacidade do baobá de sobreviver em seu habitat, embora “mais pesquisas sejam necessárias para apoiar ou refutar essa hipótese”.
Mas “a região em que os baobás milenares morreram é um daqueles em que o aquecimento é mais rápido na África”, diz Adrian Patrut.
Fonte: AFP

Fósseis de árvores mais antigos do mundo são encontrados em Nova York.

Cientistas localizaram no Estado americano de Nova York os fósseis de árvores mais antigos já encontrados, de 386 milhões de anos atrás.
Eles estão em uma pedreira abandonada na cidade de Cairo, no Condado de Greene, e acredita-se que faziam parte de uma floresta que cobria também parte do território da Pensilvânia, Estado vizinho.
Antes, o título de floresta mais antiga do mundo também estava no Estado de Nova York, em Gilboa – mas o achado em Cairo possivelmente é 2 ou 3 milhões de anos mais velho.
A descoberta contribui para o entendimento da evolução das árvores.

O que os cientistas encontraram?

Há mais de uma década, pesquisadores da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, da Universidade de Binghamton e do Museu de Nova York começaram a vasculhar o sopé das montanhas Catskill, no vale do rio Hudson.
Desde então, eles mapearam cerca de 3 mil quilômetros quadrados do que seria a área da antiga floresta, que era formada por pelo menos dois tipos já extintos de árvore: da classe Cladoxylopsida e do gênero Archaeopteris.
Um terceiro tipo de árvore ainda está pendente de identificação.
“Este é o lugar mais antigo em que você pode circular e mapear onde as árvores estavam fincadas no meio do período Devoniano”, diz o paleobotânico Chris Berry, da Universidade de Cardiff, um dos autores do artigo publicado no periódico científico Current Biology com os resultados sobre a floresta em Cairo.
“É uma floresta muito antiga, do início do tempo em que o planeta estava ficando verde e as florestas estavam se tornando uma parte normal do sistema da Terra.”
Os pesquisadores também contam terem descoberto raízes muito longas que representam uma transformação na forma como as plantas e o solo recolhem água.
Acredita-se que a floresta foi devastada por inundações. Na área, foram encontrados também fósseis de peixes.

Como a descoberta ajuda a entender o passado?

Os resquícios da floresta marcam um período de transição entre um planeta sem florestas e um amplamente coberto pelo verde.
De acordo com Berry, estudar este local contribui para a compreensão de como as árvores evoluíram, assim como seus mecanismos de absorção do dióxido de carbono da atmosfera. E também para pensar no presente.
“Temos bastante consciência neste momento de que ter florestas é algo bom, e devastá-las é algo ruim”, aponta.
Howard Falcon-Lang, da Royal Holloway, em Londres, diz que não há dúvidas de que esta é a floresta fossilizada mais antiga de que se tem notícia.
“Pode ser que, no futuro, algo ainda mais antigo apareça. A paleontologia é cheia de surpresas.”
“Mas por ora, isto é incrivelmente animador.”
Fonte: BBC

A devastação da Amazônia está rápida: aumentamos a área perdida em 84% em relação a 2018.

A área que sofreu desmatamento na Amazônia brasileira neste último mês de novembro saltou 104% em comparação com o mesmo mês em 2018, de acordo com dados oficiais publicados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
De forma geral, houve um aumento de 84% de desmatamento entre janeiro e novembro de 2019 em comparação com o mesmo período de 2018.
Esses dados são do sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (DETER) do Inpe.
Os dados divulgados agora mostram uma continuação na tendência de desmatamento observada no ano de 2019 inteiro. No mês de agosto o então diretor do Inpe, Ricardo Galvão, foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro após ter divulgado dados que mostraram um aumento de 88% no desmatamento em junho de 2019 comparado a junho de 2019.
Outro sistema baseado em satélite usado pelo Inpe foi o PRODES, que leva mais tempo para compilar os dados mas produz resultados mais confiáveis, apontou que os 12 meses entre setembro de 2018 e setembro de 2019 tiveram desmatamento de mais de 10 mil km², a maior área desde 2008.
A média anual de área de floresta perdida entre 2009 e 2018 estava em 5,74 mil km².
As terras mais afetadas foram as indígenas, com desmatamento 74,5% maior que no ano anterior.

Top 10

Na última sexta-feira (13), Ricardo Galvão foi nomeado um dos 10 cientistas mais importantes do ano pela respeitável revista britânica Nature. [Inpe, Phys.org]
Fonte: Hypescience

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Desmatamento em áreas indígenas em 2019 é o maior em 11 anos, mostra estudo.

O desmatamento em áreas indígenas na Amazônia cresceu quase três vezes mais do que na região como um todo entre agosto de 2018 e julho de 2019, com 42,6 mil hectares desmatados, maior número desde o biênio 2007-08, quando os levantamentos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) passou a permitir a análise das áreas de reserva.
Os dados estão em um estudo preparado pela organização não-governamental Instituto Sócioambiental (ISA) com base nos dados do Prodes, sistema do Inpe que monitora por satélite o desmatamento da Amazônia. Em 2019, o Prodes mostrou que o desmatamento geral na Amazônia no mesmo período foi de 9.762 quilômetros quadrados —ou 976,2 mil hectares.
O desmatamento nas áreas indígenas representa apenas 4,2% do total da perda de floresta na Amazônia, mas o levantamento mostra um aumento acentuado no último ano, vindo já de um crescimento considerável entre 2017 e 2018.
Os dados do Prodes permitem a análise do desmatamento em áreas protegidas —reservas indígenas e unidades de conservação— apenas desde 2008. Os dados deste ano são os maiores desse período.
O desmatamento em áreas indígenas vinha caindo consistentemente desde 2008, quando ficou pouco acima de 30 mil hectares. Em 2014, ponto mais baixo dos últimos 11 anos, ficou pouco acima de 5 mil hectares, mas subiu nos anos seguintes. Em 2017 chegou a 11 mil, mas pulou para quase 25 mil hectares em 2018. Este ano, alcançou o maior valor da série histórica, uma alta de 174% em relação à média entre 2008 e 2018.
De acordo com o estudo, a grilagem de terras, o garimpo ilegal e o roubo de madeira praticados por invasores seguem como os principais vetores do desmatamento nessas áreas, além da abertura de novas áreas para obras de infraestrutura.
Apesar do desmatamento crescente, as reservas indígenas, assim como as unidades de conservação, ainda conseguem manter a maior parte da sua cobertura vegetal intacta.
O ISA analisou 207 de 424 reservas na Amazônia. Nessas, apenas 1,3% dos 78 milhões de hectares foi desmatado e a grande maioria das reservas perdeu menos de 10% das suas florestas nativas. No entanto, 20% já perderam quase metade de sua cobertura florestal e 5% praticamente não a possuem mais.
Das 10 áreas identificadas como maiores alvos de desmatamento este ano, as seis primeiras ficam no Pará, outras duas em Rondônia, uma em Mato Grosso e a 10ª, em Roraima.
Na área de Ituna/Itatá, ao sul de Altamira (PA), o desmatamento chegou a 12 mil hectares entre 2018 e 2019, mais de 600% a mais do que no período anterior. Este ano, fiscais do Ibama encontraram uma pista de pouso de mais de dois quilômetros de extensão, além de construções e árvores já serradas prontas para serem transportadas.
A segunda reserva com maiores problemas de desmatamento, Apyterewa, em São Félix do Xingu (PA), teve um crescimento de 333% no desmatamento. No início deste ano, o governo federal chegou a enviar homens da Força Nacional de Segurança para retirar invasores da terra indígena.
Na semana passada, mais um líder indígena da etnia Guajajara, conhecida por proteger a floresta de invasores, foi assassinado no Maranhão. Este ano, sete líderes indígenas foram mortos. Segundo a Comissão Pastoral da Terra, o maior número em 11 anos.
Ambientalistas criticam o governo do presidente Jair Bolsonaro e apontam o discurso adotado por ele de defesa de uma maior exploração econômica da Amazônia como um dos responsáveis pela alta do desmatamento da floresta.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, também é alvo de críticas pelo que organizações não-governamentais e também representantes da Organização das Nações Unidas (ONU) classificam de desmonte de mecanismos de fiscalização na área ambiental.
Fonte: Reuters

OMS chama países do Hemisfério Sul a se prepararem para ondas de calor.

Frente às ondas de calor que afetaram Austrália, Canadá, Estados Unidos, Europa, Índia, Paquistão e Japão em 2019 e as previsões de que esse fenômeno atingirá várias partes da América do Sul, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) pedem aos países da região que se preparem para os impactos na saúde das pessoas, incluindo a possibilidade de mortes.
Nos últimos 12 meses, 24 países das Américas foram afetados por ondas de calor, entre eles Argentina, Bahamas, Barbados, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Estados Unidos, Honduras, Guatemala, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Venezuela e Uruguai.
Frente às ondas de calor que afetaram Austrália, Canadá, Estados Unidos, Europa, Índia, Paquistão e Japão em 2019 e as previsões de que esse fenômeno atingirá várias partes da América do Sul, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) pedem aos países da região que se preparem para os impactos na saúde das pessoas, incluindo a morte.
Nos últimos 12 meses, 24 países das Américas foram afetados por ondas de calor, entre eles Argentina, Bahamas, Barbados, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Estados Unidos, Honduras, Guatemala, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Venezuela e Uruguai.
As previsões meteorológicas para a América do Sul indicam que há probabilidade de ondas de calor que podem aumentar o estresse induzido pelas altas temperaturas, reduzir a disponibilidade de água, aumentar o risco de incêndios florestais e a perda de colheitas. As ondas de calor também podem provocar cortes de energia elétrica, reduzindo o acesso à ventilação, refrigeração e ar condicionado.

Planos de contingência

Devido à situação, a OPAS publicou materiais de comunicação para o público geral sobre medidas que podem ser tomadas, bem como um guia para ajudar os países da região a formular planos de contingência para lidar com as ondas de calor.
Essa publicação fornece recomendações que o setor de saúde e as agências meteorológicas podem implementar para se preparar e responder melhor a essa ameaça, evitar os efeitos adversos das ondas de calor, atender as pessoas afetadas e salvar vidas.
O guia enfatiza que os planos de contingência devem determinar a probabilidade e a intensidade dos impactos na população, emitir alertas e garantir a implementação da resposta de acordo com o nível da ameaça.
Os países devem fortalecer a vigilância epidemiológica da morbidade e da mortalidade associadas ao calor e melhorar a capacidade dos serviços de saúde (capacitação de profissionais, melhorias no desenho de novos hospitais e equipamento dos hospitais existentes em áreas de alto risco. As autoridades locais devem se comunicar efetivamente pelos meios de comunicação e outros canais sobre a ocorrência das ondas de calor, bem como sobre as respostas entre as agências, medidas de prevenção e autocuidado.
Alguns países avançaram no sentido de melhorar a preparação frente às ondas de calor seguindo essas recomendações. Contudo, o conhecimento deste risco ainda é limitado e é necessário aumentar a capacidade de resposta.

O impacto das ondas de calor na saúde humana

A exposição ao calor pode causar sintomas graves, como insolação, causada pela incapacidade do corpo de regular a temperatura; com isso, as pessoas podem apresentar pele quente, seca e vermelha, pulsação rápida e forte, náusea, cãibras e perda de consciência, o que pode levar ao coma e à morte.
A maioria das mortes que ocorrem devido às ondas de calor é causada pelo agravamento de doenças infecciosas ou crônicas (cardiopulmonares, renais, endócrinas e psiquiátricas). Outros sintomas são edema nos membros inferiores, erupção cutânea no pescoço, dor de cabeça, irritabilidade, letargia e fraqueza.
Pessoas com maior risco de sofrer complicações ou morte durante uma onda de calor são crianças, idosos e pessoas com condições crônicas que requerem medicação diária.
As reações ao calor dependem da capacidade de cada pessoa se adaptar e efeitos graves podem aparecer repentinamente. Por isso, é importante prestar atenção aos alertas e recomendações das autoridades locais.

Prevenindo os efeitos nocivos do calor

A OPAS/OMS recomenda que as pessoas se informem sobre alertas e previsões meteorológicas no rádio e na TV; evitem a exposição ao sol durante os horários de maior calor; não deixem crianças ou pessoas idosas sem vigilância em veículos estacionados.
Também recomenda evitar se exercitar ou praticar atividades intensas ao ar livre sem a proteção adequada; beber água a cada 2 horas, mesmo que não esteja com sede; tomar banhos frios ou banhos em locais seguros (evitando correntes fortes de água).
Outras recomendações incluem manter a casa fresca, cobrindo janelas durante o dia e usando ar-condicionado ou ventiladores nas horas mais quentes. É necessário garanta que as conexões elétricas sejam seguras; se tiver alguma doença crônica e dizer uso contínuo de medicamentos, consultar o médico.

O que fazer se houver sinais e sintomas de exaustão por calor ou insolação?

A exaustão por calor ocorre em pessoas fisicamente ativas. Sem tratamento, a condição pode piorar e o indivíduo pode desenvolver insolação.
A insolação é uma emergência médica com risco de morte. O indivíduo deve receber cuidados de saúde em um hospital; interromper todas as atividades físicas; chamar uma ambulância imediatamente; ir a um local fresco.
A OPAS/OMS recomenda usar qualquer meio físico para facilitar o resfriamento (como resfriar a cabeça e o corpo com água e “abanar” a pessoa para reduzir a temperatura).
Os sinais de alerta em casos moderados e graves: 
Exaustão por calor:
Transpiração intensa;
Pele fria e pálida;
Temperatura abaixo de 40ºC;
Tontura ou desmaio;
Dor de cabeça;
Respiração acelerada;
Pulso rápido e fraco.
Insolação:
Pele quente, vermelha e seca;
Temperatura acima de 40ºC;
Dor de cabeça latejante;
Perda de consciência ou coma;
Pulso rápido e forte.
Fonte: ONU

Por que capturar um inseto pode acabar em multa.

Em 21 de junho, Luís Paulo dos Santos Pereira, estudante de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília (UnB), andava por uma área do Serviço Florestal Brasileiro, ao lado do campus universitário, com uma rede coletando insetos para uma tarefa de aula, quando foi abordado e multado por um fiscal do Ibama.
Ele foi autuado por coletar espécimes da fauna silvestre sem autorização, e a multa aplicada foi de R$ 500 por cada inseto. Como ele estava com cinco na mochila, foi multado em R$ 2,5 mil, além de ter sua rede apreendida.
Na defesa que apresentou contra a autuação, o estudante afirmou que não coletava insetos no local, apenas carregava o equipamento para coleta. Segundo Pereira, os animais encontrados com ele teriam sido recolhidos em outro local.
Multas como a imposta ao estudante são raras, mas, ao menos em tese, é proibido coletar insetos sem autorização em todo o território nacional (e não apenas em áreas de proteção), por conta de uma legislação que causa polêmica entre cientistas brasileiros — alguns a consideram um “exagero regulatório”.
Enquanto em casa devemos exterminar insetos indesejados, de mosquitos a baratas, em ambientes naturais externos é proibido coletar animais para pesquisa sem autorização prévia.
As restrições se aplicam também a empresas que usem insetos para atividades de pesquisa e de desenvolvimento tecnológico (explorações econômicas em cima da fauna não são abrangidas pela legislação).
Além disso, “se uma delas retira material da nossa natureza, mas não estuda nem desenvolve novos produtos, ela não se enquadra no conceito de acesso ao patrimônio genético e não necessita atender à legislação”, explica a bióloga Juliane Borba Minotto, do Departamento de Meio Ambiente e Licenciamento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
A lei em questão é a Lei 13.123 de 20 de maio de 2015, a chamada Lei da Biodiversidade, regulamentada pelo Decreto nº 8.772, de 11 de maio de 2016, definindo o que pode ou não ser feito em relação às pesquisas com a biodiversidade brasileira. A legislação também criou uma plataforma online para que os estudos com o patrimônio genético nacional sejam obrigatoriamente cadastrados.

‘Fortes restrições’ a pesquisas

A legislação é apontada por alguns cientistas brasileiros como um dos motivos pelos quais estão desistindo de suas pesquisas.
“Há muito venho deixando áreas de estudos no Brasil devido as fortes restrições a nosso trabalho”, conta a bióloga Alpina Begossi, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que em outubro passado enviou uma carta ao então candidato à Presidência, Jair Bolsonaro, solicitando a suspensão do decreto 8.772.
Pesquisadora que “estuda o Brasil há cerca de 30 anos, especialmente pesca, peixes e pescadores de rios da Amazônia e da costa da Mata Atlântica”, Alpina justifica o pedido dizendo que o “decreto obrigou cientistas das universidades brasileiras a ter que cadastrar no Ministério do Meio Ambiente (preenchendo assim inúmeros formulários, por espécie estudada), sob pena de multas de mais de R$ 100 mil, as espécies nativas que são pesquisadas por eles”.
Por isso, Alpina disse no texto que se tornou inviável continuar trabalhando no Brasil, com espécies nativas, devido “à altíssima burocracia de autorizações, licenças e formulários”.
“É então uma questão de patriotismo a revisão desse decreto, já que, apesar da boa intenção de trabalharmos em nosso país, hoje sofremos o risco de multas altas”, escreveu. “Ou teremos que estudar espécies não-brasileiras, exógenas; ou ainda ir realizar coletas em outros países que tem mais amor pela pesquisa e pelo seu solo.”

‘Intransigência’

Nesse contexto, o caso de Pereira é um exemplo extremo da aplicação da legislação ambiental e de proteção ao patrimônio genético nacional e o conhecimento tradicional a ele associado, ou seja, os saberes das populações indígenas sobre a biodiversidade. “Esses casos não são muito comuns, porque existe pouca fiscalização e a maioria dos fiscais tem um pouco de bom senso e razoabilidade”, opina Reginaldo Constantino, professor de Pereira na época da sua autuação.
“Mas basta aparecer um mais radical e intransigente para causar problemas sérios. Por isso, pelo menos temporariamente, algumas dessas atividades estão suspensas, o que certamente vai prejudicar a formação de uma geração de estudantes.”
Procurados pela BBC News Brasil, o Ibama e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) disseram que quem poderia falar sobre o assunto era o Ministério do Meio Ambiente. Este por sua, procurado diversas vezes, por e-mail e telefone, desde 12 de novembro, não atendeu a solicitação de entrevista.
De acordo com Constantino, “há um bom tempo temos que lidar com esse exagero regulatório, o que tem gerado muita dor de cabeça para quem pesquisa qualquer coisa ligada à biodiversidade, com impacto negativo sobre ciências biológicas, agrárias e biomédicas”.
“As normas são confusas, complexas e excessivamente restritivas em muitos casos”, diz. “Cientistas e estudantes ficam ameaçados de pesadas multas e até mesmo prisão apenas por não cumprir formalidades burocráticas, que tem pouco efeito prático. Atualmente está impossível realizar algumas atividades práticas de ensino em zoologia, porque as regras não permitem.”
Outra consequência disso, de acordo com Constantino, é que colaborações com pesquisadores estrangeiros são especialmente mal vistas e estão quase inviabilizadas. “Enviar e receber espécimes de um país para outro virou um tormento, com normas cada vez mais restritivas em muitos deles”, reclama. “A multa para brasileiro que enviar para o exterior amostras de material biológico em desacordo com as normas vigentes é bem alta, algo como R$ 25 mil.”

Desburocratização

Nem todo mundo pensa assim, no entanto. Há também aqueles que veem aspectos positivos na Lei da Biodiversidade. O advogado Alexandre José França Carvalho, especialista em Direito Ambiental e mestrando em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para a Inovação do Instituto Federal do Pará (IFPA), por exemplo, diz que, de certa maneira, ela trouxe uma regulamentação definitiva sobre a questão, o que facilita a pesquisa científica e a exploração econômica da biodiversidade brasileira.
Antes, diz ele, o acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento associado era regulado por uma medida provisória de 2000 que foi reeditada 16 vezes. “Ela era mais burocrática”, opina, porque exigia que estudos científicos e atividades de exploração econômica da biodiversidade tivessem autorização prévia de um órgão chamado Conselho de Gestão do Patrimônio Genético, ligado ao Ministério do Meio Ambiente.
“Isso era ruim para quem pesquisava e para quem explorava a produção de produtos oriundos da biodiversidade, uma vez que havia pouca segurança jurídica sobre a questão”, diz Carvalho. Essa autorização tornava o processo muito lento, o que não era compatível com a demanda crescente tanto de cientistas quanto de empresas.
A Lei da Biodiversidade, diz ele, desburocratizou isso ao criar uma plataforma online para cadastrar pesquisas com o patrimônio genético brasileiro.
Mas não resolveu o problema. “Os cientistas continuam questionando o Ministério do Meio Ambiente quanto ao tempo para cadastro e regularização dos trabalhos”, reconhece Carvalho.
Constantino cita ainda o descompasso entre o rigor da lei em relação às pesquisas e a leniência com empreendimentos comerciais.
“Uma pessoa não precisa de nenhuma autorização para pulverizar inseticidas sobre áreas enormes e matar milhões e milhões de insetos”, explica. “Mas um aluno de Entomologia não pode coletar um único inseto legalmente. As normas (infralegais) definidas pelo Ibama e pelo ICMBio não permitem conceder licença de coleta para estudantes. É preciso ser profissional formado.”
Apesar da multa que levou, Pereira diz que a lei não está errada. “Tem sim que preservar o meio ambiente, com sua fauna e flora, porém é preciso bom senso e tratar cada situação de forma diferente”, defende.
“Uma coisa é uma pessoa está capturando insetos para o comércio ou tráfico, o que quer que seja, outra é um estudante estar coletando material para uma determinada disciplina em uma universidade. Tem tantas coisas pelo Brasil afora para o Ibama fiscalizar – desmatamento da Amazônia, tráfico ilegal de aves, madeiras e ele vai logo se preocupar com um aluno que está em um meio de pesquisa e ensino e cumprindo uma tarefa dada por um professor.”
Fonte: BBC