sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Ondas sísmicas abalam Oceano Índico e cientistas não sabem o porquê

ILHA MAYOTTE, ONDE OS SINAIS SÍSMICOS PODEM TER SURGIDO (FOTO: PIXABAY/ANYMAL2/CREATIVE COMMONS)
Na manhã do dia 11 de novembro, ondas sísmicas misteriosas foram captadas no Oceano Índico por estações de monitoramento da África e Américas, deixando cientistas intrigados. A sua origem foi em uma região próxima à costa da Ilha Mayotte, mas os tremores aconteceram por mais de 20 minutos e ninguém sentiu nada.
Especialistas classificaram as ondas como ondas lentas semelhantes àquelas vistas após grandes terremotos, conhecidas por viajarem grandes distâncias. Os sinais sísmicos fora indentificados a quase 18 mil quilômetros de Mayotte, acionando sensores na Zâmbia, Quênia, Etiópia, Chile, Nova Zelândia, Canadá e até no Havaí (EUA). Contudo, nenhum terremoto ocorreu na região.
Apenas um neozelandês notou coisas atípicas nestes sinais, por meio de fotos no US Geological Survey, agência online que publica registros de ondas e tremores. “É um sinal sísmico estranho e incomum, que pôde ser visto em todo o mundo”, o rapaz postou no Twitter. Com isso, outros especialistas em geografia começaram a debater sobre o que poderia ter causado os tremores misteriosos.
Anthony Lomax, consultor independente de sismologia, disse ao portal Daily Mail Onlineque os tremores poderiam ter sido ocasionados ​​por atividades submarinas, como erupções vulcânicas. “Há atividades sísmicas de baixo nível em andamento desde maio”, ele relatou. “Inflação, deflação e o colapso das caldeiras vulcânicas e o movimento do magma sob um vulcão podem produzir uma grande variedade de sinais sísmicos, incluindo ondas repetidas e de longo período, como as observadas em 11 de novembro.”
Ondas lentas também são incomuns por causa de seu “anel” monótono e de baixa frequência e de sua disseminação global.
Durante um terremoto comum, o acúmulo de tensão se libera em segundos com muita pressão. Os sinais mais rápidos, conhecidos como primários (ondas P), atingem primeiro os sismógrafos e produzem uma leitura de tremores repetidos. Eles são seguidos pelos secundários (ondas S), que se registram como movimentos mais longos.
As ondas de baixa frequência alcançam sismógrafos de forma parecida como as desencadeadas em Mayotte. O padrão de ziguezague foi formado principalmente por um só tipo de onda (monocromática), que levou 17 segundos para ser repetida.
“Não faço ideia se um sinal global semelhante a essa natureza já foi observado”, disse Jamie Gurney, da University of Plymouth Geology, no Reino Unido.
Até agora, muitos cientistas suspeitam que as ondas estejam relacionadas a um enxame sísmico em andamento na região, que começou em maio de 2017. Centenas de pequenos terremotos ocorreram neste período, com a maior magnitude alcançando 5,8 em 15 de maio do ano passado.
Especialistas do French Geological Survey (BRGM) afirmaram que os sinais sísmicos podem indicar que o magma abaixo da ilha vulcânica está saindo para o mar. Outros dizem que pode ter havido um terremoto “lento” que simplesmente passou despercebido.
O próximo passo de muitos geólogos é examinar o oceano para descobrir qualquer informação que possa ajudar a explicar este fenômeno misterioso.
Fonte: Revista Galileu

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Imagens mostram baleia jubarte “enganando” peixes para capturá-los.


BALEIA JUBARTE POSSUI TÉCNICAS DIFERENTES PARA CAPTURAR SUA REFEIÇÃO (FOTO: PXHERE)

Um vídeo publicado pela revista Science mostra que, para as baleias jubartes, vale de tudo para conseguir um bom jantar. O mamífero, que é capaz de comer até 2,5 mil quilos de peixe por dia, aparece “enganando” suas presas para conseguir capturar o maior número possível delas.
O vídeo foi registrado na costa nordeste de Vancouver, no Canadá, e faz parte de um estudo que tenta entender como as baleias se comportam na hora da caça. Segundo o que foi registrado, o primeiro passo é soprar bolhas em forma de círculos gigantescos em volta do cardume de arenques para agrupá-lo mais facilmente.
Depois é a hora de agir discretamente (o que deve ser bem difícil para um animal de quase 16 metros). Enquanto as aves que estão sobrevoando o mar tentar agarrar alguns peixes, as jubartes permanecem imóveis e com suas bocas abertas para cima, formando, assim, enormes lagos.
De acordo com a publicação da Marine Mammal Science, muitos dos peixes confundem as piscinas artificiais como refúgios e, uma vez reunidos na boca das baleias, elas fecham as mandíbulas e conseguem, assim, o seu lanchinho fácil.
Os cientistas observaram esse comportamento pela primeira vez em uma jubarte em 2011. Desde então, eles registraram mais de 20 indivíduos fazendo isso. A rápida disseminação da técnica, muitas vezes entre baleias que passam muito tempo juntas, pode indicar que os mamíferos gigantes estão aprendendo uns com os outros. Isso pode ajudar as baleias a aprender novas estratégias de alimentação para se adaptarem às mudanças futuras no clima ou da disponibilidade de alimento.
Fonte: Revista Galileu


Snippet: New humpback whale fishing tactic—pretending to be a pond

Snippet: New humpback whale fishing tactic—pretending to be a pond

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Aquecimento global será duas vezes pior para os EUA que crise de 2008.

INCÊNDIOS INTENSOS NA CALIFÓRNIA SÃO CONSEQUÊNCIA DO AQUECIMENTO GLOBAL. (FOTO: DOMÍNIO PÚBLICO)
lei norte-americana determina que, a cada quatro anos, treze órgãos federais façam uma análise dos impactos sentidos nos Estados Unidos em decorrência ao aquecimento do planeta. Em um momento em que as florestas da Califórnia não param de pegar fogo, a conclusão do documento, recém divulgado, não poderia ser mais clara:
“Os impactos da mudança climática já estão sendo sentidos em comunidades em todo o país”, e deixa o alerta de que nem os esforços globais para combater a mudança climática nem os esforços regionais para se adaptar a ela “abordam atualmente as escalas necessárias para evitar danos substanciais à economia dos EUA, meio ambiente e saúde humana ”.
Segundo o relatório, a economia norte-americana deve encolher até 10% até 2100, um impacto duas vezes maior que da crise que atingiu o país em 2008. Mas, de acordo com artigo publicado na revista Nature, somente a existência desse relatório já é um alívio.
Eles temiam que o governo do presidente Donald Trump — que promoveu agressivamente os combustíveis fósseis e revogou as regulamentações — iria interferir nas conclusões do relatório ou bloquear sua divulgação. Isso não aconteceu, e o resultado é um documento cuja mensagem central contradiz as posições tomadas pelo presidente e outros funcionários da administração.
Trump culpou repetidamente os incêndios na Califórnia com o manejo florestal precário — ignorando a evidência de que o aquecimento global está aumentando a freqüência e a intensidade desses incêndios. Em 17 de novembro, por exemplo, ele desviou as perguntas sobre a mudança climática ao visitar a cidade de Paradise, na Califórnia, depois de ter sido derrubado pelo mais violento incêndio na história do estado. O Acampamento de Incêndio já queimou mais de 250 quilômetros quadrados e matou pelo menos 84 pessoas, com mais de 500 centenas ainda desaparecidas.
“O presidente continua dizendo que nada é devido à mudança climática, mas a verdade é a verdade”, disse à Nature Donald Wuebbles, cientista do clima da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, que trabalhou no relatório climático. “Acho que eles decidiram que lutar ia custar muito mais do que não lutar contra isso”.
Clima extremo
O relatório apresenta as últimas novidades em ciência da mudança climática, mas também examina como o aquecimento global provavelmente afetará diferentes regiões do país e setores da economia.
Temperaturas mais altas e condições mais secas levaram a incêndios maiores no oeste dos Estados Unidos, diz o relatório, e essa tendência continuará enquanto o planeta se aquece e a estação de incêndios se alonga nas décadas futuras.
Secas persistentes ajudaram a acelerar o esgotamento das águas subterrâneas para consumo e agricultura no sudoeste e no meio-oeste dos Estados Unidos, segundo a análise. Ao longo da costa leste, a combinação de mares em ascensão e precipitação extrema aumentou os riscos de inundação.
Barragens e diques estão envelhecendo em todo o país, e o risco de eles falharem aumentará à medida que as tempestades se tornarem mais poderosas. As perdas econômicas dos Estados Unidos causadas por grandes tempestades, inundações e secas em 2017 chegaram a US $ 290 bilhões – a maior soma anual registrada em quase quatro décadas, segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA.
“Temos desafios significativos hoje e a mudança climática só vai agravar esses desafios”, afirmou Upmanu Lall, diretor do Columbia Water Center da Columbia University. Lall é o principal autor do capítulo de avaliação sobre a água.
Se as tendências atuais nas emissões globais de gases de efeito estufa continuarem, o relatório diz que as perdas anuais em alguns setores da economia dos EUA podem chegar a centenas de bilhões de dólares até o final do século — “mais do que o produto interno bruto (PIB) atual. muitos estados dos EUA ”.
Clima político
O último relatório é o quarto de uma série que remonta a 2000, mas o processo de liberar as análises — a cada quatro anos, conforme exigido por lei — nem sempre correu bem.
Ambientalistas processaram a administração do presidente George W. Bush em 2004 por perder o prazo legal para liberar a segunda avaliação nacional do clima. Em última análise, um tribunal federal ordenou que o governo produzisse a análise.
Embora o governo Trump tenha divulgado um quarto relatório completo, muitos cientistas continuam preocupados com a possibilidade de o governo enterrá-lo nos arquivos públicos, em vez de tomar medidas para resolver suas descobertas. Alguns também especularam que a decisão de divulgar o relatório sobre a Black Friday, no dia seguinte ao feriado de Ação de Graças dos EUA, foi parte de uma tentativa de minimizar as conclusões do relatório.
“A mensagem é cristalina: a mudança climática não é uma discussão política — é uma ameaça existencial à nossa nação e ao nosso povo”, disse Rhea Suh, presidente do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, em um comunicado. “É hora de reduzir a poluição por combustíveis fósseis que está impulsionando a mudança climática global”.
Cientistas do governo que participaram de uma coletiva de imprensa sobre o relatório se esquivaram de várias perguntas sobre se a Casa Branca tentou suprimir o relatório divulgando-o durante um fim de semana de férias. Eles disseram que o governo queria liberar o relatório antes da próxima rodada de negociações climáticas das Nações Unidas, que começa em 2 de dezembro em Katowice, na Polônia.
Mas é improvável que o governo federal assuma a liderança em traduzir as descobertas do relatório em ação. No ano passado, a administração Trump dissolveu um comitê consultivo federal destinado a ajudar as comunidades, empresas e governos estaduais e locais a usar a avaliação climática nacional.
“Identificar vulnerabilidades é importante, mas não é suficiente”, disse à Nature Richard Moss, um cientista climático do Instituto da Terra da Universidade de Columbia, que liderou o painel dissolvido. “Estamos no ponto em que a ação deve ocorrer.”
Esse comitê, liderado por Moss, se reconstituiu como o Comitê Consultivo Independente sobre Avaliação do Clima Aplicado, com financiamento do estado de Nova York, Universidade de Columbia e American Meterological Society, entre outras fontes.O painel planeja lançar recomendações no início de 2019 para ajudar as empresas e o governo em todos os níveis a aplicar as conclusões da avaliação do clima.
Também está trabalhando para criar um consórcio para ajudar empresas e formuladores de políticas a usar melhor as informações científicas à medida que buscam reduzir as emissões e adaptar-se às mudanças climáticas.
Fonte: Revista Galileu


terça-feira, 27 de novembro de 2018

Mais de 140 baleias morrem encalhadas na Nova Zelândia.

Área remota, a consequente falta de funcionários, e a deteriorada condição das baleias obrigaram o sacrifício dos animais
Mais de 140 baleias-piloto morreram encalhadas no fim de semana na Ilha Steward, no sul da Nova Zelândia. Elas ficaram presas na baía Mason, em dois grupos separados por dois quilômetros.
Aproximadamente metade das baleias já estava morta quando os socorristas chegaram. O Departamento de Conservação da Nova Zelândia decidiu sacrificar os animais restantes devido à dificuldade de acesso e à falta de funcionários suficientes na área remota.
“É sempre uma decisão de arrebentar o coração”, disse o chefe de operações do departamento na ilha, Ren Leppens. “Infelizmente, a possibilidade de fazê-las flutuar com sucesso de volta ao mar eram extremamente baixas. A distância do lugar, a falta de pessoal e a deterioração da condição das baleias implicava que o mais humano que se podia fazer por elas era sacrificá-las.”
A causa do encalhe não foi determinada. Mas doenças, predadores ou condições climáticas extremas podem ter sido fatores.
A Ilha Stewart, que recebe o nome Rakiura na língua nativa maori, está localizada a 30 quilômetros da Ilha Sul da Nova Zelândia, separada pelo Estreitod e Foveaux. Cerca de 400 pessoas habitam a ilha, a maioria na cidade de Oban.
A baleia-piloto é um mamífero cetáceo de coloração negra, cabeça em forma de globo sem bico definido ou dentes aparentes e que pode chegar a medir até 85 metros de comprimento.
Em um caso separado, dez orcas-pigmeus encalharam numa praia no norte da Nova Zelândia. Equipes de resgate não conseguiram salvar dois animais, mas afirmaram que esperam flutuar as orcas restantes na terça-feira. As orcas-pigmeus, um cetáceo da família dos delfinídeos (golfinhos), chegam a medir 2,5 metros de comprimento e pesam no máximo 225 quilos.
O Departamento de Conservação da Nova Zelândia disse responder a uma média de 85 casos de encalhamentos de mamíferos por ano. A maioria dos casos envolve um único animal em vez de grandes grupos.
Em 2017, mais de 300 baleias-piloto morreram depois de ficarem presas numa praia no extremo norte da Ilha Sul da Nova Zelândia.
Fonte: Deutsche Welle

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Cinco cidades de São Paulo cabem na área da Amazônia desmatada em 2018.

MORADA DE INDÍGENAS ISOLADOS, A TERRA INDÍGENA (TI) ITUNA ITATÁ REGISTROU 756 HECTARES DESMATADOS EM JUNHO (FOTO: JUAN DOBLAS/ISA)
Desde 2008 que não se desmatava tanto a floresta amazônica que neste ano. Números recém divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que, entre agosto de 2017 até julho deste ano, houve um aumento de 13,7% no desmatamento. No total já perdemos 790 milhões de hectares este ano, o equivalente a mais de cinco vezes a cidade de São Paulo.
Se há dez anos a área devastada chegou a 1,2 bilhão de hectares, caiu para 750 milhões em 2009, e seguiu em queda até 2012, com o recorde positivo de 460 milhões de hectares. Mas, desde então voltou a subir, e em agosto desde ano já superamos a antiga maior marca desta década, com 789 milhões de hectares devastados em 2016.
Ambientalistas acreditam que o aumento no desmatamento, como acontece historicamente,  é reflexo das movimentações muito longe dali, no planalto central do País. “”Os números da destruição, que já eram altos e inaceitáveis, ficaram ainda piores. Grande parte das respostas para esse aumento estão em Brasília. É do centro do poder que parte o estímulo constante ao crime ambiental nos rincões da Amazônia”, afirma Marcio Astrini, coordenador de políticas públicas do Greenpeace Brasil.
O aumento do poder da chamada bancada ruralista, que ganhou posição de destaque no futuro governo de Jair Bolsonaro (PSL), vêm apresentando uma série de propostas que terão impacto direto na proteção das florestas, seus povos e do clima do planeta: Lei da Grilagem, flexibilização do licenciamento ambiental no Brasil, ataque aos direitos indígenas e quilombolas, adiamentos do Cadastro Ambiental Rural (CAR), tentativas de redução de áreas protegidas e paralisação das demarcações de Terras Indígenas, entre outras.
“Esse conjunto de propostas beneficia quem vive de desmatar a floresta, grilar terras e roubar o patrimônio natural dos brasileiros. As consequências estão traduzidas agora nos números da destruição da Amazônia”, afirma Astrini.
Se nada for feito para refrear o desmatamento, coloca em risco, inclusive, a contribuição do país para o Acordo de Paris. “A depender do governo Jair Bolsonaro, as previsões para a Amazônia (e para o clima) não são boas. Tudo o que funcionou no combate à destruição florestal está sob ameaça”, declara Astrini. “Ele pretende liberar a exploração de Terras Indígenas e Unidades de Conservação e enfraquecer o poder de fiscalização do Ibama. Se concretizadas, essas propostas levarão a uma explosão da violência no campo e colocarão em risco a esperança climática do planeta”, declara.
Fonte: Revista Galileu

domingo, 25 de novembro de 2018

Cientistas descobrem nova população de ursos polares.

NOVA POPULAÇÃO DE URSOS POLARES É DESCOBERTA NO MAR DE CHUKCHI (FOTO: PIXABAY)
Não é de hoje que as mudanças climáticas preocupam os cientistas. Mas, em meio à tanta tragédia, ainda há uma esperança: biólogos do Centro de Ciências Polares da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, descobriram uma nova população de ursos polares (Ursos Maritimus) ainda não estudada, no Mar de Chukchi, entre o Alasca e a Rússia. Os resultados foram publicados na revista científicaScientific Reports.
O mar de Chukchi é, de acordo com estudos anteriores, abundante em vida selvagem, incluindo focas, que são boas refeições para os ursos. “A maior parte do mar de Chukchi é rasa, com águas ricas em nutrientes vindas do Pacífico”, disse disse o biólogo e um dos responsáveis pelo estudo, Eric Rogehr. “Isso se traduz em alta produtividade biológica.”
A descoberta é resultado de uma década de pesquisas. “Ele nos dá uma primeira estimativa da abundância e da situação da subpopulação do Mar Chukchi”, afirma Rogehr. Mas, apesar de ser uma excelente notícia, os pesquisadores ressaltam que os animais não estão isentos das ameaças. “A perda de gelo marinho, resultante das mudanças climáticas, continuam sendo a principal ameaça à espécie.”
Entre 2008 e 2016, os ursos de Chukchi mantiveram uma população bastante saudável. No entanto, se compararmos o período com 25 anos atrás, eles estão passando cerca de um mês a menos em gelo do mar. O habitat é onde os ursos polares costumam caçar, se reproduzir e até mesmo migrar.
Existem 19 subpopulações de ursos polares no mundo inteiro. Eles estão oficalmente listados como vulneráveis na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN. Estima-se que 26 mil ursos polares estejam nessas condições, sendo que algumas subpopulações estão diminuindo mais rápido do que outras. Uma dessas subpopulações afetadas pelas mudanças climáticas são os Beaufort, que perambulam entre os Estados Unidos e o Canadá, e estão ficando sem gelo em seu habitat natural.
O fato de os ursos passarem menos tempo no gelo é motivo de preocupação. Pesquisas recentes da NASA descobriram que mais da metade do gelo permanente do Ártico foi perdido desde 1958.
Os pesquisadores conseguem identificar 60 ursos polares anualmente, alguns inclusive com dispositivos de GPS. De acordo com o estudo, a subpopulação contava com pouco menos de 3 mil animais que tinham boas taxas de sobrevivência reprodutiva.
Fonte: Revista Galileu

sábado, 24 de novembro de 2018

Desmatamento no Cerrado começa a ser acompanhado em tempo real.

Cerrado ocupa quase 25% do território nacional – Foto: Arquivo/Agência Brasil
A situação do Cerrado, segundo maior bioma brasileiro, agora pode ser acompanhada em tempo real por qualquer pessoa. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) lançou o Deter Cerrado, ferramenta na qual se tem acesso aos gráficos sobre o desmatamento na região, que abrange mais de 2 milhões de quilômetros quadrados e corresponde a 24% do território nacional.
A ferramenta reúne imagens produzidas pela câmera Wi-Fi instalada no satélite Cbers-4. Diariamente, elas serão repassadas ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Ibama) para fiscalizar áreas de desflorestamento ilegal. “Com esses dados, certamente teremos ações mais assertivas no combate ao desmatamento”, disse o diretor de Florestas e de Combate ao Desmatamento do Ministério do Meio Ambiente, Jair Schmitt. 
Pelo sistema, é possível conferir o desmatamento do Cerrado por estado e por município. Ele também oferece mapas para comparar o avanço da retirada da cobertura vegetal desde 2000, com base em informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Serviço Florestal Brasileiro. 
O Banco Mundial financia a iniciativa por meio do Programa de Investimento Florestal (FIP, na sigla em inglês). As pesquisas são desenvolvidas conjuntamente pelo Inpe, pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Fonte: Governo do Brasil, com informações do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações  

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Ibama devolve à natureza 233 animais silvestres vítimas do tráfico.

Foto: Ibama
O Ibama concluiu neste fim de semana a devolução à natureza de 233 animais silvestres apreendidos em diversos estados do país, a maioria vítima do tráfico. A ação foi realizada com apoio logístico da Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará (Semace). O retorno ao ambiente de origem, em veículos climatizados, ocorreu após reabilitação em Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Instituto em cinco estados: Alagoas, Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe.
Retornaram à região nordeste, de onde foram retirados ilegalmente, 142 passeriformes: 79 papa-capins, 39 bicudos, 15 curiós, 6 pintassilgos-do-nordeste e 3 trinca-ferros; além de 19 papagaios-do-mangue, 20 jabutis-piranga, 2 maracanãs nobres e 50 periquitos-do-sertão. As solturas ocorreram em Pernambuco, com apoio técnico do Cetas do estado, e em Sergipe, numa área florestal de 2 mil hectares com fontes de alimento e água em abundância.  Cadastrada no programa Áreas de Soltura de Animais Silvestres (Asas), a propriedade pertence a um grupo empresarial e dispõe de segurança e monitoramento, além de viveiro apropriado para adaptação das espécies ao novo ambiente.
Segundo Walber Feijó, analista ambiental que coordenou a operação, cerca de 200 animais são devolvidos semanalmente à natureza no Ceará. De janeiro a novembro deste ano, o CETAS do Ibama no estado recebeu 11 mil animais.
Técnicos do Instituto também promoveram a formação de grupos estáveis de macacos-prego (Sapajus libidinosos) para solturas monitoradas, que serão realizadas pelos Cetas CE e RN, em conjunto com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
As ações de transferência e soltura foram realizadas em seis dias. A preparação para o retorno à natureza, no entanto, teve início com a chegada de cada animal aos Cetas, onde a alimentação adequada e a recuperação física e psicológica foram imprescindíveis para o desenvolvimento das capacidades que permitem a sobrevivência no meio silvestre.
“Esse trabalho de conservação da fauna brasileira, que em muitos casos está ameaçada de extinção, só é possível com a devida articulação entre unidades do Ibama, órgãos estaduais e instituições de pesquisa voltadas para a conservação da biodiversidade. O retorno desses animais às suas áreas de origem é fundamental para garantir a renovação populacional”, disse o Walber Feijó.
Segundo o coordenador-geral de Gestão da Biodiversidade, Florestas e Recuperação Ambiental, João Pessoa Moreira, o Ibama vem reformando e equipando os Centros de Triagem para reforçar as ações de conservação da biodiversidade. “Em abril foi concluída a reforma do Cetas do Ceará e o de Sergipe será reinaugurado em 7 de dezembro. Também estão previstas obras para melhoria dos Centros de Triagem de Goiânia e do Distrito Federal”, afirmou o coordenador-geral.
Os espaços que recebem animais apreendidos começaram a ser construídos no início da década de 1970.  Atualmente, há 24 Cetas do Ibama em funcionamento no país. Em 2017, foram devolvidos à natureza 34.764 animais.
Fonte: Ibama

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Especialistas discutem no Peru gestão sustentável dos recursos minerais da América Latina.

Setor de mineração é responsável por 200 mil empregos diretos e 800 mil indiretos no Brasil. Foto: PNUD
Autoridades e especialistas reunidos em Lima, no Peru, destacaram na segunda-feira (19) a importância de contar com uma governança adequada de recursos naturais, especialmente minerais, contribuindo para um desenvolvimento mais sustentável, com grande impulso ambiental na região da América Latina e do Caribe.
Em discurso inicial no seminário “A mineração na América Latina e no Caribe: interdependências, desafios e oportunidades para o desenvolvimento sustentável”, o vice-ministro de Mineração do Peru, Luis Incháustegui, ressaltou a importância de reconhecer o desafio para resolver os dilemas de confiança entre os atores vinculados ao setor de mineração, “desafio que é preciso enfrentar com cooperação e de forma sustentável”, disse.
Ele indicou que deve prevalecer a intenção de tornar a mineração uma atividade competitiva que contribua para um desenvolvimento inclusivo, no âmbito da Agenda 2030 das Nações Unidas.
O evento foi organizado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), com cooperação alemã, por meio da diretora-geral adjunta para a América Latina do Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento, Christiane Bögemann-Hagedorn, e apoio do Ministério de Energia e Minas do Peru.
A secretária de Política de Mineração da Argentina e presidente do Comitê Executivo da Conferência de Ministérios de Mineração da Américas (CAMMA), Carolina Sánchez, enfatizou a necessidade de melhorar a relação da sociedade com a mineração, por meio de um trabalho para estabelecer bases institucionais que incluam todos.
Sánchez também destacou a necessidade de melhorar a comunicação do setor com a sociedade, lembrando que a mineração é um vetor dinamizador de aspectos como a igualdade de gênero, a articulação de cadeias de valor locais e a formação de capital humano que não contribua somente com mão de obra, e sim com a criatividade e inovação nos projetos de mineração.
O embaixador da Alemanha no Peru, Stefan Herzberg, defendeu a ideia de uma aliança para a sustentabilidade, reconhecendo que países como Alemanha precisam de recursos naturais e minerais produzidos na região andina, apostando que os vínculos devem transcender as relações comerciais e se enquadrarem na agenda global de desenvolvimento sustentável.
Na inauguração do encontro, a secretária-executiva da CEPAL, Alicia Bárcena, explicou que a América Latina e o Caribe contam com abundantes recursos naturais e concentram parte importante das reservas minerais em nível global: 65% do lítio, 49% da prata, 44% do cobre e 33% do estanho.
Bárcena indicou que esta situação definiu historicamente a especialização exportadora da região, fortalecida ainda mais após o último boom de preços de minérios (registrado entre 2002 e 2008). Desta forma, as exportações de minérios da região aumentaram de forma constante em termos de volume, chegando em 2017 a 170 bilhões de dólares, equivalente a 17% do valor de seus envios totais de bens, e a 8% das exportações mundiais de minerais e metais (segundo relatório anual recente da CEPAL).
A secretária-executiva da CEPAL acrescentou que, embora os recursos trazidos pela mineração à região tenham apoiado as contas fiscais e a entrada de moedas estrangeiras aos países exportadores, a América Latina e o Caribe tiveram dificuldades para converter os períodos de bonança exportadora de seus recursos naturais em processos de desenvolvimento econômico de longo prazo.
“Ainda há enormes desafios para serem atendidos perante a vulnerabilidade externa, os impactos ambientais e as necessidades de inversão das receitas de mineração nas capacidades humanas e produtivas que aportem o desenvolvimento sustentável desses países”, afirmou.
“Isso implica alcançar uma governança eficaz sobre a propriedade, a apropriação, a distribuição e a inversão das rendas da mineração, que permita transformar estes recursos estratégicos em outros tipos de recursos duradouros a serviço dos cidadãos e da sustentabilidade de suas economias.”
Em apresentação posterior, a secretária-executiva indicou também que o super ciclo dos preços dos produtos básicos (commodities) melhorou os termos de troca, aumentou exportações, gerou rendas extraordinárias e dinamizou o crescimento econômico, mas não favoreceu a diversificação produtiva na região.
Além disso, a tributação da renda da mineração foi insuficiente para construir capital alternativo duradouro e atenuar a vulnerabilidade externa. Por outro lado, as atividades de mineração favoreceram uma perda de patrimônio natural e arriscaram a sustentabilidade ambiental da região.
Fonte: ONU

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

‘Rodovia da Morte’: seis animais morrem atropelados por dia na BR-262 que cruza o Pantanal de MS.

Onça atropelada na BR-262: ‘Felinos, mesmo ágeis, são vítimas constantes de atropelamento na região’, diz pesquisador — Foto: Aguinaldo Silva/Arquivo pessoal
Uma pesquisa publicada pelo Instituto Homem Pantaneiro aponta que seis animais silvestres morrem atropelados diariamente na BR-262, estrada que cruza o Pantanal de Mato Grosso do Sul. A estimativa dos pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) é que, entre reportados e não reportados, o número possa chegar a 3 mil mortes por ano.
As espécies mais atingidas são répteis, mamíferos, aves e anfíbios, que acabam se adaptando à existência da estrada, e incorporando o trecho em sua área, de acordo com seus hábitos em diferentes épocas do ano. Há 18 anos pesquisas são realizadas na região pantaneira para diminuir os acidentes na rodovia, mas os resultados são alarmantes: os números são praticamente os mesmos.
A primeira pesquisa sobre a mortalidade de animais silvestres na BR-262 começou em 1996, com a dissertação de mestrado do pesquisador Wagner Fischer, citado em uma matéria do New York Times no dia 12 de novembro. Na época, a precariedade da sinalização e as condições da rodovia que corta a maior planície alagável do mundo eram a explicação para o alto número de carcaças à beira da estrada.
Em 2014, o professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Julio César de Souza, também citado pelo New York Times, refez o caminho. Na ocasião, já com a rodovia asfaltada, sinalizada com placas de aviso e 21 radares instalados de Anastácio a Corumbá, encontrou centenas de carcaças pela estrada.
O mais recente estudo foi publicado em 2017 pelo pesquisador Arnaud Desbiez, do Instituto de Pesquisa de Animais Silvestres (ICAS). A conclusão, após anos e anos de monitoramento e pesquisa, é que a evolução na redução desses acidentes foi mínima.
Fischer, Julio César e Arnaud fazem parte de um time de pesquisadores do centro-oeste, sul, sudeste e região de Mata Atlântica que busca, por meio de dados científicos, viabilizar propostas para suavizar os efeitos da alta taxa de mortalidade de animais silvestres nas estradas brasileiras.
Arnaud coordena o projeto Bandeiras e Rodovias, que desde 2017 monitorou 50 mil quilômetros de rodovias em MS. Nesse período, foram encontrados mais de seis mil animais atropelados na rodovia, segundo o pesquisador.
“A problemática dos atropelamentos é muito séria em Mato Grosso do Sul. Não é apenas um problema para nossa biodiversidade, é um problema de segurança. Pessoas morrem na nossas estradas por causa de atropelamentos, isso é muito preocupante e requer medidas urgentes”, declara.
Já a estimativa do professor Fischer é de que o número de animais silvestres atropelados no trecho que compreende Anastácio, Miranda e Corumbá, no coração do Pantanal, seja ainda maior que 3 mil:
“Muitos filhotes e animais menores tem suas carcaças consumidas tão rapidamente, que as mortes sequer são contabilizadas pelos órgãos ambientais. O número, pelos meus cálculos, pode passar de 3 mil. É inadmissível que a ‘Rodovia da Morte’ para animais silvestres corte um dos biomas mais importantes do planeta”, declara.

Ciclo vicioso de morte

A pesquisa de Wagner Fischer, que hoje atua como analista no Ministério da Ciência e Tecnologia em Brasília, começou em 1989 com uma professora da UFMS, quando ainda não havia asfalto no trecho e o fluxo de veículos era menor.
“Depois, com a construção da estrada e posteriormente do gasoduto Brasil-Bolívia, o tráfego de caminhões ficou mais intenso, o movimento começou a aumentar, e o número de animais mortos também”, afirma.

Inicialmente, sua pesquisa seria sobre morcegos, mas em uma viagem de motocicleta pelo Pantanal em 1996 ficou tão impressionado com a quantidade de animais mortos à beira da estrada que decidiu investir no tema. “Depois outros vieram e hoje somos uma equipe que troca informações e dados, todos em busca de proteção para a fauna pantaneira”.
Para ele, o que mudou de 1996 para 2018 foi a instalação dos radares (que aconteceu em 2010) e a quantidade de carcaças na estrada. “O recolhimento ajuda porque se elas ficarem ali, o animal carnívoro vai se alimentar delas, o urubu também, e todos eles tornam-se vítimas desse ciclo vicioso de morte. De qualquer modo, essa não é, obviamente, uma medida para sanar o problema”, declara Fischer. 

A pesquisa do pós-doutorando Julio César de Souza, professor da UFMS que está na Universidade de Kent, no Reino Unido, também é referência no assunto. Para Julio, tanto dados antigos quanto recentes comprovam a mesma coisa: a ineficência das medidas tomadas e a falta de uma estrutura correta para conter a travessia dos animais.
“O bordo da estrada com mato alto funciona como um corredor de floresta para o animal, que avista o mesmo espaço do outro lado da estrada, e atravessa. Enquanto não houver uma solução para isso, os números continuarão assustadores”, ressalta.

Atropelamentos ameaçam espécies

Uma pesquisa do Instituto Homem Pantaneiro (IHP) aponta que o atropelamento é um dos fatores que mais fortemente ameaça a fauna brasileira: “São 475 milhões de animais mortos nas estradas do Brasil todos os anos, uma taxa maior que a do próprio desmatamento”, afirma o coronel Ângelo Rabelo, que trabalha no Pantanal há mais de 30 anos.
O professor Fischer aponta que, em 18 anos, os pesquisadores observaram também que o comportamento dos motoristas não mudou: “A alta velocidade na região é um risco para animais e homens. O Pantanal é um bioma muito rico, cheio de animais de diversas espécies, que por diferentes hábitos, morrem nas mesmas circustâncias”.
“Em 18 anos, muitas espécies que na época haviam em abundância, hoje não aparecem mais nas estradas e isso não é um bom sinal. A mortandade vai acabando com a diversidade, com o estoque de fauna que tem no local, desequilibra a população. Chega um ponto em que não tem mais bicho para morrer.”
Na cheia ou na seca, os animais incorporam a existência da rodovia aos hábitos de sua natureza. “Eles ficam atravessando de um lado a outro, para conseguir parceiros sexuais, fazer seus ninhos, é uma série de interações entre a fauna que vai trocando de protagonista”, explica Fischer.

Espécies mais atingidas

O pesquisador Julio César explica que os hábitos dos animais tem relação direta com sua presença na rodovia, e a taxa de mortalidade de cada espécie:
  • Na época da cheia muitas capivaras, usam a estrada como refúgio seco, porque o Pantanal alaga;
  • No período de seca, os peixes aparecem em pequenas áreas alagadas, e os jacarés vêm atraídos pela abundância de alimento, são animais lentos em terra firme;
  • No alto a mesma coisa, tuiuiús e outras aves fazem seus ninhos perto da estrada, e gaviões e urubus vivem no entorno por conta das carcaças;
  • À noite, os insetos são atraídos pelos faróis dos carros e quando mortos, soltam um cheiro que atrai o tamanduá, que também é lento e tem a visão ruim;
  • Da mesma forma sapos, cobras e pequenos mamíferos cruzam a rodovia e, por serem pequenos e difíceis de visualizar, são vítimas certeiras dos veículos;
  • Também onças, jaguatiricas e outros felinos que até são velozes, mas não tem chance alguma diante de um carro em alta velocidade. 

    O que poderia ser feito?

    Algumas propostas para diminuir o número de atropelamentos já estão em estudo pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT/MS). Entre elas, há a tela de contenção, medida que foi objeto de estudo de Julio Cesar nos EUA.
    • Aumentar número de radares
    O Instituto Homem Pantaneiro diz que a instalação dos radares, a única solução aplicada até o momento, diminuiu a incidência de atropelamentos nas regiões consideradas hotspots (trechos mais críticos), mas “transferiu” o problema.
    “Diminuiu 100% a mortalidade onde tem radar e aumentou 100% na área de vazio, onde não tem controle”, afirma Rabelo.
    No mês de outubro, o Ibama aplicou uma multa de R$ 8 milhões ao DNIT por não instalar redutores de velocidade na região. Consultado pelo G1, o DNIT/MS afirmou por meio de nota que “pretende ampliar o número de controladores de velocidade no trecho em questão, porém, aguarda disponibilização de recursos financeiros”.
    • Instalação de telas de contenção
    O estudo realizado por Julio César, em parceria com o pesquisador Scott H. Markwith, aponta uma alternativa que funcionou na região: a instalação de telas de contenção ao longo dos locais que concentram maior número de indivíduos. Telas de contenção instaladas em autoestrada na Flórida são exemplo de solução para rodovias com trânsito de animais silvestres no Brasil — Foto: Julio César de Souza/Arquivo pessoal
    Segundo Rabelo, do IHP, a proposta das telas de contenção e adaptação das pontes foi entregue recentemente ao órgão responsável pela estrada: “Nós fizemos uma proposta para o DNIT. A instalação da tela, infelizmente, entra em um cenário de inviabilidade econômica”, conta.
  • Telas de contenção instaladas em autoestrada na Flórida são exemplo de solução para rodovias com trânsito de animais silvestres no Brasil — Foto: Julio César de Souza/Arquivo pessoal 
Com base nos resultados que apurou na Califórnia, Julio César garante que as telas reduzem de 70% a 90% as mortes de animais em rodovias:
“Redução de 90% seria um sonho dourado para a gente, mas se reduzisse 70%, já seria um resultado contundente. Pode ser uma alternativa cara, mas se gastam milhões por aí, acredito que poderia, sim, ser feito”, declara.
  • Túneis e corredores de fauna
Caso a cerca seja viabilizada, os espaços sob as pontes também deveriam ser adaptados. Seriam transformados em corredores biológicos, uma espécie de túnel para que os animais pudessem transitar de um lado a outro da rodovia, por baixo dela.
Entre Campo Grande e Corumbá, existem em torno de 90 pontes. De acordo com o IHP, destas, apenas 10 são sobre trechos com água. A proposta do Instituto é transformar esses espaços secos em uma passagem segura para os animais, que seriam monitorados por câmeras fotográficas instaladas nesses locais.
  • Manejo correto da vegetação nativa
Júlio César afirma que o órgão regulador das estradas (DNIT) cumpre seu papel em deixar a mata nativa na região, mas a “borda suja”, com mato alto, favorece a instalação de herbívoros no local:
“As capivaras, por exemplo, moram ali, na beira da estrada. O mato alto faz com que se sintam seguras, como se aquilo fosse um corredor de floresta. Precisa existir um convênio entre criadores, poder público, órgão regulador e pesquisadores, para manter o mato baixo e obrigar os animais a procurarem ambientes melhores, afastando-os da pista “, aponta.

Segundo Rabelo, o manejo da vegetação é uma alternativa que já vem sendo testada com o apoio de produtores rurais da região. O Pantanal é uma área em que a criação de gado é tradicional, e a travessia dos animais é feita, também, pela rodovia.
“Os pecuaristas são parceiros, a preservação da fauna é do interesse de todos no Pantanal. A solução é discutida em parceria porque, por exemplo, se fossem instaladas cercas na estrada, também eles seriam afetados uma vez que o gado se movimenta pela rodovia na época da cheia”, explica.

  • Aparelhos que emitem sinais sonoros para alertar animais
Uma proposta que o IHP estuda é a instalação de aparelhos que funcionam como uma buzina, distante o suficiente para possibilitar a fuga, mesmo dos animais mais lentos:
“É uma espécie de radar que detecta quando um veículo vem a mais de 50km por hora, a uma certa distância, e emite um sinal sonoro que alerta os animais para espantá-los da rodovia”, explica Rabelo.
G1 consultou o DNIT/MS sobre a possibilidade de instalação desses aparelhos. Por meio de nota, a assessoria de imprensa informou que o órgão não tem conhecimento da proposta de instalação de aparelhos com emissão de sinal sonoro”.

O monitoramento será uma ferramenta essencial já que a 262 cruza não só o bioma Pantanal, mas também o Cerrado, reforça Arnaud.
“Existem variações espaciais e temporais nos atropelamentos, devido às estações e variações de temperatura. É preciso utilizar a tecnologia para entender esses hábitos, e investir. Acabar com a falta de interesse do poder público, falta de compromisso dos gestores da estrada. A preservação começa aí”, ressalta.
No início de 2019, o Projeto Bandeiras e Rodovias vai realizar uma perícia na região para definir medidas de mitigação recomendadas. “Uma ação efetiva para diminuir o número de acidentes salvaria muitas vidas, de animais silvestres e motoristas”, ressalta Arnaud.
A frase dita pelo professor Aguinaldo Silva, motorista que viaja ao Pantanal com frequência e encontrou o corpo da onça na foto que abre esta matéria, resume a urgência de medidas efetivas para mitigar o número de acidentes na BR-262:
“Uma estrada com tantas belezas naturais, tantos animais belíssimos, um espetáculo a ser apreciado de graça pelo homem, deveria sim, ser mundialmente conhecida como a ‘Rodovia da Vida’, e não da morte.”
Fonte: G1