segunda-feira, 30 de abril de 2018

Austrália gastará milhões para salvar Grande Barreira de Corais.


A Grande Barreira de Corais foi declarada Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco em 1981
O governo da Austrália planeja investir 500 milhões de dólares australianos – o equivalente a 312 milhões de euros ou 1,3 bilhão de reais – para recuperar e proteger a Grande Barreira de Corais, localizada na costa do país e considerada o maior ecossistema de corais do mundo.
O anúncio foi feito neste domingo (29/04) pelo ministro australiano do Meio Ambiente, Josh Frydenberg. Em entrevista à emissora local ABC, o político afirmou que se trata do “maior investimento individual em restauração e gestão da história da Austrália”.
Segundo Frydenberg, o montante será gasto para melhorar a qualidade da água, combater uma espécie de estrela-do-mar conhecida como coroa-de-espinhos, que se alimenta de corais, e ajudar a desenvolver novas espécies de corais mais resistentes a temperaturas mais quentes.
A Grande Barreira de Corais, declarada Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco em 1981, é a maior estrutura viva da Terra, com 2.300 quilômetros de extensão, ultrapassando o tamanho da Itália. O recife abriga mais da metade das espécies de corais conhecidas.
A maior estrutura viva do mundo vista do espaço
Ao lado de mais de 1,5 mil espécies de peixes e 4 mil de moluscos, encontram-se animais ameaçados de extinção, como o mamífero dugongo e a grande tartaruga-verde marinha.
A Grande Barreira está gravemente ameaçada. Em anos recentes, o recife tem sofrido com um efeito conhecido como branqueamento, causado principalmente pelas mudanças climáticas. O aumento da temperatura da água, bem como a acidificação do oceano, causou danos catastróficos aos corais.
Um estudo publicado na revista científica Nature no início do mês mostrou que o ecossistema perdeu quase um terço de seus corais durante um período de apenas nove meses em 2016, após uma extensa onda de calor.
Os corais australianos também foram afetados por uma epidemia da estrela-do-mar coroa-de-espinhos. A espécie é um predador natural de corais e vem causando danos enormes a esses animais nas últimas décadas.
O investimento antecipado neste domingo faz parte de um orçamento que deve ser revelado pelo governo da Austrália ao longo da próxima semana. Uma parte das despesas será usada para convencer os agricultores a reduzirem a quantidade de substâncias nocivas, como sedimentos e pesticidas, que acabam fluindo para a Grande Barreira, afirmou Frydenberg.
Segundo o ministro do Meio Ambiente, o recife é responsável por cerca de 64 mil empregos, tem um valor de mais de 6 bilhões de dólares australianos à economia do país e atrai mais de 2 milhões de visitantes por ano.
“É um ícone natural nacional e internacional, e é por isso que estamos tão determinados em salvá-lo e preservá-lo para as gerações futuras”, concluiu o político.
Fonte: Deutsche Welle

domingo, 29 de abril de 2018

Cientistas ingleses criam concreto mais resistência e ‘amigável’ ao meio-ambiente

De acordo com os cientistas, o novo material possui duas vezes mais resistência que o concreto normal, e é quatro vezes mais resistente à água. Esse novo concreto poderia ser utilizado diretamente na indústria e construções. O novo material foi testado e aprovado de acordo com os parâmetros de qualidade do Reino Unido e da Europa.
O novo material reforçado com grafeno também reduziu drasticamente a utilização de carbono dos métodos convencionais de produção de concreto, tornando-o mais sustentável e ecologicamente correto.
“Nossas cidades enfrentam uma pressão de crescimento a partir dos desafios globais da poluição, urbanização sustentável e resiliência a eventos catastróficos naturais, entre outros. Esse novo composto é relevante em termos de aprimorar o concreto tradicional, de forma a fazer com que ele cumpra essas necessidades. Ele não apenas é mais forte e durável, mas também é mais resistente à água”, disse Monica Craciun, professora do departamento de engenharia da Universidade de Exeter e coautora do estudo.
Trabalhos anteriores sobre o uso da nanotecnologia concentraram-se em modificar os componentes existentes do cimento, um dos principais elementos da produção de concreto. No novo estudo, entretanto, a equipe de pesquisa criou uma nova técnica que se concentra em suspender o grafeno atomicamente fino em água com alto rendimento e sem prejuízos, com baixo custo e compatível com requisitos de fabricação modernos e em grande escala.
“Encontrar formas mais sustentáveis de construir é um passo crucial para reduzir as emissões de carbono em nosso planeta e ajudar a proteger o meio ambiente. Esse é um primeiro passo, mas um passo muito importante na direção certa para fazer uma indústria mais sustentável para o futuro”, dise Dimitar Dimov, principal autor do estudo, também da Universidade de Exeter.
Fonte: Climatologia Geográfica com informações da Universidade de Exeter.

sábado, 28 de abril de 2018

Níveis recordes de microplásticos são encontrados no Ártico.

Cientistas exploraram o Ártico a bordo do navio Polarstern, próprio para regiões geladas
Cientistas alemães anunciaram nesta terça-feira (24/04) a descoberta de quantidades recordes de microplásticos no gelo do oceano Ártico – o que pode representar um perigo para a vida marinha da região quando esse gelo vir a derreter devido às mudanças climáticas, alertam os pesquisadores.
A equipe do Instituto Alfred Wegener (AWI, na sigla em alemão) identificou 17 tipos diferentes de plástico em extensas amostras de gelo coletadas durante três expedições ao Ártico a bordo da embarcação Polarstern – própria para explorar regiões geladas – entre 2014 e 2015.
Entre os microplásticos encontrados havia restos de sacolas e embalagens de alimentos, tintas de navios, redes de pesca, nylon e poliéster derivados de tecidos sintéticos e filtros de cigarro.
As amostras analisadas continham até 12 mil partículas de microplásticos por litro de água congelada. Essa medida é duas a três vezes maior do que qualquer outro nível já registrado na região, apontaram os pesquisadores em estudo publicado na revista científica Nature Communications.
Pesquisas anteriores já haviam alertado contra os perigos da presença de microplásticos para centenas de espécies de animais selvagens que vivem nos oceanos. O novo estudo alemão, contudo, ampliou essa preocupação ao descobrir níveis recordes.
“Com as mudanças climáticas, isso sugere que o derretimento do gelo marinho provavelmente está liberando grandes quantidades de microplásticos no meio ambiente”, afirmou a bióloga Chelsea Rochman, da Universidade de Toronto, em entrevista à DW.
“Muitas vezes pensamos na liberação de metano com o derretimento do gelo, mas agora devemos considerar também os microplásticos”, advertiu a especialista.
Expedições do Instituto Alfred Wegener ao Ártico ocorreram entre 2014 e 2015
Plásticos na cadeia alimentar
Segundo Ilka Peeken, bióloga do AWI e coautora do mais recente estudo, o gelo marinho funciona como uma espécie de “transporte” de microplásticos, o que aumenta seus impactos.
À medida que o gelo chega às partes mais quentes do Atlântico, por exemplo, e vem a derreter, ele deixa um rastro de partículas de plástico que se agarram às algas e ficam incrustadas no fundo do oceano. O maior perigo disso, segundo Peeken, é que esses poluentes acabam sendo rapidamente absorvidos na cadeia alimentar.
“Percebemos que mais da metade dos microplásticos presos no gelo tinham menos de um vigésimo de milímetro de largura”, afirmou a bióloga à DW.  ”Isso significa que eles podem ser facilmente ingeridos por microorganismos, como pequenos crustáceos dos quais os peixes se alimentam.”
Os cientistas ainda não sabem ao certo os reais efeitos dos microplásticos consumidos por organismos marinhos e transportados através da cadeia alimentar. Enquanto algumas criaturas conseguem ingerir detritos plásticos sem qualquer efeito nocivo conhecido, os mexilhões, por exemplo, podem sofrer inflamações.
Segundo Peeken, o fato de crustáceos estarem ingerindo microplásticos antes de serem consumidos como alimento por seres humanos pode gerar possíveis “implicações para a saúde humana”, ainda não totalmente conhecidas pela ciência.
Em 2014, um estudo já havia mostrado evidências de microplásticos no gelo do mar Ártico ao analisar amostras individuais coletadas na região. A nova pesquisa alemã, no entanto, é a primeira a usar sensores infravermelhos para verificar áreas inteiras de gelo. A tecnologia permitiu que os cientistas do AWI descobrissem uma concentração muito maior do que antes se pensava.
De acordo com o grupo ambientalista WWF, 8,8 milhões de toneladas de plástico são despejadas nos oceanos todos os anos – o que equivale à carga completa de um caminhão de lixo por minuto. Se continuar assim, em 2050 haverá mais plástico do que peixes no mar, alertou a ONU.
Fonte: Deutsche Welle

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Como um penhasco mudou para sempre a forma como entendemos a Terra.

Image captionHutton não chegou a testemunhar seu próprio legado, mas suas ideias mudaram nossa percepção sobre o tempo (Foto: John Van Hoesen)
“Só um pouquinho mais à frente, logo após a próxima curva”, disse Jim, meu guia, enquanto nosso barco de pescador desbravava as águas densas do Mar do Norte. Não foi muito tranquilizador. Mas, conforme avançávamos lado a lado, eu lembrei que o motivo da viagem valia a pena.
Nós estávamos refazendo uma jornada de 230 anos de existência, que mudou para sempre a perspectiva da humanidade sobre a história da Terra – e até do próprio tempo.
Nosso destino era o Ponto Siccar. Eu o havia visitado mais cedo naquele dia, mas a pé. Ao ficar de pé sobre os penhascos, a uma hora de distância de carro a leste de Edimburgo (Escócia), eu tive a impressão incontestável de estar em uma fronteira. Muito abaixo, lascas pontiagudas de rochas cinzentas mergulhavam no mar cheio de espuma. Nos penhascos em volta, porém, as pedras tinham um tom mais avermelhado.
Image captionO Ponto Siccar é uma das localidades geológicas mais importantes do mundo – e foi um fazendeiro de 62 anos quem desvendou sua importância (Foto: John Van Hoesen)
De repente, Jim deu um tapinha no meu ombro. “Logo ali”, apontou ele. Conforme nos aproximávamos, eu comecei a notar os afloramentos rochosos que o anunciam. Mais perto, o contraste entre as camadas verticais de pedra oceânica com a base do penhasco e as camadas horizontais de arenito bem mais acima estava claramente visível.
Em 1788, poucas pessoas entendiam a importância desse contraste. Foi um pensador iluminista – o fazendeiro de 62 anos James Hutton, que fez essa viagem em volta do Ponto Siccar há mais de dois séculos – que percebeu que ele comprovava a existência de um “tempo profundo”.
Muito antes da chegada de Hutton, o Ponto Siccar tinha uma importância histórica e geográfica. Mais de mil anos atrás, os britânicos antigos haviam construído um pequeno forte ali para espantar os invasores do norte. Mas ninguém havia percebido como o Ponto Siccar ilustrava a própria história da Terra.
Image captionMuito antes de James Hutton, o Ponto Siccar já tinha uma importância histórica (Foto: John Van Hoesen)
Na verdade, quase todas as pessoas na sociedade do século 18 ainda acreditavam que a Terra tinha entre 4 e 10 mil anos de idade, uma estimativa baseada em interpretações literais da Bíblia. Hutton acreditava que a Terra era na verdade muito mais velha. Era uma percepção que mudaria o curso da ciência.
Assim como muitas figuras-chave do Iluminismo Escocês do século 18, como o economista Adam Smith, o filósofo David Hume e o poeta Robert Burns, Hutton era um polimato (quem estuda ciências diversas). Nascido em 1726, ele entrou na Universidade de Edimburgo com apenas 14 anos e com 23 ele tinha um diploma de medicina da Universidade de Leiden, na Holanda, além de um interesse crescente em química.
Alguns anos depois, ele descobriu como isolar cloreto de amônio da fuligem. Hutton começou um negócio produzindo a substância em sais, tintas e metais, o que lhe garantiu riquezas pelo resto da vida.
Apesar do sucesso profissional, a vida pessoal de Hutton havia mudado para pior. Tido como um “homem de pouco caráter” pela elite de Edimburgo após ter um filho ilegítimo, ele se isolou em várias fazendas perto da fronteira entre a Escócia e a Inglaterra, terras que herdou de seu pai. Isso deu início a um fascínio pela agricultura que ele mais tarde descreveu como “o estudo da minha vida”. A agricultura levou sua mente inquieta a questionar os processos que formavam a Terra – e a própria idade da Terra.
“Uma das dificuldades que ele enfrentou foi muita erosão do solo”, disse Colin Campbell, chefe-executivo do centro de pesquisas Instituto James Hutton. “Ele ficava se perguntando como manter o solo na terra durante as tempestades. Mas ele começou a perceber que havia um processo de renovação: enquanto o solo era levado, um novo solo começaria a ser formado e esse ciclo levava bastante tempo”.
Hutton começou a entender que a Terra havia sido formada e esculpida em processos graduais, todos operando em escalas de tempo imensas e, depois de juntar seus pensamentos um a um lentamente, ele apresentou suas descobertas e um pequeno grupo acadêmico de filósofos na Sociedade Real de Edimburgo. Foi bem recebido. Mas, para convencer uma audiência maior, Hutton sabia que precisava de mais evidências.
Image captionHutton encontrou sua ilustração ideal da história da Terra no Ponto Siccar (Foto: John Van Hoesen)
Ele partiu Escócia adentro procurando paisagens com junções claras ou inconformidades, que ele acreditava representar intervalos de tempo entre diferentes períodos geológicos. Quanto mais visualmente evidente o contraste, mais fácil era ver que essas características haviam sido criadas separadamente ao longo de enormes períodos de tempo, com intervalos de até milhões de anos.
Assim que Hutton avistou o Ponto Siccar, ele sabia que havia encontrado o que procurava. Como o matemático John Playfair, seu companheiro naquele dia, descreveu mais tarde: “A mente parecia ficar um pouco tonta de olhar para tão longe no abismo do tempo”.
O palpite de Hutton estava certo. Hoje sabemos como certas pedras oceânicas foram formadas há 435 milhões de anos. Com o tempo, camadas de lama no fundo marinho endureceram, cresceram na vertical, subiram acima do nível do mar e então lentamente sofreram erosão, revelando as formações.
Image captionAs pedras grauvaque do Ponto Siccar foram formadas 435 milhões de anos atrás (Foto: John Van Hoesen)
Mas foram necessários outros 65 milhões de anos até que o arenito fosse formado. Isso aconteceu em um período climático muito diferente, quando a Escócia era uma região tropical que ficava um pouco ao sul da Linha do Equador. Lentamente, os rios que se formavam no período chuvoso depositaram desertos de areia no topo da pedra de grauvaque.
“Hutton percebeu que a formação e o movimento dessas rochas para criar o litoral que vemos no Ponto Siccar não poderia ter ocorrido em cataclismas repentinos no intervalo de anos ou décadas”, disse Iain Stewart, geólogo da Universidade de Plymouth. “Ele entendeu esse conceito da profundidade do tempo: são necessárias dezenas de milhões de anos para ter grandes mudanças no planeta como efeito. E isso é perfeitamente ilustrado pela desconformidade entre as camadas de pedra oceânicas e terrestres”.
As ideias de Hutton começaram a se tornar dominantes no começo do século 19, depois que Playfair publicou seu livro de ilustrações da Teoria Huttoniana da Terra, em 1802, resumindo as teorias de seu amigo. O livro incluía uma ilustração do Ponto Siccar.
Muitas décadas depois, o geólogo Charles Lyell escreveu a então inovadora obra de três volumes Os Princípios da Geologia, levando as ideias revolucionárias de Hutton ao público em geral e propondo uma idade indefinidamente longa da Terra.
“O próprio Hutton, durante sua vida, era conhecido por dar essas palestras impenetráveis”, diz Stewart. “Boa parte de sua escrita também era inacessível. Mas, para Playfair, e mais tarde Lyell, a lógica do seu pensamento era muito atraente e eles tiveram um papel fundamental na sua popularização e em fazer as pessoas aceitarem a longevidade da história da Terra”.
Image captionO arenito no local foi formado 65 milhões de anos após a formação da grauvaque, o que deu a Hutton a desconformidade que ele precisava (Foto: John Van Hoesen)
Essas ideias influenciaram intensamente o então jovem Charles Darwin, fornecendo boa parte da base para seus pensamentos, que acabaram o levando à teoria da evolução. “Se você acredita que a Terra tem apenas 4 mil anos, não há muito tempo para seleção natural e evolução”, disse Campbell. “Mas se você acredita que o mundo tem milhões e milhões de anos, isso lhe dá todo tempo que você precisa para a evolução. É por isso que Hutton teve um impacto tão grande no pensamento das pessoas nos séculos seguintes”.
O próprio Hutton nunca testemunhou o legado de suas ideias. Ele morreu em 1797, com 70 anos de idade, nove anos após sua visita ao Ponto Siccar. Apesar de ser um dos maiores cientistas da Escócia, sua morte mal foi homenageada e ele foi enterrado em uma cova sem identificação. Somente 100 anos mais tarde, um grupo de geólogos juntou recursos para criar uma lápide para ele.
“Ninguém sabe por que isso aconteceu”, diz Campbell. “Deve haver várias razões – ele não havia se casado, teve um filho ilegítimo. Algumas pessoas dizem que ele bebia muito e ficava mais feminino, mas isso pode ser um mito. Além de sua genialidade científica, há muita história pessoal sem explicação no caso de Hutton”.
Ainda assim, em um intervalo de décadas, as ideias de Hutton influenciaram a cultura popular e se tornaram amplamente aceitas, até mesmo pela Igreja Anglicana. Muito disso se deve não apenas a Hutton, mas ao próprio Ponto Siccar.
“É um contraste tão grande e óbvio não apenas no ângulo mas nas cores das pedras, e isso não dá margem para discussão”, disse Campbell. “Resume tão bem as teorias de Hutton, e eu acho que esse é um dos motivos para sua importância”.
Fonte: BBC

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Por dentro do mercado ilegal de amuletos de beija-flor.


Pegue um beija-flor. Mate-o. Enrole-o em uma cueca ou calcinha, cubra com mel e venda para acender a paixão de um amante. Os beija-flores mostrados aqui são parte da coleção de referência do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA para facilitar na identificação de aves apreendidas que seriam vendidas como amuletos de amor chamados chuparosas.
FOTO DE LUJÁN AGUSTI, NATIONAL GEOGRAPHIC
Há uma bruxa em San Diego que lança feitiços para “prender um homem”, “dominá-lo” e fazê-lo “voltar sempre”. Ela tem uma loja no San Ysidro Boulevard, a 1,6 km na passagem de fronteira com o México mais movimentada dos EUA, perto de uma casa de penhores, uma loja de bebidas, um mercado de móveis e o Smokenjoy Hookah Lounge, onde um DJ toca nas noites de sexta-feira.
Mas você não precisa ir até sua loja para encontrar magia, só precisa se juntar às dezenas de milhares de pessoas que a assistem no YouTube. Como uma Ana Maria Braga macabra, que ensina a fazer poções em vez de comida, ela fornece instruções passo-a-passo para seus feitiços.
“Este é o pote de mel”, ela diz aos espectadores enquanto apresenta os ingredientes em sua bancada de trabalho: fotografias de dois possíveis amantes, um pedaço de papel com seus nomes escritos três vezes, um pequeno frasco de vidro e um beija-flor morto. Ela enrola o minúsculo animal dentro das fotografias e enrola o pacote em forma de charuto com fios rosa-choque quase do mesmo tom de suas longas e falsas unhas.
Espécies de beija-flor que ocorrem nos EUA são estritamente protegidas pela Lei de Aves Migratórias. O comércio internacional de beija-flores é ilegal sob a Convenção Internacional de Comércio de Espécies Ameaçadas.
FOTO DE LUJÁN AGUSTI, NATIONAL GEOGRAPHIC
Mostrando apenas os braços e a parte inferior do corpo diante da câmera, ela protege sua identidade enquanto embrulha o pacote em um sarcófago de papel colorido, mergulha-o no tempero de canela, espreme-o no frasco e o pulveriza com perfumes e óleos – feromônios – “para que ele fique sexualmente atraído”. Bálsamo “para que ele diga ‘Oh meu Deus, eu preciso ligar para ela.” Óleo de dormir “para que ele fique como um zumbi”. Óleo de atração “para que ele diga ‘Meu Deus, você é tão bonita, você é tão boa.’” Óleo de dominação “para que você domine os pensamentos dele”.
Finalmente, ela preenche o pote com uma camada espessa de mel dourado e enche com uma pitada de pétalas de rosa. “Eu amo isso”, diz ela. “Eu já estou com uma boa vibração.”
Como vendedora empreendedora, ela diz aos espectadores que quaisquer ingredientes difíceis de encontrar usados em suas criações estão disponíveis para os clientes. Por exemplo, em seu site, um beija-flor morto – em vida uma criatura verde iridescente com penas da cauda com cor de ferrugem – sai por US$ 50, o equivalente a R$ 180. Comprar um pote de mel pronto é outra opção.  Ela me informou por e-mail que o preço era US$ 500 (R$ 1,7 mil).
Se eu tivesse digitado o número do meu cartão de crédito, eu estaria cometendo um crime grave. Diversas leis federais e internacionais para a vida selvagem protegem os beija-flores e a maioria dos outros animais de serem comprados e vendidos. Até mesmo possuir aves sem documentos é um crime sério. Em maio passado, um homem da Califórnia em um voo vindo do Vietnã foi pego no Aeroporto Internacional de Los Angeles com quase cem aves canoras de “boa sorte” em sua mala. Ele foi condenado a seis meses de prisão domiciliar, seguido de um ano de prisão.
Os vodus de beija-flores mortos no YouTube não são apenas uma coisa esquisita da Internet, mas um pedaço do mundo sombrio de um comércio internacional misterioso que pode representar uma séria ameaça a um grupo de animais que já enfrenta perdas de habitat e mudanças climáticas.
Alguns mexicanos acreditam que os beija-flores têm poderes sobrenaturais. Além da Internet, os comerciantes os vendem em balcões de lojas espirituais chamadas de botânicas – cheias de ervas, incenso, velas, óleos e estátuas da Santa Muerte, a deusa da morte. Os místicos chamam o beija-flor la chuparosa, um símbolo parecido com o pé de coelho para boa sorte no amor. Chuparosas são frequentemente vendidos embrulhados em papel vermelho e fitas de cetim com uma oração de amor: “Beija-flor divino… com seu poder santo peço que você enriqueça minha vida e amor para que meu amado queira somente a mim.
CONEXÃO AMOROSA

O mercado negro de beija-flores é tão secreto que as autoridades do governo dos EUA nem sabiam que existia até 10 anos atrás, quando agentes do Serviço de Pesca e Vida Selvagem interceptaram um pacote postal vindo do México contendo dezenas de pássaros sem vida.
No Mercado de Sonora, na Cidade do México, um feirante vende saíras-beija-flores, na região iluminada da gaiola, como beija-flores. Essa traquitana aproveita de uma crença mexicana que diz que o coração recém-retirado de um beija-flor – se comido depois de fervido em uma sopa ou chá – é o tratamento mais poderoso para doenças cardíacas e crises epilépticos.
FOTO DE DOMINIC BRACCO II, NATIONAL GEOGRAPHIC
“Nós ficamos estarrecidos… beija-flores?! O que as pessoas fazem com uma quantidade comercial de beija-flores mortos?”, contou o agente especial James Markley, que liderou as investigações sobre o comércio de beija-flores. Ele logo aprendeu sobre a conexão com o amor. “Mulheres tentando atrair um homem; viúvos que desejam se casar novamente; homens carregando-os como forma de impedir que suas amantes e esposas se encontrem; uma esposa tentando evitar que o marido se desvie e olhe para outras mulheres”, disse ele. “Ouvimos todos os tipos de histórias.”
Beija-flores têm papel importante nas culturas, religiões e mitologia da América Latina. Os incas usavam penas de beija-flor em suas roupas, nos rituais de sacrifícios e até na arquitetura. Na “Ilha do Sol”, no Lago Titicaca – ao sul de Cuzco, no Peru –, uma entrada para um importante santuário inca era coberta por penas de beija-flor.
Na mitologia asteca, o beija-flor representa o poderoso deus do Sol Huitzilopochtli, concebido por sua mãe depois dela trouzer aos seios uma bola de penas de beija-flor – a alma de um guerreiro – que caiu do céu. Os anciãos mexicanos dizem que Huitzilopochtli guiou a longa migração dos astecas para o Vale do México, por isso o beija-flor é símbolo da força na luta da vida para elevar a consciência – para seguir seus sonhos.
Hoje em dia, além de serem poderosos símbolos de amor, os beija-flores são considerados mensageiros dos céus e “abridores de caminhos” para viajantes.  Markley conheceu recentemente um ex-detetive de narcóticos que encontrou beija-flores em santuários usados pelos cartéis de drogas para rezarem aos santos padroeiros por uma passagem segura, boa sorte e proteção contra polícia.
Agentes federais que se apresentam como clientes costumam encontrar beija-flores à venda em lojas de botânica em pequenos sacos plásticos contendo um pássaro envolto em cetim e uma oração de amor. Preço médio: US$ 45 (R$ 150). O estado do Texas também tem sido um ponto importante de vendas. Em 2013, um homem chamado Carlos Delgado Rodríguez, dono de uma loja de botânica em Dallas, ofereceu a um agente disfarçado (Markley) um desconto no atacado: 35 chuparosaspor US$ 770 (R$ 2,6 mil).
Nos meses que se seguiram, Delgado continuou fazendo negócios, vendendo a Markley mais de cem beija-flores. A agência foi capaz de identificar pelo menos 60 de 10 espécies diferentes, incluindo várias em declínio acentuado.
Em maio de 2014, depois do último dia em que Delgado se encontrou com Markley para trocar dinheiro por cadáveres de aves, ele foi preso, segundo documentos judiciais. Um indiciamento com cinco acusações o denunciou por violar a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e Flora Selvagens (CITES), que regulamenta o comércio global de animais selvagens, bem como a Lei do Tratado de Aves Migratórias, lei norte-americana de contrabando conhecida como a Lei Lacey e a Lei do Estado do Texas. O juiz do caso o condenou a quatro anos de liberdade condicional e US$ 5 mil (R$ 17 mil) em multas.
A punição era leve, disse Markley, mas o veredito foi uma vitória porque eles acabaram com um contrabandista. “Pense nisso”, disse ele. “Se os itens fossem elefantes ou águias, e comprássemos esse tanto de uma pessoa. É uma loucura.”
Uma peça chave do caso foi a análise das aves no laboratório forense do Serviço de Pesca e Vida Selvagem em Ashland, no Oregon, onde especialistas em patologia, morfologia e química examinam evidências de cenas de crimes usando microscópios de alta potência e instrumentos científicos que podem identificar até uma árvore em extinção a partir de uma lasca de madeira.
Pepper Trail, do laboratório do Serviço de Pesca e Vida Selvagem do Oregon, é um dos ornitólogos forenses mais importantes do mundo. Trail já identificou mais de 775 espécie contrabandeadas, desde pinguins e casuares até beija-flores e calaus.
O Sherlock Holmes do crime aviário no laboratório é Pepper Trail, que passou 20 anos estudando penas e carcaças de aves para ajudar a identificar as vítimas de crimes contra a vida selvagem. Trail, amante da natureza e poeta de sobrancelhas franzidas e pequenos óculos que ficam na ponta do nariz, é o primeiro a admitir que o trabalho pode ser incrivelmente deprimente.
“Os observadores de aves têm listas de vida”, disse ele, quando falamos pela primeira vez, ao telefone. Ele estava se referindo ao modo como muitos observadores de aves registram quantas espécies diferentes viram em suas vidas. “Eu também tenho uma lista de mortes de todas as espécies de aves que identifiquei no trabalho. São mais de 775 espécies de todas as partes do mundo, desde pinguins e casuares até beija-flores. Você está sempre aprendendo coisas novas.
Desvendar o caso dos chuparosas tornou-se especialmente importante para ele. “Beija-flores são animais poderosos”, disse Trail. “Nos identificamos com a vitalidade, a agressividade e a beleza deles. Não há ninguém que não ame beija-flores. Descobrir que toda essa exploração estava acontecendo é, para mim, particularmente triste.”
Ninguém sabe exatamente o custo do contrabando sobre as populações selvagens de beija-flor, mas alguns especialistas estão preocupados – a demanda por amuletos de amor parece ser significativa e está possivelmente em crescimento.
Em 2009, pesquisadores que examinaram o mercado de bruxaria de Sonora, na Cidade do México, documentaram mais de 650 beija-flores mortos à venda. Desde então, agentes federais compram chuparosas com adesivos “feitos no México” – um sinal de que há um mercado comercial. “Talvez exista uma fábrica, ou pelo menos uma loja de bom tamanho, produzindo”, disse Markley. “Eles estão sendo processados em algum lugar”.
Ainda há muitas perguntas não respondidas: quão grande é o comércio? De onde vêm as aves? Como eles estão sendo capturados e mortos? Existem alguns grandes traficantes ou o comércio é descentralizado? Quantos compradores têm uma crença sincera na magia do amor ou querem as aves apenas como novidades?
“Muitas das respostas estão no México”, disse Trail, “mas o México não está na nossa jurisdição. Será interessante ver o que você descobre.” Ele faz uma pausa. “Tome cuidado lá.”
PEQUENAS PRECIOSIDADES

Naturalistas há muito admiram os beija-flores. Em meados de 1800, John James Audubon falou com entusiasmo de alguns dos pássaros “parecidos com fadas” que registrou enquanto desenhava os pássaros da América do Norte. Em carta para um amigo, ele descreveu um beija-flor de pescoço despenteado como uma “pedra preciosa que resplandece… o fogo incandescente, estendendo seu lindo pescoço, como se para emular o próprio sol em esplendor”.
As cores do beija-flor brilham, da coroa roxa cintilante e da garganta verde-amarelada e iridescente do colibri-magnífico macho até o colar brilhante escarlate do beija-flor–de-pescoço-vermelho. Eles são pássaros habilidosos, capazes de parar no ar e subir, descer, ir para frente, para trás, para os lados até mesmo de cabeça para baixo.
Como um grupo, cerca de 340 espécies – desde alguns tão pequenos quanto abelhas a outros grandes como canários – são nomeadas pelo som estridente de suas asas, zumbindo a até 80 batidas por segundo. Com o metabolismo mais rápido que qualquer animal na natureza, os beija-flores quase nunca param de comer, exceto quando estão dormindo – o que conseguem fazer apenas por causa da incrível capacidade de reduzir seus termostatos internos e entrar em um estado de torpor, assim como astronautas dormindo profundamente em viagens interestelares de filmes espaciais de ficção científica.
Cada espécie de beija-flor é definida em grande parte por sua adaptação em extrair néctar doce dos tipos de plantas que ele poliniza. No extremo deste espectro, o bico preto do beija-flor-bico-de-espada é mais comprido que seu próprio corpo. O bico do pássaro evoluiu para coletar néctar de flores com longas corolas tubulares, incluindo a de uma espécie de maracujá profundamente dependente do florete aviário para ser polinizada. O beija-flor-de-bico-de-foice tem um bico de gancho para sugar o néctar da bananeira-do-brejo – ou papagaio – enquanto se equilibra na flor. Encontrado apenas em Cuba, o pequenino beija-flor-abelha – o menor pássaro do mundo, pesando menos que uma moeda de 1 centavo – é adaptado para beber néctar de flores pequenas demais para qualquer outro beija-flor. Mas como as flores não podem fornecer todo o combustível necessário para manter o pássaro no ar, ele também é um habilidoso caçador de mosquitos.
Os beija-flores podem parecer delicados, mas, se sentirem ameaçados, perseguirão animais de estimação e pessoas, e são resistentes o suficiente para florescerem em alguns dos lugares mais rígidos do planeta – dos picos dos Andes e planícies da América Central até os desertos áridos do sudoeste da América e as costas frias do Alasca. Alguns fazem migrações épicas entre os seus territórios invernais e de acasalamento:  o recorde foi rastreado em um beija-flor que voou mais de 5,6 mil km, de Tallahassee, na Flórida, até perto de Anchorage, no Alasca.
PERIGOS DE VOO
Claudia Isabel Rodríguez Flores examina com cuidado um beija-flor. Ela pesa, mede e coloca uma tornozeleira na ave no centro de pesquisa La Cantera, no campus da Universidade Autônoma do México na Cidade do México.

Pelo menos 17 espécies de beija-flores migram entre os EUA e o México, onde um pequeno grupo de pesquisadores gasta vários dias do mês monitorando tanto os visitantes de inverno quanto os residentes durante o resto do ano.
O local de estudo, chamado de La Cantera (A Pedreira), é um oásis exuberante no campus principal da Universidade Nacional Autônoma do México, na capital. Protegidos do barulho do trânsito e da poluição atmosférica na metrópole mais populosa da América do Norte, os arbustos floridos e o riacho murmurante da ex-pedreira são um paraíso para os beija-flores.
Em uma manhã de fevereiro, Claudia Rodríguez Flores aconchegou-se com uma jaqueta de inverno, tentando se aquecer na sombra. Estudante de Ph.D. em ornitologia em Bogotá, na Colômbia, Rodríguez tirou os longos cabelos escuros do rosto e colocou as luvas.
Claudia Isabel Rodríguez Flores remove um beija-flor de uma rede de captura em La Cantera. Cada pássaro é examinado e recebe uma tornozeleira que permite que os pesquisadores registre seu movimento ao longo do tempo.
Enquanto organizava uma área de trabalho arrumada sobre uma mesa de plástico, com uma toalha e um alicate especialmente projetado para encaixar braceletes de metal nas pernas finas de um beija-flor, ela deu início ao projeto de pesquisa, agora em seu sétimo ano. “Estamos tentando monitorar a população de beija-flores”, disse ela. “Nós os pegamos com redes de neblina e os unimos para que possamos rastrear seus movimentos e tentar entender a estrutura da comunidade.” As redes de neblina são normalmente feitas de malha de poliéster preta suspensas como redes de voleibol entre postes de metal. “Até agora”, disse ela, “pegamos 1.355 aves, cerca de nove espécies diferentes”.
Descendo um caminho de paralelepípedos, ela apontou para um riacho sombrio onde até uma dúzia de beija-flores pareciam mergulhar na água para os banhos matinais. Eu assisti maravilhada pensando no raro prazer de ver um beija-flor no meu jardim, um momento mágico fugaz, tal como vislumbrar uma estrela cadente. Rodríguez cuidadosamente removeu um beija-flor da rede de neblina. Ela colocou o pássaro em um saco de pano e enfiou-o dentro da camisa para mantê-lo aquecido.
De volta à mesa, ela observou como a ave parecia saudável. “Ele está em ótima condição, provavelmente apenas perdeu umas penas”, disse ela. “E já está marcado, uma recaptura, nós já pegamos ele antes.”
Ela usou uma lente de aumento para ler o código, MX8165, na pequena tornozeleira do pássaro, e deu-lhe um pouco de água com açúcar com um conta-gotas, enquanto fazia as medições e ditava para um aluno que anotava as informações. “Beija-flor Amazilia beryllina adulto, macho”, disse ela.
O beija-flor beryllina é localmente abundante e agressivo e a espécie mais comum encontrada em La Cantera. “Eles são os chefes”, disse Maria Delcoro Arizmendi, que tinha parado para ver como as coisas estavam indo. Eles intimidam e perseguem outros beija-flores que tentam se alimentar.
Arizmendi, 55, recém-saída de um treino matinal, com jaqueta de lã preta e tênis de corrida roxos com cadarços laranja fluorescentes, é a maior especialista em beija-flores do México. Ela passou mais de 30 anos estudando os pássaros. “58 espécies podem ser encontradas no México”, disse ela. “13 estão em perigo e cinco ameaçadas.”
Os pesquisadores usam uma variedade de redes para capturar beija-flores em La Cantera. Esta foi colocada sobre um alimentador e é operada por um estudante universitário que puxa uma corda para soltar a rede se um pássaro se aproximar.
FOTO DE DOMINIC BRACCO II, NATIONAL GEOGRAPHIC
As espécies de beija-flor endêmicas e confinadas a pequenos âmbitos são particularmente vulneráveis a riscos ambientais. Do tamanho de um dedo, o Lophornis brachylophus é encontrado apenas nas margens da floresta ao longo de um trecho de cerca de 25 km na Serra Madre del Sur, no sul do México. Uma zona de guerra de cartéis de drogas, guerrilheiros camponeses e milícias do governo, a área é muito perigosa para levantamentos biológicos e, por isso, pouco se sabe sobre o status da ave. A BirdLife International, um grupo conservacionista sem fins lucrativos, estima que a espécie esteja provavelmente diminuindo de 10 a 20% por década, à medida que o habitat da floresta é substituído por plantações de café e outras culturas, incluindo as papoulas.
Outra ameaça: as mudanças climáticas. À medida que as temperaturas globais sobem, os períodos de floração das sálvias e outras importantes plantas de néctar para os beija-flores estão mudando no início da temporada, tornando-se cada vez mais fora de sincronia com as demandas de forrageamento das aves. É uma preocupação séria para as espécies migratórias que precisam encontrar comida durante suas rotas. “Eles voam por um dia, reabastecem e voam por mais alguns dias”, disse Arizmendi. Se as flores continuarem a tendência de florescer cada vez mais cedo, os beija-flores acabarão passando fome.
Quando perguntei a ela sobre a ameaça que o tráfico de animais selvagens representa para os beija-flores, ela disse: “Ninguém tem uma medição, mas se o comércio de amuletos está crescendo, temos que pará-lo agora”. Ela está preocupada com os efeitos da coleta indiscriminada por caçadores ilegais (“sem qualquer conhecimento – fêmeas, jovens, o que eles encontrarem”) das populações de espécies endêmicas confinadas a pequenas áreas.
A essa altura, a mesa estava lotada de estudantes e voluntários folheando guias de aves, lápis, walkie-talkies, pranchetas e planilhas. Carlos Soberanes González, de 38 anos, que co-lidera o trabalho de campo com Rodríguez, retornou de um teste final. Com os beija-flores da manhã amarrados e soltos, era hora de Soberanes, Rodríguez e eu encontrarmos um padre de Santero em um café perto do centro da cidade.
“FEITO NO MÉXICO”
Eu imaginava que um Santero seria um cara velho vestindo um robe ornamentado ou algo exótico, mas Arturo Frausto Iwori Ogbe, o Nicho, de 25 anos, vestia uma camiseta preta, colete verde, calças bege e Nikes pretos. No Starbucks, tomando um venti caramel macchiato, ele nos preparou para nossa visita ao mercado, onde ele compra suprimentos para cerimônias religiosas, incluindo sacrifícios de animais. Conversaríamos com alguns mercadores vendendo beija-flores mortos, disse Nicho. “Mas sem fotos, a menos que eu diga que está tudo bem.” (Eu tinha recebido um aviso que este não era lugar para turistas.)

Cristóbal Carreño Parada, praticante da religião Iorubá, no templo da família na cidade do México. A crença Iorubá acredita que os beija-flores são importantes mensageiros entre santos e o mundo terrestre. Beija-flores, diferente de pombos e galinhas, não são usados em rituais de sacrifício.
A religião de Nicho é iorubá, batizada em homenagem a um dos principais grupos étnicos da Nigéria, uma fé africana hoje comumente seguida em Cuba, Caribe, América Latina e algumas partes das crenças tradicionais iorubás americanas que afirmam que todas as pessoas possuem um destino e que, eventualmente, as pessoas se tornam um espírito, com um criador divino e fonte de toda energia. O beija-flor desempenha um papel importante nesta religião como uma força de poder e como um mensageiro entre os reinos espiritual e físico.
No mercado, cada loja estava repleta de apanhadores de sonhos, bonecos de vodu, velas, crânios de animais e estátuas de Santa Muerte. Nicho nos levou direto para ver uma “bruxa”, uma mulher corpulenta com um avental de camuflagem verde e botas de combate. Ela nos acolheu em sua loja, onde crânios e penas pendiam do teto. Esticando a palma da mão, ela nos mostrou quatro beija-flores pequenos e inertes.
“É para amor”, ela disse – um feitiço de amor. “Quando você faz um feitiço de amor desse tipo, tenha cuidado porque significa muito.  A força de um beija-flor é muito forte no mundo místico”.
Então ela explicou como faz o feitiço. “Nós os colocamos cara-a-cara (um macho e uma fêmea), idealmente com roupas íntimas de um homem e de uma mulher. Então você os coloca em uma pequena sacola vermelha, enche a sacola com mel puro e coloca no seu santuário com velas – é assim que fazemos. ”
Sem o mel e outros itens, um beija-flor pode ser usado como amuleto, ela continuou – “para dar sorte, ou para abrir um caminho. Se você tem alguém em vista, você apenas escreve o nome dele, enrola-o na sua direção e carrega-o por aí. Todos os dias você coloca um pouco do seu perfume nele.
Feirantes do Mercado de Sonoro, na Cidade do México, vendem beija-flores mortos por cerca de US$ 2,50 (R$ 8,50). Por uma taxa extra, o vendedor prepara as aves em pequenas bolsas cheias de mel. Clientes colocam as bolsas em seus oratórios pessoais.
Esses pássaros, ela explicou, eram de um cara em Pachuca, a capital do estado de Hidalgo, ao norte da Cidade do México. “Eles jogam redes até as árvores e os pegam, e os preservam em peróxido de hidrogênio”, disse ela. “Dessa forma, eles não se decompõem ou perdem suas penas.” Um único pássaro custa 50 pesos, um feitiço de amor, 600 pesos. Ela faz cerca de 20 desses por mês, principalmente para mulheres. “Funciona em 98% das vezes”, disse ela. “Muito poderoso.”
Mais no fundo do mercado, Nicho parou para dizer olá a outros mercadores que nos mostravam seus beija-flores. Em uma área, onde aparentemente infinitas gaiolas de filhotes, coelhos, galinhas, papagaios e uma chinchila morta se alinhavam nos corredores, encontramos um cara exibindo alguns beija-flores mortos. Ele os recomendou como um bom tratamento para a epilepsia ou problemas cardíacos.
“Você corta o coração deles”, ele disse, “e ferve para fazer chá ou sopa”. Uma das espécies em sua mão era um beija-flor-de-garganta-ametista, visivelmente maior do que as outras espécies que vimos. Reconhecendo nosso interesse pelo pássaro, ele ofereceu 150 pesos. Para adoçar o negócio, ele adicionou dois dentes que ele disse que eram crocodilos.
Quase todos os vendedores que encontramos tinham quase uma dúzia de beija-flores pendurados em ganchos, fios vermelhos costurados nos olhos e na garganta. Soberanes, que trabalhou em pet shops e aquários quando criança e estudava araras no desfiladeiro Sabino de Oaxaca na escola de pós-graduação, tocou-os em descrença. Ele sussurrou: “Esses são os pássaros que tentamos preservar. É deprimente.”
INVESTIGAÇÃO EM ANDAMENTO
No laboratório forense do Serviço de Pesca e Vida Selvagem no Oregon, Pepper Trail estava encurvado sobre uma bancada preta, cutucando um beija-flor petrificado com um bisturi. Ele encontrou outra pista no mistério do chuparosa: pequenos orbes visíveis em uma tomografia computadorizada. Curioso, ele fez uma radiografia de alguns espécimes coletados durante o caso de Delgado e agora os examinava para ver se havia algum sinal de como os pássaros foram mortos, um dos mistérios que o incomodava.

Removendo os óculos, ele puxou uma viseira de aumento para dar uma olhada melhor nos pássaros. No começo, encontrou apenas uma substância seca que parecia uma resina. Ele notou que o tórax das aves havia sido aberto, mas não conseguiu encontrar nenhum metal dentro deles. A patologista veterinária do laboratório, Tabitha Viner, ofereceu-se para dar uma olhada. Minutos depois, ela extraiu uma bola de metal cinzenta do tamanho de uma cabeça de alfinete do tórax do pássaro.
“Parece chumbo”, disse Trail. “Talvez algum tipo de tiro?”
Ele raspou o fragmento em um envelope e levou-o pelo corredor até sua colega Pam McClure, analista do laboratório de química. Sim, ela disse, com os resultados na tela do computador. “É chumbo.” Comparando a um gráfico de tamanhos de munição, ela supôs que era tamanho 11 (1,57 milímetros de diâmetro), provavelmente algo usado em espingarda de pequeno calibre.
Pepper Trail identificou quase 20 espécies de beija-flores chuparosas vendidos em sacos plásticos com adornos e orações de amor.
Usar uma espingarda para derrubar um beija-flor é como cortar salada com um facão. No entanto, mais de um terço dos pássaros testados continham chumbo. Como eles não explodiram é outro mistério.
Pedro Trinidad, que cresceu nas montanhas próximas da Cidade do México e agora mora em Nova Jersey, contou que aos 6 anos ele e seus irmãos matavam beija-flores com estilingues. Ajudava a passar o tempo, ele disse, quando estavam cuidando das vacas da família. Ele se arrepende agora, mas naquela época era o que os garotos faziam. “Coelhos, cobras – se o animal se movia, a gente matava. Eu conseguia atirar em dois ou três beija-flores em um dia. Um homem em uma loja local os comprava. Ficávamos muito felizes porque tínhamos alguns pesos para comprar uma Coca-Cola ou um doce.”
Seria preciso um exército de crianças com estilingues para abastecer a profusão de beija-flores no Mercado de Sonora e todas as lojas de botânica no México e nos EUA.
“Tudo se resume a oferta e demanda”, disse Trail. “Enquanto a demanda for forte, as pessoas sempre tentarão atendê-la.”
Parar o contrabando de beija-flores exigirá a aplicação da lei em ambos os lados da fronteira, mas o México ainda não determinou que há de fato um problema de beija-flor.
Joel GonzálezMoreno lidera a inspeção e vigilância da vida selvagem, recursos marinhos e ecossistemas costeiros na Procuradoria Federal para Proteção Ambiental do México. “Não detectamos situações críticas de tráfico para esse grupo de espécies”, escreveu ele em um e-mail. Ele citou a perda de habitat como a principal preocupação, mas acrescentou que os contrabandistas de animais podem enfrentar até três anos de prisão. E se o contrabando estiver associado ao crime organizado, a punição pode ser de quase 20 anos em uma prisão mexicana.
Pepper Trail está tentando levantar a questão com autoridades mexicanas. A cada ano, o México se junta aos EUA e ao Canadá em uma reunião trilateral para coordenar os esforços internacionais de conservação. Em preparação para a reunião de 9 de abril, Trail enviou uma atualização sobre o comércio de chuparosa.
Chuparosas comprados em botânicas por agentes do Serviço de Pesca e Vida Selvagem a paisana são enviados ao laboratório forense em Oregon – o único do mundo dedicado a crimes contra a vida selvagem. Lá, as aves são identificadas por espécie e examinadas em busca de pistas sobre como foram mortas.
“O trabalho investigativo em andamento do Escritório de Aplicação da Lei [do Serviço de Pesca e Vida Selvagem] indica que esse comércio é significativo e bastante difundido, pelo menos nos estados fronteiriços”, escreveu ele. “Devem ser feitos esforços contínuos para coletar informações sobre o status das populações de beija-flores nos EUA e especialmente no México. Pode ser apropriado considerar se são necessárias proteções adicionais para os beija-flores sob a lei mexicana. Trabalho colaborativo adicional precisa ser feito envolvendo organizações governamentais e não-governamentais nos EUA e no México para educar o público sobre a importância ecológica dos beija-flores e desencorajar o abate de beija-flores para esses feitiços de amor.”
“Recebi um aviso de que foi recebido”, disse Trail. “Mas não há ninguém para pressionar nesse assunto, eu não sou um membro da delegação.”
Humberto Berlanga, coordenador do México da Iniciativa Norte-Americana de Conservação de Aves, um fórum internacional de agências governamentais e organizações privadas, é membro da delegação. Berlanga não considera o tráfico de beija-flores como uma alta prioridade. “Eu suspeito que o mercado não é muito grande, e eu não acho que isso está afetando qualquer espécie em extinção, mas não temos dados”, disse ele. “Essas são minhas impressões gerais. As pessoas estão pegando e usando as aves ilegalmente, mas não há fiscalização suficiente para limitar e interromper essa prática – é triste, mas é verdade ”.
Um fluxo constante de novas evidências tem chegado cada vez mais ao laboratório do Serviço de Pesca e Vida Selvagem no Oregon – um total de quase 300 aves de cerca de 20 espécies até o momento. Os pássaros são acompanhados por pelo menos cinco variações de orações de amor. “Elas são todas impressas de maneira diferente e a linguagem é um pouco diferente”, disse Trail. “Minha teoria é que esses folhetos são de produtores diferentes. Isso nos diz que não é apenas um, podem ser muitos produtores. ”
Trail talvez nunca saiba – ele pretende aposentar em breve. Em uma estante de livros em seu escritório, há um fichário branco grosso rotulado como “Planejamento de Aposentadoria”. Ano passado, o laboratório contratou um novo ornitólogo forense que eventualmente assumirá seu lugar. Trail está animado em ter mais tempo para conduzir excursões de observação de aves, escrever prosa e observar animais vivos que respiram. Mas ele ainda não largou o caso dos chuparosas.
Fonte: National Geographic