segunda-feira, 30 de setembro de 2019

ONU Meio Ambiente: foco político na crise climática é o maior em uma década.

A ONU Meio Ambiente divulgou no domingo (22) relatório mostrando que o foco político na crise climática é o maior em pelo menos uma década, inclusive por meio do Acordo de Paris para o clima. Eleitores e manifestantes do mundo todo, principalmente jovens, estão deixando mais claro que a crise climática é prioridade.

Além disso, cidades, regiões e empresas não estão esperando imposições de governos centrais. Cerca de 7.000 cidades de 133 países, 245 regiões de 42 países e 6.000 empresas com receita de pelo menos 36 trilhões de dólares se comprometeram a reduzir as emissões.
Tudo isso é um progresso importante, mas não chega perto do suficiente, segundo o documento. Os países devem pelo menos triplicar o nível de ambição refletido em suas promessas climáticas sob o Acordo de Paris para alcançar a meta de um aquecimento abaixo de 2°C. Eles devem aumentar a ambição pelo menos cinco vezes para a meta de 1,5 °C.
A ONU Meio Ambiente divulgou no domingo (22) uma retrospectiva de dez anos de seu Relatório de Emissões, publicação que compara os níveis de emissão de gases de efeito estufa para evitar os piores impactos das mudanças climáticas.
À primeira vista, as notícias parecem sombrias. O mundo parece ter passado a última década fazendo exatamente o oposto do que deveria. Apesar dos avisos dos relatórios anuais, as emissões de gases de efeito estufa cresceram a uma média de 1,6% ao ano entre 2008 e 2017. De fato, essas emissões são agora quase exatamente o que os primeiros relatórios projetavam para 2020 se o mundo não alterasse seus modelos de crescimento insustentáveis e poluentes.
Com as políticas atuais em vigor, o mundo caminha para um aumento de temperatura de 3,5°C neste século, em comparação com os níveis pré-industriais. Isso está muito além dos objetivos do Acordo de Paris, que visa limitar o aumento da temperatura global a 1,5 °C, ou pelo menos bem abaixo de 2°C. Se este mundo mais quente se concretizar, todas as previsões de impactos climáticos catastróficos se tornarão realidade. Elevação do nível dos mares, eventos climáticos extremos e danos incalculáveis ​​às pessoas, prosperidade e natureza.
Mas por trás das manchetes sombrias, uma mensagem diferente emerge do resumo de dez anos — uma de oportunidade. “A última década não trouxe a queda nas emissões de gases de efeito estufa que queríamos, isso é verdade. Mas, de várias maneiras, estamos em um lugar melhor do que há dez anos”, afirmou a diretora-executiva da ONU Meio Ambiente, Inger Andersen.
“Grandes avanços na conscientização, na tecnologia e na vontade de agir significa que agora estamos prontos para reduzir rapidamente as emissões de gases de efeito estufa”, acrescentou.
O resumo de dez anos apresenta uma série de desenvolvimentos encorajadores: o foco político na crise climática é o mais alto de todos os tempos, inclusive por meio do Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas, enquanto eleitores e manifestantes de todo o mundo, principalmente os jovens, estão deixando cada vez mais claro que a crise climática é prioridade.
Além disso, cidades, regiões e empresas não estão esperando imposições de governos centrais. Cerca de 7.000 cidades de 133 países, 245 regiões de 42 países e 6.000 empresas com receita de pelo menos 36 trilhões de dólares se comprometeram a reduzir as emissões.
A tecnologia para reduzir de forma rápida e econômica as emissões também melhorou significativamente. A energia renovável é um exemplo perfeito. Crescimento explosivo significa que a energia limpa evitou a emissão de aproximadamente 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono em 2017, pois forneceu cerca de 12% do suprimento global de eletricidade. A instalação de tecnologias agora está mais barata do que nunca.
Tudo isso é um progresso importante, mas não chega perto do suficiente, segundo o documento. De acordo com o resumo dos dez anos, as nações devem pelo menos triplicar o nível de ambição refletido em suas promessas sob o Acordo de Paris — conhecidas como contribuições nacionalmente determinadas ou NDCs — para alcançar a meta de um mundo abaixo de 2°C. Eles devem aumentar a ambição pelo menos cinco vezes para a meta de 1,5 °C.
Será crucial uma ação forte dos membros do G20, que juntos representam 80% de todas as emissões de gases de efeito estufa. Essa ação ainda não foi vista, de acordo com um capítulo preliminar do relatório, que foca nas maneiras pelas quais o grupo pode aumentar a ambição climática.
O relatório afirma que o G20 e outras nações têm dezenas de opções para cumprir as metas de Paris. Ao usar apenas tecnologias comprovadas, o mundo poderia cortar 33 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente por ano até 2030. Isso é mais da metade das emissões globais anuais de gases de efeito estufa atuais. É mais do que suficiente para permanecer no caminho para o objetivo de 1,5 °C.
Cerca de dois terços desse potencial estão disponíveis em áreas onde um rápido progresso é possível: energia solar e eólica, aparelhos eficientes, automóveis de passageiros eficientes, reflorestamento e interrupção do desmatamento. Apenas uma fração desse potencial é capturada em compromissos nacionais sob o Acordo de Paris.
E ainda há muitas outras oportunidades.
O fim dos subsídios aos combustíveis fósseis reduziria as emissões globais de carbono em até 10% até 2030. A redução de poluentes climáticos de curta duração — como fuligem e metano — pode reduzir as temperaturas rapidamente, pois estes não permanecem na atmosfera da mesma maneira que o dióxido de carbono.
Além dessas iniciativas, a Emenda Kigali ao Protocolo de Montreal é um compromisso internacional de reduzir o uso de gases com alto potencial de causar aquecimento, conhecidos como HFCs, na indústria de refrigeração. Esta alteração pode resultar em até 0,4 °C de redução no aquecimento. Se a indústria melhorar a eficiência energética ao mesmo tempo, poderá dobrar os benefícios climáticos.
Em novembro, a ONU Meio Ambiente publicará a décima edição do relatório. Ele detalhará o tamanho dos cortes anuais de emissões necessários para permanecer no caminho certo para cumprir as metas do Acordo de Paris. Isso informará os negociadores dos países que se reunirão para a próxima rodada de negociações climáticas sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês).
Já sabemos que esses cortes terão de ser significativos. Todo ano de ação atrasada significa que os cortes necessários passam a ser maiores, mais caros e mais impraticáveis. Se chegarmos a 20 anos de relatório e as emissões ainda não tiverem caído, o mundo enfrentará um desastre. Simplesmente não podemos dispor de mais uma década perdida, segundo a ONU Meio Ambiente.
Na Cúpula de Ação Climática, nas negociações climáticas de dezembro em Santiago do Chile, em todos os escritórios do governo, salas de diretoria, empresas e residências todos os dias, precisamos fazer muito mais a respeito da questão climática para garantir a segurança de gerações futuras.
A ONU Meio Ambiente divulgou o resumo de dez anos na Cúpula de Ação Climática das Nações Unidas como parte de um pacote que analisa os avanços na ciência climática. O capítulo preliminar do G20 foi lançado de forma independente como mais uma contribuição para a Cúpula.
Fonte: ONU

domingo, 29 de setembro de 2019

Amazônia: os esforços para ajudar os animais feridos pelos incêndios.

Em quase todos os últimos 35 dias, o biólogo Raúl Ernesto Rojas e um grupo de voluntários procuram por animais ao redor das chamas que atingem Santa Cruz, na Bolívia. O que eles mais encontram são corpos ou ossos carbonizados. Para qualquer sobrevivente invisível, eles deixam milho e água fresca em cascas de palmeiras.

Os animais mortos não são uma surpresa. Nada na Amazônia é adaptado para lidar com os incêndios, que ocorrem em várias partes da Bolívia e do Brasil, assim como no Peru e no Paraguai. A maioria das queimadas são intencionais para limpar a floresta para a agricultura. Até o momento, na região de Chiquitanía, nos arredores de Santa Cruz, 24,3 mil km² de floresta – uma área do tamanho de Vermont— já queimaram, segundo o governo da cidade. Ainda não é claro quanto da Amazônia brasileira foi queimada neste ano, mas o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) do país diz que os incêndios são sem precedentes.
O preço que as chamas estão cobrando da vida selvagem da Amazônia pode nunca ser conhecido. Ainda assim, relatos de testemunhas ilustram as consequências individuais para os animais – e os tremendos desafios enfrentados pelas pessoas que querem ajudar.
“Encontramos muitos esqueletos”, diz Rojas, que trabalha para o governo de Santa Cruz. Os animais “estavam tentando correr do fogo, mas foram pegos pelas chamas e queimados. O principal cenário é de devastação e morte. São cinzas.”
Até macacos estão aparecendo mortos, diz ele. Se animais que são rápidos e ágeis não conseguem escapar das chamas, “é um sinal muito ruim” para as criaturas que se movem mais devagar. “Tenho contato com desastres como esse há 15 anos, mas este aqui é sem precedentes.”
A cidade de Santa Cruz designou Rojas e outros cinco funcionários do governo para trabalhar no Hotel Biotermal Aguas Calientes, que foi transformado em um centro temporário de resgate e reabilitação de animais. Cinco voluntários da Universidade de Santa Cruz e um parque local de vida selvagem também se uniram ao esforço. O Centro de Resgate para Vítimas de Incêndios Biotermal, como é chamado o local, abriu em 21 de Agosto em Aguas Calientes, cidade com cerca de 900 habitantes nos arredores de Santa Cruz. A instalação é uma das doze na Bolívia que fornece assistência de resgate e reabilitação para animais selvagens – e é a única dedicada às vítimas dos incêndios.
Até agora, a equipe tratou de 70 animais, incluindo tartarugas de barriga vermelha, periquitos, tucanos e um texugo. Há duas semanas, eles resgataram uma tamanduá gigante, cujas patas estavam cobertas de queimaduras de terceiro grau. “As quatros patas estavam totalmente queimadas”, diz Flora Cecilia Dorado, veterinária do governo de Santa Cruz que lidera os trabalhos de reabilitação. Ela conta que a tamanduá, que a equipe batizou de Valentina, foi o resgate que gerou mais estresse até agora. Logo após sua chegada, ela entrou em coma e assim ficou por mais de 18 horas. “Ela assustou a todos”, diz Dorado. “Será um longo caminho para a Valentina.”  
A história da tamanduá é rara: a maioria dos animais que entram em contato direto com os incêndios morre. É por isso que a contagem de resgastes do centro ainda não superou o número 100: os corpos superam em muito o número de sobreviventes. A maioria dos animais que fogem das chamas e são levados ao centro estão famintos e severamente desidratados.
Os habitantes de Aguas Calientes e das redondezas estão ajudando. “As comunidades vizinhas sobrevivem da caça,” diz José Sierra Rodriguez, dono do hotel (agora fechado para hóspedes) com sua esposa, Claudia Mostajo Hollweg. “Mas, ao mesmo tempo, muitas pessoas estão trazendo animais [feridos].” Quatro jovens porcos-do-mato órfãos, por exemplo. Um morador os encontrou correndo ao redor da mãe, que havia morrido, e os trouxe para o centro.
Dorado diz que cuidar desses animais é cansativo e emocionalmente doloroso. Eles exigem atenção 24 horas por dia. A veterinária dorme cerca de três horas por noite. Cinco animais, entre eles um tucano e uma capivara, morreram mesmo depois de resgatados. Outros – incluindo papagaios, tartarugas e um texugo – se recuperaram completamente.  
Dorado diz que ela e seus colegas minimizam o contato com os animais, pois pretendem retornar o maior número possível deles para a natureza. Na semana passada libertou uma águia. Antes disso, um tatu adulto. Animais que não podem ser libertados na mata, como um tatu bebê, são enviados ao zoológico de Santa Cruz para cuidados de longo prazo.

Enormes desafios

Apesar do apoio da comunidade e da dedicação da equipe temporária, o centro está em dificuldades. Os funcionários do governo de Santa Cruz, incluindo Rojas e Dorado, podem ser retirados do centro a qualquer momento, e não há equipamento disponível para diagnosticar lesões internas. Uma égua chamada Milagros ficou presa no cercado enquanto as chamas a rodeavam, e acabou sofrendo queimaduras de quarto grau em todo o corpo. José Rodriguez diz que os funcionários suspeitavam que seus pulmões e fígado tinham sido severamente prejudicados pela inalação de fumaça, mas não tinham como ter certeza. Milagros morreu.  
A equipe está preocupada com o fato de não ter o equipamento necessário para fornecer cuidados de longo prazo aos animais. “É uma tragédia nesse momento”, diz Dorados. “Mas, o mais importante é: o que vai acontecer depois desse evento?”
É período de eleições na Bolívia e as autoridades locais estão felizes em comparecer em liberação de animais resgatados e obter cobertura da mídia, diz Rojas. Mas ele teme que esse nível de atenção não dure e não faça com que o centro se torne permanente ou obtenha mais equipamentos.
“É necessário que seja dito em voz alta e repetidas vezes”, diz Rojas. Quando as chuvas chegarem e os incêndios cessarem “todo mundo vai se esquecer disso. Após as eleições, todo mundo vai esquecer os animais. E eles ainda vão precisar de atenção por muito e muitos meses depois. É preciso apoiar essa iniciativa.”

No Brasil, opções limitadas

A situação dos animais no Brasil é semelhante à da Bolívia, segundo João Gonçalves, gerente de comunicações da World Animal Protection, organização internacional de bem-estar animal sem fins lucrativos. Muitos animais não escapam e as mortes são muito comuns. Aqueles que conseguem fugir das chamas e da fumaça geralmente ficam órfãos ou queimados.
Não há um esforço nacional unificado para ajudar animais feridos pelos incêndios, diz Gonçalves. Os resgates são realizados em uma base local e voluntária, e a extensão varia amplamente em diferentes áreas. Na maior parte do país, cabe aos bombeiros que se deparam com animais sobreviventes decidir resgatá-los e levá-los a um centro de reabilitação local – se houver algum na região.
Gonçalves destaca duas regiões, a 480 quilômetros uma da outra, Rio Branco e Porto Velho, que estão enfrentando queimadas. Rio Branco tem um centro para animais que é gerenciado pelo governo, mas Porto Velho não. Lá, conta Gonçalves, “se um bombeiro quiser resgatar um animal, ele não tem para onde levar o animal para receber tratamento.” Existem apenas outros dois centros de animais na Amazônia brasileira e nenhum deles fica perto das áreas de queimadas intensas.
Bombeiros normalmente não recebem treinamento de resgate de animais e não têm equipamentos ou ferramentas usadas nos primeiros socorros de animais, como ganchos para levantar cobras ou caixas para transporte. A World Animal Protection está fornecendo treinamento e recursos através de parcerias com brigadas de incêndio em Rio Branco e nas redondezas e espera expandir esses esforços.
Entre os animais que o centro de Rio Branco recebeu, estão duas bebês preguiças órfãs encontradas pelos bombeiros. Por necessidade, os socorristas se concentram em mitigar o sofrimento de cada animal, mas os incêndios estão tão generalizados que populações inteiras de animais podem ser prejudicadas.
Panthera, uma organização global de conservação de felinos selvagens, estima que os incêndios já deixaram 500 onças-pintadas feridas ou mortas no Brasil e na Bolívia. São 500 de uma população já em declínio, ameaçada pela perda de habitat, fragmentação e caça, diz Esteban Payán, diretor regional da organização na América do Sul.
“É a velocidade da devastação” que é tão perigosa, ele diz. “Nunca teríamos centenas de onças-pintadas mortas por caçadores em apenas duas semanas.”

Em alerta

Para os bolivianos que trabalham no centro de resgate em Aguas Calientes, cada sucesso é uma vitória. “Toda vida é importante. Todo animal é importante,” diz Rojas, o biólogo que passa os dias vasculhando as zonas queimadas atrás de animais nas cinzas.
“É muito triste o que aconteceu,” diz Dorado. Ela espera que as histórias de cada animal – Valentina, a tamanduá, os porcos-do-mato órfãos, Milagros, a égua que sucumbiu aos ferimentos – levem as pessoas a verem as consequências dos incêndios. “Espero que as pessoas possam ter consciência de que os humanos são a principal razão do que está acontecendo com esses animais e com a natureza. Espero que as pessoas possam acordar.”
No dia 14 de setembro, um sábado, Dorado se casou no abrigo com seu companheiro de longa data. “Ele sempre dizia: ‘Amanhã, quando tivermos mais dinheiro’. Mas depois de ver isso e ficar aqui por 15 dias, eu disse a ele: ‘Quero me casar com você aqui, porque não há amanhã.”
Então, na manhã da segunda-feira seguinte, ela levou Valentina até Santa Cruz para receber mais tratamento. Pouco tempo depois, a tamanduá começou a andar novamente.
Fonte: National Geographic Natasha Daly

sábado, 28 de setembro de 2019

Aquecimento e subida do nível do mar podem agravar inundações, diz ONU.

Os oceanos estão se aquecendo, e os níveis do mar sobem cada vez mais rápido, gerando consequências desastrosas para os seres humanos e o planeta, adverte um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), das Nações Unidas, divulgado nesta quarta-feira (25/09).
Os mais de 100 cientistas envolvidos no estudo constataram que o rápido aquecimento dos oceanos, das regiões polares e geleiras está exterminando cada vez mais a vida marinha e acelerando as mudanças climáticas.
Mesmo no melhor cenário de uma redução significativa das emissões de gases do efeito estufa, várias cidades costeiras e pequenos Estados sofrerão inundações extremas por volta de 2050, repetindo-se todos os anos. Até agora, isso só ocorria a cada 100 anos.
“Embora os oceanos e a criosfera [componentes congelados do sistema terrestre] pareçam estar longe da maioria, eles estão ligados a cada um de nós”, afirma Lijing Cheng, oceanógrafa da Academia Chinesa de Ciências e uma das principais autoras do estudo. “A conclusão central é que os dois grandes sistemas estão mudando, e muito rapidamente, já tendo sérios impactos sobre os seres humanos.”
Degelo e aumento do nível do mar
Aproximadamente uma em cada dez pessoas vive numa região a menos de dez metros acima do nível do mar, e muitas já são afetadas por tempestades e inundações mais graves do que as vivenciadas por seus pais e avós.
Alguns autores do relatório advertiram em entrevistas que os efeitos do aquecimento também se projetarão terra adentro, reduzindo as reservas de alimentos e forçando as populações costeiras deixarem suas casas.
De acordo com o estudo, a subida do nível do mar gera tempestades mais fortes e a uma salinização crescente, por exemplo, do delta do rio Mekong, no sudeste asiático. Isso pode resultar em perdas de colheitas e aumento dos preços de alimentos em países sem acesso ao mar de outros continentes.
Ao mesmo tempo, o degelo do permafrost no Ártico e na Sibéria está bombeando cada vez mais o metano e dióxido de carbono para a atmosfera, acelerando ainda mais o aquecimento global e gerando um perigoso círculo vicioso. E projeta-se que um terço do gelo cordilheira do Hindu Kush, no Himalaia – cujos rios alimentam hoje quase 2 bilhões de pessoas –, terá desaparecido quando as crianças de hoje forem idosos.
Quando as geleiras derretem, a água doce flui inicialmente para os oceanos, inundando as cidades costeiras e ilhas de baixa altitude. Quando o gelo se esgota, os rios secam, podendo causar estiagem.
“A água é o elemento de conexão”, explica Zita Sebesvari, da Universidade das Nações Unidas, uma das principais autoras do relatório, especializada no significado da subida do nível do mar para as costas e ilhas. “O que acontece agora é a realocação de água em grande escala, da parte congelada do planeta para o oceano. E isso causa problemas em ambas as extremidades.”
Os oceanos, que absorveram a maior parte do calor excessivo do aquecimento global, reagem apenas lentamente às alterações climáticas. Isso também significa que as emissões do passado continuarão aquecendo os oceanos, mesmo que deixemos hoje de queimar combustíveis fósseis e de derrubar florestas.
“Como não podemos voltar com o clima ao seu estado original, temos que nos adaptar”, explica Hans-Otto Pörtner, climatólogo do Centro Helmholtz de Pesquisa Polar e Marinha, na Alemanha, e copresidente do grupo de trabalho que produziu o relatório. “Não há tempo para esperar.”
Limites da adaptação
No front de uma batalha unilateral com a natureza, as cidades costeiras e ilhas de atóis já começaram a agir. Megacidades como Jacarta e Xangai construíram enormes muros para proteger a população da subida do nível do mar e de tempestades mais fortes. Nações insulares pouco povoadas como Fiji estão deslocando comunidades inteiras: as pessoas deixam suas casas, no que os cientistas denominam “retiradas coordenadas”.
Os pequenos Estados insulares e as ilhas de baixa altitude são particularmente vulneráveis por falta de recursos, afirma Hélène Jacot des Combes, baseada em Fiji, especialista em gestão de riscos para desastres na Universidade do Pacífico Sul, e uma das principais autoras do relatório.
“Qualquer que seja a solução encontrada, deve ser feita em cooperação com a comunidade global”, reivindica. Quanto à proteção costeira, o relatório salienta a importância de preservar as barreiras naturais contra as marés, como os mangues e zonas úmidas.
Mas a capacidade de adaptação tem limites, se as emissões continuarem aumentando, adverte o também coautor do relatório Matthias Garschagen, professor de geografia e especialista em pesquisa de risco na Universidade Ludwig Maximilian, em Munique.
Com cada metro de elevação do nível do mar, os custos para a proteção das costas aumentam, e o espaço nas pequenas ilhas diminui, afirma Garschagen. “Os modelos mostram que as populações só têm uma chance de adaptação bem-sucedida nos cenários de baixas emissões.”
As principais vítimas
Os cientistas do IPCC sublinham que os países menos responsáveis pela mudança climática são os mais afetados pelas alterações no oceano e na criosfera. O degelo nas montanhas e no Ártico tem tido um impacto negativo na saúde humana, nos meios de subsistência e mesmo no acesso a comida e bebida, aponta o relatório. Prevê-se que o risco de catástrofes para os povoados nas montanhas e no Ártico aumente à medida que habitantes e edifícios forem ficando mais expostos a riscos como inundações e avalanches.
A perda de populações de peixes, devido à acidificação dos oceanos, poderá ameaçar a dieta de centenas de milhares de seres humanos, muitos das quais já lutam para se alimentarem. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), os peixes representam 17% da proteína animal consumida. Além disso, algumas comunidades indígenas nas montanhas verão secar suas fontes de água.
“Há bem pouco de positivo para se ver”, afirma John Tanzer, especialista em oceanos da organização ambiental WWF. “Eu não sei se nos países ricos ‘caiu a ficha’ quanto às possíveis consequências humanitárias, que provavelmente vão se acelerar.”
Se agirem agora, contudo, as autoridades poderão limitar os danos. A proteção costeira pode reduzir o risco de inundações em dezenas a centenas de vezes neste século, indica o relatório – se os governos investirem até centenas de bilhões de dólares. Os autores acrescentam que mudanças econômicas e institucionais “profundas” permitirão o desenvolvimento sustentável, em face das mudanças nos oceanos e nas regiões geladas. “Realizar esse potencial depende de mudanças transformadoras”, concluem.
Fonte: Deutsche Welle

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Rede Brasil do Pacto Global levanta fundos para reflorestamento em evento pelo clima.

Com o apoio de celebridades, a Rede Brasil do Pacto Global das Nações Unidas lança na quinta-feira (26), em Nova Iorque, uma iniciativa de levantamento de fundos para reflorestamento.

Uma obra dos artistas plásticos e grafiteiros brasileiros Os Gêmeos será leiloada em evento paralelo à Assembleia Geral da ONU, como parte da frente de atuação de resposta às mudanças climáticas.
Os fundos arrecadados serão usados em projetos de restauração, reflorestamento e regeneração natural de terras desmatadas e degradadas. O Brasil se comprometeu com o Acordo de Paris a reduzir em 37% suas emissões de gases de efeito estufa até 2025, e em 43% até 2030. Para isso, precisa recuperar 12 milhões de hectares de terras. A Rede Brasil trabalha no engajamento do setor privado para que a restauração ganhe escala.
Com o apoio de celebridades como as modelos Fernanda Liz e Lais Ribeiro, a Rede Brasil do Pacto Global das Nações Unidas lança na quinta-feira (26), em Nova Iorque, uma iniciativa de levantamento de fundos para reflorestamento.
Uma obra dos artistas plásticos e grafiteiros brasileiros Os Gêmeos será leiloada em evento paralelo à Assembleia Geral da ONU, como parte da frente de atuação de resposta às mudanças climáticas.
Os fundos arrecadados serão usados em projetos de restauração, reflorestamento e regeneração natural de terras desmatadas e degradadas. O Brasil se comprometeu com o Acordo de Paris a reduzir em 37% suas emissões de gases de efeito estufa até 2025, e em 43% até 2030. Para isso, precisa recuperar 12 milhões de hectares de terras. A Rede Brasil trabalha no engajamento do setor privado para que a restauração ganhe escala.
O evento com arrecadação de fundos e engajamento de celebridades em Nova Iorque faz parte da iniciativa Action4Climate, lançada pela Rede Brasil do Pacto Global para promover ações climáticas baseadas em metas definidas pela ciência.
Essas ações envolvem três frentes: mitigação, ou redução dos efeitos da mudança do clima; meios de implementação, ou seja, formas de garantir o financiamento e execução das ações; e adaptação, que corresponde a projetos para ajudar as empresas a lidar com mudanças previstas ou em andamento.
No contexto da Action4Climate, a Rede Brasil está envolvendo as empresas em uma campanha mundial do Pacto Global para limitar o aumento da temperatura global a 1.5°C acima de níveis pré-industriais e chegar ao objetivo de zero emissão de gases de efeito estufa antes de 2050.
No Brasil, as empresas Malwee, Natura e Klabin assumiram compromisso público com as metas baseadas na ciência e definidas pelo Science Based Targets Initiative (SBTi), instituição independente que avalia a redução de emissões de gases das indústrias e que é resultado de parceria entre CDP, Pacto Global, WRI e WWF. Outras 87 empresas em todo o mundo estão envolvidas.
Para as empresas que ainda não se sentem confortáveis com a meta de 1,5°C, a Rede Brasil lançará durante a COP25, que ocorre em dezembro no Chile, um guia de implementação para a adaptação gradual ao tema e o compromisso de assumir a meta em um futuro próximo. A Rede também está promovendo capacitações em precificação de carbono para gerar mais conhecimento sobre iniciativas de mitigação das mudanças do clima.
Precificar carbono significa atribuir um preço às emissões de gases causadores do efeito estufa, cuja concentração elevada colabora para a mudança do clima. Apesar de contarmos com fatores que nos diferenciam dos demais países, como uma matriz energética mais limpa, a nossa média de emissão per capita está acima da mundial, de 8,5 toneladas por habitante, contra 7,5 toneladas por habitante no mundo.
De acordo com dados do Banco Mundial, 57 ações de precificação de carbono já foram implementadas ou estão em fase de implementação no mundo. Em 2018, a receita decorrente da precificação chegou a 66,6 bilhão de dólares, embora as iniciativas existentes cubram apenas 20% das emissões globais. No Brasil, o setor tem potencial para crescer nos próximos anos. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a receita decorrente da precificação de carbono pode ser responsável por mais de 1% do PIB brasileiro em 2030.

Mobilização global

Subiu para 87 o número de grandes empresas globais – com um valor de mercado somado equivalente a mais de 2,3 trilhões de dólares anuais e emissões de gases de efeito estufa equivalentes a 73 usinas de carvão – que estão agindo para alinhar seus negócios às Metas Baseadas em Ciência e, assim, limitar os piores impactos da mudança do clima.
Em resposta a uma campanha criada em junho por um grupo de empresários, sociedade civil e líderes das Nações Unidas, as companhias signatárias representam mais de 4,2 milhões de trabalhadores de 28 setores diferentes, localizadas em pelo menos 27 países. Elas prometem implementar metas climáticas em suas operações com o objetivo de limitar a temperatura média global em 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
“É encorajador ver os pioneiros do setor privado se alinharem com a sociedade civil e com governos ambiciosos, intensificando o apoio a um futuro de 1,5°C (de aquecimento)”, disse Guterres. “Agora precisamos de mais empresas para participar do movimento, enviando um sinal claro de que os mercados estão mudando.”
Fonte: ONU

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Geleira do norte da Itália corre o risco de desmoronar.

A geleira Planpincieux, no vale de Aosta, o lado italiano do Mont Blanc, está derretendo a uma velocidade acelerada e corre risco de desmoronar perto da famosa cidade alpina de Courmayeur, atualmente quase desabitada, informaram autoridades da Itália nesta quarta-feira (25).

“Com o calor anômalo do verão registrado em agosto e na primeira quinzena de setembro, a geleira derreteu em média 35 cm por dia, com picos de 50 a 60 cm em alguns dias”, disse à AFP Moreno Vignolini, da assessoria de imprensa da prefeitura de Courmayeur.
Segundo ele, uma porção que representa “um quinto ou um sexto” da geleira, o que corresponde a cerca de 250 mil metros cúbicos de gelo, ou seja, 100 piscinas olímpicas, pode derramar em todo vale.
O prefeito de Courmayeur, Stefano Miserocchi, ordenou o fechamento total durante a noite da estrada de acesso a Val Ferret.
A decisão foi tomada depois que especialistas da Fundação Montagna Sicura, encarregada de monitorar a geleira desde 2013, alertaram a prefeitura sobre a situação.

Ameaça a chalés alpinos

O secretário da fundação, Jean-Pierre Fosson, explicou ao jornal italiano Il Messaggero que “essa geleira é atípica, porque é considerada ‘temperada’, ou seja, é afetada pela temperatura da água que flui abaixo, o que a expõe particularmente ao aquecimento global”.
O especialista ressaltou que, “desde o ano passado”, foram registradas perdas anormais de volume, incluindo “um destacamento em bloco a uma velocidade de movimento de 60 cm”, o que os levou a notificar as autoridades locais.
Segundo Fosson, a geleira “pode se soltar em bloco, desmoronar ou não cair”, reconheceu.
O porta-voz da prefeitura criticou “o cenário apocalíptico” descrito por alguns meios de comunicação que alertaram sobre a possibilidade de uma geleira do Mont Blanc destruir a famosa estação de esqui de Courmayeur.
“É verdade que é uma zona turística”, mas neste momento a ameaça é sobre uma zona em que “existem uns poucos chalés desocupados”, disse ele.
O acesso ao vale foi autorizado pelo prefeito por três faixas horárias de uma hora e meia (manhã, meio-dia e tarde). Uma estrada alternativa será aberta a partir de sexta-feira.
De acordo com Fosson, cuja fundação monitora 180 geleiras no vale de Aosta, esses fenômenos são inevitáveis.
“Todos os anos vemos dois quilômetros quadrados de gelo desaparecerem, um fenômeno que está piorando devido aos verões e outonos cada vez mais quentes”, explicou ele.
Fonte: AFP

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Quais países produzem mais petróleo e o que isso representa no xadrez mundial.

O preço do petróleo subiu e sobraram acusações. Mas o ataque às instalações da Arábia Saudita não provocou a resposta dramática que teria sido normal há 30 anos na região do Golfo Pérsico, uma zona historicamente marcada por conflitos que afetam o controle do preço do petróleo.

Isso porque, embora as tensões entre o reino saudita e o Irã tenham se acentuado, envolvendo também os EUA, as opções militares ficaram em segundo plano, segundo analistas ouvidos pela BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
Uma mudança em relação ao passado é que o abastecimento da principal potência militar e econômica do mundo não está em risco.
Os EUA têm seu fornecimento assegurado, o que faz especialistas avaliarem que o episódio não desemboracá em um conflito armado.
“Nesse caso, é muito mais provável que os países com interesses petrolíferos evitem a guerra em vez de provocá-la”, diz Yves Bonzon, analista do banco suíço Julius Baer.
Durante muitos anos, as decisões sobre a oferta e a demanda adotadas pelos países árabes produtores de petróleo foram capazes de reger o mercado e provocar numerosos problemas nas economias do Ocidente.
Nos fins dos anos 1970 e início dos 1980, a Arábia Saudita tinha um papel importante como o maior produtor global e um grande poder para regular o mercado.
“Esse já não é o caso”, explica Philippe Waechter, economista chefe da gestora Ostrum AM.
“O mercado internacional do petróleo sofreu uma transformação radical” desde então, ele acrescenta.
Com 15,3 milhões de barris por dia e alta de 17% na produção em 2018 em comparação com o ano anterior, os EUA lideram a produção mundial de petróleo, sobretudo graças à tecnologia do fracking.
Esse método implica a injeção de água em reservas subterrâneas, o que permite a extração de xisto, um tipo de hidrocarboneto que fica retido entre rochas em grande profundidade.
A indústria do petróleo dos EUA começou a usar essa tecnologia em grande escala no início deste século, o que lhe permitiu aumentar sua produção e se tornar o maior produtor global.

O preço se estabiliza

Esse fator, junto com o compromisso de Donald Trump de mobilizar as reservas estratégicas para abastecer o mercado e suprir o vácuo na produção deixado pela Arábia Saudita, fez com que a cotação do barril se estabilizasse nesta quinta-feira.
“Ainda se desconhecem muitos detalhes do ocorrido, incluindo se o ataque se originou no Iraque, Iêmen ou Irã”, diz Paul Sheldon, assessor geopolítico chefe da S&P Global Platts Analytics.
“A conclusão final das investigações será importante, mas acreditamos que a resposta mais provável à suposta participação iraniana seria cibernética ou algo menos dramático que uma ação militar”, avalia.
Donald Trump, que desde o início acusou o Irã de estar por trás do ataque de drones, escreveu nesta quarta-feira em sua conta no Twitter que havia dado instruções ao secretário do Tesouro para “incrementar substancialmente” as sanções contra o Irã, embora ainda se desconheçam os resultados da investigação saudita-americana.
Nesta quarta, numa coletiva de imprensa, militares sauditas mostraram o que, segundo eles, seriam provas de que o Irã está por trás dos ataques a suas instalações petrolíferas.

Luta feroz

O segundo produtor de petróleo do mundo é a Arábia Saudita, um aliado dos EUA que mantém há anos um enfrentamento aberto com um poderoso vizinho, o Irã.
Ambos travam uma luta feroz pelo domínio regional.
Por meio da estatal petrolífera Aramco, a mais rentável do mundo, o reino é capaz de levar aos mercados internacionais até 12,2 milhões de barris de petróleo ao dia.
Mas só um dia após o ataque à refinaria de Abqaiq, a principal do país, e ao campo petroleiro de Khurais, as autoridades sauditas reconheceram que deixariam de produzir até 5,7 milhões de barris por dia até consertarem as instalações.
Essa quantia equivale a 5% da oferta mundial.
A China, o Japão e a Índia são seus principais clientes.

Os laços com a Rússia

O terceiro colocado no ranking de maiores produtores de petróleo do mundo é a Rússia.
Apesar da queda nos preços do petróleo e das sanções impostas pela comunidade internacional pela anexação da região ucraniana da Crimeia, a indústria russa conseguiu aumentar ligeiramente sua produção entre 2017 e 2018.
Em 2017, os russos extraíam 11,2 milhões de barris ao dia; em 2018, aumentaram ligeiramente a produção para um total diário de 11,4 milhões.
No último mês de julho, os 14 membros da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep) e seus dez aliados, liderados pela Rússia, aprovaram em bloco a redução da oferta global de petróleo durante os próximos nove meses para manter o preço do barril num patamar mais elevado.
Esse objetivo, compartilhado pela Arábia Saudita, fez com que os dois países se aproximassem nos últimos anos.
Antes dos ataques, a cotação do petróleo havia se estabilizado abaixo dos US$ 60 pelo barril do tipo Brent.
Esse nível é considerado demasiado baixo para as expectativas de Moscou e Riad, que buscam um preço pelo menos US$ 20 mais alto para cumprir seus objetivos econômicos.
Isso mostra que, em relação aos preços do petróleo, países diferentes têm posturas distintas.

Objetivos distintos

Enquanto a Rússia, a Arábia Saudita e o resto dos exportadores querem elevar preços para ampliar os lucros derivados da venda do petróleo, a crise do petróleo chegou num momento inoportuno para os EUA, diz Esty Dwek, responsável pela estratégia global de mercados da empresa Natixis Investment Managers.
“Especialmente Trump não ficará feliz com um preço mais alto (do barril de petróleo)”, pois isso na prática significa uma carga no bolso dos consumidores, que são um pilar da atividade economica americana, diz Dwek.
Em poucas palavras: a saúde do gasto dos consumidores nos EUA é chave para o crescimento econômico do país, mas também do resto do mundo.
É por isso que o governo Trump tem feito tudo o que pode para reduzir os temores sobre restrições no abastecimento nos mercados globais.

Canadá

O Canadá é o quarto maior produtor no mundo. É uma das grandes potências energéticas, e suas reservas de petróleo são as terceiras maiores, atrás da Arábia Saudita e da Venezuela.
Acumula 169 bilhões de barris e produz 5,2 milhões ao dia.
Seu principal problema é que o custo da extração é muito alto, porque seu petróleo é majoritariamente pesado.
A produção da Venezuela, dona das maiores reservas comprovadas do mundo, tem declinado constantemente por conta da profunda crise econômica que atravessa. O país atualmente produz apenas cerca de 2 milhões de barris por dia, inferior à produção do Brasil, por exemplo.
Em dezembro de 2018, o Brasil estava produzindo diariamente 2,7 milhões de barris, sendo que os campos do pré-sal respondiam por pouco mais de 60% da produção total.

O quinto produtor

Com uma produção global equivalente a 4,7 milhões de barris ao dia, o Irã é o quinto maior produtor de petróleo no mundo.
As sanções impostas ao país e a campanha de “máxima pressão” internacional associada ao desenvolvimento de tecnologia nuclear fizeram com que sua produção diminuísse entre 2017 e 2018.
O país tem dificuldades para vender sem petróleo, e sua rede de compradores diminuiu consideravelmente.
Além disso, sua rivalidade com a Arábia Saudita tem sido exacerbada pelas diferenças religiosas, já que cada país segue um dos principais ramos do islã: o Irã é principalmente xiita, e a Arábia Saudita se vê como a principal potência muçulmana sunita.
Embora os rebeldes houthis do Iêmen tenham assumido a autoria dos ataques, os EUA acusaram o Irã de estar por trás da operação, o que as autoridades iranianas negam.

Quem pode substituir a Arábia Saudita no mercado global?

Tudo depende do tempo que levará até a Aramco consertar suas instalações e voltar a produzir no nível anterior ao ataque.
As reservas estratégicas de petróleo mantidas pelos EUA ou pela própria Arábia Saudita podem satisfazer as necessidades de demanda no curto prazo.
O ministro de Energia saudita, o príncipe Abdulaziz bin Salman, disse esperar que a maior parte da produção se restabeleça em duas semanas.
Mas, se isso não for possível, o cenário global pode se complicar e fazer com que a turbulência nos preços do barril se mantenha por mais tempo.
Junto com a debilidade da demanda chinesa e os temores de uma recessão global, um preço mais alto do petróleo criaria outro obstáculo para a economia mundial.
Fonte: BBC

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Declínio drástico de aves canoras está ligado a inseticida comum.

O inseticida mais usado no mundo está ligado ao drástico declínio de pássaros na América do Norte. Estudo inédito sobre aves na natureza descobriu que um pássaro migrando que comeu o equivalente a uma ou duas sementes tratadas com inseticida neonicotinoide sofreu imediata perda de peso, atrasando sua jornada.

Apesar dos pássaros terem se recuperado, o atraso pode prejudicar seriamente suas chances de sobreviver e reproduzir, dizem os pesquisadores canadenses, cujo estudo foi publicado na Revista Science.
“Mostramos uma ligação clara entre a exposição aos neonicotinoides nos níveis do mundo real e o impacto nos pássaros”, diz a autora principal Margaret Eng, pós-doutorada na University of Saskatchewan Toxicology Center.
A migração de aves na primavera ocorre quando os fazendeiros estão plantando, e a maioria das plantações dos Estados Unidos e Canadá são cultivadas com sementes tratadas com neonicotinoides. Os pássaros podem ser expostos repetidas vezes em diversas paradas, quando descansam e se alimentam. Isso pode causar atrasos na migração e suas consequências, o estudo conclui.
Neonicotinoides, introduzidos no final dos anos 1980, deveriam ser uma alternativa mais segura que inseticidas anteriores. Mas estudos mostram que eles desempenham um papel fundamental no declínio de insetos, especialmente abelhas. A UE baniu o uso dos produtos químicos em 2018 pois estavam matando polinizadores. Esse estudo é mais um elo na cadeia de problemas ambientais, que mostra que o uso de neonicotinoides é prejudicial aos pássaros, e que as populações de aves estão em risco, Eng disse em entrevista.
É a primeira prova de “efeitos comportamentais em pássaros livres como resultado de intoxicação de neonicotinoides”, diz Caspar Hallmann, ecólogo da Universidade Radboud, na Holanda.
Os resultados podem ser aplicados a outras espécies de aves que consomem grãos tratados com pesticidas, disse Hallmann, que não estava envolvido no estudo da Science. A pesquisa publicada de Hallmann liga a queda generalizada de pássaros que comem insetos ao uso do neonicotinoide.
A população de mais de 75% de pássaros e outras aves que dependem da produção agrícola na América do Norte declinou significativamente desde 1966. O novo estudo revela como neonicotinoides podem estar contribuindo diretamente nas mortes. Há um mês, um estudo abrangente concluiu que o uso generalizado de neonicotinoides deixou a paisagem agrícola americana 48 vezes mais tóxica para abelhas, e provavelmente outros insetos, do que estava há 25 anos.

Pássaros magros

Para investigar o impacto em pássaros selvagens, pesquisadores capturaram pardais de coroa branca durante uma parada em sua rota migratória dos Estados Unidos para a região boreal do Canadá. Os pardais, divididos em três grupos, foram alimentados ou com uma pequena dose do neonicotinoide mais utilizado, chamado imidacloprid, ou com uma dose um pouco maior, ou com uma sem inseticida.
Cada pássaro foi pesado e sua composição corporal foi medida antes e depois da exposição. Pássaros que receberam uma dose maior do pesticida perderam 6% de sua massa corporal quando pesados novamente seis horas depois.
A dose alta administrada é comparável a um décimo de uma única semente de girassol ou semente de milho tratada com imidacloprid, ou três ou mais sementes de trigo, diz a coautora Christy Morrissey, ecotoxicologista da Universidade de Saskatchewan. “É uma quantidade minúscula, uma pequena fração do que esses pássaros comeriam diariamente”, Morrissey disse em entrevista.
O imidaclorid, até em doses extremamente pequenas, tem um efeito inibidor de apetite nos pardais. Eles estavam letárgicos e sem interesse em comer, ela disse. “Nós vimos a mesma coisa com pássaros em cativeiro em um estudo anterior.” Este estudo foi publicado em 2017 no jornal online Scientific Reports.
Isso não é surpresa, já que neonicotinoides são quimicamente semelhantes à nicotina e estimulam células nervosas, matando em altas doses. Envenenamento por nicotina em humanos é raro porque o grande consumo normalmente deixa a pessoa muito doente para consumir mais. A mesma coisa parece estar acontecendo com os pássaros.

Ressaca de neonicotinoides

Os pardais capturados foram soltos logo após a segunda pesagem – e depois que um pequeno transmissor foi colado entre as asas. O transmissor permitiu o rastreamento de seus movimentos na natureza. Os pardais que receberam a dose não continuaram sua migração imediatamente. Já os que não receberam, logo seguiram em frente. Os pardais que receberam a dose alta ficaram na parada 3 dias e meio s a mais, recuperando-se da intoxicação e recuperando a perda de peso, o estudo concluiu.
Felizmente, o imidacloprid é metabolizado rápido em pássaros. Mas um atraso de 3,5 dias na migração pode significar a perda da chance de reprodução, diz Morrisey. “Pequenos pássaros se reproduzem apenas uma ou duas vezes em suas vidas, e perder essa chance pode causar declínios na população.
“Quando pássaros migram, precisam desesperadamente ganhar peso nos pontos de parada para abastecer sua jornada,” diz Steve Holmer, do American Bird Conservancy.
O novo estudo mostrou que pardais perderam quantidades cruciais de gordura corporal, somando 9% nos que receberam a dose pequena e 17% nos que receberam a dose maior. Essa exposição a um neonicotinoide pode deixá-los sem a “energia para reproduzir com sucesso depois de voar até o local de reprodução”, escreveu Holmer em um e-mail.
David Fisher, cientista chefe de Polinização Segura na Bayer CropScience, a principal fabricante de imidacloprid, diz que não há evidência de que as doses administradas no estudo “são representativas das exposições que os pássaros normalmente recebem nos campos agrícolas no mundo real.”
Pequenos pássaros, como o pardal de coroa branca, são “incapazes de engolir grandes sementes como de milho e soja”, Fisher escreveu por e-mail.
No entanto, Charlotte Roy gravou diferentes espécies de pardais e outros pássaros, além de ratos, cervos e até ursos negros comendo sementes de milho, soja e trigo em um novo estudo publicado 10 de setembro no periódico Science of The Total Environment. Roy, ecologista da vida selvagem no Departamento de Recursos Naturais de Minnesota, diz que pequenos pássaros quebram grandes sementes e comem o que está dentro ou fragmentos dela.
“Eles não precisam necessariamente consumir a semente inteira para serem expostos”, ela disse em entrevista.
Em seu estudo, Roy e seus colegas simularam as sementes espalhadas durante a plantação da primavera para ver se vida selvagem iria ser atraída por essa fonte de comida. Os pássaros acharam as sementes em um dia e meio em média. Eles também acharam sementes tratadas com neonicotinoides na superfície do solo em 35% dos 71 campos recentemente plantados examinados.
Foi a primeira comprovação de que sementes tratadas estão facilmente acessíveis para ser consumidas pela vida selvagem na América do Norte. “O índice de sementes espalhadas foi bem mais alto do que o esperado”, ela disse.
Fazendeiros geralmente não sabem o quanto essas sementes tratadas são ruins para vida selvagem, diz Roy.
Fonte: National Geographic Stephen Leahy