quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Os tesouros ocultos da Amazônia boliviana

“Sempre se pensou que as grandes culturas se concentraram na região dos Andes, onde estavam os incas quando os espanhóis chegaram, e os monumentos de pedra são muito mais visíveis. No caso da Amazônia, estimava-se que havia pequenos povoados que viviam em harmonia com a natureza, num estado quase primitivo de caçadores e coletores, que nunca alcançaram um desenvolvimento maior”, diy a arqueóloga e professora da Universidade de Bonn, Carla Jaimes Betancourt.
Um projeto arqueológico em cooperação boliviana e alemã iniciado em 1999 mostra uma realidade completamente diferente. A pesquisa realizada pelo Instituto Alemão de Arqueologia na Llanura beninana (Llanos de Mojos), planícies no norte da Bolívia, indica um assentamento entre 400 e 1400 d. C. que seria muito maior do que pensado anteriormente.
Embora a população pré-hispânica da região não possa ser quantificada, sabe-se que era muito mais densa do que atualmente e que as aldeias desenvolveram técnicas agrícolas para garantir uma subsistência autônoma.
“Antes se excluía a possibilidade de que na Amazônia houve cultivo. Mas com o abate de árvores e o avanço da agricultura no Brasil, muitos locais arqueológicos foram encontrados e foi notado que havia algo muito maior do que era esperado”, afirma o especialista Heiko Prümers, do Instituto Alemão de Arqueologia.
Diversidade cultural
A região Llanos de Mojos compreende uma área de cerca de 110 mil quilômetros quadrados, no departamento (estado) de Beni, o maior da Bolívia. Atualmente, a região concentra grande diversidade cultural, com mais da metade dos 32 povos originários do país. Apesar de ser um ambiente difícil, com duas estações, uma chuvosa e outra seca, os povos pré-hispânicos conseguiram se adaptar ao meio ambiente com sucesso ao criar valas para evitar inundações e plataformas elevadas para o cultivo e a habitação.
A planícia Llanos de Mojos está localizada no norte da Bolívia, no Departamento de Beni, o maior do país.
“Tendo sobrevivido num ambiente desse tipo, para uma população muito densa, por uns mil anos, é uma grande conquista, levando em conta as inundações, os tempos de seca e a fraca qualidade do solo”, afirma Prümers.
No sudeste dos Llanos de Mojos, arqueólogos alemães e bolivianos investigaram os montes monumentais. Trata-se de elevações de diferentes tamanhos, que hoje se parecem com colinas em meio à vegetação, mas na realidade são construções de forma piramidal em plataformas de terra, acumuladas durante mil anos. Elas cobrem até oito hectares, cercados por um aterro que os rodeia, e podem atingir até 25 metros de altura. Nestas elevações foram estabelecidas colheitas, casas e cemitérios, e estão interligadas por meio de estradas.
Nos túmulos é possível notar que se tratou de uma sociedade hierárquica. Em um deles, um homem foi enterrado com oferendas de materiais trazidos de outras regiões, uma placa de metal em sua testa, algemas de metal e um colar de dentes de onça. Há também descobertas de cerâmicas, pintadas com desenhos muito elaborados e estéticos.
Selva escaneada
No nordeste dos Llanos de Mojos, destacam-se as grandes valas circulares. Já em 2011, a equipe arqueológica boliviana-alemã havia realizado explorações nesta área com a tecnologia de varredura a laser LiDAR, a mesma que recentemente causou espanto pelos gráficos dos assentamentos maias na Guatemala e que permite fazer um mapa tridimensional da topografia do terreno e suas condições, enquanto elimina a vegetação de suas imagens.
“Fomos os primeiros a usar o LiDAR para a arqueologia em toda a Amazônia”, destaca Prümers. “É um método que economiza muito tempo e trabalho para medir e mapear, saber onde estão os sítios, quais tamanhos possuem e a relação das construções no espaço.”
A equipe de arqueólogos realizou varreduras a laser, que permite fazer um mapa tridimensional da topografia.
Na Amazônia, esta ferramenta é especialmente valiosa, pois é uma área extensa, pouco explorada, com vegetação densa e acesso difícil. “Ecologicamente, o LiDAR é muito bom, porque não é preciso desmatar para fazer medidas arqueológicas”, explica Jaimes.
O trabalho de interpretação e estudo dessas imagens é fundamental. “o LiDAR nos permitiu ver a magnitude do que enfrentamos, ao comprovar que os sítios circundados por valas não eram unidades separadas, mas parte de um sistema maior com sítios interrelacionados”, afirma a arqueóloga.
No futuro, eles esperam levar essa tecnologia à área dos montículos, onde se estima que havia cerca de 350, mas apenas três foram medidos até então. Isso significa um ano de trabalho com um topógrafo e profissionais que abriram as lacunas de medição. Com o LiDAR, esses planos seriam feitos em um dia e com mais detalhes.
“Isso certamente permitiria ver como esses montículos grandes estavam interrelacionados e, talvez, vamos acabar deixando de pensar que eles são edificações separadas”, diz Jaimes.
“As imagens em 3D das estruturas piramidais e de estradas, barragens e canais que cercam os sítios nos permitiram ver como aproveitaram a paisagem. Este intercâmbio com o meio ambiente explicaria como eles sobreviveram por mil anos nesta região”, aponta Prümers.
Biodiversidade e a pegada do Homem
“Quase sempre se pensou na Amazônia como os pulmões do mundo, onde pessoas viveram em harmonia com a natureza sem afetá-la, mas os estudos de arqueólogos e ecologistas mostram que toda a riqueza e a biodiversidade desta região é um produto de atividade humana há milhares de anos”, explica Jaimes.
“Essas culturas amazônicas nos ensinam que o Homem pode ser um bom ator, que pode até ajudar a manter ou promover essa biodiversidade. Esse é o maior legado e ensinamento que esses povos nos deixaram – pensar que é possível um desenvolvimento cultural sem a necessidade de destruir nosso meio ambiente”, concluiu a especialista.
Novos estudos poderiam ajudar a esclarecer alguns mistérios, como a causa do fim do assentamento, em torno de 1400. “Esta é uma área muito sensível às mudanças climáticas, como inundações ou secas. Ainda não compreendemos muito bem o que ocorreu, mas quando os espanhóis chegaram, a área estava desocupada”, afirma Prümers.
Posteriormente vieram as epidemias, o processo de conquista e, no período colonial, a exploração da borracha. “Muitos povos da Amazônia foram escravizados, um etnocídio foi cometido. Atualmente, apesar de haver culturas muito fortes, elas são apenas vestígios do que antes existiu”, destaca Jaimes.
Fonte: Deutsche Welle

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Peixe fêmea da Amazônia se reproduz sem sexo e desafia teoria de extinção da espécie

A reprodução assexuada é diferente.
Uma vida nasce do celibato
Em vez de criar uma nova geração misturando medidas iguais de DNA das mães e dos pais, a reprodução assexuada dispensa o macho e, em vez disso, cria novos descendentes contendo uma cópia exata do genoma da mãe – uma clonagem materna natural.
Essa é uma maneira incrivelmente eficiente de criar uma nova vida. Ao não desperdiçar material genético na criação de machos, todos os descendentes nascidos a partir da reprodução assexuada podem continuar se reproduzindo.
Mas há um ponto negativo. Como os descendentes são fac-símiles genéticos da mãe, eles apresentam uma variabilidade limitada.
E a variabilidade genética pode proporcionar uma grande vantagem. É justamente o que permite que as populações respondam e superem as mudanças no meio ambiente e outras pressões seletivas, ao permitir a sobrevivência dos mais adaptados.
A reprodução sexuada proporciona um grande espaço para gerar essa variabilidade genética, quando os pedaços de cromossomos individuais se recombinam assim que os óvulos e os espermatozoides se fundem e formam combinações únicas de cromossomos.
Outra vantagem da reprodução sexuada é que as mutações nocivas, que se acumulam naturalmente ao longo do tempo, são diluídas e seus efeitos anulados durante essa mistura genética.
Já os organismos que dependem da reprodução assexuada são propensos a perder essas vantagens.
O professor Manfred Schartl, da Universidade de Würzburg, é um dos principais autores do estudo e diz: “As previsões teóricas eram que uma espécie assexuada passaria por decomposição genômica e acumularia muitas mutações ruins e, sendo clonada, não seria possível depender da diversidade genética para reagir a novos parasitas ou outras mudanças no meio ambiente.”
“Havia previsões teóricas de que um organismo assexual desapareceria depois de cerca de 20 mil gerações”.
Nos círculos da biologia evolutiva, essa acumulação gradual e fatal de mutações mortais é conhecida como catraca de Muller, em homenagem ao cientista vencedor do prêmio Nobel Hermann Muller, que desenvolveu a teoria.
Mas o último estudo sobre a estabilidade a longo prazo do genoma das molinésias da Amazônia lançou algumas novas descobertas surpreendentes sobre o potencial custo da reprodução assexuada.
Derrubando as probabilidades
Acredita-se que o peixe molinésia da Amazônia seja um híbrido surgido após a reprodução entre duas espécies de peixes aparentados – o molinésia do Atlântico e o molinésia de Sailfin.
É um dos poucos animais vertebrados que se reproduzem de maneira assexuada.
O molinésia fêmea da Amazônia pode se reproduzir apenas ao ser exposto ao esperma de uma espécie relacionada de molinésia, mas o DNA do espermatozoide geralmente não se aproxima dos descendentes.
Para definir o impacto desse estilo de vida celibatário, a equipe de pesquisadores comparou as sequências do genoma de peixes molinésia da Amazônia aos coletados de vários locais, como o México e o Estado do Texas, nos EUA.
Usando as sequências do genoma, a equipe de pesquisadores conseguiu construir uma árvore genealógica.
A árvore mostrou que todos os peixes compartilharam o mesmo antepassado e que o peixe progenitor nadou em águas americanas há cerca de 100 mil anos.
Sobrevivente persistente
A molinésia da Amazônia sobrevive há cerca de meio milhão de gerações – muito além do que a teoria sugeria.
Mas não foi só isso. Quando os cientistas procuraram indícios de decadência genômica a longo prazo, havia muito poucos, como o professor Schartl explicou:
“O que encontramos é que esse peixe preservou seu genoma híbrido e o que sabemos da criação de plantas ou animais é que, quando tentamos fazer algo melhor, criamos um híbrido”.
E ele acha que é esse “vigor híbrido” que sustenta a sobrevivência persistente da molinésia amazônica.
“O que a natureza tem feito é criar desde o início um bom híbrido, que prosperou”.
“É claro que há mutações, mas o que sentimos e que não foi levado em consideração é que a evolução eliminará as mutações deletérias e somente aqueles que se tornam melhores, com boas mutações, prosperarão”.
Ao comentar o trabalho, Laurence Loewe, professor assistente no Instituto para a Descoberta de Wisconsin, da Universidade de Wisconsin-Madison, disse à BBC:
“Normalmente, as espécies sem recombinação regular não são muito duradouras na forma evolutiva. No entanto, a molinésia amazônica parece ter encontrado uma maneira de sobreviver por um tempo surpreendentemente longo sem acumular sinais de decomposição genômica”.
“Para descobrir como isso ocorre, provavelmente teremos que combinar muitos dos grandes avanços na genética evolutiva dos últimos 100 anos”.
Fonte: BBC

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Mudança climática também gera terreno fértil para o terror

Alau-Kofa fica a apenas 12 quilômetros da metrópole Maiduguri. Lá, na capital do estado de Borno, estão bases militares e policiais. O grupo terrorista islâmico não poderia ter escolhido forma mais clara de refutar a alegação do Exército nigeriano de que a milícia teria sido derrotada.
O Boko Haram matou entre 20 mil e 25 mil pessoas na última década. A destruição material causada pelos terroristas islâmicos também é enorme: o Banco Mundial estima a soma do dano em quase seis bilhões de dólares. Dois milhões de pessoas tiveram de fugir ou foram expulsas de seus lares. No estado nigeriano de Borno, 30% de todas as casas privadas teriam sido destruídas, além de milhares de edifícios públicos.
Pecuaristas contra agricultores
Mas o Boko Haram não é o único problema de segurança na região do Sahel. Cada vez mais frequentemente, pecuaristas e agricultores se enfrentam. Isso ocorre, em parte, porque uns são principalmente cristãos e os outros, muçulmanos e, além disso, pertencem a diferentes tribos. Mas isso também acontece muitas vezes porque as mudanças climáticas tornam a água escassa, e as pessoas passam a temer por sua subsistência.
A conexão entre mudanças climáticas e conflitos também é tema a ser discutido na Conferência de Segurança de Munique, evento de três dias que começa nesta sexta-feira (16/02) na capital bávara.
“Embora os conflitos não sejam atribuídos a apenas uma causa, podemos dizer, com certeza, que a mudança climática é uma das causas dos conflitos violentos. E em algumas regiões de conflito também há uma relação direta com o terrorismo”, afirma, em entrevista à DW, Patricia Espinosa, secretária-geral da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC). Ela fala neste fim de semana em Munique, em um debate intitulado Securing the Sahel (protegendo o Sahel).
Recentemente, Espinosa discursou diante do Conselho de Segurança da ONU sobre “os efeitos negativos das mudanças climáticas e mudanças ambientais, entre outros fatores que afetam a estabilidade da África Ocidental e da zona do Sahel”.
Exemplo negativo do Lago Chade
A região em torno do Lago Chade é considerada um exemplo clássico de como as mudanças climáticas destroem os meios de subsistência das populações, abrindo caminho para conflitos violentos. Cerca de 30 milhões de pessoas dependem das águas do Lago Chade, que abastecem Nigéria, Chade, Níger e Camarões. Mas o lago encolheu 90% nos últimos 40 anos. Isso não foi causado somente pelas mudanças climáticas, mas tem muito a ver com elas.
“Cerca de 90% da população na região depende das águas do lago para sua subsistência, como pescadores, agricultores e fazendeiros”, estima Janani Vivekananda, especialista em mudanças climáticas do think tankberlinense Adelphi. Mas ela não menciona as mudanças climáticas como única fonte de conflito.
Segundo a cientista política, a marginalização de determinados grupos, a pronunciada mentalidade tribal, o mau gerenciamento governamental e a falta de serviços públicos contribuíram significativamente para o problema.
“À medida que a mudança climática reduziu os meios de subsistência, preparou o terreno para a violência e a deterioração dos serviços públicos”, diz. Segundo Vivekanda, os jovens com poucas oportunidades para garantir sua subsistência passaram a ser, então, alvos fáceis para o recrutamento de grupos armados .
Terroristas pelo dinheiro
Um estudo de 2016 da ONG Mercy Corps corrobora essa tese. A organização entrevistou 47 ex-combatentes do Boko Haram para saber os motivos para se juntarem ao grupo terrorista. Enquanto as razões religiosas quase não desempenharam papel, motivos econômicos, como o desejo de possuir renda, empréstimos e dinheiro para se casar, foram fator decisivo na maioria dos casos.
A especialista em mudanças climáticas Janani Vivekananda explica que comunidades já enfraquecidas por conflitos ou por governos sobrecarregados seriam particularmente vulneráveis. “Os efeitos das mudanças climáticas fazem com que essas sociedades se desestabilizem politicamente, criam insegurança alimentar e causam grandes fluxos migratórios”, sublinha. Essas migrações também teriam um efeito desestabilizador adicional, podendo levar a conflitos violentos.
Vivekananda também vê essa cadeia de efeitos em outras regiões, como Mali e Sudão. Mesmo em países aparentemente estáveis, como a Jordânia, os efeitos de uma seca prolongada, combinados com a chegada maciça de refugiados da Síria, podem levar à instabilidade.
Oito milhões de pessoas em torno do Lago Chade dependem de ajuda humanitária
Mudança climática e a guerra síria
A guerra na Síria também está ligada à mudança climática. Tal ideia foi defendida em 2015 pelo então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
Um estudo de 2016 do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários ilustra de forma impressionante essa conexão: secas extremas na década de 2000, uma redução de 40% na afluência do rio Eufrates, uma gestão falha da água na Síria e várias perdas em colheitas levaram a um êxodo em massa, que teve como consequências o desemprego em massa, a desigualdade social, pobreza e criminalidade.
Quando a Primavera Árabe chegou à Síria em 2011, as demandas reprimidas eram enormes – a opressão brutal da oposição finalmente levou à explosão da violência.
Já em 2012, um documento conjunto das agências de inteligência americanas profetizou “que muitos Estados importantes para os EUA sofrerão escassez de água ou inundações durante os próximos dez anos”. Isso, segundo o texto, aumentará o risco de instabilidade e de falência de Estados, levando, assim, a tensões regionais.
Problema detectado, mas ainda não combatido
O fato de que dois dos cerca de 30 debates da Conferência de Munique são sobre a área de Sahel e sobre as mudanças climáticas como um risco de segurança é considerado pelo diretor do Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (Sipri), Dan Smith, uma clara indicação de que a discussão deixou o estreito círculo de especialistas.
Mas Smith aponta que ainda falta a implementação dos conhecimentos obtidos. “Ainda não há nenhuma reação focada e operacional, seja na região do Sahel e ou no Oriente Médio, onde se poderia dizer ‘isto é o que precisamos fazer para ajudar as pessoas e as comunidades a se adaptarem às mudanças climáticas, para que o risco de conflitos violentos seja reduzido’”.
Encontrar tais respostas a tempo não só ajudaria as pessoas, como provavelmente também pouparia dinheiro. Cortar o problema do terrorismo pela raiz, pelo menos em parte, seria significativamente mais barato do que as respostas exclusivamente militares.
Fonte: Deutsche Welle


domingo, 25 de fevereiro de 2018

‘Lagostim de Mármore’

O ‘lagostim de mármore’, espécie mutante que clona a si própria e se espalha pelo mundo

Esta fêmea passou por uma mutação e começou a se reproduzir de forma assexuada, clonando a si própria. Um estudo sobre o caso foi publicado nesta semana na revista científica Nature Ecology and Evolution.
Os clones, todos do gênero feminino, estão há três décadas produzindo filhas de si próprias e se expandindo pelo mundo.
Frank Lyko é biólogo molecular do Centro Alemão de Investigação em Câncer e um dos co-autores do estudo. Ele chamou o fenômeno, em um blog do site da revista Nature, de “invasão dos clones”.
E não é para menos. Hoje em dia, o ‘lagostim de mármore’ é considerado uma espécie super-invasora, presente em várias zonas da Europa, África e Ásia, ameaçando ecossistemas lá presentes.
A mãe dos clones
“A origem do fenômeno, por enquanto, é desconhecida”, escreveu Lyko. O biólogo também foi o responsável por descrever a espécie em 2015. Foi ele que escolheu o nome Procambarus virginalis, que em latim significa “lagostim ou caranguejo virgem”.
A primeira vez que Lyko viu um exemplar da espécie foi em 2015, quando um criador lhe mostrou alguns animais que tinha comprado em uma feira de aquarismo na Alemanha.
Os então chamados “lagostins do Texas”, escreveu Lyko no blog, “se propagaram rapidamente no aquário. Eram grandes e esteticamente agradáveis, o que os tornou populares entre os aquaristas”.
Logo descobriu-se que um único indivíduo podia produzir centenas de ovos de uma vez. Poucos anos depois, o Procambarus virginalis já estava disponível em lojas de aquarismo em várias partes do mundo, e começaram a aparecer registros de populações selvagens, provavelmente graças à liberação por humanos.
Por enquanto, o que se sabe é que o primeiro indivíduo foi uma fêmea de cativeiro. Mas não está claro se ela viveu na Alemanha. Pode, inclusive, ter vindo dos Estados Unidos.
É que os ‘lagostins de mármore’ são descendentes de animais de rio (Procambarus fallax), uma espécie endêmica do Estado da Flórida, nos EUA. Mas essa espécie se reproduz de forma sexuada (com macho e fêmea).
O que é certo é que, de alguma forma, uma fêmea de aquário sofreu uma mutação que a levou a ter três pares de cromossomos em vez de dois, como é o usual.
Em vez de apresentar má formações que a impedissem de sobreviver, esta fêmea desenvolveu a capacidade de produzir ovos, que se converteram em embriões e depois em lagostins fêmeas com os mesmos três pares de embriões.
Todas elas eram um clone da mãe, nascidas através de um processo conhecido como partenogênese.
Conquista do mundo
“Este único indivíduo fundou toda uma espécie, e agora temos bilhões deles em todo o mundo”, disse o neurocientista Wolfgang Stein à revista National Geographic. Stein, pesquisador da Universidade do Estado de Illinois (EUA), participou do estudo de Lyko.
Entre 2007 e 2017, a equipe registrou a forma como a incidência do Procambarus virginalis em Madagascar aumentou dez vezes, deixando de ocorrer em uma área de 1 mil quilômetros quadrados para ocorrer em 100 mil quilômetros.
“Eles são encontrados em água mais ácida e mais alcalina; em água contaminada e na água limpa, e sempre têm a mesma composição genética”, diz Stein.


Mapa de incidência do lagostim (Foto: Zen Faulkes/Google Maps)
Os lagostins também conseguem se adaptar em diferentes condições ambientais, como mostra o mapa acima, elaborado pelo biólogo Zen Faulkes, da Universidade do Texas.
Por isso, a União Europeia e alguns Estados dos EUA proibiram a criação e uso da espécie, na tentativa de controlar a propagação.
Mas nem tudo é negativo na experiência com a espécie.
Segundo Lyko, o estudo do animal pode ajudar a entender melhor o câncer, inclusive os tumores desenvolvidos por humanos. Isto porque o câncer também é, ele próprio, uma mutação de células.
“Estamos vendo em câmera lenta, na evolução desses animais, algo que acontece durante as primeiras etapas da formação de um tumor”, disse ele à National Geographic.
Fonte: BBC

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Brasileiro vence prêmio de inovação

“Tinder da reciclagem” brasileiro vence prêmio de inovação

“Lutamos pelo reconhecimento dos catadores, que são verdadeiros agentes ambientais. O app é uma forma alternativa de aumentar a renda dos catadores com um benefício ambiental sem preço”, disse o grafiteiro e ativista Mundano, idealizador do Cataki, na cerimônia de premiação na sede da Unesco, em Paris.
O aplicativo sem fins lucrativos funciona como um “tinder da reciclagem”, que permite um “match” entre cidadãos comuns que querem descartar resíduos e os catadores que estão mais próximos do local da coleta. Desde julho de 2017, quando o Cataki foi lançado, 300 catadores de mais de 30 cidades brasileiras se registraram no aplicativo.
“Os catadores são cadastrados num banco de dados e começam a receber ligações dos usuários do app que querem descartar móveis, eletrônicos, vidro e papéis”, explica Breno Castro Alves, coordenador do projeto. Pelo aplicativo, é possível ver o perfil dos catadores mais próximos e fazer uma ligação para combinar o horário e local da coleta, bem como o preço do serviço.
“Como se trata de uma população muito vulnerável que ainda sofre com a exclusão digital, nós pensamos num conceito colaborativo que não demandaria muita tecnologia e sem nenhuma barreira de entrada”, acrescenta Alves. “O Cataki propõe um contato real, permitindo que pessoas de diferentes classes sociais conversem sobre um problema comum.”
O aplicativo Cataki, que custou 160 mil reais, foi uma das dez inovações tecnológicas globais selecionadas pelo Netexplo, observatório independente de estudos sobre o impacto de tecnologias na sociedade e nos negócios, em parceria com a Unesco. Ao todo, dois mil projetos foram avaliados. E o Cataki foi o grande vencedor.
Marcus Goddard, diretor associado do Observatório Netexplo, destaca que o aplicativo ajuda o catador a fazer negócio, ter uma renda e ganhar reconhecimento. “É uma economia informal paralela que garante a reciclagem de toneladas de lixo no Brasil. Apesar de os catadores serem essenciais, eles não são reconhecidos pelo seu trabalho”, disse ele em entrevista à DW Brasil.
“O Cataki representa um uso muito inteligente da tecnologia, com um grande alcance. É um aplicativo muito simples para conectar pessoas, com uma grande relevância social por ser um instrumento de integração entre diferentes classes sociais”, avalia.
Rede de colaboração
Depois de ter se registrado no aplicativo, o catador Cláudio, de São Paulo, não tem dado conta de tanta demanda. “Uma moça me chamou para pegar uma máquina de lavar. Depois, me chamou outra vez para pegar uma porta. Um rapaz para quem ela me indicou me chamou para fazer um carreto. Depois, o dono de uma loja de ar-condicionado me deu todo o restante de chaparia. Só não pego mais trabalho, porque não estou dando conta de tantos pedidos”, relata.
Cláudio diz que o Cataki aumentou ainda mais a sua responsabilidade. “As pessoas têm me dado muito espaço para trabalhar. Tento atender os clientes da melhor maneira possível”, diz. “Muitas coisas que aconteceram na minha vida fecharam muitas portas, mas o Cataki começou a me dar alegria de fazer certas coisas, melhorou minha condição financeira. Todos estão dando a mão para mim e eu estou conseguindo seguir em frente diante de tantos problemas.”
O aplicativo também tem criado uma rede colaborativa. “Quando surge alguma coleta muito distante, eu repasso para um colega. Um ajuda o outro. Temos que ser unidos”, afirma a catadora Fabiana, também de São Paulo.
“Nessa troca entre eles, nós descobrimos que em São Paulo tem uma catadora vendendo garrafa pet a 25 centavos, enquanto outro catador oferece o produto a 1,50 real. Com essa informação, a catadora passou a ter um comprador que paga seis vezes mais do que o anterior. Esse é um resultado real da rede colaborativa que eles próprios estão formando”, destaca Alves.
Ideia surgiu da demanda
O projeto foi idealizado pelo grafiteiro Mundano, fundador do movimento Pimp my Carroça – um projeto para tirar catadores de materiais recicláveis da invisibilidade, com intervenções artísticas nas carroças, e que ganhou atenção global.
O app foi resultado do contato intenso de Mundano com os catadores. “Muitas pessoas vinham me pedir indicação para a coleta, então eu virei um secretário dos catadores, passando contatos. A partir dessa demanda, antes de o Uber ser lançado no Brasil, tive a ideia de criar a plataforma para facilitar esse ‘match’ entre catadores e quem precisa do serviço deles. Mas não somos o Tinder, somos o Cataki”, enfatiza.
Quando a rede de catadores for maior, os usuários poderão compartilhar fotos e vídeos do que têm em casa e informar o endereço e horário desejado para a coleta. Os catadores mais próximos, que terão foto e informação de perfil, poderão então escolher se aceitam ou não fazer a coleta e sugerir um valor pelo trabalho. Essa nova versão do aplicativo ainda será desenvolvida.
“O grande desafio não é apenas criar coisas incríveis com tecnologia, mas como torná-las populares e acessíveis para uma camada com menos privilégios, à margem da sociedade. Essa é uma porta de entrada para incluí-los na cadeia de negócios”, observa Mundano. “Se formos esperar que o governo brasileiro ou as empresas paguem pelo serviço dos catadores, não vamos ter resultados. Eles fazem um serviço público de coleta e limpeza pública e precisam ser reconhecidos por isso.”
O serviço está mais estruturado em São Paulo e Recife. Mais recursos são necessários para chegar a outras regiões do país, mapear catadores e ampliar a rede. Com o reconhecimento internacional da iniciativa, Mundano e Alves esperam conseguir mais apoiadores.
Vestidos com gravata de chita e camisetas de blocos de carnaval, os coordenadores do Cataki celebraram a premiação com confetes feitos a partir de material reciclável, apesar do frio de 1 grau Celsius e a neve fina em Paris.
“Uma coisa de valor e que os catadores precisam é de atenção. Sentar junto e conversar. Ter alguém que te trata como pessoa e não como um ser invisível já é um ganho social muito importante. Esse é um ganho de rede e não de tecnologia”, disse Breno Castro Alves.
Fonte: Deutsche Welle

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

ISLÂNDIA

Mineração de bitcoins deve consumir mais energia que todas as casas na Islândia

Ele diz que muitos consumidores em potencial estão ansiosos para surfar nessa onda.
“Se todos os projetos saírem do papel, não teremos energia suficiente”, diz.
A Islândia tem uma população pequena, de cerca de 340 mil pessoas, e quase 100% de sua energia vem de fontes renováveis.
Mas nos últimos anos o país tem visto um número crescente de novos centros de processamento de dados.
O que é a mineração
A chamada “mineração” de bitcoin é, na verdade, o trabalho de diversos computadores conectados à blockchain, a rede em que são registradas as transações com a moeda virtual. Os computadores fazem uma série de cálculos matemáticos, em um processo que valida as transações entre os usuários da moeda.
Os computadores então recebem um pequeno pagamento em fração de bitcoin, tornando o processo lucrativo, especialmente quando feito em larga escala.
“O que estamos vendo agora é praticamente um crescimento exponencial no consumo de energia dos centros de processamento de dados”, diz Sigurbergsson.
Ele estima que as operações de mineração de bitcoins vão usar cerca de 840 gigawatt-hora em 2018 para manter os computadores e sistemas de refrigeramento dos equipamentos funcionando. O consumo doméstico do país, por sua vez, usa cerca de 700 gigawatt-hora por ano.
“E não vejo os projetos de centros de processamento de dados parando ainda”, diz Sigurbergsson. “Tenho recebido muitas ligações, visitas de investidores potenciais e companhias querendo construir centros como esses na Islândia.”
Ele diz que sua firma está mais interessada em negociar com empresas que estejam dispostas a fazer contratos de longo prazo, de alguns anos.
Segundo ele, se a Islândia aceitasse a construção de todos os centros de mineração propostos, simplesmente não haveria energia elétrica suficiente para suprir todos eles.
Lugar da vez
A indústria da mineração de moedas virtuais está em alta na Islândia por causa do lançamento do Projeto Moonlite – um grande centro de processamento de dados que fará mineração de várias delas, incluindo o bitcoin.
O espaço deve abrir neste ano e terá uma capacidade inicial de 15 megawatts, mas é esperado que esse patamar aumente no futuro.
Há quem questione o quão beneficial para o país será o crescimento da mineração das moedas virtuais.
Smari McCarthy, membro do parlamento Islandês, disse, em uma postagem no Twitter, que o benefício para o país era “zero”.
“Mineração de criptomoedas precisa de praticamente nenhum funcionário, pouco investimento de capital e também não gera impostos”, afirmou ele.
Já foi reportado que a demanda por energia elétrica das operações de Bitcoin no mundo todo poderia estar ultrapassando o uso energético de países como a Irlanda, embora o cáculo possa não ser muito preciso.
Com o aumento de popularidade das moedas virtuais, as operações de mineração podem usar cada vez mais recursos.
Uma análise recente do uso de energia da Europa pela Sandbag, uma consultoria inglesa especializada em mudanças climáticas, aponta que a mineração de Bitcoin está contruindo para uma demanda maior de energia no setor de tecnologia.
Fonte: BBC

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

DEZ CIDADES DO MUNDO

SP e outras 10 cidades do mundo que podem ficar sem água como a Cidade do Cabo

Uma pesquisa com as 500 maiores cidades do mundo, publicada em 2014, estima que uma em cada quatro estão em uma situação de “estresse hídrico”, como define a Organização das Nações Unidas (ONU) quando o abastecimento anual cai abaixo de 1,7 mil m³ por pessoa.
De acordo com projeções chanceladas pela ONU, a demanda por água doce vai superar o abastecimento em 40% em 2030, graças a uma combinação entre as mudanças climáticas, a ação humana e o crescimento populacional.
Não é uma surpresa, portanto, que a situação na Cidade do Cabo seja apenas a ponta do iceberg. Em todos os continentes, grandes centros urbanos enfrentam essa escassez e correm contra o tempo em busca de uma solução. Conheça a seguir outras 11 cidades que podem ficar sem água.
São Paulo
A capital paulista passou por uma situação dramática em 2014 e 2015, quando seu principal conjunto de reservatórios, o sistema Cantareira, atingiu seu menor nível da história. A Sabesp, companhia paulista de abastecimento, passou a puxar a água que ficava abaixo dos canos de captação, no chamado “volume morto”, e reduziu a pressão nas bombas – o que fez com que partes da cidade ficassem desabastecidas. Também houve campanhas para a redução do consumo.
Em dezembro de 2015, com a volta das chuvas, o Cantareira saiu finalmente do “volume morto”.
O governo paulista atribuiu a crise à forte seca que atingiu a região, mas uma missão da ONU criticou as autoridades estaduais por “falta de investimentos e planejamento adequados”.
Nos últimos anos, a situação das represas melhorou, mas especialistas afirmam que a possibilidade de uma nova crise segue presente.
Bangalore
Autoridades da cidade indiana tiveram problemas para lidar com a expansão imobiliária após Bangalore tornar-se um centro de tecnologia e enfrentam dificuldades para cuidar dos sistemas hídrico e de saneamento.
O encanamento antigo precisa de uma reforma urgente: um relatório do governo federal revelou que a cidade desperdiça metade de sua água potável.
Como a China, a Índia tem sérios problemas de poluição em seus cursos d´água, e Bangalore não é diferente: um inventário dos lagos da cidade revelou que 85% tinham água que poderia ser usada apenas para irrigação e resfriamento industrial. Nenhum tinha água potável ou adequada para banho.
Pequim
O Banco Mundial classifica como situação de escassez hídrica quando moradores de uma determinada localidade recebem menos de 1 mil m³ de água por pessoa. Em 2014, os mais de 20 milhões de habitantes de Pequim receberam apenas 145 m³.
O encanamento antigo precisa de uma reforma urgente: um relatório do governo federal revelou que a cidade desperdiça metade de sua água potável.
Como a China, a Índia tem sérios problemas de poluição em seus cursos d´água, e Bangalore não é diferente: um inventário dos lagos da cidade revelou que 85% tinham água que poderia ser usada apenas para irrigação e resfriamento industrial. Nenhum tinha água potável ou adequada para banho.
Pequim
O Banco Mundial classifica como situação de escassez hídrica quando moradores de uma determinada localidade recebem menos de 1 mil m³ de água por pessoa. Em 2014, os mais de 20 milhões de habitantes de Pequim receberam apenas 145 m³.
A Organização Mundial da Saúde aponta que o Egito é o oitavo país do mundo em mortes ligadas à poluição hídrica entre os países com renda de nível médio-baixa (quando a renda nacional bruta per capita fica entre o equivalente a R$ 3.335 e R$ 13.113).
A ONU estima que o país sofrerá com crises hídricas graves em 2025.
Jacarta
Como muitas cidades costeiras, a capital da Indonésia enfrenta a ameaça da elevação do oceano – cerca de 40% da cidade agora está abaixo do nível do mar, segundo o Banco Mundial.
Mas, em Jacarta, o problema piorou com a ação humana: com mais da metade dos 10 milhões de habitantes sem acesso a água encanada, a perfuração ilegal de poços prolifera e esvazia as reservas subterrâneas.
A situação é agravada pelo fato de os aquíferos não serem reabastecidos pelas fortes chuvas, porque o concreto e o asfalto impedem que a água seja absorvida pelo solo.
Moscou
Um quarto das reservas de água doce do mundo estão na Rússia, mas o país enfrenta sérios problemas de poluição por conta do legado industrial da era soviética. Isso é especialmente preocupante para a capital, Moscou, onde 70% do abastecimento vem de reservas de superfície.
Órgãos regulatórios afirmam que entre 35% e 60% de todas as reservas de água potável do país não atendem os padrões sanitários mínimos.
Istambul
Dados do governo turco mostram que o país vive tecnicamente uma situação de estresse hídrico, porque o abastecimento per capital caiu abaixo de 1,7 mil m³ em 2016. Especialistas locais alertam que a situação pode piorar até 2030.
Nos últimos anos, áreas muito populosas como Istambul (14 milhões de habitantes) passaram a enfrentar períodos de falta d’água nos meses mais secos. Os níveis dos reservatórios caíram abaixo de 30% da capacidade no início de 2014.
Cidade do México
Faltar água não é uma novidade para os 21 milhões de habitantes da capital do México. Para um a cada cinco, as torneiras só funcionam por algumas horas por semana, e, para 20%, só há abastecimento em parte do dia.
A cidade importa cerca de 40% da sua água de fontes distantes, mas não tem nenhuma operação de larga escala para reciclar água que já foi utilizada. Perdas por problemas na rede são estimadas em 40%.
Londres
De todas as cidades do mundo, a capital do Reino Unido, Londres, não é a primeira que viria à mente quando se fala de escassez hídrica. Com uma precipitação anual de 600 milímetros, menos do que a média de Paris e cerca de metade da média de Nova York, Londres atende 80% da demanda com seus rios.
Segundo a prefeitura local, a cidade está próxima do limite de sua capacidade e deve enfrentar problemas de abastecimento em 2025 e crises sérias em 2040.
Tóquio
A capital do Japão, Tóquio, tem níveis de precipitação semelhantes aos de Seattle, apelidada de Cidade Chuvosa pelos americanos. As chuvas estão, no entanto, concentradas em apenas quatro meses do ano. A água precisa ser coletada e armazenada, já que pode haver secas no restante do ano.
Autoridades locais fizeram justamente isso: ao menos 750 edifícios públicos e privados têm sistemas de coleta e reuso de água da chuva.
Com mais de 30 milhões de habitantes, Tóquio depende de reservas de superfície (rios, lagos e neve) para 70% de seu abastecimento. Investimentos recentes na rede têm como meta reduzir o desperdício para 3%.
Miami
O Estado da Flórida, nos Estados Unidos, está entre os cinco mais chuvosos todos os anos. Mas está anunciando uma crise em sua cidade mais famosa, Miami.
Um resultado não previsto para o projeto de drenagem de seus pântanos é que a água do Oceano Atlântico contaminou o aquífero Biscayne, a principal fonte de água da cidade.
Ainda que o problema tenha sido detectado nos anos 1930, a água do mar ainda se infiltra, especialmente porque a cidade americana tem sido vítima de uma elevação do nível do mar cada vez mais acelerada, superando as barreiras subterrâneas instaladas nas últimas décadas.
Cidades vizinhas também enfrentam o mesmo problema – Hallande Beach, a alguns quilômetros ao norte, teve de fechar seis de seus oito poços por causa da invasão da água salgada.
Fonte: BBC

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Nível do Mar

Ritmo de aumento do nível do mar pode triplicar até 2100

A taxa atual de aumento do nível do mar – de cerca de três milímetros por ano – pode mais que triplicar até 2100, segundo o relatório, divulgado nesta segunda-feira (12/02) na Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (PNAS), a publicação oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.
“Essa aceleração, impulsionada sobretudo por um derretimento acelerado na Groenlândia e na Antártica, tem o potencial de dobrar o aumento total do nível do mar até 2100 em relação a projeções que presumem uma taxa constante – para mais de 60 centímetros em vez de cerca de 30″, afirma um dos autores da pesquisa, Steve Nerem.
O estudo – baseado em dados de satélites coletados ao longo de 25 anos – foi conduzido por cientistas da Universidade do Sul da Flórida; do Centro de Voo Espacial Goddard, da Nasa; da Universidade Old Dominion e do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos EUA.
Mudanças climáticas
O aumento do nível do mar é causado tanto por fenômenos naturais, que elevam ou diminuem os oceanos ano a ano, e por tendências maiores e de longo prazo de aumento, relacionadas às mudanças climáticas provocadas pelo homem.
Segundo os cientistas, as mudanças climáticas contribuem para um aumento do nível dos oceanos de duas maneiras. Em primeiro lugar, maiores concentrações de gases do efeito estufa na atmosfera elevam a temperatura da água, e a água aquecida se expande.
Essa chamada “expansão térmica” dos oceanos já contribuiu para cerca de metade dos sete centímetros de aumento médio global dos oceanos nos últimos 25 anos, disse Nerem.
Em segundo lugar, o nível dos mares aumenta com o maior fluxo de água devido ao derretimento acelerado de gelo nos polos. Esse fator foi o que mais contribuiu para impulsionar o ritmo da elevação do nível do mar.
As conclusões publicadas na PNAS corroboram simulações científicas por computador e projeções feitas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU.
“Este estudo ressalta o importante papel que pode ser desempenhado por dados de satélites na validação de projeções de modelos climáticos”, disse o coautor John Fasullo.
O nível do mar global se manteve estável por cerca de 3 mil anos até o século 20, quando aumentou e foi acelerado devido ao aquecimento global, causado pela queima de carvão, petróleo e gás natural, aponta o cientista climático Stefan Rahmstorf, do Instituto de Potsdam, na Alemanha, que não participou do estudo.
Fonte: Deutsche Welle

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Cerrado Ameaçado

Como destruição do Cerrado ameaça ‘floresta de cabeça para baixo’ e abastecimento de aquíferos

O equilíbrio desse ecossistema, contudo, está ameaçado pelo avanço da agricultura em larga escala.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, cerca de 20% das espécies de plantas e animais exclusivas ao bioma já foram extintas, e ao menos 137 espécies de animais da região correm o risco de desaparecer.
“A gente não tem mais aquele habitat natural, porque esse tipo de vegetação deu lugar às lavouras: à soja, ao milho, ao feijão, ao arroz – e eles não têm a mesma função ecológica do Cerrado”, alerta Mauro Alves de Araujo, técnico agrícola especializado na identificação de espécies vegetais.
Boa parte das últimas áreas de Cerrado se encontra na região conhecida como Matopiba (que engloba trechos do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) – considerada uma das últimas fronteiras agrícolas do país.
“A gente está trocando árvore por herbácea, e isso na matemática (da ecologia) é cruel”, acrescenta Araujo.
O Cerrado é um dos biomas mais antigos e biodiversos do mundo. Começou a se formar há pelo menos 40 milhões de anos e abriga centenas de espécies de animais e plantas que só existem lá.
Para sobreviver às longas secas que ocorrem na região, muitas árvores locais desenvolveram sistemas de raízes extremamente profundas e ramificadas.
Graças a essas raízes, várias espécies do bioma jamais perdem as folhas, nem mesmo no auge da estiagem.
As raízes podem ser muito mais extensas que as copas das árvores, o que faz com que o Cerrado seja conhecido como “floresta de cabeça para baixo”.
Árvores presentes no bioma – entre as quais buriti, pequi, jatobá e baru – garantem ainda uma dieta rica para os habitantes da região.
Fonte: BBC