quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Nas redondezas dos incêndios da Amazônia, moradores estão doentes, preocupados e com raiva.

Porto Velho, Brasil — Uma canção popular descreve o céu acima desta cidade brasileira com mais de 400 mil habitantes como sempre azul. Mas, nesta semana, Porto Velho, juntamente com grande parte da bacia amazônica, está envolta por fumaça cinza, já que os incêndios florestais continuam assolando  a região.  
Entretanto, como floresta tropical, a Amazônia não está queimando por si só. O desmatamento, ao longo do tempo, tornou seu ecossistema mais seco e os incêndios se tornaram comuns nessa época do ano, que normalmente é marcada pelo clima seco e mais frio. Muitos incêndios são feitos por fazendeiros e agricultores que buscam limpar a terra para pastagem de gado e agricultura. Neste ano, porém, dados de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostraram um aumento de quase 85 por cento nos incêndios de todo o país desde 2018, principalmente na região amazônica.
A situação é particularmente grave no estado de Rondônia, do qual Porto Velho é a capital. Lá, os incêndios aumentaram 190 por cento desde o ano passado, segundo o Inpe, apesar de as condições climáticas serem praticamente as mesmas. O estado é conhecido pelo gado bovino e está entre os mais devastados do Brasil. Este ano, aparentemente, fazendeiros causaram mais incêndios que nos anos anteriores e, como resultado, grandes áreas do estado estão queimando fora de controle.

Fumaça em todos os lugares

Nesta semana, o aeroporto de Porto Velho teve que ser fechado por conta do incêndio que invadiu seu perímetro, e por pouco não desviou de um depósito de combustível. Palmeiras chamuscadas agora recebem os visitantes em suas chegadas. Na cidade, a fumaça é percebida mesmo dentro de grandes shopping centers e de fechados quartos de hotel. O número de pessoas internadas em hospitais estaduais com pneumonia, tosse severa e outros problemas respiratórios triplicou na última semana, segundo reportagens locais.
Na sexta-feira de manhã (23/08), a vida nas ruas parecia normal; as pessoas não se precaviam para se protegerem da fumaça. Em uma banca de frutas na movimentada Rua Imigrantes, Laine Polinaria de Oliveira atendia um fluxo constante de fregueses comprando abacaxi, mamão, melancia e goiaba.
“Os negócios estão normais, mas todo mundo está falando sobre os incêndios”, disse ela. “Estamos acostumados com incêndios nessa época do ano, mas neste ano está bem pior que nos anteriores.
Vinda de Nova Mamoré, uma pequena cidade a 300 quilômetros de distância onde os incêndios são ainda mais intensos que em Porto Velho, Laine diz estar particularmente preocupada com seu filho de 9 anos inalando o ar sujo.

Rota de distribuição em chamas

Situado não muito longe da fronteira com a Bolívia, ao longo do rio Madeira, um afluente de 3,2 mil quilômetros do Amazonas, Porto Velho é um importante centro de distribuição no noroeste da Amazônia. A fumaça dos incêndios leva a uma baixa visibilidade para os operadores dos barcos no rio, aumentando o risco de colidirem com outros barcos ou encalharem em bancos de areia expostos.
Jerrison da Silva Cruz, operador de barco local e pescador, relatou um incidente na quarta-feira à noite, quando ele e a tripulação estavam a bordo de um navio viajando rio acima e se depararam com uma parede de fogo em uma curva acentuada no rio, a cerca de 12 horas de Porto Velho.
“Não conseguíamos ver nada por causa da fumaça,” ele conta. O capitão do navio decidiu que o melhor a se fazer era ficar no mesmo lugar, próximo à terra que já tinha sido queimada para dar lugar às fazendas de melancia, e esperar a fumaça abaixar, o que em certo momento aconteceu.
Enquanto o vasto rio Madeira pode agir como uma barreira contra os incêndios, as pequenas estradas que cruzam a enorme floresta amazônica fornecem pouca proteção para quem viaja de carro.

Povos indígenas em perigo?

Ainda mais preocupante é o destino das muitas comunidades indígenas da Amazônia. Um milhão de indígenas vivem na parte brasileira da bacia amazônica, muitos em total isolamento do mundo exterior.
“Ninguém sabe o que está acontecendo com eles… Eles não têm como chamar um bombeiro para apagar o fogo”, diz Ivaneide Bandeira Cardoso, conhecida fundadora do Kanindé, um grupo de defesa de comunidades indígenas baseado em Porto Velho.
Cardoso e muitos outros dizem que o presidente Jair Bolsonaro é o responsável direto pelo agravamento dos incêndios florestais por toda bacia amazônica  neste ano. Desde que assumiu o poder no começo do ano, Bolsonaro deixou claro que prioriza os interesses de indústrias que querem acesso livre às terras protegidas. Críticos dizem que ele encorajou fazendeiros e agricultores a queimar ainda mais terra ao afrouxar uma lei, sinalizando que seu governo não multará apropriação ilegal de terras.
“O que causa essa tragédia são as palavras do presidente”, diz Cardoso, acrescentando que, apesar de as maiores vítimas desses incêndios serem os indígenas e a natureza, é uma “tragédia que afeta toda a humanidade”, já que a Amazônia tem um papel importante no ecossistema global como sumidouro de carbono para deter os efeitos das mudanças climáticas.
Bolsonaro, em sua defesa, diz que as críticas às ações de seu governo na Amazônia são histéricas. Sem evidência nenhuma, ele até sugeriu que ONGs causam incêndios deliberadamente para “trazer problemas para ao Brasil.”
Enquanto Bolsonaro tem forte apoio em sua base conservadora, muitos brasileiros parecem extremamente preocupados que as ações do governo prejudicarão a reputação do Brasil internacionalmente e poderia levar até uma dificuldade econômica se outros países decidirem boicotar produtos brasileiros, incluindo a carne. Protestos contra as políticas governamentais na Amazônia estão agendadas para acontecerem nos próximos três dias em muitas cidades do Brasil.
Na barraca de frutas em Porto Velho, Laine diz que a atitude em relação às queimadas deliberadas na floresta está mudando entre os cidadãos comuns. “Isso é algo que as pessoas fazem há muitos anos,” ela diz. “Mas agora podemos realmente sentir as repercussões dessa prática e as pessoas estão mudando de opinião sobre isso”.
Os moradores em Rondônia parecem não deixar que o ar esfumaçado os impeçam de viver normalmente. Na quinta-feira à noite, uma pequena multidão em um bar na área externa do principal shopping de Porto Velho cantava a todos pulmões com uma banda ao vivo enquanto a fumaça invadia as ruas da cidade. O nome da canção? “Todo mundo vai sofrer”.
Fonte: National Geographic – Stefan Lovgren

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Por que quase metade do Brasil não tem acesso a rede de esgoto.

As 400 ou 500 casas que formam Alcantil, na Paraíba, não têm água encanada. Nunca tiveram. Pelo menos uma vez por mês, o Exército abastece com um carro-pipa algumas cisternas comunitárias espalhadas pelo município de 5,3 mil habitantes e, de lá, baldes e latas d’água completam o serviço.
Em 2003, um projeto capitaneado pelo governo do Estado prometia finalmente levar água para a cidade no semiárido paraibano. Mais de 15 anos depois, entretanto, ele praticamente não saiu do papel.
A obra é a mais antiga da lista de empreendimentos paralisados ou atrasados, financiados pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), hoje a principal fonte de recursos para financiar o saneamento no país.
O setor representa cerca de 5,5% do orçamento do fundo – que é alimentado pelos depósitos compulsórios do equivalente a 8% da remuneração de todos os trabalhadores com carteira assinada do país – e responde, no entanto, por 52,7% das obras paralisadas ou atrasadas bancadas com recursos do FGTS.
O relatório com dados de 2018 elenca 375 empreendimentos só na área de saneamento, em 25 Estados. Isso representa 22,7% do total de obras de saneamento atualmente na carteira do fundo, seja em fase de retorno (pagamento de prestações) ou de desembolso (construção).
Além de projetos que levariam água para o semiárido, também estão listadas uma série de obras de esgotamento sanitário – afinal, apenas 52,4% dos brasileiros têm acesso à rede de esgoto.
Entre elas, empreendimentos em parte da Região Metropolitana de São Paulo, com impacto sobre pelo menos 1,6 milhão de pessoas. Conduzidas pela companhia de saneamento paulista, a Sabesp, a maioria é de 2013.
No total, esses empreendimentos mobilizaram R$ 13 bilhões em empréstimos do fundo.
O Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), aprovado em 2007, previa para 2033 a universalização dos serviços de água e esgoto. No ritmo atual de investimentos, entretanto, esse prazo foi esticado pelo menos para 2060, de acordo com Ilana Ferreira, especialista em infraestrutura da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Quanto maior for esse tempo, maiores os gastos evitáveis do país com Saúde, já que a falta de saneamento está diretamente ligada à incidência de uma série de doenças – como leptospirose, disenteria bacteriana, esquistossomose, febre tifóide, cólera –, e a perdas em produtividade do trabalho.
A BBC News Brasil conversou com representantes do setor público e privado e com especialistas na área para entender por que tantas cidades no Brasil ainda não têm água tratada ou esgoto. Abaixo, reunimos em quatro pontos os principais motivos citados.

1) Dificuldade de acesso aos recursos já disponíveis

O Brasil investe por ano muito menos do que seria preciso para atingir a meta de universalização do saneamento em 2033. A média entre 2009 e 2014 foi de R$ 9,4 bilhões, quando seriam necessários R$ 15,2 bilhões por ano, conforme os cálculos da CNI.
Ainda assim, na principal fonte de financiamento do setor – o FGTS – sobram recursos.
No início de 2018, o saneamento tinha R$ 6 bilhões disponíveis no orçamento do fundo. No fim do ano, esse número foi revisto e encolheu 33%, para R$ 4 bilhões. Ainda assim, do total, apenas 69,06% (R$ 2,76 bilhões) foram de fato emprestados pelos agentes financeiros habilitados pela Caixa Econômica Federal, que é operadora do FGTS.
A dinâmica não é exceção. Pelo menos desde 2014, o percentual de execução não chega a 70%.
Em 2017, a proporção de recursos efetivamente gastos em relação ao orçamento final foi de 64,8%. Em 2015, de 51,9%.
Isso não acontece, por exemplo, com a área de construção, que tradicionalmente atinge percentuais superiores a 80%. No ano passado, aliás, enquanto o orçamento para o saneamento encolheu, o da área de moradia cresceu, de R$ 53 bilhões para R$ 57,8 bilhões, dos quais 95,27% foram efetivamente emprestados.
“O setor de construção é mais organizado, tem presença (forte) no conselho do FGTS”, diz Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil, organização sem fins lucrativos que monitora o setor.
Essa capacidade de organização ficou clara recentemente, quando o Governo Federal planejava liberar parte do fundo para estimular a economia. O limite de saque acabou sendo reduzido para R$ 500 depois da pressão de empresas de construção civil, que alegaram que, caso fosse disponibilizado um volume maior, faltariam recursos para construção de moradias populares.

Por que sobram recursos do FGTS para o saneamento?

A burocracia é apontada como um dos principais entraves. O tempo médio entre o início do trâmite e a chegada do dinheiro aos cofres das empresas, de acordo com a CNI, é de mais de dois anos (27 meses).
“Quando o recurso sai, a cidade já é outra. Já apareceram novas casas (que não estavam no projeto original)… Como vou fazer desapropriação se não tenho dinheiro?”, diz Marcus Vinícius Neves, presidente da Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais (Aesbe), que reúne as 25 estatais do setor.
A CNI lançou em 2017 um estudo com uma série de propostas para simplificação do processo de empréstimo de recursos do FGTS.
Para se ter ideia de como ele pode ser lento, uma das sugestões era a digitalização da entrega de documentos em um sistema único – já que o sistema da Caixa admitia a entrega on-line de documentos, mas o do Ministério das Cidades, não.
Para o Ministério da Economia, o problema não está nas regras estipuladas pelo Conselho Curador para o fundo. “O tempo despendido para concessão do financiamento decorre do fato de o agente financeiro assumir o risco do crédito perante o FGTS”, diz uma nota do ministério à BBC News Brasil.

2) Projetos mal elaborados

A baixa qualidade técnica dos projetos e os erros recorrentes são outros fatores que explicam o atraso ou mesmo paralisação das obras, diz Édison Carlos, do Trata Brasil.
“A grande diferença entre saneamento e moradia (que acaba tendo acesso mais fácil aos recursos disponíveis) é o projeto. É muito mais fácil construir uma casa do que uma boa rede de coleta”, acrescenta Ilana Ferreira, especialista em economia ambiental.
São estudos que não levam em consideração a estrutura do solo, os índices pluviométricos do município ou o plano de ordenamento territorial (ou seja, quanto a cidade vai crescer e para onde), por exemplo.
Sem uma boa base técnica, a estimativa de custo de muitos projetos acaba sendo pouco realista e falta dinheiro para continuar a obra, ou para investir na manutenção ou na melhoria da infraestrutura.
“Na última avaliação que fizemos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), os erros de projeto continuavam sendo uma das principais razões para os atrasos (nas obras de saneamento), mesmo depois de tantos anos (de programa)”, diz Carlos, do Trata Brasil.
O PAC é um capítulo à parte na questão do saneamento. Primeiro, porque boa parte dos recursos disponibilizados pelo programa vinha do Orçamento Geral da União. Ou seja, eram repassados pelo Governo Federal para a realização das obras, uma opção que se tornaria cada vez mais restrita à medida que o déficit nas contas públicas se aprofundasse.
Depois, porque o “boom de investimentos” desse período, que se estendeu até 2014, não se traduziu em uma evolução significativa da cobertura do atendimento.
“O que significa que os recursos foram mal alocados, e que não adianta ter dinheiro sem gestão”, diz Ilana.
O presidente da Aesbe, Marcus Vinícius Neves, minimiza a questão da baixa qualidade técnica dos projetos. Para ele, pesariam mais os “fatos novos”, que geram novos custos e atrasam o cronograma: a descoberta de um sítio arqueológico no local das obras, por exemplo.
Essa foi a justificativa apontada pela Sabesp para o atraso em obras na Região Metropolitana de São Paulo, em bairros como Aricanduva, Arthur Alvim, Carrão, Sapopemba, Cidade Tiradentes, Cidade Líder, Guaianases e Itaim Paulista.
Em nota, a empresa afirmou que, “inicialmente, as ações objeto dos financiamentos feitos com recursos do FGTS foram afetadas porque foi necessário dar prioridade, durante o período de crise hídrica (entre 2014 e 2015), a investimentos voltados à garantia da segurança hídrica”.
“Passado o período crítico de crise, o planejamento das ações de ampliação do sistema de esgotamento sanitário foi reavaliado e, então, as obras foram retomadas. Neste momento seguem seu fluxo normal”, diz a nota.

Baldes e tonéis

No caso de Alcantil, segundo Neves, que também é presidente da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa), o problema é que a obra é mais “complexa” do que se previu inicialmente: descobriu-se que o subsolo da cidade era formado por rochas resistentes, o que elevou os custos de perfuração e instalação da infraestrutura e levou a companhia inicialmente responsável pelo projeto a abandoná-lo.
“Já estamos na sétima empresa e na quarta licitação”, ressalta.
Para Ferreira, da CNI, entretanto, esse seria mais um problema de elaboração de projeto, que não previu de forma realista os custos.
Enquanto isso, o município a cerca de 200 km de João Pessoa só pode contar com os carros-pipa do Exército e os poços com dessalinizadores do Programa Água Doce (PAD) para ter acesso a água potável e com poços de água salobra para a chamada “água de gasto”, usada para limpeza, por exemplo.
Quem conta é a Secretária de Desenvolvimento Sustentável e Recursos Hídricos do município, Jancleide Maria do Carmo.
Em casas como a dela, a cisterna ou tanque que ficam do lado de fora contam com uma bomba para levar água do reservatório particular para a torneira.
Mas muita gente segue sobrevivendo só com os baldes e toneis.
Assim como Alcantil, outras 454 cidades pelo Brasil não têm abastecimento de água, de acordo com o último levantamento do Sistema Nacional de Saneamento (Snis), com dados de 2017.

3) Queda de braço entre o público e o privado

Tanto o setor público quanto o privado concordam, de forma geral, que a participação de empresas privadas no saneamento é menor que o necessário.
As empresas públicas muitas vezes têm capacidade limitada de investir, especialmente diante da restrição orçamentária crescente dos Estados. A situação financeira das estatais, muitas com nível de endividamento já elevado, dificulta inclusive a tomada de recursos do FGTS.
“Nós queremos o privado junto conosco”, diz Neves, da Aesbe.
A divergência é sobre como dosar essa participação – com a privatização das empresas públicas de saneamento (que hoje respondem por 75% da população atendida) ou a atuação em paralelo por meio de concessões e parcerias público-privadas.
Crítico da administração pública do saneamento, o economista Claudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria, acredita que a “captura” das empresas por interesses de servidores concursados, parlamentares dos Estados e governadores responde por boa parte da ineficiência dessas companhias.
Um estudo conduzido pela Inter.B com dados das estatais de saneamento apontou que, entre 26 empresas analisadas (as 25 estatais mais a do Distrito Federal), em 10 casos os aumentos de tarifas entre 2014 e 2017 foram transferidos para aumentos salariais, enquanto os investimentos caíram de forma relevante, de 9,3% até 74,3%.
Neves discorda da avaliação. Para o presidente da Aesbe, o novo regime de governança das estatais instituído em 2016 pela Lei 3.303 tem contribuído para melhorar a administração nas companhias que “ainda precisavam se organizar”, enquanto as câmaras técnicas e jurídicas da associação auxiliam as empresas a elaborar dos projetos ou planejar melhor os investimentos.
Para Ilana, da CNI, a forma como o setor está estruturado favorece a interferência política no setor. A Constituição de 1988 atribuiu a competência do saneamento aos municípios, que, via de regra, não dispõem de recursos para investir. Os prefeitos, então, delegam a tarefa para os Estados, que estão à frente das estatais.
“E esse processo é feito muitas vezes de maneira informal, sem nem contrato”, ressalta a economista.
Essa também é a visão do Ministério do Desenvolvimento Regional. “Hoje, os titulares, autoridades locais das prefeituras, podem estender contratos de programa firmados com as companhias estaduais de saneamento de forma automática que, em muitos casos, são contratos precários e não formalizados”, disse a pasta em nota.
Questionado sobre o projeto do governo para garantir a universalização do serviço, o ministério afirmou que um dos focos é aumentar a participação do setor privado.
“Na visão do Governo Federal, a ampla concorrência trará mais investimentos para o setor de saneamento.”

Privatizar ou estatizar?

Em 2017, o Programa de Parcerias de Investimento (PPI) lançou um projeto de “desestatização” das empresas estaduais de saneamento. A ideia era que o BNDES apoiasse os Estados com estudos técnicos para buscar o melhor modelo para cada lugar: privatização, concessão ou PPP.
Dois anos depois, os estudos ainda não foram divulgados pelo banco e parte dos Estados, após as eleições para governador de 2018, abandonaram o projeto.
Os exemplos práticos alimentam argumentos de ambos os lados do debate.
Há casos de cidades geridas por empresas privadas com péssimos indicadores, como Manaus; de cidades servidas por estatais de capital misto e com bons indicadores: Franca (SP) e Cascavel (PR); e há ainda casos de remunicipalização de serviços que haviam sido concedidos à iniciativa privada, como em Itu (SP), e de privatizações bem sucedidas do ponto de vista da ampliação do atendimento, caso de Uruguaiana (RS).
Internacionalmente, o assunto também está longe de ser consenso.
Há os casos famosos de remunicipalização em Paris e Berlim, que, para aqueles que defendem a manutenção do setor de água e esgoto nas mãos do Estado, mostram que a concessão à iniciativa privada não funciona.
Quem argumenta do lado contrário, por sua vez, afirma que a reestatização em Paris foi influenciada por um forte componente político. Além disso, o contrato não foi interrompido, mas se estendeu até o prazo final de vigência e apenas não foi renovado.
No caso de Berlim, de acordo com um estudo feito pela GO Associados, o problema teria sido a falta de transparência no processo de seleção dos investidores privados. O presidente do Tribunal Constitucional do município foi contratado ao mesmo tempo pela municipalidade para desenhar o projeto de lei e pela companhia privada para assessorar a transação.
O estudo da consultoria brasileira se debruçou sobre 208 casos de remunicipalização que fazem parte de um levantamento do Transnational Institute, da Holanda, para argumentar que, ao contrário do que afirma a instituição internacional, a retomada dos serviços de água e esgoto pelos municípios em diversos países não seria uma tendência, mas episódios causados por problemas específicos de cada caso.

4) Marco regulatório

Outra razão que explica o enorme déficit do saneamento no Brasil é o ordenamento jurídico que rege o setor – e que é hoje objeto de 10 projetos de lei que tramitam no Congresso.
Exemplo: são 49 agências reguladoras diferentes, muitas vezes sem independência dos poderes locais e sem competência técnica para editar normas que balizem o cálculos para revisão das tarifas ou estabeleçam a qualidade mínima dos serviços.
“Já visitei agência reguladora em que a pessoa encarregada da revisão tarifária tinha formação em pedagogia”, destaca Ilana, da CNI.
Outro ponto problemático apresentado por especialistas no setor é a figura do contrato de programa: aquele que pode ser renovado automaticamente e sem necessidade de licitação.
Considerado um instrumento importante para o setor da saúde, para que não haja interrupção da prestação de serviços fundamentais após o fim de um contrato e a negociação de outro, no saneamento ele às vezes pode se tornar um empecilho para a melhoria dos serviços ou mesmo para expansão da rede.
Isso porque, entre suas características, o contrato de programa muitas vezes não traz previsão de investimento (que obrigue as empresas a realizar obras de expansão, por exemplo) nem detalha formas de avaliação de desempenho.
Desde o ano passado, duas medidas provisórias que discutiam o marco regulatório do saneamento foram enviadas ao Congresso, a 844 e a 868.
Esta última perdeu a validade no início de junho e foi recuperada no Senado com o Projeto de Lei 3.261.
A proposta, de autoria do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), foi aprovada na Casa, mas com mudanças que descaracterizaram bastante a proposta inicial.
A nova versão passou a permitir, por exemplo, que licitações “desertas” abrissem a possibilidade para que municípios contratassem sem licitação; tirou da Agência Nacional de Águas (ANA) a competência de editar “normas de referência” para o setor (devolvendo essa prerrogativa às 49 agências municipais e estaduais) e manteve a possibilidade irrestrita de assinatura de contratos de programa.

‘Lobby forte’ das estatais

Em resposta, a Casa Civil enviou neste mês de agosto um novo Projeto de Lei, o PL 4.162/2019, que, junto com o projeto que veio do Senado, foi apensado às demais propostas e passará a ser analisado por uma Comissão Especial a partir desta semana.
Daqui para frente, a Câmara pode escolher um dos projetos ou fazer uma nova versão reunindo trechos de diferentes propostas.
O relator da proposta na Comissão Especial, Geninho Zuliani (DEM-SP) disse à BBC News Brasil que seu parecer tomará como base a proposta original do senador Tasso Jereissati – e não a versão “desconfigurada” pelas emendas durante a votação da matéria.
Ele reconhece que as estatais têm feito “lobby forte”, inclusive por intermédio de parlamentares na Casa, para a manutenção dos contratos de programas, mas diz que vai tentar encontrar um meio termo.
Nesse sentido, ele estuda três opções: transformar todos os contratos de programa em concessões; preservar os existentes, mas sem prossibilidade de prorrogação após o fim da vigência ou manter a figura desses contratos, mas com a exigência do estabelecimento de planos de metas e de investimentos.
Especialistas do setor como Ilana Ferreira esperam que a retomada das discussões ajude a tornar a questão do saneamento menos invisível e mais presente entre as demandas dos brasileiros.
“Eu sempre me perguntei porque o saneamento não está nos cartazes nas manifestações que pedem mais Educação, mais Saúde”, ela diz.
“Quem sofre com a falta sabe do grande impacto social que o saneamento tem. Qem vive próximo ao esgoto a céu aberto sabe porque o filho fica doente e tem que faltar a aula, sabe porque os bebês nascem prematuros.”
Fonte: BBC

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Microplásticos na água representam ‘risco pequeno à saúde’, diz estudo.

Microplásticos na água potável não parecem representar um risco para a saúde nos níveis comumente encontrados atualmente, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em seu primeiro relatório sobre a questão, a OMS descobriu que partículas maiores e a maioria das menores passam pelo corpo sem serem absorvidas.
Mas disse que as descobertas foram baseadas em “informações limitadas”, e exigiu mais pesquisas sobre o assunto.
“Precisamos urgentemente saber mais sobre o assunto”, disse o órgão da ONU.
Bruce Gordon, da OMS, comprometeu-se iniciar pesquisas mais amplas durante entrevista à BBC News em 2018, depois que a Orb Media encontrou partículas de plástico em muitas das principais marcas de água mineral engarrafada.

O que diz o relatório?

Os microplásticos, definidos como pequenos pedaços (menos de 5 mm de comprimento) de qualquer tipo de detrito plástico, foram encontrados em rios, lagos, fontes de água potável e em garrafas de água.

Então, o que isso significa para a saúde humana?

Em seu primeiro relatório sobre a questão, a OMS afirma que os microplásticos não parecem representar um risco para a saúde nos níveis atuais, mas acrescenta que muito mais pesquisas são necessárias.
Estudos apropriados sobre plásticos na água só começaram a realmente ser feitos nos últimos dois anos.
Além disso, os estudos realizados não foram padronizados, com diferentes pesquisadores utilizando diferentes filtros para avaliar o número de partículas de plástico presentes em diferentes fontes de água.
“Para dizer que uma fonte de água tem mil micropartículas por litro e outro tem apenas um, poderia simplesmente depender do tamanho do filtro utilizado”, explicou Gordon.
“Estamos basicamente em um ponto em que os métodos de estudo eram bastante fracos.”
No entanto, Gordon diz que a pesquisa disponível deve ser “bastante reconfortante” para os consumidores humanos.
A OMS afirma que as evidências sugerem que todas as partículas maiores de plástico, e a maioria das menores, simplesmente passam pelo corpo sem serem absorvidas.

O que poderia ser feito?

Um tratamento apropriado das águas residuais, incluindo a remoção de conteúdo fecal e produtos químicos deve, segundo a OMS, também remover mais de 90% dos microplásticos.
É por isso que as recomendações da OMS, na esteira deste relatório, não incluem verificações de rotina para microplásticos na água.
Em vez disso, a OMS quer que fornecedores e reguladores de água potável se concentrem em “riscos conhecidos”.
“Dois bilhões de pessoas bebem água contaminada”, disse Gordon. “E isso causa um milhão de mortes por ano. Esse tem de ser o foco.”
No entanto, a OMS considera a poluição por plástico um problema urgente. Aconselha reduzir o uso de plásticos sempre que possível e melhorar os programas de reciclagem.

Quão limitada é a pesquisa?

A principal mensagem deste relatório inicial é realmente o quanto não sabemos sobre as consequências da poluição plástica.
Alguns estudos indicam que a água engarrafada contém mais microplásticos que a água da torneira, mas não está claro o motivo. Pode ser uma fonte de água contaminada, mas também podem ser causado pelos polímeros plásticos usados ​​para fazer as garrafas e tampas.
E embora as evidências disponíveis sugiram que os riscos à saúde associados à ingestão de microplásticos e os produtos químicos associados a eles sejam mínimos, os estudos até agora contêm lacunas de dados significativas, que precisam ser corrigidas em pesquisas futuras, de acordo com a coautora do relatório Jennifer de France.
“Precisamos saber o número de partículas que foram detectadas, o tamanho dessas partículas, as formas, bem como sua composição química”, diz ela.
Portanto, este relatório sobre as consequências dos microplásticos para a saúde provavelmente será o primeiro de muitos. Isso porque os microplásticos estão presentes não apenas na água, mas também no ar e em nossos alimentos.
Nos próximos anos, a OMS deseja fazer um estudo analisando o que essa “exposição ambiental total” significa para nossa saúde também.
Fonte: BBC

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Incêndios florestais estão cada vez mais intensos — até mesmo para animais adaptados ao fogo.

PENSE NAS FLORESTAS de coníferas do oeste norte-americano e você provavelmente imaginará árvores altas, o chão da floresta coberto de folhas de pinheiro e pinhas, ursos-negros, onças-pardas, sapos coaxando e pássaros-azuis-da-montanha. Incêndios florestais naturais também devem fazer parte do cenário imaginado. Ao longo de milhões de anos, as florestas do oeste da América do Norte se adaptaram às queimadas rotineiras causadas por raios, permitindo a manutenção de uma variedade de plantas antigas, de meia-idade e jovens, que sustentam uma enorme quantidade de espécies animais.

Muitos dos animais que formam seus lares nessas florestas dependem do distúrbio causado pelas chamas — ou pelo menos conseguem tolerá-lo. Um deles é o pica-pau-de-dorso-preto, que há décadas é considerado um ótimo exemplo de uma espécie que requer áreas queimadas para sobreviver. Ele se alimenta principalmente das larvas de besouros que colonizam árvores mortas e em decomposição após os incêndios florestais e abre buracos em árvores mortas para fazer seus ninhos.
E, embora essa espécie realmente dependa de áreas queimadas, o que ela realmente precisa é de pirodiversidade — um mosaico de áreas queimadas e não queimadas. Em um estudo publicado em 6 de agosto na revista científica The Condor, os pesquisadores estudaram como os habitats afetam a escolha dos locais de nidificação dos pica-paus. Eles observaram que os pica-paus-de-dorso-preto preferem fazer ninhos ao longo do limite de áreas queimadas, a cerca de 500 metros de áreas com árvores vivas e preservadas.
“Estamos descobrindo que a pirodiversidade é um componente realmente importante do habitat dos animais silvestres após um incêndio”, diz o autor principal do estudo, Andrew Stillman, estudante de pós-graduação em ecologia e biologia evolutiva da Universidade de Connecticut. Embora os incêndios florestais estejam se tornando cada vez mais comuns, a pirodiversidade é menor porque os incêndios estão mais intensos e maiores do que costumavam ser, resultando em uma zona de queima mais homogênea. Stillman diz que compreender os impactos ecológicos desses novos tipos de incêndios florestais é primordial para ajudar na recuperação dos animais após as queimadas e ajudar os proprietários de terras a equilibrar as demandas da vida selvagem e dos seres humanos.

Incêndios mais intensos que se propagam mais rápido

Os padrões de queima florestal mudaram consideravelmente nos últimos anos. Além dos incêndios naturais, as florestas também precisam enfrentar incêndios iniciados pelo homem, de forma intencional e acidental. E devido a mais de um século de práticas que visam a evitar incêndios, muitas florestas agora contêm enormes reservas de combustível não queimado. Isso significa que quando ocorrem incêndios, eles tendem a ser mais intensos e a durar mais, além de fazer com que a propagação ocorra mais rapidamente.
“Será difícil encontrar um cientista que diga que a supressão de incêndios, do jeito que foi realizada, é uma coisa boa”, diz Gavin Jones, ecologista da vida selvagem da Universidade da Flórida, que não participou do estudo. Quando os incêndios florestais seguem o seu curso, a floresta se regenera naturalmente, proporcionando habitat para espécies como pica-paus-de-dorso-preto e veados-mulas, que gostam de procurar alimento em meio à rebrota de plantas após um incêndio.
Acrescente secas prolongadas e verões mais longos e mais quentes — ambos consequências das mudanças climáticas — e temos uma receita para um tipo de queimada muito diferente daquele ao qual o ecossistema se adaptou. Até mesmo para espécies adaptadas ao fogo, como o pica-pau-de-dorso-preto, esses novos incêndios podem se tornar muito frequentes e muito severos — embora, pelo menos por enquanto, a sobrevivência dos filhotes não pareça estar sendo gravemente afetada, segundo o estudo.

Cobertura florestal

Os pesquisadores acreditam que ao fazerem ninho próximo ao limite da floresta queimada, os pica-paus-de-dorso-preto estejam garantindo a possibilidade de vigiar seus filhotes depois que eles aprendem a voar.
Os pais usam as áreas queimadas porque podem encontrar, em madeiras mortas e queimadas, as larvas de besouros que tanto adoram comer. “Mas os filhotes, assim que saem do ninho, vão direto a áreas [com queimadas] de baixa intensidade”, diz Stillman. Ele suspeita que a cobertura extra oferecida pelos densos dosséis florestais os ajuda a evitar a predação por aves de rapina durante um dos períodos mais vulneráveis de suas vidas.
Jones diz que essas descobertas “conferem algumas nuances importantes ao conhecimento que temos sobre o habitat do pica-pau-de-dorso-preto e nos oferecem a possibilidade de descobrir o que deve ser feito em áreas afetadas por incêndios para alcançar múltiplos objetivos, que às vezes competem uns com os outros”.
De fato, Stillman ressalta que os proprietários de terras podem usar essas informações para equilibrar as necessidades de espécies adaptadas ao fogo, incluindo os pica-paus-de-dorso-preto, com atividades pós-incêndio, como a extração de madeiras não afetadas.
Fonte: National Geographic

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Rondônia por um dia: aumento de queimadas muda cor da tarde de São Paulo.

Assim Josélia Pegorim, meteorologista do Climatempo, resume a segunda-feira, dia 19, marcada, para os moradores de diversas partes do Estado de São Paulo, inclusive a capital, por um céu amarelado e repleto de nuvens. Por volta das 15h, o céu se mostrava tão escuro que, para alguns, já parecia noite.

A comparação do Estado do Sudeste com o do Norte tem um denominador comum: a fumaça proveniente de queimadas, intensificadas no país entre julho e setembro. As partículas geradas por estes incêndios explicam a cor amarelada, de tons de cinza e ocre, vista em São Paulo – não só na Grande São Paulo, como em pontos do litoral e dos Vales do Ribeira e Paraíba.
Já a escuridão, segundo meteorologistas consultados pela BBC News Brasil, está associada também à própria frente fria que fechou o tempo para os paulistas.
Enquanto isso, como exemplificou Pegorim, os moradores de Rondônia estão habituados a ver e a sentir os efeitos das queimadas, muitas vezes associadas ao desmatamento. Segundo dados de satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Estado é o quinto no país que mais teve focos de incêndio este ano: 5.533. Nos primeiros lugares, estão Mato Grosso (13.682); Pará (9.487); Amazonas (7.003); e Tocantins (5.751).
Dados do Inpe mostram ainda que o número de focos no Brasil este ano (do primeiro dia de janeiro a 19 de agosto), 72.843, já é 83% maior que no ano passado. Os maiores crescimentos de 2018 para 2019 estiveram no Mato Grosso do Sul (+256%); Pará (+199%); Acre (+196%); e Rondônia (+190%).
A fuligem associada à baixa umidade deste período do ano é um cenário de alerta para a saúde da população e também para o transporte aéreo – no último dia 16, um voo da Latam precisou desviar da fumaça que rondava a capital rondoniense, pousando em Manaus (AM) em vez de Porto Velho (RO).
Mas especialistas defendem que as condições climáticas da época de seca favorecem os focos de incêndio, mas que o determinante para um aumento seria a ação humana, como na imprudência de jogar fora uma bituca de cigarro ao ato intencional de usar o fogo para desmatar ou se livrar do lixo.
Pegorim diz que nos últimos dias, foi possível observar através de satélites grandes incêndios ocorrendo nos Estados do Acre e Rondônia e nos países vizinhos Bolívia e Paraguai.
“No fim da semana passada, principalmente na sexta-feira (16), dava pra ver nitidamente uma pluma de fumaça descendo em direção ao Sul do Brasil. O fluxo dos ventos virou de tal forma que trouxe a fumaça, mas isso não estava previsto”, explicou por telefone à BBC News Brasil.
Segundo a meteorologista, no fim de semana, a fumaça chegou ao Rio Grande do Sul, subindo depois para o Paraná e Mato Grosso do Sul e, então, São Paulo.
Já Marcelo Celutti, meteorologista no Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), é cauteloso ao precisar a origem da fumaça que chegou ao território paulista – ele destaca que há focos por “toda parte” do país, inclusive da própria São Paulo, apesar de concordar que as partículas que visitaram o Estado devem ter vindo do interior do país e de países vizinhos.
“Muito provavelmente teve a influência também do fenômeno da inversão térmica, bem típico em São Paulo e nessa época do ano. É como ter uma panela com água fervendo e colocar uma tampa: fica tudo retido embaixo dela. Se você tem fumaça, ela não se dispersa para o alto, mas fica confinada em uma camada de 2 km, a parte mais baixa da atmosfera”.
A nebulosidade, causa da “noite” precoce no Estado do Sudeste, foi por sua vez resultado da combinação de uma massa de ar polar com ventos úmidos vindos do mar.
“A escuridão tem mais a ver com o tipo de nuvens, muito baixas e pesadas, e com o final da tarde, já que nessa época do ano anoitece mais cedo”, explica Celutti.
Fonte: BBC

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Más notícias para o clima: julho foi o mês mais quente já registrado na Terra.

A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA afirmou que julho de 2019 foi o mês mais quente que o planeta já viu desde que os registros de temperatura global começaram a ser computados, em 1880. Ou seja, estamos falando de 140 anos de dados.

“A temperatura média global em julho foi 0,95 graus Celsius acima da média do século XX de 15,8 graus Celsius, tornando-o o mês mais quente de julho no registro”, disse a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica em comunicado.
O antigo recordista era o mês de julho de 2016, apenas 0,03 graus Celsius mais frio que julho de 2019.

Médias globais

Mês que inaugura o verão no hemisfério norte, este ano julho trouxe uma onda de calor pela Europa.
Além disso, a Groelândia sofreu grandes derretimentos e a cobertura de gelo dos polos Ártico Antártico atingiram recordes negativos.
As médias de temperatura mais incomuns foram vistas no Alasca, no oeste do Canadá e no centro da Rússia, locais que viram temperaturas cerca de 2 graus Celsius acima da média.
O mapa abaixo mostra a situação da temperatura no mundo no mês passado: azul escuro é recorde de temperatura mais baixa; azul, muito mais frio que a média; azul claro, mais frio que a média; branco, na média; vermelho claro, mais quente do que a média; vermelho, muito mais quente que a média; e vermelho escuro, temperatura mais alta já registrada naquela localidade.

Ações urgentes precisam ser tomadas

Infelizmente, esses números mostram que os governos não estão fazendo o seu máximo para controlar a mudança climática.
Ano passado, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) afirmou ser crucial impedir que as temperaturas globais subissem mais do que 1,5 graus Celsius em relação à média.
“Uma das principais mensagens deste relatório é que já estamos vendo as consequências do aquecimento global através de condições meteorológicas extremas, aumento do nível do mar e diminuição do gelo marinho do Ártico, entre outras mudanças”, explicou Panmao Zhai, do IPCC, na ocasião do lançamento do relatório em 2018.
Já estamos em desvantagem; agora, o que nos resta é fazermos a nossa parte pelo planeta, e cobrar nossos governantes para fazerem as deles, também. [Cnet, LiveScience]
Fonte: Hypescience