quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Desmatamento: Amazonia perdeu 20% e Cerrado, 50%, desde 1970, aponta relatório do WWF.

Desmatamento da Amazônia, em foto de 2007; floresta brasileira perdeu 20% de sua área desde 1970
O Fundo Mundial para a Natureza (WWF, da sigla em inglês), ONG de defesa do meio ambiente, acaba de divulgar a versão 2018 do seu relatório Planeta Vivo. E as conclusões não são nada boas, principalmente para o Brasil.
A análise, feita por 50 pesquisadores em todo o mundo com base em pesquisas de 19 organizações, apontou para um desmatamento intenso, que reduziu, de 1970 para cá, 20% da Floresta Amazônica e 50% do Cerrado, biomas bastante representativos do país.
A redução das áreas verdes acaba trazendo uma implicação direta na vida de espécies, aumentando ainda mais a lista daquelas que estão ameaçadas de extinção.
O relatório atual, que traz um cenário desolador, confirma uma curva de desgaste ambiental que vem se acentuando nos últimos anos.
A WWF divulga o relatório a cada dois anos. Nesta edição, o levantamento cita animais brasileiros entre os ameaçados em função dessa perda de ambiente natural. Na lista estão a jandaia-amarela (Aratinga solstitialis), o tatu-bola (Tolipeutes tricinctus), o uacari (Cacajao hosomi), o boto (Inia geoffrensis) e o muriqui-do sul (Brachyteles aracnoides).
No caso dos botos, a exploração é tida como involuntária: os animais acabam sendo presos em redes de pesca, mesmo não sendo alvo de pesca predatória.
De acordo com a WWF, que monitora, desde 1970, 16.704 populações animais, declínio de populações de vertebrados no período em todo o mundo é de 60% – mamíferos, peixes, aves, répteis e anfíbios. De lá para cá, houve um declínio de 83% das populações de água doce. No caso dos mamíferos, a redução total foi de 22%.
Para efeitos comparativos, entre 1970 e 2010, esse declínio foi de 52%. Ou seja: não estamos conseguindo conter o estrago, quanto menos recuperá-lo. Um dos exemplos mais críticos trazidos pelo relatório é a população de elefantes na Tanzânia, que reduziu em 86% desde os anos 1970.
Para se recuperar sozinha do estrago causado pela humanidade, a natureza precisaria de 6 milhões de anos, diz o documento.
Nos trópicos, principalmente nas Américas Central e do Sul, a deterioração do ecossistema é ainda mais grave – com redução de 89% dessas populações.
A região entre os trópicos é onde está a maior parte da vida do planeta, justamente por conta da questão climática. Ao mesmo tempo, é nesta faixa onde estão também as maiores áreas de uso de solo e dos recursos naturais – as áreas cultivadas para a produção de alimentos.
Amazônia perdeu 50 mil km² de terra nos últimos 7 anos
O desmatamento para o uso intenso da terra tem afetado drasticamente os ecossistemas do planeta.
Segundo a WWF, a taxa de extinção das espécies hoje – número que indica o risco de desaparecimento das mesmas – é de 100 a 1.000 vezes maior do que era antes de as atividades humanas começarem a alterar a biologia e a química do planeta.
Isso significa que a Terra vive seu sexto processo de extinção em massa nos últimos 500 milhões de anos. Desta vez, o culpado é uma espécie que habita o planeta – nós, os humanos.
“Preservar a natureza não é apenas proteger os tigres, pandas, baleias e animais que apreciamos. É muito mais: não pode haver um futuro saudável e próspero para os homens em um planeta com o clima desestabilizado, os oceanos sujos, os solos degradados e as matas vazias, um planeta despojado de sua biodiversidade”, declarou o diretor-geral da WWF, Marco Lambertini.

Ambientes brasileiros

Em junho, dados divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente indicavam que a devastação do Cerrado, a savana brasileira, era 60% a mais do que a perda na Amazônia nos últimos sete anos.
No total, foram 80 mil km² de terras devastadas, contra 50 mil km² da Amazônia.
A região do Cerrado é onde mais se expande o agronegócio brasileiro. Em coletiva de imprensa realizada em junho, o pesquisador Claudio Almeida, responsável por divulgar os dados, ressaltou que na parte mais ao norte do bioma, em especial nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, foi observada a maior incidência do desmatamento nos últimos anos – os Estados respondem por 62% do total perdido.
E é justamente essa região apontada como a nova fronteira do agronegócio brasileiro – dedicada sobretudo à produção de soja, óleo de palma e criação de gado.
Os números são do monitoramento chamado Prodes do Cerrado, feito por satélite pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Quando os dados foram divulgados, o Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia divulgou nota afirmando que a “savana consolida-se como o bioma mais ameaçado do Brasil atualmente”.
O desmatamento ocorrido no Brasil tem afetado, de acordo com o WWF, não só a vida dos animais. Mas também a oferta de água doce – o que ajuda a explicar as recorrentes crises hídricas que têm ocorrido, como a que deixou em risco o abastecimento da região Sudeste nos últimos anos.
Isto porque as regiões mais afetadas, onde estão Cerrado e Amazônia, são justamente as que abrigam os principais mananciais da malha hidrográfica brasileira.
De acordo com as metas da convenção da Organização das Nações Unidas para a biodiversidade, pelo menos 17% dos ecossistemas de cada país precisariam estar em áreas protegidas para a conservação.
O Brasil, país que tem a maior biodiversidade do planeta, está distante desse número. Apenas 8% do cerrado está protegido. No Pantanal, apenas 2% das áreas estão protegidas.

Planeta

O relatório mostra que três quartos do planeta já foi impactado pela ação humana. Há uma projeção que, em 2050, apenas 10% da Terra esteja livre da interferência humana.
O WWF aponta que os seres humanos já ultrapassaram os limites de segurança quanto às mudanças climáticas e níveis de interferência no sistema terrestre. Integridade da biosfera e fluxos biogeoquímicos de fósforo e nitrogênio também já sofreram interferências humanas tidas como irreversíveis – sobretudo por conta do uso de fertilizantes na agricultura e do manejo da pecuária intensiva.
Segundo o texto, isto representa um declínio acentuado da “saúde da planetária”, da “natureza” e da “biodiversidade”. “Prejudicando a saúde o bem-estar das pessoas, espécies, sociedades e economias em todos os lugares”, ressalta.
A organização emitiu um alerta vermelho para a degradação do solo e ressaltou que está perto de fazer o mesmo em relação à acidificação das reservas de água doce e dos oceanos.
Uma possível solução apontada para tentar reduzir esses estragos seria o emprego mais eficiente de tecnologias já disponíveis para a produção de alimentos. Embora tenha havido avanços por conta dos equipamentos e técnicas mais modernas, a WWF acredita que as melhorias cresceram de forma menor do que o potencial de dano.
A pegada ecológica do homem, conclui o relatório, está hoje três vezes mais degradante do que era em 1970.
Um exemplo está no desperdício. Atualmente, cerca de 40% do que é produzido acaba sendo descartado por conta de falhas no processo de produção, transporte e mesmo dentro das residências.
O relatório frisa que é preciso “elevar o nível de alerta” para provocar um amplo e consciente movimento, chamando a atenção “suficiente dos líderes mundiais”.
Segundo a ONG, é preciso uma ação consistente antes de 2020, porque, ao contrário, “uma porta sem precedentes se fechará rapidamente”.
“Somos a primeira geração que tem uma visão clara do valor da natureza e do nosso impacto nela. Poderemos também ser a última capaz de inverter esta tendência”, adverte o relatório.
Fonte: BBC

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Por que filhotes de leão estão ‘surgindo’ em plena Europa?

Este filhote de leão foi encontrado abandonado em cidade na Holanda recentemente
Policiais estão acostumados a encontrar pessoas escondidas em locais incomuns por razões estranhas. Mas uma situação assim deixou policiais de Paris, na França, surpresos na última semana.
Um homem de 30 anos foi achado dentro do armário da casa de um vizinho enquanto, ao mesmo tempo, um filhote de leão estava sentado em uma cama próxima.
O homem foi preso, e o animal, após ser verificado que estava bem, foi entregue às autoridades responsáveis.
A polícia também achou outro filhote em um apartamento vazio na cidade no ano passado.
Também neste mês, uma pessoa corria em uma área descampada em Utrecht, na Holanda, quando encontrou um leão de quatro meses de idade abandonado dentro de uma jaula.
O que está acontecendo? A BBC consultou especialistas em comércio de vida selvagem pra descobrir.

De onde vêm estes filhotes?

É improvável que filhotes de leão mantidos ilegalmente na Europa tenham nascido na natureza, dizem autoridades.
“Há uma boa chance de terem nascido em cativeiro na Europa”, diz Lois Lelanchon, especialista em comércio ilegal de vida selvagem da ONG Fundo Internacional para Bem-Estar Animal.
“Eles podem pertencer a proprietários privados ou serem de criadores irresponsáveis, de zoológicos não certificados ou de circos inescrupulosos.”

 Este filhote de leão foi levado ilegalmente para a Turquia neste ano
Lelanchon explica que seria muito arriscado tentar contrabandear um animal da África ou da Ásia, porque esse tipo de comércio é bastante regulado e autoridades de fronteira são bem treinadas.
Mas isso não é impossível, e algumas pessoas já tentaram anteriormente passar pela segurança de aeroportos com felinos escondidos.
Richard Thomas, da rede de monitoramento de comércio de vida selvagem, concorda que os leões descobertos recentemente foram “quase certamente criados em cativeiro”, mas isso não exclui a possibilidade de eles terem sido contrabandeados do exterior.
“É uma questão de evitar ser detectado ou capturado por quaisquer meios que o contrabandeador tenha disponíveis”, diz ele.
“Talvez seja o caso de o animal passar despercebido ou de uma autoridade ser incentivada a fazer vista grossa.”

Quem está comprando os filhotes?

Pessoas com uma quantia razoável de dinheiro disponível.
O suspeito do caso em Paris nesta semana supostamente tentou vender o animal por 10 mil euros (R$ 41,65 mil) pelas redes sociais.
“(O comprador) é provavelmente alguém que pensa que ser dono de um leão lhe faz sentir poderoso e invencível”, diz Thomas.
“Alguns donos destes animais são ricos e se consideram acima da lei ou são figurões do submundo do crime.”
Este parece ter sido o caso quando, em 2009, a polícia italiana apreendeu um crocodilo que pertenceria a um chefe da máfia.
Thomas sugere que indústria cinematográfica pode ter um papel na glamourização de animais exóticos. “Pense em Al Pacino com seu tigre em Scarface ou o vilão de 007 – Operação Skyfall com seu dragão de Komodo”, diz ele.
Lelanchon diz que a ignorância pura e simples é outra razão pela qual pessoas compram filhotes de grandes felinos.
“Pensam que filhotes de leão são muito exóticos, bonitos, legais, diferentes, mas não levam em conta o bem-estar do animal e as questões de segurança envolvidas em ter um.”

Por que isso é uma má ideia?

Bem, para começar, isso é perigoso para os animais.
“Ao contrário de cães, estes animais não foram domesticados por séculos de criação em cativeiro. É bastante improvável que eles se tornem domesticados ao crescerem, mesmo se criados por humanos desde cedo”, diz Thomas.
“Animais selvagens continuam selvagens e podem ser perigosos, podem colocar seus donos e outras pessoas em torno deles em perigo, especialmente se fugirem.”
E eles podem escapar. Em 2011, a polícia de Ohio, nos Estados Unidos, matou ursos, lobos, tigres e leões depois de eles fugirem de um zoológico privado.
Outro fator a ser levado em consideração é o bem-estar e as necessidades de grandes felinos.
“A maioria dos donos de animais assim não consegue garantir seu bem-estar. Leões não comem ração de cachorro, e precisam de uma área muito grande para se exercitarem”, diz Lelanchon.
“Na maioria dos casos, isso não acaba bem.”

O que acontece quando estes animais são descobertos?

É bastante provável que donos de grandes felinos os abandonem quando eles cresçam e se torne impossível mantê-los, diz Thomas.
Ele cita o exemplo recente da Holanda e diz que foi provavelmente o que ocorreu ali.
Em outros casos, o animal pode ser entregue voluntariamente às autoridades, mas Lelanchon diz que isso é menos comum, porque a pessoa provavelmente será indiciada criminalmente.
Se a polícia encontra um filhote, sua prioridade é verificar seu estado de saúde. “Quando é confiscado, ele passa por exames veterinários para ver em que estado está e buscar por sinais de crueldade”, afirma Lelanchon.
“Se está bem, o próximo passo é buscar um lugar para abrigá-lo. Isso pode ser um centro de cuidados de vida selvagem, um zoológico ou um santuário.”
Quando um local adequado é encontrado, o animal pode ganhar um novo lar. Foi o que aconteceu com o filhote de leão achado em um apartamento vazio em Paris no ano passado.
Ele foi levado para uma reserva na África do Sul – pelo menos neste caso, a história teve um final feliz.
Fonte: BBC 

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Após 85 anos, pesquisadores descobrem nova espécie de crocodilo.

CROCODILOS-DE-FOCINHO-DELGADO NÃO SÃO APENAS UMA, MAS DUAS ESPÉCIES DIFERENTES DE RÉPTIL. (FOTO: DIVULGAÇÃO / INATURALIST.ORG)
Depois de 85 anos sem grandes novidades na família dos Crocodylidae, pesquisadores estava estudando uma espécie ameaçada de extinção, os crocodilos-de-focinho-delgado, que vivem em habitats de água doce na África Central e Ocidental, quando descobriram que não se tratava de uma espécie, mas duas.
Quando os cientistas analisaram o DNA e as características físicas dos crocodilos na natureza e em cativeiro em seis países africanos, encontraram duas espécies distintas. Os cientistas estimam que apenas 10% dos crocodilos-de-focinho-delgado ocorrem na África Ocidental, diminuindo efetivamente sua população em 90%.
Descritos pela primeira vez em 1824, os crocodilos-de-focinho-delgado vivem em áreas muito remotas e têm pouca interação com as pessoas. A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) os listou como “Criticamente Ameaçados” em 2014.
“Reconhecer o crocodilo de focinho fino como na verdade é composto por duas espécies diferentes é motivo de grande preocupação com a conservação”, disse Matthew Shirley, especialista do Instituto de Conservação Tropical da Universidade Internacional da Flórida e principal pesquisador da equipe. “Isso faz com que o crocodilo de focinho fino da África Ocidental seja uma das espécies de crocodilos mais criticamente ameaçadas do mundo.”
Eles se camuflam para caçar e buscam refúgio de predadores em potencial em corpos de água altamente vegetados. Também são incrivelmente tímidos, o que significa que encontrar crocodilos para examinar e coletar amostras de DNA na natureza tem sido um desafio. A ameaça se dá pela perda de habitat, caça e pesca excessiva – o que diminui seu suprimento de comida e os leva a se afogar em redes.
O futuro do crocodilo-de-focinho-delgado da África Ocidental provavelmente dependerá do sucesso dos programas de reprodução e reintrodução em cativeiro, de acordo com os pesquisadores.”Esperamos que este melhor entendimento da evolução e da taxonomia dos focinhos delineados atraia a atenção necessária para a situação desta espécie, que há muito tempo é reconhecida como o crocodiliano menos conhecido do mundo”, disse Shirley.
Fonte: Revista Galileu

sábado, 27 de outubro de 2018

Por que Pando, um dos maiores organismos vivos do mundo, está morrendo.

Nem elefante, nem baleia – o maior organismo vivo do mundo, na visão de alguns cientistas, é o bosque Pando
Para o visitante desprevenido, Pando não passa de um bonito bosque composto por árvores de álamo. Ele é, porém, mais que isso: alguns cientistas consideram-no o maior e mais pesado organismo vivo do mundo.
Ele fica perto do lago Fish, em Utah, nos Estados Unidos. Estima-se que tenha 14 mil anos, e sua área chega a 43 hectares (algo como 43 campos de futebol).
Mas o que explica esse rótulo de maior “organismo vivo”?
“Na realidade, todas as árvores são apenas uma”, explica Paulo Rogers, geólogo e professor do Departamento de Ecologia da Universidade Estadual de Utah.
Pando, que significa “eu me espalhei” em latim, também é conhecido como “o bosque de uma única árvore”.

Uma árvore clonada

Os álamos podem viver entre 100 e 130 anos
Os bosques de álamo se reproduzem de duas maneiras. Uma delas ocorre quando uma árvore madura deixa cair suas sementes, que acabam por germinar.
A outra, mais comum, acontece quando elas liberam os brotos de suas raízes, dos quais nascem novas árvores – essas são chamadas de clones.
Pando não é o único bosque “clone”, mas é o mais extenso. Estima-se que o organismo pese cerca de 13 milhões de toneladas.

Por que ele está morrendo?

O geólogo Paul Rogers publicou um estudo que aponta que, nos últimos 40 anos, Pando parou de crescer e teve seu tamanho reduzido. Algumas imagens aéreas do local mostram zonas em que não há mais árvores.
Rogers não tem uma estimativa sobre a velocidade da redução de Pando, mas, segundo ele, nos próximos 10 anos o tamanho do bosque terá diminuído “significativamente”.
Normalmente, os álamos vivem entre 100 e 130 anos. O problema é que eles estão morrendo sem que uma nova geração de árvores surja.
“É como se fosse uma cidade de 47 mil habitantes e todos tivessem 85 anos”, diz Rogers.
Segundo sua pesquisa, a principal causa de Pando não conseguir se expandir é que a área concentrou um grande número de cervos e vacas que comem os brotos antes que eles consigam crescer.
“Devemos começar a reduzir o número de animais que comem as árvores”, diz o pesquisador. “Se o bosque morrer, todas as espécies que dependem dele vão desaparecer também.”

Ele pode sobreviver?

Para Rogers, a solução para Pando seria aumentar as cercas que protegem algumas áreas do bosque, bem como trabalhar com os agricultores para ajudar a remover as vacas da área florestal e até mesmo sacrificar alguns dos cervos.
A ideia, segundo o geólogo, seria dar um “descanso” para Pando se recuperar.
“À primeira vista, é um simples bosque, mas, quando você descobre que é apenas um organismo, você se sente incrível por estar aqui”, diz. “Aprender sobre Pando nos ajuda a aprender a viver em nossa Terra.”
Fonte: BBC

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Pesquisador luta para que as ilhas de Kiribati não sejam extintas.

O PROFESSOR MICHAEL ROMAN (À DIREITA) LUTA PELA PRESERVAÇÃO DO KIRIBATI (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Areia branca, mar turquesa. As praias paradisíacas de Kiribati, um conjunto de 33 ilhas e atóis no Oceano Pacífico, parecem ser um sinônimo de paz e tranquilidade. O problema é que esse paraíso natural poderá desaparecerpor completo caso a temperatura do planeta avance dois graus Celsius até 
O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado no início de outubro, afirma que se as emissões de gases de efeito estufa continuarem da forma como estão hoje, a Terra chegará em 2040 com aquecimento de 1,5 graus. Mas, se as emissões forem cortadas em 45% em 2030 e zerarem em 2050, a meta poderá ser cumprida, o que não significa que cada grau adicionado à temperatura global não provoque impactos. Hoje, os I-kiribati, a forma como são conhecidos os moradores desse país que obteve a independência do Reino Unido em 1979, já estão sentindo de forma intensa o que uns poucos graus a mais na temperatura são capazes de promover no ambiente.
Kiribati tem no pesquisador norte-americano Michael Roman, professor da Universidade de Cincinnati (EUA), um de seus principais defensores. Em 2000, Roman foi voluntário na agência  Peace Corps, trabalhando no país por dois anos. Retornou várias vezes a Kiribati nos últimos 18 anos, seja como voluntário em campanhas de prevenção à AIDS, ou como membro adotado de uma família local. No último dia 6 de outubro, antes da divulgação do relatório do IPCC na Coreia do Sul, Roman defendeu apoio internacional ao país em um TED Talk, realizado em Toledo, Ohio. “As mudanças climáticas são um dos maiores desafios morais do século 21”, afirma Roman, no início da sua apresentação.
PAISAGEM DE UMA DAS ILHAS DE KIRIBATI (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Além de ter escrito diversos artigos na imprensa dos Estados Unidos e de ter feito teses a respeito dos impactos do clima em Kiribati, Roman e seus primos criaram a comunidade Humans of Kiribati, no Facebook e Instagram, para apresentar histórias diretamente dessa ilha. É possível ver vídeo clipes do país e até mesmo o pronunciamento do presidente de Kiribati, Taneti Maamau, na última Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), pedindo para que o mundo se preocupe com o futuro dessas pequenas ilhas.
O pedido urgente de ajuda humanitária tem explicação. De acordo com Roman, as tempestades no país estão ficando cada vez mais violentas. Uma maré alta, chamada de King Tide, avança sobre casas e destrói plantações. “Nossos poços, que são nossa fonte de água fresca, estão se transformando em água salinizada e estão impróprios para beber agora. As plantações de mamão e fruta-pão estão morrendo por causa do oceano”, diz Iorita Toromon, em depoimento a Roman sobre o efeito de um ciclone em Tarawa, capital do país, em 2016. Em um período de 13 anos, Abarao Village, no sul de Tarawa, ficou praticamente inundada. “As mudanças climáticas não são algo que irão acontecer. É algo que já está acontecendo”, afirma Roman.
A população, no entanto, não pensa em sair dessas ilhas. De acordo com Roman, as pessoas têm uma estreita relação com a terra, toda a sua cosmologia social é marcada pelo espaço de seus ancestrais. E, quando morrerem, querem ser enterrados nessa mesma areia. Para dar um alívio ao povo, o ex-presidente Anote Tong comprou, em 2016, 5 mil acres de terra nas ilhas Fiji para garantir o mínimo de segurança à população de Kiribati, de 115 mil pessoas. Roman explica, no entanto, que esse espaço não é suficiente.
“E as Ilhas Fiji também são vulneráveis às mudanças climáticas”, explica Carolina de Abreu Batista Claro, professora de Direito Internacional da Universidade de Brasília (UNB) e que também já foi consultora de um projeto nos pequenos países insulares. “Temos grandes problemas quando um país compra um pedaço de terra em outro país, que não é obrigado a aceitar o estrangeiro. Transferir o domínio territorial de um país para o outro fere a soberania. É muito improvável que Fiji aceite que Kiribati exerça seu poder de Estado em seu território.”
Como Kiribati está bem no meio do Pacífico, entre Austrália e Havaí, a esperança é que os moradores possam buscar refúgio na Austrália e até na Nova Zelândia. A pesquisadora Batista Claro explica, no entanto, que esses dois países aceitam apenas vistos temporários de trabalho. E, muitas vezes, chegam até mesmo a enviar um refugiado climático para “prisões” off shore, em ilhas muito pobres do Pacífico. “A Austrália prende essas pessoas em outras ilhas. A Nova Zelândia não tem tão boa vontade. Mas esses países reagem às pressões (internacionais).”
O grande problema é que não há uma regra mundial capaz de reconhecer uma pessoa que migra em decorrência das mudanças climáticas, quando muito há proteção no caso de grandes desastres ambientais. A Convenção de Refugiados de Genebra, de 1951, entende refugiado a pessoa que foge de guerras, perseguições políticas e religiosas. O Alto Comissariado da ONU para Refugiados (UNHCR) utiliza a expressão “deslocado no contexto de desastre ou mudança climática”.
Melissa Fleming, porta-voz do UNHCR, explica que a entidade empreende esforços para ajudar os pequenos países insulares junto à “Plataforma para Deslocamentos por Desastres”, que visa implementar as ações determinadas pela agenda da chamada Iniciativa Nansen, defendida pela Suíça e Noruega para proteção dos “deslocados climáticos”.  “Endossado por mais de 100 Estados, essa agenda tem como objetivo proteger as pessoas deslocadas para além das fronteiras nacionais em um contexto de desastre ambiental ou mudança climática”, explica Fleming, em entrevista por e-mail. Por enquanto, explica Fleming, os maiores deslocamentos são feitos dentro das fronteiras dos próprios países. De acordo com a agência Internal Displacement Monitoring Center (IDMC), parceria da ONU, no ano passado foram registradas 18,8 milhões “deslocados” em razão de desastres em 135 países.
Lilian Yamamoto, pesquisadora da Rede Sul-Americana para as Migrações Ambientais (Resama), acredita que caminhos de acordos bilaterais e os discutidos no âmbito da Plataforma, mesmo que não haja obrigatoriedade de cumprimento pelos países envolvidos, são importantes para responder às necessidades dos países insulares. Uma mudança da resolução de 1951, por exemplo, poderia demorar tanto que prejudicaria todos os que precisam ser protegidos.
“Uma soft law é uma declaração de intenções, cujo não cumprimento não significa que o estado receberá sanção. Mas isso ajudaria porque, mesmo que não tenha validade jurídica internacional, pode influenciar a adoção do termo migrante ambiental na legislação doméstica dos países. Na América do Sul, por exemplo, temos a Bolívia e a o Peru que já adotaram esse termo.” Roman acredita que acordos regionais, como uma proposta feita pela Nova Zelândia no ano passado de um visto humanitário para os moradores das ilhas do Pacífico, são iniciativas maravilhosas, mas defende que seja criada uma categoria de refugiado climático. E defende: “A humanidade, não a ganância, deve conquistar os corações humanos.”
Fonte: Revista Galileu

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Projeto Tamar prevê recorde de ninhos de tartaruga em temporada de desova no ES.

A temporada de desova das tartarugas marinhas da espécie cabeçuda (Carretta carretta) já começou e a expectativa do Projeto Tamar é que haverá recorde de ninhos no Espírito Santo. Outras áreas prioritárias de desova estão localizadas nos estados da Bahia, Sergipe e litoral norte do Rio de Janeiro.

Conforme informações do Centro Tamar, do Instituto Chico Mendes (ICMBio), já houve este ano registros de ninhos ou tentativas por fêmeas na Praia da Costa, em Vila Velha, e na Ilha do Boi, em Vitória.

Tartaruga marinha da espécie cabeçuda (Carretta carretta) — Foto: Divulgação/Banco de Imagens do Projeto Tama
“Mesmo sabendo que a tartaruga marinha costuma ter uma fidelidade em relação à praia onde desova, e há predomínio no caso do Espírito Santo dessas desovas se darem no Norte do estado, especialmente na região da foz do rio Doce, pode eventualmente ocorrer das fêmeas fazerem seus ninhos em outras praias, colonizando outras praias que foram perdidas no passado pela captura das fêmeas que as frequentavam ou pela alteração do ambiente”, explicou a coordenadora regional do Projeto Tamar, Ana Marcondes.
Com isso, a coordenadora reforça a importância da participação social nesta temporada 2018-2019, que segundo ela “já está com desovas até agora acima da média”.

O que fazer se encontrar um ninho?

Ao encontrar um ninho em uma praia, acione o Projeto Tamar através do número 27 3225-3787, para que profissionais orientem os procedimentos, e façam a devida identificação do ninho.
“Após identificado é importante que a sociedade respeite esse espaço demarcado, não pisando/andando sobre a área ou mesmo colocando cadeiras de praias. Caso alguém presencie a eclosão de um ninho com filhotes, basta acionar o Tamar”, explicou a analista ambiental do Centro Tamar, Cecilia Baptistotte.
Caso um ou mais filhotes sejam encontrados na praia ou mesmo em calçada/rua, o cidadão deve colocá-lo na areia da praia próximo ao mar. Se encontrar filhotes nascendo no ninho deve deixar o processo ocorrer naturalmente, ou direcioná-los ao mar, longe de qualquer foco de luz, como a de postes e de residências, que pode desorientá-los.
Caso encontrem alguma tartaruga ou filhote debilitado, as pessoas devem entrar em contato com o Projeto Tamar ou com o Batalhão Militar da Polícia Ambiental pelo telefone 27 3636-1650, ou SOS da Petrobras pelo 0800-039-5005, que monitora as praias do estado, para que uma equipe vá ao local e efetue o resgate do animal.
Nos casos de ninhos mal posicionados por questões de risco como iluminação, por exemplo, antes era comum eles serem realocados por se tratar de área de muito uso, como uma praia predominantemente urbana. Mas segundo o Instituto, a consciência da população – de proteger esses animais – mudou significativamente, e esse apoio da sociedade que tem ajudado estas populações ameaçadas se recuperarem e re-colonizar outras praias como parece estar acontecendo.
Fonte: G1

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

China inaugura maior ponte marítima do mundo.

Megaobra de 55 quilômetros de extensão inclui trechos de estradas, três pontes, ilhas artificiais e túnel subaquático
A maior ponte marítima do mundo, que liga as cidades de Hong Kong e Macau a Zhuhai, na China continental, será inaugurada nesta terça-feira (23/10) com dois anos de atraso e envolta em polêmicas relacionadas aos altos custos e fins políticos do projeto.
A megaobra de 55 quilômetros de extensão, que compreende trechos de estrada, três pontes, ilhas artificiais e um túnel subaquático, faz parte de um ambicioso projeto para integrar economicamente 11 cidades no delta do Rio das Pérolas, incluindo as regiões administrativas especiais de Hong Kong e Macau.
Uma das ilhas artificiais construídas para acesso ao túnel subaquático de 6,7 quilômetros de extensão
Em construção desde 2009 e planejada para ser inaugurada em 2016, a ponte será aberta ao público nesta quarta-feira, no dia seguinte a uma cerimônia com a presença do presidente Xi Xinping e outras autoridades.
As três pontes da estrutura são capazes de suportar ventos de até 340 quilômetros por hora. Um túnel de 6,7 quilômetros de extensão, conectado às pontes por duas ilhas artificiais, foi construído para que não houvesse interferência nas rotas do comércio marítimo.
Apesar de ser um feito inédito de engenharia que levou quase uma década para ser concluído, a ponte é vista com indiferença por muitos em Hong Kong, não apenas em razão dos atrasos e do superfaturamento da obra, mas por ser um símbolo de integração à China continental numa cidade onde muitos preferem a autonomia.
Trecho da ponte próximo a uma das ilhas artificiais
Após 150 anos como colônia britânica, Hong Kong se vê como politica e culturalmente distante da China continental. Com o retorno da soberania chinesa sobre a região, muitos avaliam que, na última década, houve uma redução das liberdades legais e políticas.
Barreira colocada antes da abertura da ponte na travessia de fronteira no lado de Hong Kong
Opositores afirmam que a ponte é um entre vários megaprojetos iniciados pelo governo de Hong Kong para reaproximar a região autônoma e a China, que incluiriam trens de alta velocidade entre Ghangzhou e Shenzhen, na parte continental, e um museu-satélite do Museu do Palácio de Pequim, onde estão expostos artefatos da China imperial.
Os custos da construção, que chegaram a 6,4 bilhões de euros, também são alvos de críticas. Hong Kong terá de arcar com o equivalente a cerca de 1 bilhão de euros pela ponte principal, além de outros bilhões referentes aos custos das estradas de ligação e instalações de fronteira.
Trecho da ponte ainda em construção, perto de Macau
O Departamento de Transportes de Habitação de Hong Kong afirmou que os altos custos se justificam em razão de problemas imprevisíveis provenientes de “condições complicadas para a construção em alto mar, dificuldades de construção, aumento no custo dos materiais e mão de obra, além dos refinados esquemas de construção e design”.
Muitos, porém, entendem que é um custo alto demais para uma ponte que não será totalmente aberta ao público. Para atravessá-la será exigida uma habilitação especial, de acordo com a seção a ser utilizada, e muitos terão de utilizar serviços de ônibus para ir a Macau ou à China continental.
Seção da ponte ainda em construção, perto de Hong Kong
Desde o início do megaprojeto, nove trabalhadores morreram e mais de 200 ficaram feridos. Seis empresas contratadas foram multadas por colocar os trabalhadores em risco.
Fonte: Deutsche Welle