quinta-feira, 31 de maio de 2018

As dívidas de um dos maiores desastres ambientais na Espanha

Após 20 anos da tragédia de Aznalcóllar, governo cobra parte do dinheiro gastado na recuperação da área contaminada à empresa responsável pela represa. Ecologistas alertam para possíveis novos casos similares

Uma enorme represa de lodos tóxicos se rompeu, no dia 25 de abril de 1998, afetando o entorno do Parque Natural de Doñana, em Sevilha, na região sul da Espanha. A represa conservava os resíduos de minério extarído pela multinacional sueca Boliden Apirsa, que até hoje não pagou parte do dinheiro gastado pelo governo para a recuperação da zona.
De acordo com o porta-voz do governo de Andaluzia, Juan Carlos Blanco, o investimento de 163 milhões de euros conseguiu recuperar as áreas atingidas e fazer da zona um “corredor verde”. Mas parte deste valor, equivalente a 89 milhões, deveria ser pago pela empresa.
Após a quebra da barragem, um comitê formado por 90 pessoas especialistas se reuniu para analisar o desastre e uma possibilidade de manejo das áreas atingidas. Os especialistas viram que tanto os representantes do governo, como a empresa construtora da barragem, tinham responsabilidade sobre a tragédia.
A ação é considerada hoje uma das maiores limpezas de solo contaminado realizados na Comunidade Europeia, segundo Miguel Ferrer, delegado do Conselho Superior de Investigação Científica (CSIC) da Andaluzia. Durou dois anos e meio, e mostra resultados muito bons. Segundo o órgão dependente do CSIC, o Instituto de Recursos Naturais e Agrobiologia, 62 quilômetros contaminados do rio Guadiamar foram manejados corretamente.
Mas o desastre atingiu diversas zonas de cultivo, e afetaram a atividade mineira e econômica da cidade de Aznalcóllar. Algumas plantações deveriam esperar 50 anos para que pudessem ser cultivadas novamente.
Porém, serviu de lição? Ambientalistas de organizações como o GreenpeaceWWF, Amigos de la Tierra, entre outras, alertam para possíveis novas catástrofes mineiras na região. Num evento que relembrou os 20 anos do ocorrido, representantes destas organizações destacaram que há riscos similares de desabamento de barragem, e citaram as Minas de Riotinto, em Huelva.
Os muros estão suportando uma carga maior do que pode ser o suportado. “Os vertidos se produzem próximo aos muros de fechamento da barragem. A acumulação de líquido, unido a fortes chuvas recentes, produz efeitos de subsidência que poderia danificar a base destes muros”, afirmou Paco Segura, da Ecologistas en Acción.
FUNIBER recomenta o Mestrado em Gestão e Auditorias Ambientais para os profissionais interessados em atuar a favor do desenvolvimento sustentável, através de estratégias específicas para a conservação ambiental.
Fontes:
20 años después de Aznalcóllar, se mantiene el peligro de las balsas mineras
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quarta-feira, 30 de maio de 2018

Seca ameaça agricultura irrigada na divisa da Bahia e Pernambuco.

O semiárido nordestino está enfrentando uma das maiores secas de sua história. O problema não é generalizado, mas em algumas regiões, chove pouco há anos. É o caso do Vale do Rio São Francisco. O nível da grande barragem de Sobradinho é crítico.

Seis anos consecutivos com chuva abaixo da média. Na região do Vale do rio São Francisco, entre os estados da Bahia e Pernambuco, a média de chuva gira em torno de 500 milímetros. Em 2017 foram só 140 milímetros. A estação regular das águas na região terminou em maio e só deve recomeçar no final do ano. Como a caatinga não se regenerou totalmente, os criadores vão ter dificuldade para alimentar seus rebanhos.

A grande preocupação é com água. A chuva foi tão pouca que os açudes e barreiros não encheram. A solução é comprar água de carro-pipa. Um poço da região está quebrado e os moradores não têm dinheiro para consertar.
O problema da água é grave. Na divisa entre Bahia e Pernambuco, o logo da Usina Hidrelétrica de Sobradinho, principal reserva de água da região, que além de produzir energia, abastece vários projetos de irrigação. Sobradinho também corre risco porque a temporada de chuva acabou e o reservatório só atingiu 15% da capacidade total. Na mesma época do ano passado, o reservatório estava com quase 27% da capacidade.
Até a metade de junho, entravam no lago 500 metros cúbicos de água por segundo e saíam 700 metros cúbicos. Desde a semana passada, o operador nacional do sistema elétrico em conjunto com a Agência Nacional de Águas e os representantes dos usuários, decidiram reduzir a vazão para 600 metros cúbicos por segundo. Novas medidas podem ser tomadas nos próximos meses.
“O acompanhamento que é feito pela sala de situação, semanalmente para justamente adotar as medidas necessárias e as estratégias necessárias para assegurar os diversos usos que a bacia do Rio São Francisco proporciona”, explica a Kênia Marcelino, presidente da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco).
Com tantas pessoas usando a mesma água, o lago de Sobradinho pode assumir seu volume morto entre setembro e outubro, o que dificulta a captação do sistema.
Quem precisa da água de Sobradinho vive dias de muita apreensão e teme que o fornecimento de água seja racionado.
Essa semana a ANA (Agência Nacional de Águas) determinou que fica proibida a captação de água em Sobradinho todas às quartas-feiras, para qualquer fim que não seja o abastecimento humano e de animais. A determinação vale até 30 de novembro.
Mais de 70% da água do Rio São Francisco vêm da região do cerrado, principalmente de Minas Gerais, onde já começou o período normal de estiagem.

terça-feira, 29 de maio de 2018

Estes pescadores indianos estão transformando plástico do mar em estradas.

Um pescador em Kerala, Índia, conserta redes na praia. A poluição plástica pode danificar obstruir as redes, mas agora os pescadores estão reagindo.
FOTO DE FRANK BIENEWALD, GETTY IMAGES.
KOLLAM, íNDIA. Kadalamma—Mar Mãe—é como Xavier Peter chama o Mar Arábico. Sua própria mãe lhe deu vida, mas Kadalamma deu-lhe um propósito, um meio de vida. Ela forneceu sustento para ele, oferecendo peixe o suficiente para alimentar sua família e vender no mercado. E ela o protegeu, poupando-o três vezes de ciclones e uma vez de um tsunami.
Xavier pesca camarão e peixe na costa sudoeste da Índia há mais de três décadas, oda sua vida adulta. Mas, ultimamente, quando ele lança as redes, muitas vezes recebe mais plástico do que peixe.
“Puxar as redes para fora da água é um esforço a mais com todo o plástico que vem enrolado nelas”, diz. “É como tentar tirar água de poço – e seu balde, de alguma forma, fica sendo puxado para baixo.”
Ele e os seis homens de sua tripulação passam horas separando o lixo do pescado.
Para Xavier, toda essa provação é um lembrete diário de que Kadalamma está doente, e que ele e sua cidade a deixaram assim. “Esse é a maior fracasso da Índia”, lamenta.
Ele costumava somente suspirar e jogar o plástico de volta ao mar. Não mais.
Desde agosto do ano passado, ele e quase 5 mil outros pescadores e proprietários de barcos em Kollam – uma cidade pesqueira de 400 mil habitantes no estado de Kerala – estão trazendo de volta para a terra todo o plástico que encontram quando estão no mar.
Com a ajuda de várias agências governamentais, eles também montaram o primeiro centro de reciclagem da região para limpar, classificar e processar os sacos plásticos, garrafas, canudos, chinelos e Barbies afogadas que foram jogados no mar e pescados por eles. Até agora, eles coletaram cerca de 65 toneladas de lixo plástico.

Ondas de frustração

Não é preciso muito para convencer as comunidades costeiras dos perigos do plástico, diz Peter Mathias, que lidera um sindicato regional para proprietários e operadores de barcos de pesca. Há anos, diz ele, os pescadores reclamam do plástico que fica preso em seus equipamentos.
E isso nem é o pior. Há uma década, uma pequena tripulação como a de Xavier conseguiria facilmente até quatro toneladas de peixe ao longo de uma expedição de dez dias. Nos dias de hoje, ele terá sorte se conseguir pescar um quinto disso. Embora muitos fatores, incluindo a mudança climática e a sobrepesca, estejam afetando o estoque de peixes, o plástico é o culpado mais visível.
Muitos tipos de peixes facilmente confundem plástico com presas, e estudos mostram que podem morrer de envenenamento ou desnutrição como resultado. Outros animais marinhos ficam presos e são estrangulados por redes de pesca de náilon abandonadas. Grandes pedaços de plástico no leito do mar também estão bloqueando o acesso de algumas espécies aos seus criadouros.
“Está afetando nosso trabalho,” diz Mathias. “Assim, manter o mar limpo é nossa responsabilidade e necessidade para nossa sobrevivência como pescadores.”
Manter essa responsabilidade, no entanto, provou ser um pouco mais complicado do que Mathias previa. Os pescadores já recolhiam plástico sem necessidade; pedir-lhes que o fizessem com um propósito seria um próximo passo lógico. O problema era que a região não tinha sistema de coleta de lixo municipal, muito menos um programa de reciclagem.
Quando uma aldeia vizinha de mergulhadores de moluscos em Kerala tentou começar um programa semelhante para limpar os remansos da cidade, eles perceberam que não tinham como eliminar todo o lixo que recolhiam. Eles estavam, efetivamente, apenas transferindo lixo do lago e do rio de volta para a terra.

Onda de ajuda

No verão passado, Mathias procurou J. Mercykutty Amma, ministra estadual de pesca e nativa de Kollam, para conseguir ajuda. “Eu disse: se nós nos encarregarmos de coletar plástico do mar e trazê-lo de volta a terra, você pode nos ajudar a fazer algo com ele?”, conta.
Ela disse que sim, mas provavelmente não conseguiria fazer isso sozinha. Então, cerca de um mês depois, ela trabalhou em outras cinco agências do governo, incluindo o departamento de engenheiros civis, que concordaram em ajudar a construir uma instalação de reciclagem e o departamento de capacitação de mulheres. Essa agência é encarregada de melhorar as oportunidades de empregos para as mulheres em um lugar onde muitas áreas, como a pesca, há muito tempo são dominadas por homens. Assim, a agência ajudou a contratar uma equipe só de mulheres para trabalhar lá.
Nos últimos meses, um grupo de 30 mulheres vem trabalhando em tempo integral para lavar e classificar meticulosamente o plástico que os pescadores coletam. A maior parte está muito danificada e corroída para ser reciclada de maneira tradicional. Em vez disso, esse plástico é picado em forma de confete bem fino e é vendido para equipes de construção locais que o usam para fortalecer o asfalto usado para pavimentar estradas. Os recursos – juntamente com o dinheiro do subsídio do governo – cobrem os salários das mulheres que é de 350 rúpias (cerca de R$19) por dia. O sistema não é completamente autossuficiente, mas será no próximo ano, Mathias espera.
“Reunimos tantos grupos tão rapidamente para essa iniciativa”, diz ele. Mas ele está ainda mais orgulhoso do fato de que “isso vem de nós, vem dos pescadores.”
Eles já ajudaram algumas comunidades de pescadores nas proximidades, incluindo os coletores de moluscos citados anteriormente, a obter financiamento para iniciar seus próprios programas de coleta de reciclagem de plástico. Em breve, diz ele, pescadores “de toda Kerala, de toda a Índia e de todo o mundo se unirão a nós”.
É uma declaração forte, mas a confiança de Mathias não é necessariamente equivocada, diz Sabine Pahl, psicóloga da Unidade Internacional de Pesquisa de Lixo Marinho da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, que pesquisa como convencer as pessoas a cuidar melhor do planeta. Ela diz que envolver as comunidades de pescadores na luta contra a poluição oceânica faz sentido e já funcionou no passado. Desde 2009, o KIMO, grupo ambientalista do norte da Europa, vem recrutando pescadores em partes do Reino Unido, Holanda, Suécia e Ilhas Faroé para um programa similar chamado Fishing for Litter.

Divulgando a notícia

O programa indiano pode ter um potencial ainda maior, pelo “fato de que os pescadores estão tomando a iniciativa”, diz Pahl. Em sua pesquisa, ela descobriu que as iniciativas ambientais mais eficazes são as lideradas pela comunidade e “intrinsicamente motivadas” – isto é, motivadas por altruísmo e pelo amor à natureza e à vida selvagem.
“É realmente poderoso porque os pescadores estão na melhor posição para convencer o resto da comunidade – suas famílias, vizinhos – dos perigos do plástico”, ela conta.
E é exatamente isso que eles estão fazendo. Muitos dos pescadores no porto de Kollam dizem que, nove meses após o início do programa, a quantidade de detritos que são apanhados nas redes diminuiu significativamente. Mas, por fim, eles esperam interromper completamente o fluxo de plástico para o oceano. Para esse fim, todos os 5 mil pescadores se comprometeram a reduzir seu uso pessoal de plástico, ou pelo menos garantir que ele acabe na usina de reciclagem e não no oceano. Mathias e Xavier dizem que também não se opõem estrategicamente ao usar a culpa para impedir que as pessoas joguem lixo nas ruas.
 “Eu digo a eles: ‘Se você continuar poluindo o oceano com plástico… como pescadores, nosso meio de subsistência deixará de existir,’” diz Mathias. Isso, segundo ele, quase sempre faz efeito.
Fonte: National Geographic

segunda-feira, 28 de maio de 2018

China quer incentivar o consumo de gás natural

O objetivo do governo chinês é que no ano de 2030, o consumo de gás natural represente 15% da energia primária

O Governo chinês deixou clara sua intenção de diminuir os níveis de contaminação, sobre todas aquelas áreas do país onde mais ocorre este fenômeno. No documento publicado pela Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma foram estabelecidos objetivos para aumentar a participação do gás natural na combinação de energia primária de 5,9% em 2015 para 10% em 2020 e 15% para 2030, conforme explicou a International Energy Agency (IEA).
De acordo com esta agencia, espera-se que o consumo de gás natural na China 21aumente de 19 bilhões de pés cúbicos por dia (Bcf/d) em 2015 para 57 Bcf/d em 2040, superando todos os outros países, exceto os EUA. No entanto, no caso do Estados Unidos espera-se um aumento mais modesto de 75 Bcf/d em 2015 para 88 Bcf/d em 2040, sendo assim o maior consumidor de gás natural.
A produção nacional de gás natural da China alcançou os 13 Bcf/d em 2016, o que representa 64% do fornecimento total de gás natural do país. Espera-se que a produção interna de gás natural da China alcance os 39 Bcf/d em 2040, impulsionada principalmente pelo desenvolvimento dos recursos de gás de xisto.
Para realizar estas ações, o governo aposta por um maior papel do capital privado para ajudar na expansão da capacidade de gás chinês, incluindo projetos de exploração no exterior e de construção de gasodutos.
Com estas inovações, pretende-se reduzir a poluição de um gigante como a China, já que é um dos países do mundo que mais contamina.
Se você se interessou por conhecer alguns dos mestrados sobre meio ambiente, entre no site da FUNIBER e verifique sua oferta acadêmica.
Foto: Todos os direitos reservados

domingo, 27 de maio de 2018

Perdas de abelhas ameaçam exportações de mel.

Foto: Fernando Sinimbu
Os números são expressivos: de janeiro a setembro deste ano, o Brasil já exportou quase 21 mil toneladas de mel, faturando nada menos do que 93,4 milhões de dólares. Em todo o ano de 2016, as exportações chegaram a pouco mais de 24 mil toneladas, com um faturamento de 92 milhões de dólares. O maior importador foram os Estados Unidos. A informação é do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
O mel é o mais importante produto apícola da pauta de exportação  brasileira. De Norte a Sul do País, a produção de mel é uma atividade que se mantém firme. Em 2016, segundo o IBGE, o Brasil produziu quase 40 mil toneladas. Cinco estados ficaram no pelotão de frente: Rio Grande do Sul (6.283 toneladas), Paraná (5.992  toneladas), Minas Gerais (4.906  toneladas) e São Paulo (3.642  toneladas). O Piauí ficou em sétima posição com 3.048 toneladas.
Mas o  desaparecimento das abelhas, fenômeno que ocorre hoje em todo o mundo, e que assusta cientistas e apicultores, pode mudar a posição de destaque do Brasil no ranking  dos produtores e exportadores de mel. O  pesquisador Bruno Souza, da Embrapa Meio-Norte, acha que o sinal de advertência está ligado e que a situação é preocupante para toda a cadeia apícola.
“As próximas gerações vão sentir muito os efeitos da redução das abelhas, se não for feito alguma coisa para reverter essa situação”, alerta Thiago Gama, gerente-geral da empresa Wenzel’s Apicultura, instalada no município de Picos, a 307 quilômetros a Sudoeste de Teresina.
A Wenzel’s Apicultura  é uma das importantes do setor no Nordeste. Criada em 1990 pelo paulista Arnaldo Wenzel, a empresa exportou em 2016 cerca de 200 toneladas de mel, faturando mais de 20 milhões de reais. Para este ano, a expectativa do gerente é que as exportações superem 2016. Gama lembra que a atividade apícola é essencial à vida, “pois com ela acontece a polinização das plantas”.
Ele raciocina como a maioria dos cientistas que procura encontrar as causas do problema denominado Desordem do Colapso das Colônias (DCC): o uso indiscriminado dos agrotóxicos nas lavouras, o desmatamento e as mudanças climáticas.
O DCC é caracterizado pela rápida diminuição de abelhas operárias em uma colônia, afetando diretamente a produção de mel, própolis, pólen apícola e geleia real. O administrador citou como exemplo, já comprovado em testes de laboratório, o herbicida Glifosato como um dos mais nocivos às abelhas.
Um trabalho de fôlego para buscar soluções para o problema, será desenvolvido de 16 a 18 deste mês,  em Teresina, durante o Simpósio sobre Perda de Abelhas no Brasil. O evento, que é uma realização da Embrapa Meio-Norte, Sebrae e Ministério do Meio Ambiente e acontecerá no auditório Bristol Gran Hotel Arrey, na zona leste da capital do Piauí, reunirá cientistas brasileiros, norte-americanos, franceses e australianos.
Fonte: Embrapa

sábado, 26 de maio de 2018

Desmatamento da mata atlântica é o menor desde 1985, diz levantamento.

Três décadas atrás, a perda média por ano da floresta era quase dez vezes maior do que a atual.

O desmatamento da Mata Atlântica entre 2016 e 2017 teve queda de 56,8% em relação ao período anterior (2015-2016). No último ano, foram destruídos 12.562 hectares (ha), ou 125 Km², nos 17 estados do bioma. Entre 2015 e 2016, o desmatamento foi de 29.075 ha.

Este é o menor valor total de desmatamento da série histórica do monitoramento, realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O levantamento começou identificando as alterações no período de 1985 a 1990 e a divulgação dos dados ocorreu a partir de 1992.

Marcia Hirota, coordenadora do Atlas e diretora-executiva da SOS Mata Atlântica, destaca que, apesar de o desmatamento continuar, há motivo para comemoração. “Em um momento político e eleitoral importante para o País, a Mata Atlântica dá o seu recado: é possível reduzir o desmatamento. Com o compromisso e o diálogo entre toda a sociedade, incluindo proprietários de terras, governos e empresas, podemos alcançar o desmatamento ilegal zero, já presente em sete estados”, vislumbra ela.

Sete estados beiram o desmatamento zero, com desflorestamento em torno de 100 hectares (1 Km²). O Ceará e Espírito Santo, com 5 hectares (ha), são os estados com o menor total de desmatamento no período. São Paulo (90 ha) e Espírito Santo ganharam destaque pela maior redução do desmatamento em relação ao período anterior. Foram 87% e 99% de queda, respectivamente. Os demais estados no nível do desmatamento zero foram: Mato Grosso do Sul (116 ha), Paraíba (63 ha), Rio de Janeiro (19 ha) e Rio Grande do Norte (23 ha).

Para Flávio Jorge Ponzoni, pesquisador e coordenador técnico do estudo pelo INPE, não se pode afirmar que há tendência de queda, pois o desmatamento reduziu depois de três anos com aumento consecutivo. Além disso, após a queda de 2010-2011, o ritmo do desmatamento vinha oscilando bastante. “A última queda foi no período entre 2013 e 2014, chegando a 18.267 hectares, 24% a menos que o período anterior. Antes disso, o menor índice de desmatamento havia sido registrado entre 2010 e 2011, com 14.090 hectares. De lá para cá, não é possível comprovar uma tendência”.

Os novos dados do Atlas da Mata Atlântica indicam que as ações de alguns estados para coibir o desmatamento – como maior controle e fiscalização, autuação ao desmatamento ilegal e moratória para autorização de supressão de vegetação (caso de Minas Gerais) – trazem resultados positivos. Por outro lado, as imagens de satélite disponíveis de períodos passados permitem observar que o desmatamento em alguns estados – sul da Bahia, noroeste de Minas Gerais, centro-sul do Paraná e interior do Piauí – ocorre no mesmo local nos últimos anos, com avanços da mancha de degradação. “Isso evidencia as chances de frear ainda mais o desmatamento. Nossos mapas estão disponíveis para que as autoridades busquem melhorar o controle em cada estado".

Neste levantamento, 65% dos 17 estados da Mata Atlântica tiveram queda do desflorestamento, incluindo os quatro maiores desmatadores. A Bahia, primeiro estado do ranking de desmatamento, suprimiu 4.050 hectares, mas teve queda de 67%; Minas Gerais (3.128 ha), reduziu 58%; o Paraná (1.643 ha), é o terceiro, e reduziu 52% e Piauí (1.478 ha), o quarto, que reduziu 53%.

A crise econômica é um fator que pode ter contribuído para a queda, ao afetar os investimentos dos setores produtivos e reduzir seu poder econômico, mas seriam necessários novos estudos para comprovar essa relação.

Acesse o relatório completo em: https://goo.gl/4pzZ1p.

FONTE: INPE

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Por que as joaninhas ‘vermelhas’ estão desaparecendo do sul do Brasil.

Há algum tempo as joaninhas que os moradores de São Paulo têm visto na cidade estão diferentes. Elas têm cor mais alaranjada, são maiores e têm as bolinhas com contorno pouco definido. Cada vez mais são vistas dentro das casas - e não apenas nos vasinhos de plantas, onde costumavam aparecer, se alimentando de pulgões e de outras pragas que dão dor de cabeças aos donos de hortas urbanas.
Elas não são as joaninhas que costumavam viver no Estado, mas uma espécie invasora asiática que entrou no país de forma acidental pela região Sul no início dos anos 2000 e que tem se proliferado de forma rápida, desalojando as espécies nativas por onde passa.
O primeiro registro da presença da Harmonia axyridis no Brasil foi feito pela bióloga Lúcia Massutti de Almeida, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 2002. Elas foram vistas em Curitiba e, cinco anos depois, já eram mais de 90% entre oito espécies de joaninhas pesquisadas no Paraná, incluindo a Cycloneda sanguinea, uma das mais comuns no país.

Em um estudo publicado em 2009 elas foram encontradas em 38 espécies de plantas nas regiões de coleta, alimentando-se de 20 espécies de afídeos - insetos que vivem da seiva das plantas, como os pulgões, e que são o principal elemento da dieta das joaninhas.
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"Nós começamos a testar o que ela podia comer e ela se deu bem com tudo. É um predador mais voraz, mais agressivo. Quando em ambiente com escassez de alimentos, as larvas chegam a praticar canibalismo, comendo os ovos", diz Camila Fediuk de Castro Guedes, aluna de Lúcia, que estudou em seu mestrado e doutorado a espécie invasora.
A joaninha asiática tem se adaptado bem no continente porque, além de ter uma capacidade aguçada para localizar populações de afídeos, é capaz de comer uma grande variedade de frutas, pólen e alguns alimentos que não são consumidos pelas demais espécies de Coccinellidae, a família das joaninhas.
Da Argentina para cima
Harmonia axyridis entrou na América do Sul pela Argentina, nos inícios dos anos 1990, quando foi introduzida em Mendoza para fazer controle biológico de afídeos em plantações de pêssego - ou seja, como instrumento para combater pragas agrícolas.
No Brasil, ela foi inserida acidentalmente, diz Lúcia, "provavelmente com alguma muda de planta". Entre 2002 e 2018, "subiu" do Paraná a São Paulo e já foi vista em Brasília. As temperaturas altas das regiões Norte e Nordeste, acreditam as entomologistas, podem ser um obstáculo para que a espécie avance muito mais para cima.
Os padrões de coloração da joaninha asiática são bastante variados. Há desde as mais beges até as muito escuras, quase pretas. Em 2016, o Laboratório de Sistemática e Bioecologia de Coleoptera da UFPR, onde trabalham Lúcia e Camila, recebeu a visita de um professor do Japão - um dos países de origem da espécie - que veio coletar amostras da joaninha encontrada no Brasil para estudá-la.
Aqui, o principal impacto negativo de sua proliferação é o desalojamento das espécies nativas - ou seja, a redução da diversidade de joaninhas. A Harmonia axyridis continua sendo um eficiente controlador de pragas na agricultura e, apesar de se aventurar dentro da casa dos brasileiros, não chega a causar desconforto.
Ela não é considerada uma ameaça como o javali ou o caramujo-gigante-africano, que também são espécies invasoras exóticas encontradas no Brasil, mas seu estudo é importante para tentar mensurar os impactos da dispersão no território, especialmente porque ela já criou problemas em outras partes.
"Na França, nos invernos mais rigorosos, em que elas precisam encontrar abrigo, andam em bando, invadem as casas e chegam a pousar sobre alimentos açucarados", conta Camila, que fez parte do doutorado naquele país.
Invasão global
A América do Sul é um dos últimos territórios de conquista da Harmonia axyridisno globo, como ressalta o entomologista americano Robert Koch, da Universidade de Minnesota, em um trabalho sobre o assunto publicado em 2006.
Sua área nativa de incidência se estende do sul da Sibéria, na Rússia, passando pela Coreia e Japão, e vai até a China.
No Ocidente, o primeiro registro da presença da joaninha asiática foi na Califórnia, em 1916, para onde foi levada intencionalmente, para ser aplicada na agricultura. Outros episódios semelhantes aconteceram nos anos 70 e 80, tanto nos Estados Unidos quanto no Canadá.
Nos anos 90, quando já era encontrada em praticamente todos os Estados americanos - mesmo aqueles em que não havia sido introduzida -, foi inserida na Europa. No início dos anos 2000, já era considerada espécie invasora na África do Sul e, em 2010, foi registrada pela primeira vez no Quênia.
Em seu trabalho, Koch comparou os biomas da América do Sul com as condições climáticas das regiões nativas da joaninha asiática para tentar antecipar o potencial de dispersão do inseto no continente. A conclusão foi que o norte da Argentina e o centro-sul do Brasil eram regiões onde ela tinha maiores condições de se estabelecer, além das áreas montanhosas de Chile, Bolívia e Peru, onde aparentemente ainda não chegou.

Vinho com 'mancha de joaninha'

Nos Estados Unidos e no Canadá, as joaninhas asiáticas se tornaram uma dor de cabeça para alguns produtores de vinho. Quando se espalharam pelas plantações, elas começaram a ser acidentalmente processadas com as uvas, deixando a bebida com um sabor que lembrava muitas vezes pimentão e aspargo.
Na província canadense de Ontario, um milhão de litros de vinho foram descartados em 2001 por causa do "defeito sensorial".
Alguns anos depois, pesquisadores descobriram que os sabores vegetais eram reflexo da presença de metoxipirazina na bebida, um composto produzido pelas joaninhas. Batizado de "ladybug taint" ("mancha de joaninha", em tradução literal), a falha desencadeou uma série de medidas de controle dos insetos em plantações dos dois países.
Javali, caramujo, coral
No Brasil, a lista de espécies exóticas invasoras é extensa.
Uma das mais conhecidas é o javali-europeu (Sus scrofa), que chegou à América do Sul no início do século 20, trazido da Europa para Argentina e Uruguai, de onde foi transportado ilegalmente para o Brasil. Hoje, é considerado uma praga para a agricultura, apontado como um dos responsáveis por perdas nas lavouras de milho e de soja no sul do país.

Em 2013, quando a espécie já estava presente em 15 Estados, o Ibama permitiu a caça controlada do javali e do javaporco, que nasceu do cruzamento do javali com o porco doméstico e também se espalhou pelo país. Sua agressividade, facilidade de adaptação e ausência de predadores naturais são apontadas como principais causas do aumento dessas populações.
O caramujo-gigante-africano (Achatina fulica), por sua vez, chegou ao Brasil nos anos 1980 como opção ao consumo do escargot, iguaria da gastronomia francesa que usa caracóis do gênero Helix.
O intercâmbio comercial entre produtores de diversos Estados e o insucesso mercadológico do molusco multiplicaram as populações - que terminam fugindo ou sendo deliberadamente soltos em áreas urbanas e rurais.
Presente em praticamente todo o país, ele se tornou uma praga agrícola e um problema sanitário, já que pode transmitir vermes que causam doenças como a meningite eosinofílica e angiostrongilíase abdominal.
No mar, quem causa preocupação é o coral-sol (Tubastraea tagusensis, originário das ilhas Galápagos, e Tubastraea coccinea, da região do Indo-Pacífico), que se reproduz muito mais rapidamente do que os demais tipos de coral e, por não ser nativo do Brasil, reduz a quantidade de alimento disponível para peixes, tartarugas e outros animais que fazem parte do ecossistema do nosso litoral.
Acredita-se que a espécie chegou à costa brasileira também nos anos 1980, incrustada em embarcações relacionadas à exploração de petróleo.
Nos três casos, o Ministério do Meio Ambiente monitora as espécies e implementa medidas para controlar o aumento dessas populações.
Em novembro de 2017, a pasta lançou o Plano Nacional de Prevenção, Controle e Monitoramento do Javali, com uma série de ações específicas para prevenir sua expansão e mitigar os efeitos negativos da invasão.
O coral-sol, ainda de acordo com o ministério, é tema da próxima força-tarefa, atualmente em elaboração.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Homem destruiu 83% de todos os mamíferos selvagens, revela estudo.

Um novo estudo divulgado pela The State University of New Jersey em conjunto o Weizmann Institute of Science de Israel mostra um dado alarmante sobre o impacto humano na Terra. O trabalho intitulado The biomass distribution on Earth (A distribuição da biomassa na Terra, em tradução livre) apresenta a relação do ser humano em comparação com outras espécies de animais.
Segundo o levantamento, nós representamos apenas 0,01% de toda a vida no planeta e desde os primórdio da civilização fomos responsáveis pela perda de 83% de todos os mamíferos selvagens e metade das plantas.
O estudo é feito comparando o peso de cada estrutura viva estimando com a massa total que representa a Terra. Assim, a pesquisa mostra que a maior quantidade de biomassa presente no planeta é representada pelas bactérias, com aproximadamente 15% de toda a biomassa. Isso é bastante se comparado com a soma dos reinos animal e fungi, que totalizam apenas 5%.
Entre os reinos, há domínio claro das plantas, com quase 80% de toda a biomassa terrestre. Entre os animais, destaque para os artrópodes, que constituem os insetos, crustáceos e aracnídeos. No total, eles representam cerca de 0,05% da biomassa.
Os dados são apresentados em gigatoneladas de carbono, ou seja, perto de um bilhão de toneladas. No total, estima-se que os humanos representam apenas 0,006 Gt de carbono. Em comparação, temos menos biomassa que vírus (0,2 Gt C) e fungos (12 Gt C). Embora seja curioso este tipo de comparação, ela pode ser injusta ao se comparar um reino, como o dos fungos, que engloba um total muito maior de espécies, com os humanos, que são apenas uma espécie dentro do reino animal.

Atualmente, é um consenso entre os pesquisadores que a atividade humana mudou completamente o bioma terrestre, passando a domesticar alguns animais e, consequentemente, criando a extinção de outros. Este ambiente recente é o que os estudiosos chamam de Era do Antropoceno.
Com isso, o estudo comprovou que 70% das aves do mundo vivem em cativeiros e que 60% dos animais do mundo são de rebanhos bovinos ou suínos de fazendas. Em comparação, os humanos representam 36% de todos os animais e somente 4% dos animais têm vida selvagem.
“É definitivamente impressionante, nosso lugar desproporcional na Terra”, disse o Prof. Ron Milo, do Weizmann Institute of Science de Israel. “Quando faço um quebra-cabeça com minhas filhas, geralmente há um elefante ao lado de uma girafa ao lado de um rinoceronte. Mas se eu estivesse tentando dar a eles uma noção mais realista do mundo, seria uma vaca perto de uma vaca ao lado de uma vaca e depois de uma galinha”, disse o pesquisador ao The Guardian.
O estudo completo está disponível no site do Proceeding of the National Academy of Sciences of The United States of America.
Fonte: PNASThe Guardian

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Guardas encontram 100 mil armadilhas e restos de animais em parque asiático

terça-feira, 22 de maio de 2018

Imitar a natureza para inovar?

Oriundos de áreas desertas da América do Norte, estes lagartos cornudos precisam apenas de uma mínima gota de água para sobreviver. A natureza otimizou um astucioso sistema que lhes permite colher gotas de orvalho ou chuva que lhes caem no dorso.
Um mecanismo de grande interesse para os investigadores como o biólogo Florian Hischen, da Universidade Johannes Kepler, em Linz: “Os lagartos que estamos a estudar têm uma microestrutura na pele que lhes permite ter o líquido muito rapidamente entre as escamas. Entre essas escamas existe um sistema capilar, um sistema de canais, que transporta o líquido para a cabeça dos animais, onde podem absorvê-lo e bebê-lo a partir do sistema de canais com os cantos da boca.”
Além dos lagartos, os cientistas também estão interessados nos percevejos da floresta tropical da América do Sul. Um poderoso microscópio eletrónico permite fazer aparecer um modelo a três dimensões da superfície do animal à escala do nanómetro.
“Descobrimos, nos insetos e percevejos, que mesmo as pequenas microestruturas são responsáveis pelo transporte de secreções de defesa numa certa direção corporal. Por isso, as glândulas da secreção encontram-se debaixo das asas. A secreção de defesa produzida é transportada através das microestruturas para o ponto de articulação da asa, onde evapora, emana maus odores e afasta possíveis predadores”, acrescenta Florian Hischen.
Em Creta, perto de Heraclião, o Instituto Forth participa também neste projeto europeu. Há cientistas especializados em tecnologias laser. O objetivo é reproduzir em materiais artificiais os modelos que os biólogos trazem à luz. Usam lasers de baixa intensidade que permitem trabalhar a uma pequena escala.
“Quando o material é atingido por raio laser é forçado a mudar de estrutura. Podem fabricar-se estruturas 3D. A escala, a resolução, pode ir de vários mícrons – se compararmos com o cabelo pode ser de cem mícrons até ao décimo de nanómetros”, sublinha Evangelos Skoulas, engenheiro ótico do Instituto de Estrutura Eletrónica e Laser, IESL-Forth.
​Emmanuel Stratakis, coordenador de projeto acrescenta: “Pode ver-se uma área que está padronizada em localizações específicas com estruturas específicas, hidrofílicas ou hidrofóbicas. Esta combinação de padrões pode conduzir o líquido para uma determinada direção com a máxima eficiência possível.”
Testes são efetuados, em particular, sobre o aço. Entre as aplicações contempladas está a confeção de peças micromecânicas inovadoras, cuja fricção e desgaste seriam reduzidos.
​O também diretor de investigação do IESEL-Forth, Emmanuel Stratakis, sublinha: “Se tivermos componentes micro mecânicos temos duas superfícies que estão em contacto uma com a outra com um lubrificante. Depois, podemos reduzir de forma eficiente a fricção entre as superfícies adicionando uma estrutura padronizada com uma geometria específica nessas superfícies.”
Estão planeadas muitas outras direções de investigação para estas superfícies biomiméticas. Desde recolher água de forma eficiente em caso de seca a aplicações no campo biomédico.
Fonte: EuroNews