quarta-feira, 20 de junho de 2018

As últimas cegonhas de Berlim

Norte da capital alemã abriga três últimos casais da espécie. Projeto imobiliário pode afastar aves da cidade, que vive dilema entre preservar a natureza e resolver problema habitacional.
Desde 1930, Alemanha perdeu metade de sua população de cegonhas devido à ação humana
Eu não tinha ideia de que havia cegonhas em Berlim, mas recentemente, ao ler jornal, descobri que algumas dessas aves habitam a cidade durante os meses de primavera e verão. O número é pequeno: no máximo três casais vivem no norte da capital alemã. Neste ano, dois já estão acomodados em seus ninhos em Malchow e Falkenberg.
São as últimas cegonhas que escolheram Berlim como morada para a temporada na Europa, e segundo ativistas, sua permanência na cidade está ameaçada. Os planos para a construção de prédios residenciais podem expulsar de vez a espécie. Os conjuntos habitacionais planejados devem ter cerca de 10 mil apartamentos.
A cidade se depara agora com um dilema: preservar a natureza ou resolver um problema social que se agrava em ritmo alarmante? Berlim não para de receber novos moradores e precisa urgentemente de novas moradias para abrigar todos e também para tentar conter a especulação imobiliária com o aumento da oferta.
A grande contradição neste caso é que, para resolver a questão habitacional, que está inflacionando o valor do aluguel, alguns espaços verdes precisariam ser sacrificados.
No caso específico, os defensores das cegonhas afirmam que a construção dos conjuntos residenciais vai diminuir massivamente o espaço verde onde as aves encontram alimento, como insetos, sapos e ratos.
Para preservar as cegonhas berlinenses, os ativistas argumentam que a região comporta no máximo mil novos apartamentos e pretendem solicitar às autoridades um estudo abrangente sobre a questão. Caberá à prefeitura decidir se volta atrás nos planos e desautoriza as construções, que deveriam se dar ao longo de vários anos.
A diminuição no número de cegonhas, porém, não ocorre somente em Berlim, mas em toda a Alemanha. Desde 1930, o país perdeu metade de sua população da espécie devido à ação humana. 
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.
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