Aquífero Guarani foi o nome
que, em 1996, o geólogo uruguaio Danilo Anton propôs para denominar um imensoaquífero que abrange
partes dos territórios do Uruguai, Argentina, Paraguai e,
principalmente, Brasil, ocupando 1 200 000 km². Na ocasião, ele chegou a ser
considerado o maior do mundo: hoje, é considerado o segundo maior, capaz de
abastecer a população brasileira durante 2 500 anos. A maior reserva
atualmente conhecida é o Aquífero Alter do Chão, com o dobro do volume do Aquífero
Guarani.[1]
Estudos mais detalhados concluíram
que o Aquífero Guarani é menor do que os pesquisadores calculavam e, sobretudo,
com volume e qualidade da água inferiores aos estimados inicialmente. Além
disso, é descontínuo (como na região de Ponta Grossa, no Paraná), de constituição
complexa e heterogêneo. Um dos mais importantes estudos feitos sobre ele,
"A redescoberta do Aquífero Guarani", foi desenvolvido em 2006 pelo
geólogo José Luiz Flores Machado, do Serviço Geológico do Brasil. Flores Machado
afirmou, em seu estudo, que, a rigor, não se trata de um único aquífero mas de
um "sistema aquífero".
Sendo assim, o correto seria chamá-lo de "Sistema Aquífero Guarani".[2]
A maior parte (70 por cento ou
840 000 km²) da área ocupada pelo aquífero — cerca de 1 200 000
km² — está nosubsolo do centro-sudoeste do Brasil. O restante se distribui entre o
nordeste da Argentina (255 000 km²), noroeste do Uruguai (58 500
km²) e sudeste do Paraguai (58 500 km²), nas bacias do rio Paraná e do Chaco-Paraná.
A população atual do domínio de ocorrência do aquífero é estimada em quinze
milhões de habitantes.
Nomeado em homenagem ao povo guarani (que, até a
chegada dos colonizadores de origem europeia, no século 16, ocupava grande
parte do território do aquífero), tem uma espessura média de 250 metros e
um volume de aproximadamente 45 000 km³. A profundidade máxima é por volta
de 1 500 metros, com uma capacidade de recarregamento de aproximadamente
160 km³ ao ano por precipitação.[3] É dito que esta vasta reserva
subterrânea pode fornecer água potável ao mundo por
duzentos anos. Devido a uma possível falta de água potável no
planeta, que começaria em vinte anos, este recurso natural está rapidamente
sendo politizado, tornando-se o controle do Aquífero Guarani cada vez mais controverso.
Geologia do Aquífero Guarani
O Aquífero Guarani consiste
primariamente de sedimentos arenosos que, depositados por processos eólicos durante o
período Triássico (há
aproximadamente 220 milhões de anos), foram retrabalhados pela ação química da
água, pela temperatura e pela pressão e se transformaram em uma rocha sedimentar chamada arenito. Essa rocha é
muitoporosa e permeável e, assim,
permite a acumulação de água no seu interior. Mais de 90 por cento da área
total do aquífero são recobertos por lavas de basalto, rocha ígnea e de baixa
permeabilidade, depositada durante o período Cretáceo na fase
do vulcanismo fissural. O basalto age sobre o Aquífero Guarani como
um aquitardo, diminuindo a infiltração de água e
dificultando seu subsequente recarregamento, mas também o isola da zona mais
superficial e porosa do solo, evitando a evaporação e evapotranspiraçãoda
água nele contida.
Embora algumas áreas de ocorrência do
Aquífero Guarani sejam exploradas há mais de um século, ainda falta muito para
que ele seja bem conhecido na sua totalidade. A pesquisa e o monitoramento do
aquífero para melhorar o gerenciamento de seus recursos são considerados
importantes, uma vez que o crescimento da população em seu território é
relativamente alto, aumentando riscos relacionados ao consumo e à poluição. Suas reservas
abastecem a maior parte das cidades do oeste paulista. Com a crise hídrica em 2014 no estado de São Paulo, o governo do estado pediu um estudo de viabilidade da ampliação do uso
do aquífero à Universidade de São Paulo. Uma equipe de
geólogos da universidade elaborou um estudo do impacto nas reservas de água,
considerando a retirada adicional de até 150 m³ de água por hora para avaliar
se o aquífero suportaria este acréscimo de consumo a longo prazo, considerando
a estiagem. Com uma precipitação pluviométrica normal, calcula-se que o
aquífero suporta uma retirada total de até 1 m³ por segundo ou 3 600 m³
por hora.[4]
No Brasil, oito estados são
abrangidos pelo aquífero Guarani. São Paulo é onde sua
potencialidade mais se aproxima daquela inicialmente divulgada. A cidade
de Ribeirão Preto é toda abastecida por água subterrânea extraída dele. Já em Santa Catarina e Paraná, em
extensas áreas do aquífero a água não é potável, por excesso desais. Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais são estados
que requerem mais estudos, embora, neles, as águas tendam a ter boa qualidade.
Distribuição do aquífero pelos estados brasileiros
Na Argentina, o aquífero encontra-se
em grandes profundidades. Na Província de Entre Rios, a salinidade chega a ser
três vezes maior que a da água do mar. No Uruguai, a
estrutura do aquífero é favorável ao fluxo das águas, mas a salinidade aumenta
próximo ao rio Uruguai. No Paraguai, o aquífero mostra-se heterogêneo, com extensa área aflorante
e águas de boa qualidade, mas com uma extensa faixa de águas salobras nas
proximidades do rio Paraná.
A vazão é muito
variável. Por exemplo: é de mais de 200 000 litros por hora na região do
Alto Rio Uruguai, no Rio Grande do Sul, mas possui raros
poços acima de 5 000 litros por hora na região das Missões, no mesmo estado. Em outros estados, já foram
registradas vazões da ordem de 800 000 litros por hora.
Em muitas áreas, a água não é
potável, mas é ótima para estâncias turísticas de águas minerais e termais. A água de melhor
qualidade do Aquífero Guarani em geral está nos bordos das áreas de afloramento
do aquífero e seus arredores. As maiores áreas com água de boa qualidade ficam
em São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Paraguai.
Origem:
Wikipédia, a enciclopédia livre.
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